terça-feira, 2 de junho de 2015

Mineradora descobre reservas de ouro e platina

Mineradora descobre reservas de ouro e platina

A empresa canadense Colossus Minerals Inc., que começou a operar na região há pouco mais de um mês, anunciou ontem a descoberta de novas reservas de ouro, platina e paládio em Serra Pelada, no município paraense de Curionópolis. De acordo com o site Globo Amazônia, que deu a notícia em primeira mão, a mineradora descobriu dois depósitos nos arredores do foco central de garimpo da mina. Na década de 1980, Serra Pelada ganhou notoriedade internacional como o maior garimpo a céu aberto do mundo.

Consultado sobre o assunto, o geólogo Alberto Rogério, que por muitos anos pertenceu aos quadros do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) no Pará e que hoje atua como consultor técnico do Instituto Brasileiro de Mineração, o Ibram, adotou uma postura cautelosa. Ele disse ter tomado conhecimento do assunto pela internet, mas ressaltou que, até onde se sabe, os depósitos minerais existentes em Serra Pelada são aqueles já anunciados anteriormente: 33 toneladas de ouro, 4 de platina e 6 de paládio, um metal muito utilizado em ligas finas e trabalhos de joalheria.

De acordo com Alberto Rogério, o paládio tem hoje a cotação em bolsa de 450 dólares a onça (o equivalente a 31,1 gramas), contra US$ 1.200 para o ouro e US$ 1.500 para a platina. Com a notícia das descobertas, conforme revelou ontem a própria Colossus, as ações da mineradora canadense subiram 8,8% na Bolsa de Valores de Toronto.

O informe da mineradora, transmitido ontem à tarde para a imprensa de Marabá, confirmou a descoberta de dois depósitos com alta concentração de ouro e platina, o que aumenta ainda mais as expectativas de que existam mais reservas minerais ainda não descobertas na região. Os depósitos foram encontrados a 150 metros ao norte e 50 metros a oeste da zona central de Serra Pelada. A empresa pretende escavar mais profundamente a região onde os depósitos foram encontrados para expandir a exploração.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a retomada de Serra Pelada, cujo garimpo havia sido desativado em 1992, vinha sendo negociada desde 2003, mobilizando mais de vinte entidades de garimpeiros – entre associações, sindicatos e cooperativas. A entrada em cena da mineradora canadense Colossus Minerals Inc., porém, só começou a ser costurada há cerca de três anos.

RAMPA

A Colossus deve começar em outubro deste ano a construção de uma rampa subterrânea com extensão de 1,6 mil metros para investigar a área onde os novos depósitos foram encontrados.

CONCENTRAÇÃO

Segundo o vice-presidente de exploração da empresa, Vic Wall, as descobertas indicam que toda a região apresenta índices elevados de concentração de ouro.

>> Parceria da Colossus com Cooperativa já rende frutos

Em julho de 2007, a Colossus fez uma parceria com a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), para a exploração de ouro numa área de cem hectares do antigo garimpo, exatamente onde foram descobertos agora os novos depósitos.

A área de exploração, porém, já havia sido aumentada em março deste ano, quando a mineradora adquiriu mais de 770 hectares de novos terrenos. Essas áreas, no entorno do antigo garimpo, permanecem ainda inexploradas.

A febre do ouro em Serra Pelada

A febre do ouro em Serra Pelada

Guto da Costa tinha pouco dinheiro no bolso e muita esperança em 1983. Havia completado 18 anos, e “de maior”, sonhava em ficar rico. Andava de namorico com a filha de um homem “bem de vida”, que não via com bons olhos aquele romance ameaçando entrar sem pedir licença na própria casa. Com os brios feridos, o coração em chamas, o corpo afogueado, Guto olhou para a imensidão à frente, observou atônito, o vai e vem de homens embrutecidos e de poucas palavras, respirou fundo e disse a si mesmo. “É aqui que vou ‘enricar’ e voltar pra casar com ela”. Vinte e nove anos depois, Guto é dono de uma pequena venda em uma vila pobre e empoeirada. Ri dos arroubos da juventude. Nunca mais voltou para casa. Nem saiu do garimpo de Serra Pelada. A história poderia ser um enredo ficcional para uma novela ou filme. Mas é real. Como reais são as histórias de milhares de ex-garimpeiros de Serra Pelada. O mergulho em apenas uma delas é mais rico do que qualquer roteiro cinematográfico, mas o cinema insiste em tentar capturar a quase inatingível essência do mais famoso garimpo de ouro do Brasil.
A empreitada mais recente será a que unirá Wagner Moura, um dos mais talentosos atores de sua geração, ao diretor Heitor Dhalia. O filme terá como pano de fundo a região de Serra Pelada. A história se passa em 1978, quando dois amigos saem do Rio de Janeiro em direção ao Pará, com a intenção de encontrar ouro em Serra Pelada, mas a cobiça pelo poder e pela riqueza vai abalar a relação da dupla. Ao divulgar o projeto, Dhalia disse que há muito a ser explorado nessa história, que marcou uma época no Brasil e ainda não foi contada nos cinemas.
Os garimpeiros não tinham noção dessa grandiosidade épica quando fincaram pés e mãos no barro da serra em busca de ouro. Não pensavam em ser protagonistas ou coadjuvantes de nada. Sonhavam apenas com o metal que mudaria as próprias vidas. Cinema, por exemplo, só os do telão meio encardido que exibia uns filmes de faroeste. “Aqui tinha o telão do cinema todo dia, e sempre tinha um artista por aqui fazendo show. Aparecia uns circos de vez em quando. Os filmes que passava no cinema, os que os garimpeiros mais aplaudia, depois passava de novo”, lembra Almir Ferreira, 71 anos num português atropelado.
Quando Serra Pelada chamou a atenção do mundo, o cinema veio atrás. “Era nosso divertimento”, diz Ferreira. “Quando Os Trapalhões vieram aqui, se melaram tudo de melechete (lama proveniente da lavagem da terra). Aí enchia o saco de folhas, saía subindo as escadas na pedra preta que nem os garimpeiros. Mas o nosso era cheio de terra. Eu achei aquilo muito bom, pra você vê como nós era importante”.
“Os Trapalhões na Serra Pelada” é um filme de 1982, dirigido por J.B. Tanko. A história é simples. Os amigos Curió, Boroca, Mexelete e Bateia aventuram-se em busca de ouro no garimpo de Serra Pelada. A mina é controlada pelo estrangeiro Von Bermann, cujas ordens são executadas pelo capanga Bira. Sedento por poder, o gringo contrabandeia o ouro e deseja apoderar-se das terras do brasileiro Ribamar, que se recusa a fazer negócio antes da chegada do filho Chicão. Mesmo sendo uma típica comédia ao estilo de Renato Aragão e companhia, a sinopse do filme apresenta as possibilidades de discussão a respeito da forma colonizadora que caracteriza a região. O capital estrangeiro dominando o local onde homens simples tentam construir sonhos a partir de uma realidade difícil.
“Sabe qual é a história mais bonita, seu moço? É quando era só nós, os garimpeiros. O cara saía por dentro da mata, com saco de ouro nas costas, com um 38 do lado e mais uns quatro companheiros. Um respeitava o outro, mas não tinha muita conversa”, lembra Luiz Fonseca Oliveira, 65 anos, enquanto senta num banco rústico fugindo do sol. “Quando tirei a carteira de garimpeiro fiquei orgulhoso. Me senti gente importante, cidadão mesmo”, ri, olhando para o boné amassando nas próprias mãos.
Novos Colonizadores
Saber que Serra Pelada e outros pontos da Amazônia voltaram a interessar ao cinema nacional desperta reações diferentes. Como os próprios garimpeiros, a Amazônia será apenas cenário ou protagonista nessa relação?
“A região nunca saiu de foco, o que acontece é que os interesses dos ‘colonizadores’ de nossa sociedade moderna mudam de acordo com o que os convém em dado momento de espaço e tempo”, analisa o professor e videomaker Guto Nunes. “Do ponto de vista profissional pode ser uma boa resposta, desde que eles utilizem em suas produções, produtoras independentes e mão-de-obra profissional e a força braçal e intelectual do nosso povo”, diz.
Diretora do documentário “Serra Pelada: Esperança não é sonho”, Priscila Brasil não gosta quando falam em “redescoberta amazônica”. “A expressão é cheia de uma submissão da qual eu não gosto. Vários já se inspiraram nesse universo, cada um de um jeito, cada um na sua lógica. Uns enxergam a selva de uma maneira mais brutal, outros de uma maneira mais contemplativa, outros veem quase um zoológico gigante, tipo Simba Safari, que só falta rolar ar condicionado”, critica.
A supremacia do olhar estrangeiro
“É preciso mais que um dia para entender a história dos garimpeiros”, diz, com ar de quem viu muito, Pedro Bacabal, 53 anos. Homem de riso fácil que zomba do próprio destino, Bacabal chegou ao garimpo com 23 anos. Ganhou e perdeu dinheiro. Batendo com o cabo de uma enxada no chão, como a pontuar as palavras, enfatiza que em Serra Pelada os homens todos deixaram escorrer a juventude. “Como é que vou explicar isso ao senhor?”, questiona-se. “Eu acho que mesmo na melhor das produções ainda existe um olhar estrangeiro, os protagonistas são de fora, uma lacuna que só vamos talvez superar com nossas produções locais. O que me preocupa é se reforçarem o olhar do exótico, do coitadinho. Isso sempre me irrita”, diz Segtowick.
“Tem quem ache que a Amazônia tem vocação para cenário de filme - mas o cenário exuberante é um coadjuvante mal pago, infelizmente”, diz a jornalista, produtora e fotógrafa Maria Christina. “Embora eu deva concordar que a história ainda por ser contada deve ser efetivamente contada, seja em filmes ou obras literárias, o melhor era mesmo que nos deixassem em paz. Ilusão, claro, porque a região precisa de divisas, e minha indignação com toda a exploração que sofremos (cuja conta vamos pagar ad infinitum) me faz desejar que fôssemos invisíveis”, complementa.
Terra de feitos épicos (e homens invisíveis)
Invisibilidade social parece ter sido sempre a marca dos garimpeiros de Serra Pelada. Mesmo que tenham produzido feitos épicos. “O garimpo tirou uma serra de um lado e colocou em outro. Isso não é pra qualquer um”, bate no peito Manoel Martins de Oliveira, um homem que chegou ao garimpo em dezembro de 1980. Dizia-se que o ouro de Serra Pelada pagaria a dívida externa brasileira. Mais de três décadas depois, Antonio Bernardo, o Godô, luta aos 64 anos, contra uma hanseníase que lhe insiste em pregar peças. A última foi uma ferida no rosto. O curativo imenso esconde a chaga. Pobreza e doença se tornaram companheiras dos ex-garimpeiros. Juntam-se à saudade, a uma melancolia resignada, a um bom humor de quem viu e viveu boas aventura e à incerteza dos dias que restam.
“A gente fez parte do Brasil. Eu sei disso”, diz o ex-garimpeiro que só atende pelo nome de Nick. É o pseudônimo que ele descobriu para dar vazão ao lado artista. Nick é pintor. Exibe os quadros com orgulho. A febre do ouro passou. Para ele não volta mais. Não?
Nos fundos da Loja Kaleny, bem no centro da vila de Serra Pelada, duas fotos chamam a atenção. Numa está a clássica imagem do formigueiro humano que foi o garimpo nos anos 80. Ao lado, uma foto com dois homens, sujos de lama da cabeça aos pés, outra imagem bastante difundida de Serra Pelada. É quase impossível reconhecer que o rapaz de 23 anos que posa com ar de esperança na foto, em um dia perdido de 1985, seja o mesmo proprietário da loja que vende de tudo um pouco. Cláudio Moraes tem hoje 49 anos e criou as duas filhas na vila de Serra Pelada. “Não enriqueci, ganhei problema de hérnia de disco, de coluna, mas sei que fiz parte de uma história bonita do Brasil”, diz. Cláudio Moraes está relativamente estabilizado. Não precisa diretamente do ouro do garimpo, mas quem disse que deixou de sonhar em voltar à ativa? “Daqui não arredo pé. Se esse garimpo voltar a dar ouro de novo, quero estar aqui”, afirma. Alguém registraria a cena?

Começa o segundo ciclo do ouro no Pará

Começa o segundo ciclo do ouro no Pará

OEstado do Pará ganhou notoriedade nacional e internacional, na segunda metade do século passado, graças à sua extraordinária produção de ouro. Primeiro com os milhares de garimpos espalhados no vale do Tapajós, tendo como polo de referência a cidade de Itaituba. Acredita-se que tenham sido extraídas da região, a partir de 1950, cerca de 500 toneladas de ouro. Mais tarde, já na década de 1980, a notoriedade ficou por conta de Serra Pelada, que, com seu formigueiro humano, foi na época internacionalmente reconhecido como o maior garimpo de ouro do planeta.
No final da década de 1990, com o declínio da atividade garimpeira, o que fez despencar também os números da produção, parecia ter-se acabado o ciclo do ouro no Pará. Esta era, porém, uma percepção equivocada. Na verdade, o Pará, detentor de alguns dos mais importantes distritos auríferos do país, está iniciando precisamente agora o segundo ciclo do ouro, este com uma importância econômica provavelmente muito superior ao primeiro.
O que muda, neste novo cenário, são as características da atividade extrativa: em vez da garimpagem manual, com o emprego de mão de obra intensiva e em condições brutais de trabalho do garimpo, entra em cena a mineração empresarial, com seu arsenal tecnológico, a lavra mecanizada e as técnicas mais sofisticadas de extração de metais. Sobrevivendo residualmente, os garimpos convencionais passam a ter importância secundária. A tendência é de aumento progressivo dos volumes de produção e de significativa redução dos impactos ambientais. A bateia e o mercúrio, símbolos do garimpo no século passado, ocupam página virada na história da produção de ouro no Pará e na Amazônia.
Em Belém, o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, dispõe de números que confirmam a nova corrida ao ouro no Estado do Pará. Num levantamento ligeiro, limitado somente às áreas com alguma tradição garimpeira, o Departamento confirmou, na sexta-feira, a existência de quase duas centenas de autorizações de pesquisa específicas para exploração de ouro em alguns municípios do Pará. Entre eles está Altamira, com 18 autorizações, Eldorado dos Carajás com 8, Marabá com 17 e Parauapebas com 15.
AUTORIZAÇÕES
Um caso especial é o município de Itaituba, no vale do Tapajós, região oeste do Pará. Berço da mais intensa atividade garimpeira do mundo durante quatro décadas (1950/1990), Itaituba conta hoje com 86 autorizações expedidas pelo DNPM só para pesquisa de ouro. No município de Itaituba já está confirmada a descoberta de pelo menos duas jazidas de classe mundial e se encontra em operação a única mina de exploração mecanizada hoje existente no Pará, a Serabi Mineração. Antes dela, o Pará só teve uma mina mecanizada de ouro – a do Igarapé Bahia, explorada pela Vale em Carajás na década de 1990, com produção realizada de quase 100 toneladas. A próxima será a Nova Serra Pelada, em Curionópolis.
Quando o assunto é ouro, aliás, Itaituba sempre é capaz de surpreender e impressionar. Além da única mina mecanizada e do grande número de autorizações de pesquisa, o município concentra também o maior quantitativo de Permissão de Lavra Garimpeira (PLG). Esse tipo de autorização é concedido pelo DNPM a empresas e pessoas físicas exclusivamente para a extração de ouro em depósitos secundários, através de processo manual ou mecanizado, em áreas não superiores a 50 hectares.
De acordo com o superintendente em exercício do DNPM no Pará, Raimundo Abraão Teixeira, existem hoje cerca de quatro mil PLG’s expedidas para o município de Itaituba. Ele lembra, porém, que por volta de 1993 a 1995, quando o Ministério de Minas e Energia autorizou essas permissões, houve uma verdadeira avalanche de pedidos para aquele município. “Nós chegamos a ter naquela época mais de 40 mil requerimentos somente para Itaituba”, finalizou

Febre de extração de ouro toma conta de Viseu PARÁ

Febre de extração de ouro toma conta de Viseu

Em um mês, 350 garimpeiros já se instalaram no manguezal da ilha de Samaúma à procura do metal

A ‘fofoca’ começou há pouco mais de um mês. De lá para cá, cerca de 350 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, dividem espaço no manguezal da ilha de Samaúma em busca de ouro. A atividade garimpeira aos poucos começa a transformar a rotina do município de Viseu, no nordeste paraense, que corre o risco de ver a ‘febre do ouro’ tomar conta da cidade.

Pelo menos 200 maranhenses já fincaram barracos no mangue em busca do metal. Garimpeiros de primeira viagem e gente que já se viciou em pular de garimpo em garimpo. No município, o assunto é tratado com cautela. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente já notificou o Ibama sobre a atividade garimpeira no mangue. O Ibama prometeu vistoriar o local em agosto.

O prefeito Cristiano Vale (PR) diz que é preciso ter muito cuidado com o garimpo. “A cidade não tem estrutura para suportar a vinda de muita gente para cá”, afirma. “É garimpo de gente pobre”, diz o microempresário J. Maia, minimizando a atividade. Maia, no entanto, já fincou um barraco no local.

FAVELA RIBEIRINHA

A ilha de Samaúma fica distante cerca de uma hora de Viseu, em barco do tipo popopô. Todos os dias, dezenas deles saem do porto do Mangueirão, uma favela às margens do rio Gurupi. Levam o rancho para passar até uma semana no garimpo. Outros vão e voltam todos os dias.

A lavra tem sido feita de forma manual, obedecendo o ciclo das marés. É que o ouro está misturado à lama do mangue. Quando a maré seca os garimpeiros tomam conta do espaço. Ao final do dia, muitos obtêm alguns gramas do metal.

Jurandir Gomes de Almeida, 43 anos, havia conseguido 3 gramas depois de uma manhã inteira de trabalho. Já estava há três dias no local, vindo de Godofredo Viana, uma localidade do Maranhão. Nos últimos 12 anos, Jurandir corre atrás da ‘fofoca’, como os garimpeiros chamam a boataria de que um novo garimpo apareceu. “Tá no sangue”, diz ele.

“É uma coisa linda de se ver, o tal do ouro”, diz João Edmilson, 45 anos. Apoiando-se numa muleta, desde que perdeu um dos pés para um tétano, João experimenta a sensação de ser garimpeiro depois de ter dedicado a vida à pesca e à lavoura. É ele quem está tentando articular os garimpeiros para que criem uma associação. “A papelada já tá caminhando em Viseu”, diz ele.

João é morador antigo da ilha de Samaúma. É ele quem conta a história que vem se transformando em lenda a respeito da origem do garimpo. “Há 25 anos uma balsa encostou aqui e o pessoal começou a procurar ouro. De repente eles abandonaram tudo. Foram embora e não levaram nada. Devem ter achado muito ouro, era o que todo mundo pensava. Será que ainda tem? Essa era a indagação que se fazia. E de repente começou do nada de novo”, conta.

Bastou que um aparecesse com alguns gramas de ouro para que a notícia se espalhasse. “Já viu né, o pessoal sente o cheiro de longe”, diz João Edmilson.

>> No acampamento de Samaúma, mulheres e crianças trabalham

Os garimpeiros dizem que a extração tem sido toda feita de forma manual. Não entram máquinas, como as “chupadeiras”, que fazem o trabalho mais rápido e nem é usado o azougue, que contém o temido mercúrio, bom para limpar as impurezas do ouro, mas péssimo para rios. “Chegou máquina a gente nem deixa encostar”, diz Raimundo Mesquita de Oliveira, 62 anos. Oliveira deixou a roça na mão da mulher e foi com filho, irmão e sobrinho tentar a sorte no Garimpo do Samaúma. “Não sou profissional”, diz ele. Mas como a notícia faz brilhar e ferver os olhos de homens embrutecidos, há duas semanas Mesquita armou o barracão de lona no mangue. “A gente tá com fé de que vai achar uma coisinha boa”, diz.

Ao contrário de muitos outros garimpos, no Samaúma as mulheres têm voz e braços ativos. Zilmar da Silva tem 44 anos e há 19 é garimpeira. Começou acompanhando o pai, que não queria de jeito e maneira que ela se enfurnasse em garimpo. Adiantou? “Nada”, diz ela. Zilmar começou cozinhando para os homens. Foi olhando daqui, prestando atenção ali, que começou a tentar usar a bateia. Não parou mais. “Um serviço desse aqui não tem ninguém para ficar te mandando”, diz ela, enquanto mostra no fundo da bateia o ouro que achara pela manhã.

Carmem Lúcia Tavares, 46 anos, acompanha o marido. A comida vem pronta. “Quem pensa que é fácil tá é enganado. É complicado esse serviço”, diz ela. Os filhos, de 12 e 14 anos, ajudam. Só o de 14 sabe “bateiar”. Já achou ouro, inclusive. “Segunda-feira eles vêm, mas não porque começa a aula”, tenta convencer.

>> Brasileiros que fizeram de sua vida a corrida pela sorte

A história de Francisco de Assis Alves, 52 anos, pode ser contada a partir dos garimpos onde foi tentar bamburrar. Começou em 1979, no garimpo de Peixoto do Azevedo, em Mato Grosso. Em 1983 estava em Serra Pelada. Passou por Bom Futuro, em Rondônia, e estava em terras ianomâmi em 1988 quando o então presidente Fernando

Collor mandou explodir a pista clandestina de pouso, para afugentar os garimpeiros. “Onde tem a fofoca eu vou”, diz ele.

Já Valdenio Monteiro Soares, 40 anos, vive a primeira experiência em garimpo. Segurança de um gerente de banco em Viseu, diz que tem esperança de achar um metalzinho. “Quem sabe a sorte não bate? Tem de ter fé”, argumenta.

Nos dentes de Flávio de Oliveira, 40 anos, há a lembrança de outros garimpos. O ouro reluz na frente da dentadura. Oliveira passou pelo Suriname. “O garimpo de lá já foi bom, mas os morenos não gostam muito dos brasileiros”, diz ele.

Os olhos azuis de José Benedito

Lira piscam desconfiados. Para ele, todo mundo é espião do Ibama. Benedito vive em garimpos desde 1986. Mas traz também

outra marca. É irmão de Quintino Lira, o lendário líder posseiro que criou fama nos anos 80, antes de ser assassinado pela polícia. “Me diga uma coisa, moço... não somos brasileiros? Então por que não

deixam a gente trabalhar?”, questiona. Logo em seguida vai até o barco e traz uma bandeira brasileira. “É aqui que eu vou fincar ela. E vou achar meu ouro”, diz.

Ouro: geólogos buscam minas em 4 regiões no Pará

Ouro: geólogos buscam minas em 4 regiões no Pará

Para as pesquisas geológicas, os anos 90 foram quase uma década perdida, com poucos investimentos. Porém, nos últimos anos, o trabalho foi retomado e hoje há uma espécie de caça ao tesouro em quatro grandes regiões do Pará. São levantamentos geológicos com grande detalhamento que alimentam a esperança de encontrar novas províncias minerais no Estado, mantendo o Pará no mapa da mineração por mais uma centena de anos.

Entre as regiões estudadas está a do Tapajós, que atraiu milhares de pessoas no final dos anos 70 e ao longo da década de 80, quando entrou em decadência com o esgotamento dos garimpos.

Estão sendo feitos levantamentos também no entorno do antigo garimpo de Serra Pelada, numa região que se estende pelos municípios de Novo Repartimento, Marabá, Itupiranga, Pacajá e Anapu, somando mais de 18 mil quilômetros quadrados.

ESTUDOS

O nordeste do Estado também está na mira dos geólogos. Há estudos nos municípios de Viseu, Cachoeira do Piriá, Nova Esperança do Piriá, Santa Luzia do Pará, Garrafão do Norte, Bragança, Capitão Poço e Ourém.

Todos esses estudos são feitos pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), entidade que ontem comemorou 40 anos com sessão especial na Assembleia Legislativa do Pará. Parte do trabalho está prevista para terminar a partir do final do ano que vem. Até lá será possível indicar quais regiões do Estado poderão fomentar um novo ciclo do ouro nas próximas décadas. Os recursos para esses estudos já somam mais de R$ 20 milhões e vêm de convênios e também do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Autor do requerimento para realização da sessão, o deputado Airton Faleiro disse que o objetivo era apresentar à sociedade o importante trabalho da CPRM, ainda pouco conhecido do grande público. A CPRM é responsável por levantar e também organizar conhecimento geológico sobre o território brasileiro. A entidade acaba de concluir, por exemplo, um banco de dados com informações geológicas do Estado que será apresentado hoje na Universidade Federal do Pará.

A sessão teve a presença do superintendente da CPRM no Pará, Manfredo Ximenes, e do diretor-presidente, Agamenon Dantas.

ÁREAS

Entre as regiões estudadas está a do Tapajós. Estão sendo feitos levantamentos também no entorno do antigo garimpo de Serra Pelada, numa região que se estende pelos municípios de Novo Repartimento, Marabá, Itupiranga, Pacajá e Anapu.

Há estudos nos municípios de Viseu, Cachoeira do Piriá, Nova Esperança do Piriá, Santa Luzia do Pará, Garrafão do Norte, Bragança, Capitão Poço e Ourém.