domingo, 7 de junho de 2015

GEMAS DE COLEÇÃO

GEMAS DE COLEÇÃO




Gemas menos tradicionais e de uso pouco difundido em joalheria podem ser cobiçadas por colecionadores por sua raridade e beleza, apesar de possuirem produção irregular e restrita a poucas localidades.

O Brasil é fonte de diversas dessas gemas de coleção, entre as quais destacaremos, neste artigo, a brasilianita, o esfênio e o euclásio.
BRASILIANITA
Rara gema de coleção de cor amarela esverdeada clara, deve seu nome ao nosso país por ter sido aqui descoberta, no ano de 1942, em um pegmatito do município de Divino das Laranjeiras, em Minas Gerais. Proporciona belos espécimes de coleção de forma prismática.
Constitui-se de um fosfato de sódio e alumínio e, além do local do primeiro achado, há outras ocorrências com pequena ou insignificante produção atual, em Minas Gerais (Linópolis e Mendes Pimentel), Rio Grande do Norte (Parelhas e Alto do Giz) e Paraíba (Alto Patrimônio).
Possui dureza 5 ½, densidade 2,94 (± 0,03) e índices de refração de 1,602 - 1,621 (± 0,003), com uma birrefringência de 0,019 a 0,021.
ESFÊNIO
Também conhecida como titanita, esta gema de coleção ocorre nas cores amarela, verde e marrom. Em estado bruto, é reconhecível por sua forma cristalográfica com aspecto de cunha, clivagem prismática e, nos exemplares facetados, por sua elevada dispersão (superior à do diamante e realçada ao lapidá-lo em estilo brilhante, mas nunca em cabochão).
Quimicamente, constitui-se de um silicato de titânio e cálcio, de dureza 5 a 5 ½, densidade 3,52 (± 0,02) e pleocroísmo intenso. Seus elevados índices de refração, 1,900 - 2,034 (± 0,020), proporcionam um brilho sub-adamantino e sua elevada birrefringência, da ordem de 0,100 a 0,135, ocasiona a duplicação das arestas do pavilhão em exemplares lapidados, ao serem  observados através da mesa.
O esfênio exibe um espectro de absorção com uma série de linhas nas regiões do alaranjado e do amarelo, devidas aos denominados elementos terras raras. A principal ocorrência brasileira localiza-se no município de Capelinha, em Minas Gerais.
EUCLÁSIO
Gema muito apreciada pelos colecionadores, costuma ocorrer na forma incolor, bem como em cores claras, sendo o azul e o verde seus matizes mais frequentes, enquanto o amarelo e o violeta são menos comuns.
Possui dureza 7 ½, densidade 3,10 (± 0,01) e índices de refração 1,654 (- 0,004) - 1,673 (- 0,002 a + 0,004), com uma birrefringência de 0,019 a 0,025.
No Brasil, um dos poucos países onde há ocorrência deste mineral com qualidade gemológica, ele é encontrado em Minas Gerais, nos municípios de Ouro Preto – onde ocorre associado ao topázio imperial -, São Sebastião do Maranhão e Buenópolis, bem como no Rio Grande do Norte, na localidade de Equador.

TURQUESA

TURQUESA




Esta gema deve sua beleza a sua extraordinária cor azul celeste e é utilizada desde a mais remota Antiguidade. Há relatos de sua aplicação como pedra ornamental desde aproximadamente 3.000 a.C. e, possivelmente, antes da Primeira Dinastia do Antigo Egito. Era também muito apreciada pelas antigas civilizações astecas do México e da América Central.

O termo turquesa, empregado desde a Antiguidade, tem origem incerta. Uma versão sustenta que deriva do francês arcaico “tourques”, que significa “pedra da Turquia”, não por proceder deste país, mas pelo fato de que as pedras provenientes da Península do Sinai chegavam a Europa através dele.
Outra versão dá conta de que o termo referia-se a algo estranho ou distante, como tudo que se referia ao Oriente. O certo é que os turcos estavam familiarizados com esta gema, especialmete com exemplares oriundos da antiga Pérsia, o atual Irã.
Em termos de composição química, a turquesa consiste de um fosfato hidratado de alumínio e cobre, cuja exeuberante cor deve-se a este último elemento. Geralmente, parte do alumínio é substituída por ferro. À medida que isto ocorre, o material tende a uma tonalidade verde azulada, que geralmente possui menor aceitação comercial.
A turquesa é uma das gemas que planteia maior dificuldade de identificação, por conta da existência de minerais de aspecto semelhante, além de possuir um equivalente sintético e inúmeros tratamentos e imitações.

Em geral, admite-se que a turquesa é criptocristalina e sua massa está constituída por um sem número de diminutos cristais misturadas com material amorfo e poroso. A textura superficial irregular da turquesa autêntica é muito característica: o material amorfo de cor azul pálida aparece salpicado de partículas de cor branca e frequentemente se observam veios de limonita (um óxido de ferro) escuros.

A turquesa é opaca a semi-translúcida, possui brilho céreo (presente em qualquer fratura ou superfície quebrada), dureza 5 a 6,  densidade 2,76 (- 0,45 a + 0,08), índices de refração 1,610 - 1,650 (- 0,006), sendo a leitura do índice médio, pelo método de visão distante, em torno de 1,61 a 1,62.
O espectro de absorção da turquesa na região da luz visível apresenta bandas no azul e no violeta, que são dificilmente observáveis, mesmo através das bordas dos exemplares traslûcidos com iluminação intensa.
A turquesa ocorre principalmente em rochas sedimentares, na forma massiva compacta ou reniforme, no Irã (minas de Nishapur, na Província de Khorassan), México, China, Perú e EUA (sudoeste do país, nos Estados do Arizona, Colorado, Nevada, Novo México e Califórnia).
No Brasil, até onde sabemos, houveram ocorrências sem produção significativa no Estado da Bahia, na região de Casa Nova, hoje encoberta pelas águas da barragem de Sobradinho; e em Minas Gerais, na localidade de Conselheiro Mata.
Sua alta porosidade permite a impregnação com ceras, resinas, plásticos ou outras substâncias, com o objetivo de estabilizar a cor e manter o polimento.
A turquesa foi obtida por síntese pela primeira vez pelo fabricante Pierre Gilson em 1972. O material tem uma textura superficial diferente do natural e cujo aspecto, curiosamente, se assemelha ao do creme de trigo. Pode ser separado do natural também por meio de susceptibilidade magnética ou da técnica avançada de espectroscopia de infra-vermelho.
Vários tipos de turquesa reconstituída são produzidos a partir de turquesa natural de baixa qualidade (muito clara e pouco dura) e dela se diferenciam pelas ausências da típica textura superficial e do espectro de absorção, bem como pela menor densidade e maior porosidade.
A turquesa é mais comumente lapidada em cabochões de diversas formas, além de contas, sendo também utilizada em esculturas e outros objetos de adorno.

DESAFIOS À FRENTE

DESAFIOS À FRENTE




O progresso da gemologia depende de uma estreita e saudável relação com a ciência, com a indústria joalheira e com o público consumidor.

Durante muito tempo, a gemologia restringiu-se, principalmente, ao estudo, à identificação e à caracterização de gemas naturais e à distinção de suas equivalentes sintéticas e tratadas.
Tudo transcorreu sem maiores embaraços enquanto os melhoramentos de gemas se resumriam ao tratamento térmico, à irradiação, ao tingimento e ao preenchimento de fraturas com óleos e resinas.
Nos últimos anos, no entanto, tratamentos mais complexos têm sido desenvolvidos e rapidamente lançados no mercado e sua detecção requer, em muitos casos, técnicas analíticas avançadas, que impõem mais tempo de exame e custos mais elevados.
Intensiva e laboriosa pesquisa tem sido empreendida em várias partes do mundo com o objetivo de desvendar estes novos tratamentos e tornar a detecção de, ao menos parte deles, rotineiramente possível por meio de métodos estritamente gemológicos, o que, definitivamente, é tarefa das mais difíceis.
Por outro lado, o ensino e a difusão da gemologia precisam ser constantemente atualizados e devem passar a cobrir um escopo mais abrangente de temas, visando acompanhar a dinâmica e os avanços da indústria joalheira.
Além dos tradicionais tópicos relacionados à origem, modos de ocorrência, propriedades e meios de identificação das gemas, ganharam importância temas como normatização, classificação de qualidade, certificação, revelação de tratamentos, comprometimentos ambiental e social, e práticas comerciais.
Ademais, é recomendável que os segmentos da cadeia produtiva do setor de gemas e joias instruam o público consumidor e lhe disponibilizem, tanto individual como coletivamente - por meio de publicações, palestras, apresentações e outros meios disponíveis - as informações gemológicas mais importantes sobre os produtos que adquire, transmitindo-lhe assim a confiança e a segurança imprescindíveis para bem respaldar suas transações comerciais.

TRANSPARÊNCIA


TRANSPARÊNCIA




A beleza das gemas depende inteiramente da luz, que as tornam únicas e cobiçadas. Quando um raio de luz incide sobre uma delas, com ela se interage e nos transmite cor, brilho, fogo, efeitos ópticos e transparência.

Por este último termo designamos a quantidade de luz que pode ser transmitida através de uma substância, também denominada diafaneidade. Esta depende das porções de luz absorvidas e dispersadas ao passar através da gema, bem como da quantidade de luz refletida por sua superfície.
As gemas se classificam, quanto à transparência, em:
Transparentes: aquelas que se deixam atravessar pela luz, permitindo distinguir perfeitamente o contorno de um objeto visto através delas.
Translúcidas: apenas parte da luz é transmitida, mal permitindo ver um objeto através delas.
Opacas: impedem totalmente a transmissão da luz.
A rigor, pode-se acrescentar o termo “semitransparente”, para referir-se às substâncias que se deixam atravessar quase totalmente pela luz, mas o contorno de um objeto visto através delas não é inteiramente nítido. Do mesmo modo, a designação “semitranslúcida” pode ser usada para descrever as substâncias que transmitem apenas uma ínfima parte da luz, não permitindo que vejamos um objeto através delas.
A maior parte dos principais tipos de gemas ocorre mais comumente na forma transparente (diamante, rubi, safira, esmeralda, etc), o que não significa que não possam ser encontrados também como espécimes translúcidos ou opacos. Por outro lado, os que ocorrem usualmente na forma opaca (lápis-lazúli, turquesa, ônix, etc), ou translúcida (jade, opala de fogo, quartzo rosa, prehnita, etc), raramente ou jamais ocorrem na forma transparente.
É oportuno salientar que, embora tendamos a considerar sinônimos os termos transparente e translúcido, no que tange à gemologia eles têm diferentes significados, como se pode constatar por suas definições.

MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DA DUPLA REFRAÇÃO

MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO
DA DUPLA REFRAÇÃO





No artigo anterior, descrevemos a propriedade óptica conhecida como refração e a técnica de determinação da “dupla refração”, por meio do instrumento denominado refratômetro.

Neste, abordaremos dois outros métodos de averiguação da dupla refração de uma gema, o primeiro utilizando um instrumento denominado polariscópio e o segundo empregando-se uma lupa de 10 aumentos.
Polariscópio
Este é um instrumento simples que consiste de 2 filtros polaróides giratórios montados paralelamente um sobre o outro, em posição horizontal.

Polariscópio
(Foto: Luiz Antonio Gomes da Silveira)
As direções de vibração da luz através desses 2 filtros devem ser perpendiculares entre si, o que se consegue girando o filtro superior até obstruir a passagem da luz que chegaria ao observador, procedente da base do instrumento.
Ao se colocar uma gema entre filtros cruzados, apoiá-la sobre o filtro inferior e promover-se uma rotação completa deste, ela pode se comportar segundo uma das seguintes possibilidades:
- permanece escura: a gema é monorrefringente (minerais do sistema cúbico e materiais amorfo)s;
- transmite e extingue a luz alternadamente: a gema é birrefringente (minerais dos demais sistemas);
- permanece clara: a gema é um agregado birrefringente;
- não transmite nem extingue completamente a luz, aparecendo manchada: a gema é “birrefringente” anômala (minerais do sistema cúbico e materiais amorfos submetidos a tensões).
Outra forma de realizar o teste com os mesmos resultados, consiste em manter fixos os filtros cruzados e girar a pedra lentamente, observando-se o seu comportamento.
Lupa
Caso uma gema possua dupla refração e sua birrefringência seja elevada, pode-se detectar este fenômeno pela simples observação do exemplar com uma lupa de 10 aumentos.
A gema deve ser examinada através de sua faceta principal (mesa), focalizando-se nitidamente as arestas das facetas inferiores próximas à culaça, quando se notará que estas aparecerão duplicadas.
Este procedimento é muito útil na distinção entre o diamante e a moissanita sintética, uma vez que o primeiro cristaliza-se no sistema cúbico (portanto é monorrefringente), enquanto a segunda apresenta o referido efeito de maneira muito evidente, pois possui elevada birrefringência (0,043).
Como todas as gemas birrefringentes têm uma direção de monorrefringência - que eventual ou propositadamente poderá coincidir com a direção perpendicular à mesa - é prudente examiná-las também em outras direções na tentativa de detectar uma possível duplicação de arestas.

Duplicação das arestas do pavilhão em moissanita sintética observada através de faceta bezel
(Foto: Richard B. Drucker - www.gemguide.com)
Fontes: