sábado, 3 de janeiro de 2015

Pesquisador descobre ouro no Pará

Pesquisador descobre ouro no Pará
Ezequiel Costa identificou 54 alvos potenciais de ouro no Sudeste do estado e em 20 deles a presença do metal já foi comprovada. Exploração será feita por empresa que detém concessão de uso da área desde 2007

O geólogo Ezequiel Costa pode ter descoberto uma mina de ouro. Não se trata de metáfora. O pesquisador identificou 54 alvos potenciais de ouro no Sudeste do estado e em 50 deles a presença do metal já foi comprovada. A descoberta faz parte de uma pesquisa de mestrado desenvolvida pelo Laboratório de Geofísica Aplicada da Universidade de Brasília, realizada nos últimos dois anos, e que pode revelar uma mina de ouro nos arredores da região de Rio Maria.
O achado foi possível graças a imagens geradas por sensores em um método de pesquisa que tem seduzido cada vez os cientistas. É a aerogeofísica de alta resolução. As áreas mapeadas serão exploradas pela empresa Reinarda Mineração, subsidiária da multinacional australiana Troy Resource, que detém concessão do subsolo da área desde 2007 e financiou parcialmente o estudo. Os primeiros sete furos nos alvos descobertos estão estimados em R$ 12 milhões, de acordo com o pesquisador.^
Emília Silberstein/UnBAgênciaEzequiel exibe amostra do ouro encontrado em um dos alvos descobertos
Ezequiel era geólogo da Reinarda Mineração, em 2007, quando o coordenador de exploração da empresa, Rodrigo Cortez, e o diretor da área, Augusto Mol, propuseram o desafio. A empresa tinha em mãos dezenas de imagens geradas pela aerogeofísica de alta resolução, em uma operação que custou R$ 800 mil e durou 30 dias, mas precisava de alguém que as decifrasse. O desafio era analisar e interpretar os dados e, partir deles, identificar exatamente onde fazer as escavações.
Ezequiel foi o escolhido. E a UnB a instituição apontada pela empresa como de maior referência no tema. “Como ele é geólogo formado pela UnB, a aposta não poderia ser melhor”, conta Cortez, que também desenvolveu sua dissertação pelo Instituto de Geociências.
Os 54 pontos foram identificados em uma área de 2,5 mil quilômetros quadrados, próxima à Rio Maria, cidade de 22 mil habitantes fundada em maio de 1982 e com atividade econômica marcada pela mineração e agropecuária. A área próxima a dos alvos descobertos já tem uma mina em exploração, chamada Mamão, e outra extinta, conhecida como Lagoa Seca.
MAPEAMENTO – O mapeamento que resulta nas imagens aerogeofísicas é produzido por sensores localizados nas asas de aviões. Em vôos de aproximadamente 100 metros de altura, as aeronaves detalham todo o terreno.
Ezequiel Costa/DivulgaçãoAnálises em laboratório de rochas recolhidas pelo pesquisador identificaram a presença de ouro
O primeiro desafio de Ezequiel foi localizar nas imagens as chamadas zonas de alteração hidrotermal, regiões com rochas modificadas ao longo dos anos e que geralmente estão associadas ao ouro. Depois, ele foi a campo checar os alvos e recolher amostras de rocha e solo para análise em laboratórios. O trabalho contou com a colaboração e experiência das professoras Adalene Silva, orientadora do estudo, e Catarina Toledo, que auxiliou na orientação. Nesta etapa, Ezequiel confirmou a grande possibilidade de existir ouro no local.
O passo seguinte foi executar as escavações, ainda em fase inicial. Na região estudada pelo pesquisador, o metal é encontrado na superfície, mas também em profundidades em média de 50 metros.
O amarelo brilhante nem sempre é visto a olho nu. “O mais comum é estar escondido entre as rochas e associado com sulfetos. Nesse caso, somente com auxílio de microscópios é possível identificar a associação mineralógica e o ouro”, conta Ezequiel, enquanto aponta um minúsculo ponto brilhante na única amostra que ele afirma ter recolhido de um dos pontos onde o ouro foi confirmado, denominado Resende.
A amostra despertou a curiosidade de alguns dos 23 alunos e professores que acompanharam a defesa da dissertação de Ezequiel, em uma sala do Laboratório de Geocronologia, na tarde da última sexta-feira, 26 de agosto.
Diferentemente de muitas defesas, em geral assistidas por familiares e membros da banca, a plateia de Ezequiel incluiu professores como Nilson Francisquini, especialista na descoberta de metais, e Reinhardt Adolfo Fuck, pesquisador 1-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Não há dúvidas de que Ezequiel cumpriu as exigências para se tornar mestre”, elogiou José Carlos Sícole Seoane, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, integrante da banca.
Emília Silberstein/UnBAgência
Adalene Silva orientou a pesquisa que pode revelar uma nova mina de ouro no Sudeste do Pará
A professora Adalene Silva destaca que o estudo é um exemplo real da inovação tão defendida nos discursos de acadêmicos e políticos como a meta científica mais importante para o país nesta década. “Os levantamentos aerogeofísicos têm permitido um salto nas pesquisas geológicas, porque mapeiam o subsolo com rapidez, precisão e menos impacto ambiental que outras técnicas”, explica. “Entretanto, como tem um custo altíssimo, a parceria com a iniciativa privada é indispensável”, diz. “Interpretar essas imagens é um trabalho dificílimo”, comenta a geóloga Márcia Abrahão Moura, decana de Graduação e uma das professoras de Ezequiel na graduação.
Segundo Adalene, o estudo de Ezequiel, somado a outros três já concluídos no estado do Pará sob sua orientação, e utilizando dados aerogeofísicos, trouxe informações geológicas importantes sobre o potencial aurífero do Sudeste do Pará. “O mapeamento fornece informações que indicam não só a presença de ouro, mas também de outros metais e minerais importantes, como o ferro. São resultados que podem estimular outros estudos e isso já está acontecendo”, conclui.

Histórias de blefo e bamburro

Histórias de blefo e bamburro
Aonde vai, o garimpeiro Antônio Lopes tem seguidores. Sua capacidade de enxergar ouro à distância é inigualável. Não é à toa que seu apelido é Olho de Gato. Há dez anos vivendo com a mulher Leonice na província aurífera do Tapajós, no Pará, este maranhense 36 anos descobriu recentemente um filão de ouro em meio à Floresta Amazônica. De pá em punho, abriu uma clareira na mata e começou a garimpar sozinho. A notícia rapidamente se espalhou entre os garimpeiros que viviam na corrutela de São Domingos. Todos partiram em retirada seguindo os rastros de Olho de Gato. Em 15 dias, 200 peões disputavam um pedaço de terra com ele. Todos juntos desmataram a área, cavaram um buraco de sete metros de profundidade e começaram a procura. Estava formado um novo garimpo.
Batizado de Fofoca – que na linguagem do garimpeiro quer dizer notícia de descoberta de um ponto de ouro – este é o mais novo garimpo aberto na província aurífera criada em 1984 pelo então ministro das Minas e Energia, César Cals. Em 100 mil quilômetros quadrados estão espalhados 500 pontos de extração ligados pela Transgarimpeira, estrada de 180 quilômetros. Construída pela Caixa Econômica em 1986, a estrada está abandonada e sem manutenção. O abandono é o mesmo relegado ao garimpo. Nem a profissão de garimpeiro é reconhecida.
“Minha equipe e eu trabalhamos 24 horas por dia”, comenta Olho de Gato, no garimpo há duas décadas. Ele já passou por Serra Pelada, Guiana Francesa e Suriname. Rico não ficou, mas conseguiu um certo respeito no seu meio. “Olho de Gato é lerdo de manso”. Com o comentário, o nordestino Rosalino Pereira Serrano quer dizer que o colega é exímio conhecedor de seu ofício. Rosalino não atingiu o mesmo status de Olho de Gato, mas pelo menos já ganhou apelido: Boca Rica. A alcunha não poderia ser mais apropriada. Seis dos seus dentes são cobertos de ouro. “Quando fico blefado, tiro o ouro da boca e troco por dinheiro. Quando bamburro, guardo minha reserva na boca.”
Blefo e bamburro são termos que fazem parte da vida de qualquer garimpeiro. Das histórias contadas no garimpo, muitas são trágicas. É comum ouvir relatos de mortes por queda de avião nas cerca de 320 pistas próximas a Transgarimpeira. E também de roubo de ouro, prostituição, contaminação por mercúrio, reincidência de doenças como febre amarela, malária e hepatite. Mas nem só de tragédia e miséria vive o garimpeiro. Alguns poucos têm a sorte de alcançar a sonhada ascensão social.
“Já cheguei a encontrar uma média de 100 quilos por mês nos anos 80. Durante cinco anos, juntei cinco toneladas”, lembra, saudoso, o goiano Rui Barbosa de Mendonça, 59 anos. Na época, Rui era um dos dez pequenos mineradores mais ricos da região; hoje, pode se considerar, no máximo, um membro da classe média. Rui chegou a contratar dois mil garimpeiros e comprou seis aviões e um helicóptero. Independentemente de onde venham, eles têm uma característica em comum: quando bamburram, só pensam em gastar. Essa necessidade tem sua explicação. O garimpeiro fica meses trancado no mato e quando consegue algum dinheiro, corre para a cidade. Chega sem noção de preços. No garimpo, até o sexo é pago em pepitas.
Um garimpeiro mais extravagante chegou ao extremo de fazer um rabo com notas de dinheiro para passear pela cidade e ostentar a fortuna recém-adquirida. Quem presenciou a cena lembra que Chico Índio passava os dias desfilando e, de vez em quando, olhava para trás e exclamava: “Passei a vida inteira atrás de você, agora é você que vai me seguir.” Duas semanas depois, Chico morreu num acidente de carro.“Os garimpeiros estão ficando mais ordeiros. A oferta de ouro diminuiu e eles são obrigados a conter a ânsia de gastar”, avalia a vice-presidente da Associação dos Mineradores de Ouro do Tapajós, Célia Araújo Serique. A escassez do ouro na região preocupa os principais compradores do metal. A produção de Itaituba declarada entre janeiro e setembro foi de 2,16 toneladas, muito longe das 10,4 toneladas anuais produzidas no início da década.

Tempos de ouro- Zé Arara


Tempos de ouro


A cidade foi chamada de último faroeste brasileiro, a capital dos garimpos. No auge da febre do ouro, Itaituba recebia hordas de gente vinda de todos os cantos do país. Vinte toneladas de ouro por ano chegaram a ser extraídos dos garimpos do Alto Tapajós no fim dos anos 80. Mesmo com a decadência da mineração no rio do ouro, eles não perderam a esperança. Dos mais de 700 garimpos, só 200 ainda estão em funcionamento. A produção não chega a três ou quatro toneladas por ano.
Zé Arara é o mais lendário garimpeiro do Tapajós. Na década de 60, foi o garimpeiro mais famoso da Amazônia. Ele formou um império, no município de Itaituba, de aviões, mansões, fazendas, muito dinheiro, tudo tirado do ouro. Aí veio a crise e ele teve que recomeçar tudo.
“Antes da crise fui o único brasileiro que vendeu na faixa de 40 toneladas de ouro ao governo brasileiro”, conta ele. Zé Arara perdeu muito, mas nunca foi um garimpeiro de alma livre, capaz de gastar em uma noite, com mulheres e bebida, tudo o que levou meses para ganhar.
Ao contrário, ele construiu um patrimônio. “Além de ter um jato, tinha 15 aviões pequenos e quatro bandeirantes”, ressalta. Um problema com o jato em Itaituba fez com que Zé Arara trasladasse o avião de volta para a fábrica, em Nova York. “O avião explodiu no ar. Morreram dois tripulantes, dois comandantes e dois mecânicos. Para eu desenrolar esse rolo e não ser preso nos Estados Unidos, tive que gastar 200 quilos de ouro”, conta o garimpeiro.
Desde então, ele está sem sair do garimpo. São onze anos pagando dívidas. “Não devo mais, agora estou lutando para reerguer nosso negócio”, conta. Zé Arara se diz dono de 23 mil hectares de terra, toda a área do garimpo de Patrocínio. Mesmo assim, os moradores criaram uma associação e querem transformar a região em uma comunidade.
Zé Arara se sente ameaçado. “Temo até pela minha segurança. Hoje, estou recomeçando aos 70 anos”, ele diz. O garimpo não é mais como antes. Das dez mil pessoas que buscavam ouro em Patrocínio só restam duas mil.

Comandante Niltinho: KM 140 – Garimpo da Serra Queimada

Comandante Niltinho: KM 140 – Garimpo da Serra Queimada !!!

Recentemente, estava lendo um comentário em uma de minhas historias e notei que o leitor tinha interesse pela aviação. Observei que alem da historia, havia certa curiosidade, no tocante a voar, e isto é muito natural e compreensivo, como já disse no início, foi o avião que proporcionou todas estas estórias, que são direcionadas para todos os leitores, em especial aos pilotos ou aqueles que gostam da aviação!
Infelizmente é muito difícil adquirir experiência, pois só existem duas formas:
a primeira e a mais importante é voar, quanto mais se voa mais experiência você adquire, é como meu velho instrutor já dizia, ninguém ensina ninguém a voar o instrutor esta ali apenas para não deixar o aluno quebrar o avião, o resto é por conta dele;
a segunda é assimilar as experiência dos mais velhos, o velho Dr. Ulisses (meu instrutor de vôo), nunca iniciava um vôo sem, pelo menos, passar seus alunos por uns trinta minutos de bate-papo, sob as asas do velho Cap-4, e  naqueles breves momentos, procurava passar suas experiências de piloto! Como tais ensinamentos me foram muito úteis,  achava, e ainda acho, que também o seriam para todos os demais treinandos!
Este conto vou dedicar ao leitor que me referi inicialmente, um futuro piloto, de nome Thales, da cidade de  Parauapebas, (na ocasião ele estava fora do ninho,  passando temporada lá pelas bandas de Santa Catarina), torcendo para que ele tenha o “dom de voar”, aí sim, será um bom piloto e não igual a mim, um “empurrador de manetes” apenas!
Estava escutando a conversa entre o Léo e o Toninho do Ouro, quando este último, virou para mim e disse:
“ – Vai se preparando Niltinho, vamos comprar um garimpo no município de Itaituba, e a aviação ficará por sua conta, portanto vai arrumando avião, de preferência um skylane, que é bom de garimpo, pois vai ter muito vôo por lá, e queremos você no esquema!”


Dei um pulo de alegria, imagine vocês o que significa ter um garimpo só para você, onde todos os vôos são seus? Vocês não imaginem o faturamento de um mês, num ano você paga um avião brincando! Irmãos, aquela proposta do Toninho caiu do céu.
Só que eu não tinha mais avião e já estava todo enferrujado, não dava conta de voar no garimpo, pois muitos anos haviam se passado de ausência dos manches, tinha perdido toda a sensibilidade de voar, e aí é o que diferencia um piloto de asfalto de um piloto do mato, este último precisa desenvolver toda a sensibilidade pessoal possível! Caso contrário, quebra no primeiro pouso e os acidentes, na floresta, são bastante críticos: na maioria das ocasiões, só nos resta as chaves do avião! E isto eu tinha consciência absoluta!
Diante disso, convidei meu amigo e futuro compadre, e digo futuro porque até hoje não batizei sua filhinha que  deve estar uma linda jovem, mas um dia vou procurar minha comadre e perguntar se ainda desejam um padrinho desnaturado para batizar sua filha, e aí pago a promessa para com meu finado amigo Odilon!
Para entrar comigo naquela parada, (e na mesma hora ele topou pois, como todo seu dinheiro vinha de garimpo,  sabia muito bem o que significava aquela proposta, aquela era a oportunidade que tanto esperava também), só queria saber quem iria voar!
Odilon tinha um 210 se não me engano de prefixo (nunca fui bom para memorizar prefixo) PT-LRY, novinho e um 182 de prefixo PT-DOC, com IAM recém feito, pintura nova, motor novo enfim um brinco de avião estava preparado para voar no mato e em pista ruim, tinha pneus grandes era laminar (trem de pouso), freios Birigui, acesso para subir nas asas para facilitar o abastecimento!
Arrumado o avião, fui procurar um piloto, que encaixasse em nossas necessidades e acabei encontrando um com  vasta experiência em garimpo e no momento estava voando agrícola!
É como eu digo, o OURO, este bendito metal faz qualquer um largar tudo para trás e peitar, mesmo sem ter certeza de nada, sem ninguém garantir nada, tudo é pura sorte, o que sei é que todo mundo corre atrás dele, e assim foi com o piloto que contratamos também, deixou esposa “buxuda” para trás e lá fomos no rumo do Para, com destino para o km 140 da Transgarimpeira, uma perna da Cuiabá – Santarém lugar onde o senhor Virlandes era o todo poderoso!


Ele era um homem muito bom, muito humano só que não era conveniente deixá-lo irritado pois, lá, tudo era dele, o local, a pista de pouso (antes pousavam na estrada), o abastecimento de avião, carro, gêneros alimentícios, enfim  até as prostitutas eram dele também! A policia eu tenho certeza que era, enfim ele era o “capo di tuti capo” (já apareceu em outra de minhas historias!), cabra, o homem tinha bala na agulha.
Tornou-se o maior fornecedor de combustível da Amazônia em certos períodos, e quando lá estive, estava no topo.
Gostava de vê-lo no meio daquela “bugrada” era difícil saber quem era quem, pelo tanto que ele se integrava no meio de seu povo, e olhem que sua fortuna era invejável em qualquer lugar do Brasil !
Fico muito bravo quando vejo uns pobretões, só porque compram uma Toyota nova, ficam “empinando” o nariz! Fico a pensar como o dinheiro muda as pessoas!
No percurso de Goiânia a Gurupi, fui tratando de voltar a voar, sabe Deus o que iria encontrar pela frente? Cara, como estava “manicaca”, não conseguia nem nivelar direito o avião, e aí é que esta o segredo, irmãos o avião deve ser bem nivelado tanto horizontalmente como verticalmente.  Não pensem os manicacas, que devem voar! O avião é que deve voar sozinho, por isso ele tem que estar bem nivelado, alivie sua mão do manche e procure sentir o avião!
Meu instrutor já dizia que manche é igual a peito de moça, nunca se deve apertar, senão ela grita, e não vai mais gostar de você! Avião é a mesma coisa, portanto segurem o manche com as pontas dos dedos apenas, aí sim, sentirão a grande diferença em deixar o avião voar! Feche os olhos e procure permanecer o maior tempo possível com os olhos fechados, sentindo o vôo, corrigindo quando você sentir que é necessário. Irmãos, que maravilha  é voar, espero que DEUS tenha lhe dado este dom, meu amigo!
Chegando a Gurupi, fomos direto encontrar com Toninho do Ouro e o Leo, seu sócio no garimpo, e recebemos novas orientações, que seriam, seguiríamos na frente e ficaria esperando por eles no km140 juntamente com um caminhão de mercadorias e motores para garimpo, e outro de garimpeiros que estariam vindo do Maranhão.
Partimos no outro dia rumo a Peixoto Azevedo que, naquele tempo era uma cidadezinha mixuruca, nada de interessante vi por lá, somente muita sujeira e descaso dos poderes municipais, este sim é o grande problema das cidades da região norte, e enquanto não for mudado nosso judiciário, para que ele possa exercer seu papel de fiscalizador, de guardião, não adianta, continuará no mesmo lodo fétido, só se vê prefeito se lambuzando sozinho do bolo municipal, ao invés de repartir com a comunidade, é lamentável!
Seguimos pela Cuiabá-Santarém, passando pelo garimpo  Castelo dos Sonhos, e lá visitei meu amigo Ranulfo, de Porto Nacional, encontrando-o do mesmo jeitinho alegre e  cordial, so tinha envelhecido, aliás, como eu também! Fazia muito tempo que eu não o via e foi uma grande satisfação!
Fiquei surpreso ao ver seu filho se preparando para tirar o breve, o que, infelizmente não aconteceu, pois veio a falecer em acidente aéreo ainda muito jovem, o piloto com quem ele estava no avião fez um tunôt à baixa altura, engrenou outro em seguida, e não deu outra perdeu os controles e se esborracharam no chão, imagino o baque que o Ranulfo levou! Deixo meus pêsames para este grande bandeirante pois, sem dúvidas para todos nós que o conhecemos, ele era umele é um piloto lendário!
Seguimos ainda pela Cuiabá – Santarém, queria conhecer muito bem aquela região afinal, ali seria a minha nova morada, pois esperávamos que aquele garimpo viesse a proporcionar muito trabalho e muito ouro! Nosso sonho era encher as nossas “borocas” e, para isto, iríamos dar de nós, muito suor e lagrimas!
Meu piloto já tinha me dado a mostra que era bom mesmo, tranqüilo, voando por cima daquelas matas, transmitia a segurança que valia a pena, nada para ele era novidade, quando o tempo “embananava” e metia a cara no meio daquelas “pauleira”, virava para mim e dizia:
“ – Sossegue Niltinho, que daqui há pouco a coisa melhora! Para ele rumo era rumo tempo era tempo, e não desviava de nada não, no começo aquilo me preocupava, afinal não tínhamos o precioso GPS, era na “tora” mesmo!
De tardezinha pousamos no km 140, baita pista irmãos, o “coronel” Virlandes tinha caprichado, afinal ele tinha um Navajo com motor turbo hélice de fazer inveja a qualquer um, fazia linha para Itaituba!
Já no pouso, meu amigo deixou aos meus cuidados e não é que fiz um pouso melhor? Parecia que a sensibilidade estava voltando, ainda bem que ela vai e volta, pois o destino iria me pregar uma baita peça vocês vão ver.
Estava reservado para nós uma casa que para os padrões de lá era uma maravilha, lá, arranchamos e ficamos esperando o resto do povo chegar.
Meu piloto muito “velhaco” tratou logo de se informar sobre o garimpo, seu nome era “garimpo da Serra Queimada”, pois ficava dentro de uma serra de meter medo a qualquer um, como era a pista, se o local era bom de ouro, enfim fez uma pesquisa detalhada, e não é que a conclusão dele foi à pior possível?
“ – Niltinho, estou sentindo o “Blefo”, por aqui!
- O que é isto rapaz? Nem pense nisto, você acha que Toninho do Ouro iria entrar numa fria destas? Você vai ver só quando chegarmos lá! Fé companheiro, tenha fé é o que lhe peço! Imagine se ele resolvesse ir embora, como eu ia ficar?”  Naquela noite eu não dormi direito, só pensando no que meu piloto havia dito e, pior, era que eu já começava a ter fé em tudo o que me dizia.
Tendo as informações de localização do garimpo, levantamos vôo para ir conhecê-lo. Que maravilha de floresta, passamos pelo garimpo do Zé Arara, que coisa assombrosa, falar sobre este garimpo só mesmo dedicando um capítulo inteiro, é o que vou fazer mais tarde!
Em cima daquele tapete verde e após quarenta minutos de vôo tranqüilo, chegamos ao garimpo mas, que susto, a pista era dentro da serra mesmo, como haviam descrito, porém achava que tinham exagerado um pouco, que ela não seria tão “cavernosa” assim, mas, irmãos, era muito mais crítica do que haviam dito!
Só para vocês terem uma idéia havia um Azteca, quebrado ao lado da pista, arrastado por fortes ventos que o jogaram de encontro  às árvores, deixando uma má impressão, daquelas de arrepiar o cabelo!
A pista começava na beira de um córrego e ia serra acima, num ângulo de mais de 45 graus, facilitando a parada, porém para arredondar a aeronave, não seria nada fácil, inclusive para um piloto experiente, imaginem para um manicaca como eu! Nem morto eu ia entrar ali, sem dúvida seria um acidente daqueles.
Senti aquele gosto amargo na boca e gelei. Após duas voltas por sobre a pista para melhor conhecê-la, meu amigo resolveu encará-la, tive vontade de fechar os olhos para não ver a bagaceira, porém pensei com meus botões: “ – Olhe bem seu manicaca porque na próxima poderá ser você!”
Olhei para meu piloto, tentando ver algum sinal de preocupação, mas que nada, estava “tranquilão”, já no final da perna base não vimos mais a pista, somente a cabeça do morro, e quando ele girou para entrar na final, só vi a cabeça da serra, passamos por ela, ai ele afundou a aeronave ladeira abaixo, parecendo que a barriga do avião iria bater na copa das arvores!
A impressão que se tinha, era de uma pedra rolando serra abaixo, o avião todo flapeado, (aí que está a vantagem do skylane, não ganha velocidade mesmo, com aquele tremendo flap).
Quando me recuperei um pouco do susto, olhei para baixo, no fundo do vale e lá avistei a cabeceira da pista e um córrego que passava no meio do vale, e para minha surpresa lá estava ela, toda miudinha, tortinha, curtinha, e nos lado umas arvores pequenas, que somente um avião  de asa alta conseguiria ultrapassar, sem falar no Asteca quebrado ao lado da pista, que me deu uma má impressão!
Quase na final, um sobrado que parecia mal assombrado, de madeira, que garimpo nenhum nunca havia visto coisa igual pois, geralmente ninguém investe nada em garimpo, sabendo que um dia vai ser tudo abandonado mesmo! Quanto à este, parecia que o antigo dono pretendia passar muitos anos por lá!
Quando o piloto se deu conta de arredondar o avião, foi um alivio pois a pista não tinha mais de 400 metros, sorte que era morro acima.
Ao pousar, fomos tomar posse da pista! Tudo estava abandonado, deixando a impressão que era um garimpo fantasma!
Andamos por todo lado, e constatamos que, sem dúvida, o local era bonito, haviam derrubado uns quatro alqueires e plantado um pastinho, acreditem tinha um burro velho,  levado num skylane!
Contam que a dose de anestésico tinha sido pouca,e ele acordou em vôo, e quase foi sacrificado, só não morrendo, porque sua cabeça era muito dura, e resistiu às porradas, porém, ficou meio doidão e sempre que eu pousava por ali,   vinha se coçar nas asas do DOC, acho que ele não gostava muito de avião, não!
Havia mandioca plantada, e um resto de porcos, sobras das onças, que vinham pegá-los no terreiro da casa! Tinham que dormir presos nas baias pois, caso contrário,”babau” pois tinha muita onça no local!
Visitando o local onde garimpavam, constatamos que restava um monte de buracos, cheios dágua, o que me fez pensar, na mesma hora, na malária! Dormir ali seria um perigo!
O que mais preocupava meu piloto,era: porque haviam abandonado tudo aquilo, se o garimpo tinha uma estrutura de fazer inveja! Se tinha ouro, porque o antigo dono não estava ali? Quem que abandona um osso cheio de carne?
Comecei a ficar preocupado também pois, já não conseguia convencê-lo a ficar e acreditar que iríamos ser bem sucedidos mas, o golpe final foi quando ele descobriu numas caixas, uns restos da contabilidade do movimento do garimpo, e como o antigo dono era muito organizado, tinha a produção dos barrancos, e em todas as fixas que vimos, não tinha uma em que a produção houvesse pago o custo! Aí ele não aguentou mais e disse:
“ – Niltinho, vou embora mesmo, este garimpo é “blefado” aqui não tem ouro coisa nenhuma, se você quiser pode ficar mas eu estou “cascando” fora! Vou “vazar” daqui logo que chegar ao KM 140, me desculpe amigo, mas você entrou numa “fria”! Levantou-se da cadeira e foi beber água, deixando-me ali, pensando, cabeça baixa, injuriado!
O que fazer? Não dava conta de voar ainda, arrumar outro piloto? Onde? Irmão, tive vontade de chorar!
Pensei, Niltinho você está lascado, nem Jesus Cristo o tira  desta enrascada! Naquela noite não dormi nada, só pensando na fria!
Levantamos cedo para voltar e quando estávamos embarcando no avião, falei para o piloto:
“ – Já que vai me abandonar mesmo, peço pelo menos que  você me de um treinamento nesta pista, pois não me resta alternativa! Vou ter que encarar mesmo, não vejo outra saída! Se eu morrer você não tem responsabilidade nenhuma, o risco é meu!
Como para ele também ficou bom, afinal deixar-me ali naquelas condições não era o que ele queria pois não era um irresponsável, apenas não queria correr o risco de trabalhar para mais tarde não receber!
Com muita experiência em garimpo, sabia que garimpeiro só paga suas contas se fizer ouro e como ali ele via que não tinha, só lhe restava ir embora! Enfim não lhe tirei a razão! Meu caso era outro, eu havia comprado um avião agrícola deles, junto com meu compadre, e deveria pagar com tantas horas de voo, e tinha que pagar em voos, não interessava se tinha ouro ou não, entenderam?
“- Está bem Niltinho, sente na esquerda e decole, mas antes tenho que alertá-lo que, lá no final da pista, por ser um vale, poderá ter forte vento, que não sei ainda o seu sentido, talvez este Asteca quebrou por isto, o vento pode tê-lo jogado fora da pista, penso eu, e como não dá para passar por cima do morro, teremos que sair por dentro do vale pela esquerda que é melhor!
E vamos por ele, tratando de ganhar altura para poder cruzar aquela montanha logo ali, e mostrou-me onde  iríamos sair! Acredite, deu-me frio na espinha e os cabelos  arrepiaram, como sempre acontece quando estou numa fria!
Irmãos, “arroxei as periquitas” e deixei o DOC ganhar velocidade, por ser a pista cheia de lombada,ele corcoveava mais que um burro xucro, e meu amigo gritava na minha orelha:
“ – Segura o bruto no chão, que ainda não está na hora!”
Quando estava quase chegando às oitenta milhas passei numa lombada, e não deu mais para segurar, meu amigo vendo meu desespero, resolveu dar uma ajuda, e arrastou o manche todo para trás para sairmos do chão!
E logo em seguida empurrou para frente e manteve assim, ganhando velocidade para subir e logo após, iniciarmos a curva para entrar no vale, aí então, ele devolveu-me o manche e acabei voando até o KM140! Parece que ele estava resolvido a dar-me uma mãozinha mesmo!
O clima entre eu e o meu piloto estava constrangedor, ele queria ir embora e eu queria que ele ficasse, afinal eu estava ficando no mato sem cachorro, via meu negocio com o Toninho ir para o brejo, e acabei chamando meu amigo a um “tête a tête”, e chegamos a um acordo: ele ficaria mais uns dias e continuaríamos os treinamentos, e eu depois que me danasse sozinho, afinal meu amigo também foi um manicaca um dia.
Irmãos imaginem vocês, eu ter que recuperar a habilidade, ali no meio daquelas pistas cavernosa, até para meu amigo era difícil pois o avião no garimpo só leva um banco,que é do piloto, o instrutor vai em cima da mercadoria, pouca coisa ele poderia fazer, caso ocorresse uma falha!
Não esqueço do dia em fui fazer meu primeiro vôo na esquerda e ele em cima dos tambores de óleo diesel, que sufoco cara, ele vendo a minha dificuldade em manter o eixo da pista, gritava:
“ – Põe a pista no meio da suas pernas, se não vamos  quebrar a cara lá embaixo, gritava!
- Cara, use os pedais, os pedais! Mais grito na minha orelha, e lá ia eu, ladeira abaixo, de qualquer jeito, brigando com o avião até botar no chão!
Felizmente, consegui me livrar das pequenas árvores nas beiradas da pista, para não dizer que quase engoli a pista, parei bem no finalzinho, irmão, foi um sufoco!
Eu e meu amigo quase sujamos as calças! Ele desceu mais branco que garça e foi logo me dizendo, esta é a ultima vez que venho com você, na próxima tu vem sozinho, você já esta solo para meu gosto!
“ – Mas moço,respondi,que ultima? Se esta é a primeira!
- Não quero saber, se vire de seu jeito, que eu estou fora!”
Convenci-me naquele momento que, dali por diante, só poderia contar com Deus e com a minha sorte!
Descarregamos a carga, e nesta viagem, minha decolagem já foi melhor! Recebi até um elogio do meu amigo, só que não sei se aquilo foi apenas para tirar a responsabilidade dele, para que eu o liberasse logo daquele sufoco.
Imaginem que eu era o piloto mais velho entre todos no 140, os moços eram verdadeiras feras, voavam o dia todo e à noite se reuniam para fumar algo, que me parecia ilegal,e isto, quando tinham dinheiro, porque quando estavam no blefo, usavam algo mais barato, ficando com os olhos vermelhos, parecia que iam sair da órbita, e diziam:
“ – Como é velhinho, não vai querer, não? Pegue aí um cigarro, vai ver que amanhã, você vai voar como um passarinho!” Imaginem eu, que nunca ,fui muito amigo de cigarro entrar numa dessa!
- Não, irmão, já passei da idade, não tenho estrutura para isto não!” E saía, para deixá-los à vontade e acreditem, rolava a noite toda aquele fuminho, e logo de manhã estavam na pista prontos para voar, não conseguia entender como conseguiam tanta energia! Eu?  Estaria morto,sem duvida nenhuma!
E foi no meio dessa turma que meu piloto encontrou um meio para me abandonar. Conheceu um piloto que não era piloto, tinha o breve sem duvida, mas ninguém dava avião para ele, era perdido na droga, como se diz por aqui, “comia com farinha”!
Era jovem, alto e se dizia com muita experiência em voar afinal, era o jeito que meu amigo encontrou para deixar um substituto e eu não tive outra escolha, aceitei-o para ficar no lugar do meu piloto, porém não imaginava o quanto aquilo ia me causar aborrecimento mais tarde.
O diabo, era que ele não estava muito melhor que eu, isto eu senti logo quando ele subiu no avião, era inseguro, na verdade não tinha o avião na mão, e isto meu amigo, nas pista de garimpo é acidente, na certa!
Senti que havia necessidade urgente de me preparar, para ficar livre de piloto, só que, por enquanto, teria que administrar aquela situação, não tinha outro jeito!
E lá fui, um dia eu voava, outro dia era ele e assim fui melhorando a minha performance, graças a Deus!
O que senti de mais difícil é conviver com quem se droga, a cabeça do cara não funciona direito, o dia em que se droga ele esta numa Nice, o dia que não se droga é um “ranço”.
Chegam a perder a noção da realidade, como aconteceu certa ocasião, que ele decolou do garimpo do Patrocínio do famoso Zé Arara e eu sentado no assoalho do avião conversando com um garimpeiro, não prestei atenção no rumo que ele pegou para voltarmos para o km 140!
Eram apenas seis minutos de vôo, mas, quando vi estávamos voando no sentido contrário e ele petrificado no manche, olhar no horizonte, não via nada! Sua mente provavelmente estava em outro espaço que não dava a ele a consciência do que estava acontecendo naquele momento e estávamos prestes a nos perder, a reserva de gasolina era muito pequena!
Levei um susto quando olhei para fora e não vi as referencias tão conhecidas! Dei um berro para ele acordar e tratei de orientá-lo, para que voltasse ao rumo certo!
Essa foi uma triste realidade, do quanto não combina droga com pilotagem, fiquei triste pois ali estava um jovem piloto, todo inutilizado, o que seria dele? Quem iria entregar um avião para uma pessoa naquelas condições? È uma pena!
Fui tratando de ir afastando-o até que o despedi! Aí sim vi o outro lado da pessoa que perde a responsabilidade de prover recursos para manter seu vicio! Um dia peguei-o roubando material de garimpo para manter seu vicio! Não quero nem lembrar o sufoco que passei para me desvencilhar do cara e recuperar o que havia roubado!
E a vida continuou, logo chegou o caminhão trazendo os garimpeiros, e outro com mercadorias e material de garimpagem, que fui logo tratando de levar para o garimpo! Voava todo dia e aí fui recuperando minha velha forma, porém com muito mais habilidade, e foi aí que comecei a aprender de fato a voar! A pista da Fazenda Serra Queimada não me metia mais medo, acreditem, fiquei manso com ela, e nas outras também. Enfim tinha superado aquela fase MANICACA, e voltei a ser um piloto dos bons, senão estaria morto!
Não pense que a vida no KM140 era triste, pois não era, existia perto dali o Creporizinho, garimpo de pequeno porte que estava se transformando numa cidade. Infelizmente a única fonte de renda provinha dos garimpos, atividade pecuária estava se iniciando, e como a extração de ouro era muito mais lucrativa, ninguém queria ser peão! Era tremendo sufoco encontrar alguém para trabalhar nas fazendas!
No comércio encontrava-se quase tudo, e o que mais funcionava eficientemente era os cabarés, imaginem vocês que passavam por lá toda a sorte de artistas, da Gretchem à duplas sertanejas!
Tudo isto para alegrar a moçada e por causa do ouro, cada um queria tirar uma lasquinha e até mesmo os artistas, afinal, ouro existia aos montes, para alegrar a todos!
A mulherada, era de primeira qualidade, geralmente vindas de Goiânia, que por ali reinavam, sem duvidas, por serem as mais bonitas e interessantes, gerando mais lucros para as cafetinas!
No garimpo do Zé Arara, o “Patrocínio” era algo extraordinário, este sim merece uma atenção especial! Um garimpeiro que se tornou famoso pelo acúmulo do ouro que conseguiu,  e que, na época em que a Caixa Econômica Federal, resolveu melhor controlar a saída de ouro dos garimpos, tornou-se seu parceiro e montou uma rede de compra de ouro, que se estendeu do Pará a Goiás!
Em Goiânia ele tinha um baita escritório, para que aquele ouro que não era vendido no Para, pudesse ser negociado em Goiânia e assim sendo, a caixa deve ter acumulado uma reserva extraordinária de ouro, só não sei o que fizeram com a uma montanha de ouro que lá existia!
Para vocês terem uma idéia do que era o garimpo do Patrocínio, vou dizer o que eu vi , e olhe que já estava em decadência, pois a grande áurea fase  do ouro, já tinha se passado, vejam certos números: Só de moto, havia mais de quinhentas, a maioria sem documentos, imaginem vocês da onde vinham?
Lógico que era do mercado negro, tratores, patrolas, pá carregadeiras eram de montão, muitas máquinas (quase 2.000)!
Tudo era levado de avião, não existia estrada que ligasse à Transgarimpeira, em razão da distância, era somente para ele fazer sua frota da avião voar. A frota de aviões  deixava-me surpreso! Só Bandeirantes ele tinha três, monomotores mais de dez, sem falar no jatinho particular que, se não me engano um lear-jet!
Também era dono de um supermercado de fazer inveja ao meu amigo Gilmarzinho, cujo supermercado, em Ourilândia, era de tamanho bastante inferior!
A boate era algo de especial,ali iam cantar os mais famosos artistas, preferencialmente os bregas, reunindo, num dia de show mais de mil pessoas!
Este prédio, foi construído por Zé Arara nos moldes dos “saloons” americanos, com a porta de entrada de duas bandas, dando a impressão, quando se entrava por ela, de se estar no velho oeste americano! Era mesmo “chic no úrtimo!” como se dizia na época!
O clima era o mesmo, bala por todo os lados, rolava, droga, uísque “Nelson Ned” era o que mais se consumia! O ambiente era decorado com aqueles banquinhos e os garçons vestidos a rigor! Amigos, era uma graça, sem falar que no segundo andar existiam alguns quartos, para os casos de maior intimidade!
Lá você encontrava a “goiana”, sempre preparada para fazer uma “escopa” no seu ouro! Você só saía com as calças pois, o resto deixava por lá nos cofres do senhor Zé Arara!
Era nesta boate que ele tomava a maioria do ouro que era retirado de suas terras pelos garimpeiros, na manha irmãos, na manha, e com prazer pelo meio! Ali era o lugar onde “o filho chora e a mãe não escuta”. O “neguinho” saia de lá urrando, porém feliz, pronto a retornar para sua cava e retornar com mais ouro! Era incrível você ver a vida da peãozada ser sugada daquela maneira. Também era lá o local onde eu também vendia ouro, quando precisa. Nunca faltava dinheiro para isto!
Tem uma passagem, que ocorreu no garimpo, muito engraçada, e devo contá-la a vocês antes que eu esqueça.
No local, sempre pousava de baixo para cima, que é o correto, porém um dia, tinha uma nuvem de chuva atrapalhando e resolvi pousar no sentido contrário, mudando de cabeceira e logo que vim para o pouso, sabia que teria que tocar logo na cabeceira, pois da metade da pista para frente, a inclinação para baixo era violenta!
Caso não tocasse a pista logo na cabeceira, corria o risco de parar num córrego que ali existia, porém, tinha umas embaúbas, que haviam crescido muito, atrapalhando-me bastante!
Resolvi então, derrubá-las, logo após o pouso, pois, imaginem vocês, ter uma só cabeceira? E se um dia eu tivesse que usá-la mesmo?
Pousei, tomei um banho, botei meu calção samba-canção, peguei minhas havaianas e um facão e pensei: agora acabo com aquelas embaúbas! E fui derrubando as que estavam mais perto da cabeceira da pista, porém vi uma, por sinal a mais alta, localizada mais para dentro da mata, e resolvi ir até lá derrubá-la.
Estava tranqüilo com pensamento no ouro que iria levar dali, quando escuto o turrar de uma onça, a não menos de uns cem metros de distancia! Cabra, novamente o cabelo  arrepiou e eu tratei de correr, imagine sair no jornal “piloto Niltinho foi comido por uma onça no garimpo da Serra Queimada”, o que isto meu amigo!
Tratei de dar no pé, correndo feito louco,  abandonei meu facão para traz, e fui rasgando no peito aquela mata, a danada da havaiana saiu do pé logo na saída, e lá fui eu se rasgando todo, rumo ao barraco, e vocês pensaram que olhei para trás? Que nada, amigos se tivesse asas com a velocidade que estava, teria decolado, sem dúvida nenhuma!
Só fui parar na frente do barraco onde estavam sentados alguns garimpeiro e eles vendo aquela cena foram logo me perguntando: 
“ – Do que esta correndo ,comandante?” Então olhei para trás e como não vi nenhuma onça, respondi meio desapontado.
- Da onça, amigo! Da onça!
- Mais que onça? Não vejo nenhuma, comandante! Será que você não esta correndo apenas do urro da onça?” Olhei para trás e com uma ponta de vergonha, respondi:
“ -É, de fato, foi mesmo.
-Vou dizer uma coisa piloto, nós aqui costumamos correr da onça, mas do urro dela, não!
- Tem razão! Da próxima vez, tentarei correr só da onça.”
Tratei de ir tomar meu banho e fazer os curativos, meu corpo estava todo rasgado dos espinhos que havia topado na carreira.
E assim nunca mais cortei embaúbas, para mim continuava a existir apenas uma cabeceira naquela pista e hoje costumo brincar quando vejo alguém desistindo de alguma coisa, sem antes ver, de fato, se aquilo que você estava pensando era o que você imaginava!
“ – Não corra do urro da onça, cabra! Corra da onça!”
No garimpo do patrocínio, em época de eleições, ia uma urna eleitoral, nunca me esqueço, pois foi ali que  justifiquei meu voto, em função da quantidade de eleitores que havia!
Existia também um destacamento da Polícia Militar, para garantir a “lei no garimpo”! Teve até o caso em que vieram  pedir-me para fazer um lançamento! Mas que diabo de lançamento era aquele, se eles não mexiam com ouro, quis saber:
“ – Comandante tem um cabra que não vale nada, já estamos cansados de prendê-lo e enviar para fora do garimpo, porém ele volta, dana-se a roubar e fumar maconha, e não nos deixa em paz nem por um momento sequer!
Só queremos coloca-lá dentro do avião e jogá-lo no meio da floresta, deixando que morra por lá! Você só tem que fazer para nós, o vôo com a porta aberta o resto é por nossa conta!”
Moço, levei um susto, imaginem eu, que vivi o meu tempo escolar em colégio de padre, fazer uma coisa dessas? Jamais, disse eu aos policiais, afinal aquele infeliz deveria mesmo, é ser encaminhado à justiça, para cumprimento das penalidades legais!
Foi difícil sair daquela, pois um pedido desta gente e naquele lugar, era mesmo de difícil negar, e não consegui  sair fácil dessa enroscada: tive que prometer-lhes que continuaria devendo um favor e não é que não passando algum tempo, o cabo se aproximou e disse:
“ – Comandante, minha mulher pegou a “Galega” (uma quenga da boate) e bateu muito nela, quase a matando, se não fosse as outras meninas terem socorrido, a coitada tinha morrido! Se ela continuar por aqui, vai morrer, pois minha mulher já prometeu mandá-la para o espaço, breve!
- Leve-a ao KM140 e a amoite por lá, até que minha vá embora daqui! E olha aí que você nos deve um voozinho, se lembra comandante?
- Sem duvida, sem duvida, cabo, isto é galho fraco! Pode trazê-la que já estou decolando!”
Minutos depois ele volta com a menina, talvez não tivesse mais de vinte anos, maranhense linda de morrer, e aí é que fui sentir a preocupação do “milico”: a rapariga era bonita demais, “sô” e ele queria ficar com as duas, já que não era nada besta.
Na hora da decolagem ele chegou pertinho da minha orelha e disse:
“ – Arranco-lhe esta linda orelhinha, se você bolinar  minha “princesa”, ouviu bem, comandante?
- Fique frio, ó meu, que não toco em um fio do cabelo dela, prometo.”
Moço, que promessa dura de cumprir foi aquela! Passados duas semanas, trouxe-a de volta são e salva, entregando nas mãos de seu “dono”!
Tudo ia bem, no garimpo, eu voando muito, pagando minha dívida junto com Toninho do ouro! Não estava nem aí se o garimpo produzia ou não, meu negocio era voar, e “deitei o cabelo” a voar! Voava para todos os lados e como ajudou!
O dinheiro que entrava, acabei aplicando naquele garimpo blefado, mas o Leo já estava desesperado, o outro grande garimpeiro, Toninho do Ouro, tinha sentido dores na barriga e se mandou para Gurupi!
O Leo era “brabo” no negocio de ouro e o desespero dele aumentou, imaginem todo aquele tempo gasto na procura  do ouro maldito e nada, só blefo e mais blefo! A coisa fedeu, irmãos!
Certo dia fui buscá-lo no garimpo, sentamos na mesa de um boteco no 140 e começamos a beber. Ele triste, bastante preocupado, o dinheiro acabando e nada de ouro, o Toninho não vinha! Aí perguntei:
“ – Leo, tem certeza que este garimpo tem ouro?” Ele franziu a testa e, respirando fundo respondeu:
“ – Posso não entender de garimpar o ouro, mas besta eu não sou, viu Niltinho?
- Não está mais aqui quem perguntou, seo Leo!” E mudei de assunto.
Não passou uma semana e ele retornou a Gurupi, deixando um parente no garimpo, com a minha assistência!
Imaginem vocês, uns cinqüenta homens comendo todo dia, não deu outra, logo a comida acabou, o cerco foi fechando, e aí comecei a me preocupar.
Ligava para Gurupi atrás do Léo e do Toninho, mas sentia que não estavam nem aí para o assunto! Um dia peguei Toninho no telefone e falei o que poderia acontecer conosco, diante daquela situação e ele simplesmente me disse:
“ – Abandone tudo isto aí e venham embora! Está na hora de fechar o garimpo!”
Era justamente o que tinha que ser feito! Ficou constatado que não tinha mesmo ouro e eu queria ouvir isto mesmo, porém, aquilo não era meu, eu era simplesmente um piloto, e queria um deles ali, comigo, tinha muito pepino para descascar e eu tinha medo de ser morto!
Já havia enfrentado muito garimpeiro raivoso, imaginem vocês, tirar uma pessoa de casa em outro estado e mandá-lo de volta com uma mão atrás e outra na frente? Não é nada fácil, ali tinha toda espécie de gente e eu poderia me dar mal, como quase ocorreu!
Só escapei porque tive muita calma, fui vendendo as coisas que havia sobrado e os vôos que vazia me ajudaram muito e fui mandando o pessoal embora lentamente, às vezes só com o dinheiro da passagem!
Nunca me esqueço do dia em que fui dar a notícia da retirada do garimpo, e um “gauchão”, parente do Leo, e inconformado, respondeu:
“ – Só saio daqui morto tche! Vim aqui fazer ouro e vou fazer, portanto você não vai me abandonar aqui “solito” não! O avião vai ficar também!”
Olhei bem na cara do Gaucho e emendei:
-Se você quiser ficar, fique, afinal alguém tem que ficar aqui mesmo, só que eu vou embora para Gurupi, e você vai ficar junto com as onças e escute bem, vou te dar três dias para você pensar, daqui três dias volto para pegar o resto do pessoal! Virei as costas subi no avião dei partida, ele me olhando pensativo, julguei que iria partir para cima de mim e me dar um cacete! Infelizmente a ficha dele ainda não havia caído para a hora de abandonar o barco!
Naquela noite ele não dormiu, no outro dia ele passou-me um rádio para ir buscá-lo, estava manso, e tive a oportunidade de explicar melhor o motivo de estar desativando tudo aquilo que ele também tinha colaborado com tanta esperança!
Haviam colocado muita ilusão em sua cabeça, como dizem, o ouro é uma febre e ele tinha sido contaminado, a febre estava bem profunda em sua consciência, foi muito difícil cair na realidade que aquilo foi apenas um sonho!
Após ter despachado todos aqueles garimpeiros, ficaram apenas dois, para voltar comigo de avião, e dois que eu havia abandonado no garimpo! Fico imaginando o que eles devem ter passado, pois nunca mais voltamos para tirá-los! Certamente devem ter sido devorados por onças!
Ainda coloquei, dentro do avião, um motor estacionário,   uma moto-serra e mais alguns bagulhos que não me lembro  e acreditem, na última hora, o milico me pediu para tirar a “polaca” de vez, que a levasse comigo para, ou ficar com ela ou devolvê-la para sua família! E foi o que fiz, levei-a a Gurupi e coloquei-a num ônibus da Transbrasiliana, mandando-a de volta para sua família no Maranhão! Acho que fiz uma boa ação!
O voo de volta foi um sufoco, tempo ruim, avião pesado, dinheiro não tinha mais, estava abandonado, e até Toninho e Leo não atendiam mais minhas ligações telefônicas!
A gasolina do avião, só dava para vir até a metade do percurso, e foi o que fiz: fui até uma cidade de Mato Grosso, arrumei um hotel e fiquei esperando o Toninho  mandar-me dinheiro para abastecer e pagar o hotel!
Como ele não mandou, tive que deixar meu revolver penhorado no posto de gasolina, se quisesse sair de lá!
O avião pesado e cheio de pane, (fazia tempo que não via manutenção) deixava-me preocupado mas, felizmente, à tardinha pousei em Gurupi, cansado do vôo e do sufoco que havia passado, cansado do blefo, enfim, cansado de tudo e jurando que nunca mais entraria noutra!
Com isto, eu e meu compadre Odilon acabamos de pagar o avião agrícola que havíamos comprado do Leo e que estava em Belo Horizonte, só faltando agora, ir buscá-lo, só que esta é outra historia e, através dela, chegamos mais perto do PT-CZC, objeto de nossa próxima historia!
Vou contar que comprei o avião, com parte do dinheiro que ganhei voando no garimpo de Serra Queimada que, na realidade, foi o garimpo mais blefado que eu já vi em toda a minha vida pois, se precisasse de um pouco de ouro para fazer um chá e salvar a vida de uma pessoa, ela acabaria morrendo!
Mas, como sempre tem quem perde e quem ganha, felizmente, neste caso fui um dos ganhadores!     

Por onde anda Zezão do Abacaxi?

Por onde anda Zezão do Abacaxi?

Dias atrás estive pensando por onde anda Francisco de Assis Moreira da Silva, Zezão do Abacaxi, que na década de oitenta era tido como rei do ouro do Alto tapajós. São muitas as histórias de Zezão, entra elas a disputa pelo garimpo Rosa de Maio. Numa das edições do Globo Repórter foram dedicadas duas partes do programa para falar dos garimpos e das riquezas de Zezão do Abacaxi. Na reportagem da Folha de São Paulo de 24 de Novembro de 1991, fala da produção de 110 Kg por mês em seus garimpos. Vejamos a matéria na íntegra: Dono de uma fortuna avaliada em US$ 20 milhões, o garimpeiro mais rico do Brasil não tem nem talão de cheque. Francisco de Assis Moreira da Silva, 46 anos, o Zezão, mal sabe assinar o seu nome, mas controla o império de 13 aviões, duas fazendas, 8 mil cabeças de gado e um mega garimpo onde operam 120 dragas e trabalham quase dois mil homens. A produção do Rosa de Maio, no sul do Amazonas, ultrapassa 110 Kg de ouro por mês. Isso representa quase 10% de tudo que se produz região de Itaituba – PA (na fronteira com o AM), a maior do Brasil. Piauiense do município de Buriti dos Lopes, Zezão abandonou a roça aos 21 anos para ser “burro de garimpo” (carregador de materiais e mantimentos) em Porto Velho (RO). Lá, pegou pela primeira vez em uma bateia (espécie de uma peneira usada na garimpagem manual). Para a maioira dos garimpeiros que viveram o início da corrida do ouro, o achado de uma pepita significava, antes de tudo, a garantia de uma grande farra. Para Zezão – que não bebe, não fuma e diz que não gosta de festa – cada grama encontrada representava mais um passo em direção ao sonho de comprar uma draga. Conseguiu a máquina em 80. Nesse mesmo ano, acho o seu primeiro vilão de ouro. Comprou máquinas que se transformaram em mais ouro – que por sua vez, viraram novas máquinas. Até a compra do Rosa de Maio, em 83, por 20 Kg de ouro, Zezão adquiriu o que hoje é tido como o garimpo mais rico do pais. Hoje, milionário e ainda analfabeto, o garimpeiro tem horror a papeis, títulos e ações. Se recusa a ter conta em banco. O ouro que vende, transforma em aviões, gado e equipamento de garimpo. O que não vende, guarda em local ignorado. A despesa de cerca de Cr$ 70 milhões que tem por semana – com mantimentos e manutenção – , paga em dinheiro vivo. Anda sempre com uma sacola cheia grudada ao corpo. Ele controla pessoalmente cada centavo de sua fortuna, embora não saiba fazer contas no papel. Não gosta de falar de dinheiro. Para Luiza, sua mulher, ó por medo de sequestros. Segundo seus empregados é medo da Receita Federal.