sábado, 5 de março de 2016

Diamantes de sangue

Diamantes de sangue


Vítima do diamante
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Vítima de conflito em áreas
de exploração de diamantes
Se você já tentou comprar um diamante, sabe que ponderar os quatro Cs é difícil o bastante sem ter de se preocupar com o comércio das pedras. Mas, em termos éticos, a origem de um diamante pode ser a sua mais importante consideração. Talvez a maior controvérsia que o comércio de diamantes enfrenta hoje seja a dos diamantes de regiões de conflito, também conhecidos como “diamantes de sangue”, devido ao sangue derramado para obtê-los.
Um diamante de região de conflito foi roubado ou garimpado ilegalmente e depois vendido com o objetivo de arrecadar dinheiro para grupos terroristas ou paramilitares rebeldes. Esses grupos ganham o dinheiro de que precisam para adquirir armas forçando homens, mulheres e crianças a garimpar diamantes. Quem quer que proteste termine morto, ou sofre a ameaça de ter um membro amputado. A maior parte dos diamantes de regiões em conflito vem de Angola, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Libéria e Serra Leoa. Se você não for cauteloso ao comprar, pode estar adquirindo uma dessas pedras.
Os diamantes de regiões de conflito são introduzidos por contrabando no fluxo do comércio legítimo de pedras. As Nações Unidas (ONU), o Conflict-Free Diamond Council e outros grupos estão trabalhando para promover melhor regulamentação, de forma a evitar que os diamantes de regiões em conflito cheguem ao mercado. Esses grupos instituíram o Processo de Kimberley, que monitora e certifica a procedência dos diamantes em cada estágio do seu processo de produção. Devido ao Processo de Kimberley, a ONU estima que 99,8% dos diamantes disponíveis hoje no mercado não provenham de zonas de conflito {fonte: National Geographic]. Antes de adquirir um diamante, você pode solicitar a apresentação do certificado que prova que ele não provém de uma região de conflito - no futuro, a ONU vai exigir também que eles contenham gravações a laser e assinaturas ópticas, e que sejam integralmente produzidos em um só país.
Os diamantes de zonas de conflito não são a única controvérsia que macula a imagem do comércio da pedra: questões de direitos humanos e dos animais também são freqüentes na Índia bem como em certos países da África. Nos países africanos, as mineradoras usam crianças para garimpar espaços subterrâneos apertados nos quais adultos não cabem, ainda que o trabalho infantil seja ilegal. As cidades mineiras desses países africanos também sofrem incidência ampliada de homicídio eHIV, como resultado de invasões e do comércio sexual. Na Índia, que responde pela lapidação de 92% dos menores diamantes mundiais, crianças cuidam das menores pedras, porque têm vista melhor e dedos menores, mais apropriados para dar forma às minúsculas facetas [fonte: MSN]. Desgaste severo da visão, lesões por movimentos repetitivos e infecções pulmonares causadas pela aspiração de diamantes são apenas alguns dos problemas que afligem esses trabalhadores.
Os defensores dos direitos dos animais também têm tanto em jogo quanto os defensores dos direitos humanos, no que tange à mineração de diamantes. De acordo com o Instituto de Bem-Estar Animal (Animal Welfare Institute), as populações de primatas africanos estão minguando - dentro de 15 a 20 anos, os primatas estarão extintos. A população de chimpanzés se reduziu a apenas 150 mil e, com o abate ilegal de 600 gorilas ao ano, eles também estão diante da ameaça de extinção. A população decrescente de primatas pode ser atribuída em parte à caça ilegal, mas nem toda caça é por esporte. Alguns mineradores de diamantes famintos dependem da carne desses animais para sua sobrevivência.
Macacos ameaçados de extinção
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Garimpeiros ilegais se alimentam de macacos
Os mineiros famintos não são os únicos caçadores clandestinos. Em países de fora da África, a carne de animais selvagens é considerado um prato refinado, e representa um produto lucrativo. A carne mais procurada é a dos bonobos, chimpanzés, pangolins gigantes e gorilas. Até 10 toneladas de carnes exóticas como essas chegam como contrabando ao aeroporto de Heathrow, em Londres, a cada dia. [fonte: Animal Welfare Institute].
Os índios Cinta Larga: um conflito brasileiro
Há mais de 30 anos, os índios Cinta Larga, que vivem na Terra Indígena Roosevelt, em Rodônia, na Amazônia, sofrem com a invasão de garimpeiros atrás de pedras de diamantes. Houve épocas em que mais de 8 mil garimpeiros teriam invadido as terras onde vivem 1.300 índios. O resultado é de violência e mortes, além da presença da prostituição na área. É bom lembrar que os índios têm o direito a garimpar em suas terras, mas a presença de mineiros no local é proibida e rechaçada pelos próprios índios. Além disso, os danos ambientais na reserva são enormes, com vários focos de desmatamento e a extinção de determinados rios.

Uma jogada de marketing

Uma jogada de marketing


O segredo do sucesso da De Beers é uma campanha de marketing que convence as mulheres de que deveriam receber um anel de diamantes de seus noivos e convence homens jovens a pagar "dois meses de salário" por aquele anel que representa o tamanho de seu amor.
Antes de 1930, anéis de diamantes eram raramente oferecidos como anéis de noivado. Opalas, rubis, safiras e turquesas eram consideradas pedras preciosas muito mais exóticas para representar o amor de alguém, de acordo com o livro "Vinte propagandas que abalaram o mundo", de James B. Twitchell. Ele descreve como a De Beers mudou o mercado mundial dos diamantes.
Esta idéia de ligar os diamantes ao romance foi capturada em uma campanha publicitária brilhante em 1940, aumentando sua procura. Certamente, você já ouviu falar sobre a propaganda da De Beers dizendo que "Um diamante é para sempre". Esta campanha publicitária, criada pela agência N.W. Ayer em 1947, mudou o mercado dos diamantes. Em 2000, a revista Advertising Age (site em inglês) chamou a campanha de "o slogan do século XX". A De Beers se infiltrou no Japão com a mesma campanha em 1960 e o público japonês comprou a idéia, da mesma forma que os americanos.
Mais tarde, suas propagandas pediam aos consumidores que guardassem suas jóias de diamantes e que cuidassem delas como relíquia de família e funcionou. Isso eliminou o mercado secundário, que mais tarde permitiu que eles o controlassem. Sem pessoas vendendo seus diamantes de volta para as joalherias ou para outras pessoas, a procura por novos diamantes aumentou.
Novas Campanhas para Diamantes

A De Beers continuou a persuadir o público a adquirir diamantes, no século 21. Em 2001, foi lançado o anel com três pedras “passado, presente e futuro”, que logo se tornou um presente essencial em aniversários de casamento. O linha de jóias “Journey”, de 2006, explorava o mesmo conceito, mas, em lugar de transmitir sua mensagem com apenas três pedras, essa linha tenta simbolizar o crescimento do amor pela disposição ordenada de diversos diamantes, do pequeno ao grande. E, em 2004, a De Beers tentou chegar a um setor então inexplorado do mercado - as mulheres solteiras - com a campanha “anel para a mão direita”, que encorajava as mulheres a comprarem diamantes para elas mesmas.
Existem menos de 200 pessoas ou empresas autorizadas a comprar diamantes brutos da De Beers. Estas pessoas são chamadas de sightholders (atacadistas de pedras brutas) e compram os diamantes através da Central Selling Organization - CSO (Organização Central de Vendas), uma subsidiária da De Beers que comercializa cerca de 70 a 80% dos diamantes de todo o mundo. A De Beers vende uma parcela de diamantes brutos para um sightholder que, por sua vez, os envia para empresas de polimento e, em seguida, para os distribuidores.
Eles estocam pilhas de diamantes extraídos de vários países e liberam
um número limitado para venda todos os anos. Produzem metade do
fornecimento do mundo todo e controlam cerca de dois terços do mercado
mundial, de acordo com o Washington Post. De vez em quando, para manter
os preços altos, trazem grandes quantidades de diamantes de outros
países, na tentativa de injetar grandes quantidades no mercado. Se
fosse uma empresa estabelecida nos Estados Unidos, estaria violando
leis antimonopolistas, por fixar os preços dos diamantes.
Diamantes brutos são vendidos fora da CSO. Eles vêm de pequenos produtores na Austrália, Rússia e alguns países africanos. O custo é ainda muito influenciado pelos preços definidos pela CSO.
Diamantes são as pedras preciosas mais desejadas, e isso é testemunhado pela procura extremamente alta. Nem sempre foi assim, apesar de tudo, diamantes são pedras preciosas sofisticadas que passam por um longo processo de refinamento, desde o momento que são tiradas da terra até chegarem às joalherias. E, já que um pouco do misticismo em torno do diamante já se foi, além do mais é apenas carbono, ele provavelmente continuará sendo uma jóia muito desejada, pois, "um diamante é para sempre".
Porém, como se costuma dizer, a beleza sempre tem seu preço. E, às vezes, este preço extrapola a questão financeira. Na próxima seção, examinaremos uma das maiores controvérsias da indústria do diamante.

Os quatro princípios

Os quatro princípios


Diamantes são julgados em diferentes fatores que determinam sua beleza. A maioria nem chega até o consumidor por possuir muitos defeitos. Normalmente, são usados por indústrias como um abrasivo para brocas ou corte de diamantes e outras pedras preciosas. Caso você já tenha comprado um, já ouviu sobre os "quatro princípios". Em inglês, o termo é conhecido como "quatro C's" (the four C's).
facetas do diamante
Diamantes recebem polimento em seus pontos fracos,
para criar as formas e facetas que encontramos nas joalherias.

  1. Corte (cut): se refere a como o diamante foi cortado e às suas proporções geométricas. Quando um diamante é cortado, facetas são criadas e seu formato final é determinado;
     
  2. Claridade (clarity): é a medida dos defeitos ou inclusões observadas no diamante. Os níveis de claridade começam por Sem Defeitos e vão decrescendo, passando por Muito Muito Leve, Muito Leve e Levemente Presente;
     
  3. Quilate (carat): é o peso do diamante. Um quilate equivale a, aproximadamente, 200 mg;
     
  4. Cor (color): com relação a diamantes transparentes, a escala de cor vai de D a Z, começando com Branco Gelo, a cor da maioria dos diamantes caros, e terminando com amarelo claro.

Jóias
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Somente os melhores diamantes
tornam-se sofisticadas jóias.
Outras qualidades únicas de um diamante são transparência, brilho e dispersão de luz. Um diamante originado de 100% de carbono será totalmente transparente, mas, normalmente, contém outros elementos que podem afetar a cor. Embora normalmente pensamos nos diamantes como claros, também existem os azuis, vermelhos, negros, verde claro, rosa e violeta. Estes diamantes coloridos são extremamente raros.
Diamantes são feitos no magma derretido nas profundezas da Terra. Somente a natureza pode fabricá-los, mas foram as pessoas que criaram a raridade artificial que tem estimulado a procura por estas pedras preciosas. Carbono é um dos elementos mais comuns no mundo e diamantes são uma forma de carbono. Diamantes que se originam naturalmente não são mais raros que muitas outras pedras preciosas. Os diamantes verdadeiramente raros são aqueles classificados como Sem Defeitos, cujo nome já diz tudo.
Diamantes nem sempre foram tão populares entre os americanos, nem tão caros. Um diamante em um anel tem seu preço elevado de 100 a 200%. A única razão pela qual se paga tanto mais por eles do que por outras pedras preciosas hoje é porque seu mercado é quase todo controlado por um único cartel, chamado De Beers Consolidated Mines Ltd., estabelecido na África do Sul.

Cortando diamantes

Cortando diamantes


Existem técnicas especiais usadas para polir e dar forma a um diamante antes de eles irem para as joalherias. O polimento cria as facetas que vemos no diagrama abaixo. Polidores de diamantes usam estas quatro técnicas básicas:
  1. Clivagem: para remover quaisquer impurezas ou irregularidades no diamante, uma pedra bruta é colocada em um cimento de secagem rápida. Uma fina ranhura é feita no diamante, usando um outro diamante ou um laser em seus pontos fracos. A seguir, uma lâmina de aço é colocada na ranhura e uma batida na lâmina quebra a pedra ao meio. Então a pedra é retirada do cimento;
  2. Desgaste: às vezes, diamantes precisam ser cortados em um plano de clivagem, o que não pode ser feito apenas com clivagem. Com uma lâmina giratória de bronze fosforoso a aproximadamente 15 mil rpm, a serra corta o diamante lentamente. Lasers também estão sendo usados para este fim;
  3. Desbaste: um diamante é colocado em um torno mecânico e outro diamante se esfrega contra ele para dar o acabamento rudimentar da borda exterior do esboço do diamante, no ponto de maior diâmetro;
  4. Polimento: para dar o acabamento ao diamante, ele é colocado em uma roda giratória de polimento. Esta é revestida com pó de diamante para alisá-lo enquanto ele é pressionado contra ela.
Cortes e a Linha Inferior

Apenas diamantes redondos e ovais podem ser cortados, enquanto diamantes de formato exótico (como pendeloque, marquesa e esmeralda) precisam ser produzidos por um método conhecido como “bruiting”. Alguns formatos, como o redondo e o brilhante, requerem mais facetas para que a luz seja devidamente refletida, de modo que precisam ser lapidados a partir de um diamante bruto maior. Como resultado, esses estilos de corte são mais dispendiosos que alguns outros.

Propriedades dos diamantes

Propriedades dos diamantes


Diamante bruto
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Diamantes brutos,
antes da lapidação
A escala de Mohs é usada para determinar a rigidez de sólidos, especialmente minerais. Este nome foi dado em homenagem ao mineralogista alemão Friedrich Mohs. A leitura da escala é a seguinte, do mais macio ao mais duro:
 
  1. Talco: facilmente arranhado com as unhas
     
  2. Gesso: facilmente arranhado com as unhas
     
  3. Calcita: arranha e é arranhado por uma moeda de cobre
     
  4. Fluorita: não é arranhado por uma moeda de cobre e não arranha vidro
     
  5. Apatita: arranha somente vidro e é arranhado facilmente por uma faca
     
  6. Ortoclásio: arranha vidro facilmente e só é arranhado por uma lixa
     
  7. Quartzo (ametista, citrino, olho de tigre, aventurina): não arranhados por uma lixa
     
  8. Topázio: arranhado apenas por coríndon e diamante
     
  9. Coríndon (safiras e rubis): arranhado apenas por um diamante
     
  10. Diamante: arranhado apenas por outro diamante
     
Os diamantes são a forma cristalizada do carbono, criados sob extremo calor e pressão. É este mesmo processo que faz do diamante o mineral mais duro que conhecemos. A classificação do diamante é 10 na escala de Mohs. Pode ser mais de 10 vezes mais duro do que um mineral com classificação 9 na mesma escala, como o coríndon. Coríndon é uma classe de minerais que inclui rubis e safiras.
É a estrutura molecular dos diamantes que os torna tão duros. São feitos de átomos de carbono conectados em uma estrutura treliçada. Cada átomo compartilha elétrons com outros quatro átomos, formando uma unidade tetraédrica. Esta união tetraédrica de cinco carbonos forma uma molécula incrivelmente forte. O grafite, outra forma de carbono, não é tão forte quanto o diamante porque os átomos de carbono no grafite se conectam em forma de anéis, onde cada átomo é apenas ligado a um outro átomo.
Projeto Superpressure
A dureza natural do diamante faz dele uma ferramenta ideal de corte para materiais militares, tais como componentes de aviões e blindagem. Os Estados Unidos se viram completamente dependentes da África do Sul como fornecedora de diamantes para suas ferramentas industriais, e por isso, ao final da Segunda Guerra Mundial, a indústria do país iniciou um imenso esforço para produzir diamantes artificiais.
Em 1951, a General Electric (GE) lançou o Projeto Superpressure. Na experiência, a GE tentava criar diamantes industriais a partir de grafite, por meio da aplicação de imensos volumes de pressão e calor, em máquinas conhecidas como prensas de diamantes. Quando as prensas de diamantes fracassaram em produzir as pedras, a GE decidiu voltar à prancheta de desenho, e usar um meteorito como inspiração.

Pesquisadores haviam determinado que os diamantes encontrados em uma cratera do Arizona haviam sido formados em um meteorito. Além de suas dimensões e do calor, o meteorito oferecia um outro componente significativo: o metal. Cientistas da GE calcularam que conseguiriam produzir diamantes forçando a colisão de um meteorito de pequena escala em laboratório. Combinaram átomos de carbono com o metal em forma líquida conhecido como “trollite”, e acrescentaram calor e pressão. O resultado? Uma cristalização de diamantes. Para descobrir mais sobre a experiência, leia a transcrição da NOVA em “The Diamond Deception”.