sábado, 12 de março de 2016

Projeto pesquisa 'Diamantes Superprofundos' em Juína (MT)

 Cidade é mundialmente conhecida por conter diamantes originados a profundidades extremamente elevadas
O Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), por meio do “Projeto Diamante Brasil” do Departamento de Recursos Minerais(Derem), participou de uma campanha de campo multi-institucional na região de Juína, Noroeste do Mato Grosso. O campo diamantífero de Juína, maior produtor nacional de diamantes na atualidade, é mundialmente conhecido por conter diamantes originados a profundidades extremamente elevadas (400 a 600 km). Estes são denominados "diamantes superprofundos" e são conhecidos em poucos locais do planeta, Juína é um deles.
Recentemente, o artigo “Geologia: reservatório de água profunda da Terra” foi publicado na revista Nature confirmando a primeira evidência natural da ocorrência do mineral ringwoodita, um polimorfo de alta pressão da olivina capaz de apresentar até 2,5% em peso de água. Este fato gerou grande repercussão no meio científico principalmente em função da afirmação de que a zona de transição terrestre pode apresentar água em abundância. A proposição para este artigo partiu do estudo de inclusões minerais em um diamante de Juína.
Para dar continuidade às recentes pesquisas publicadas, ampliar os conhecimentos sobre os peculiares diamantes de Juína e, consequentemente, das zonas ultraprofundas da Terra, foi realizada a etapa de campo com o objetivo de adquirir amostras de diamantes para estudos laboratoriais diversos (morfologia, microssonda, difração de raios-X, espectroscopia com infravermelho, espectroscopia Raman, etc).
Cabe destacar que estas amostras não contêm valor comercial significativo em termo de diamante tipo gema, apresentando, em geral, baixa quilatagem (< 1 ct), grande quantidade de inclusões e de defeitos estruturais (como p. ex., fraturas preenchidas por minerais do manto). Os diamantes foram todos obtidos em atividade de mineração na área de Juína e legalizados em conformidade com o processo de Certificação Kimberley.
A campanha de campo ocorreu no período de 17 a 24 de maio e participaram os seguintes pesquisadores: Débora Araújo, da Universidade de Brasília (UnB); Marina Dalla Costa, do Departamento Nacional de Produção Mineral(DNPM); Ricardo Weska, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Steven Shirey, do Carnigie Institution for Science; Graham Pearson, da University of Alberta;  e Francisco Valdir Silveira e Izaac Cabral, do Serviço Geológico do Brasil. Também contribuíram substancialmente com essa etapa as empresas locais SL Mineradora Ltda, por meio de Paulo Traven;  Cooperativa de Produtores de Diamantes Ltda (Cooprodil) com Roberto Veronese e Romeu Veronese; e o prospector Océlio Alcarás.

Garimpo em Poconé- Mato Grosso

Garimpo em Poconé

Grande é o clamor popular em Poconé contra a extração de ouro nas imediações da área no entorno daquela cidade pantaneira onde vive uma população constituída há mais de dois séculos e que mantém tradições culturais das quais Mato Grosso se orgulha. 

O município de Poconé nasceu do garimpo do ouro nas lavras Tanque do Padre, Lavra do Meio, Ana Vaz e outras, por volta de 1777. A atividade garimpeira manual resultou na formação da vila de Beripoconé – a primeira denominação do lugar, em alusão aos índios de idêntico nome que viviam naquela área. 

Com o passar do tempo Poconé descobriu a pecuária na imensidão pantaneira e se tornou um dos principais criadores de gado no Brasil. Além da bovinocultura o poconeano também se dedica ao cavalo da raça Pantaneiro, cuja associação nacional, a ABCCP, tem sede naquela cidade. 

Mesmo com o surgimento e o fortalecimento da pecuária o poconeano nunca abriu mão do garimpo de ouro. Porém, nas últimas décadas, em razão da fiscalização ambiental, essa atividade entrou em forte declínio. Os garimpeiros tradicionais foram praticamente banidos das frentes de garimpagem cedendo lugar a grandes grupos empresariais mineradores, que agora são acusados por moradores de agredirem o meio ambiente e de colocarem em risco a cidade e sua gente. 

A manchete da edição anterior deste Diário mostra o que se passa em Poconé. A publicação do material despertou interesses de organizações não governamentais e de muitos leitores inclusive de outros estados, que cobram providências por parte das autoridades. 

A existência de enormes, profundas e extensas crateras nas imediações de Poconé, de onde mineradores retiram cascalho em suas frentes de garimpagem é inegável e tanto pode ser vista do alto quanto do solo. Essa ação, ainda que respaldada em licenciamento ambiental precisa ser disciplinada antes que a relação do homem com o meio ambiente se torne totalmente insustentável. 

Além das crateras abertas a constante movimentação de caminhões transportadores de cascalho compromete a qualidade do ar, causa problemas respiratórios e cria clima de insegurança para pedestres. 

Por mais que se justifique a atividade mineradora em Poconé com base em sua lucratividade empresarial, ela precisa ser revista pelo Ministério Público, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme), Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), pela Associação dos Geólogos de Mato Grosso (Agemat) e pelos sindicatos patronal e dos empregados na extração do ouro. 

Mato Grosso tem que fomentar todas as atividades econômicas, mas isso não significa que para tanto tenha que abrir mão de controlar seus excessos. O garimpo de ouro poconeano merece respeito, desde que praticado dentro das normas legais e de modo que não comprometa a estrutura urbana de Poconé e não coloque em risco seus moradores. Que as autoridades tomem as providências cabíveis. 



O garimpo de ouro poconeano merece respeito, desde que praticado dentro das normas legais

Novas jazidas de diamantes no Brasil

Novas jazidas de diamantes no Brasil

Oito especialistas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia, mapearam e identificaram dezenas de novas áreas potencialmente ricas em diamantes no País, especialmente no Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Pará.
Essa iniciativa faz parte do projeto Diamante Brasil, cujas pesquisas de campo começaram em 2010. Desde então, os geólogos visitaram cerca de 800 localidades em diversos estados, recolheram amostras de rochas e efetuaram perfurações para descobrir mais informações sobre as gemas de cada um dos pontos.
O ponto de partida para as expedições foi uma lista deixada ao governo pela empresa De Beers, gigante multinacional do setor de diamantes que prestava serviços para o Brasil na área de mineração. Neste documento, constavam as coordenadas geográficas de 1.250 pontos, entre os quais muitoskimberlitos*. Apesar das informações sobre as possíveis localidades dessas jazidas, não havia detalhes sobre quantidades, qualidade e características das pedras, impulsionando o trabalho de campo dos geólogos.
O objetivo principal dos pesquisadores era fazer uma espécie de tomografia das áreas diamantíferas no território brasileiro, visando atrair investimentos de mineradoras e eventualmente ajudar a mobilizar garimpeiros em cooperativas. Essas medidas podem trazer um aumento na produção de diamantes em território nacional e coibir as práticas ilegais relacionadas a essas pedras preciosas.
Atualmente, o Brasil conta principalmente com reservas dos chamados diamantes industriais e de gemas (para uso em jóias). Os de gemas são os que fazem girar mais dinheiro, considerando que um diamante desses pode ser vendido em um garimpo do Brasil por R$ 2 milhões. Já o valor da pedra lapidada pode chegar à R$ 20 milhões.
Os detalhes dos achados ainda são mantidos em sigilo. Com o fim do trabalho de campo, os geólogos do Diamante Brasil darão início à descrição dos minerais encontrados e as análises das perfurações feitas pelas sondas. A intenção dos pesquisadores é divulgar todos os dados em 2014.
*O que é um Kimberlito?
De acordo com Mario Luiz Chaves, doutor em geologia pela Universidade de São Paulo e professor adjunto da UFMG, kimberlitos são rochas hibridas, ígneas ultrampaficas, potássicas e ricas em voláteis, com origem a mais de 150km de profundidade e que chegam a superfície por meio de pequenas chaminés vulcânicas ou diques. Normalmente, os diamantes são encontrados neste tipo de rocha. Confira uma foto:

Os cinco maiores diamantes lapidados do mundo

A obra Diamante: a pedra, a gema, a lenda, de autoria do professor doutor Mario Luiz Chaves e do doutor em engenharia de minas Luís Chambel, aborda aspectos geológicos e de mineração relacionados aos famosos minerais e traz diversas curiosidades para os leitores. Abaixo separamos uma lista baseada no livro com dados sobre os maiores diamantes do mundo e fotos incríveis de cada um deles.
1)    Cullinan I
Essa pedra foi encontrada em 1905 na África e recebeu o nome de Cullinan em homenagem ao dono da mina, Thomas Cullinan. É considerado o maior diamante já encontrado e pesa 3.106 quilates. Atualmente, adorna o Cetro do Soberano, propriedade real da Inglaterra.
2)    Incomparable
O Incomparable, ou Imcomparável, tem uma história curiosa: foi encontrado em 1984 por uma garota em uma pilha de cascalho próxima à mina MIBA Diamond, no Congo. Considerado inútil pela administração da mina, o cascalho foi descartado com a pedra, e a menina acabou descobrindo o segundo maior diamante bruto do mundo, com 890 quilates. O corte do diamante gerou 14 gemas menores e o Incomparável, um diamante dourado com 407,48 quilates.
3)    Cullinan II
O Cullinan II, conhecido como Pequena Estrela da África, foi encontrado no mesmo ano e local que oCullinan I. Com 317.4 quilates (63.48 g) é o terceiro maior diamante lapidado do mundo, e foi colocado na coroa imperial, também pertencente à realeza da Inglaterra.
4)    Grão Mogol
Encontrado na Índia em 1550, pesa 793 quilates. A pedra deu nome a um município em Minas Gerais. O paradeiro atual desta preciosidade é desconhecido.
5)    Nizam
O Nizam é o diamante mais antigo desta lista e foi descoberto na Índia em 1830. A pedra tem 227 quilates e já adornou coroas e joias reais (Elizabeth). Atualmente ninguém sabe ao certo qual foi o seu último destino.

Vulcões explicam riquezas do solo de Mato Grosso

Vulcões explicam riquezas do solo de Mato Grosso

Estudos da UFMT em conjunto com instituições estrangeiras detalham fatos de milhões de anos

EVILÁZIO ALVES/DC
Vulcanismo, segundo o professor Ricardo Weska, contribuiu para formação do Cerrado


Quem deseja conhecer a fundo — literalmente — a história de Mato Grosso, não pode deixar de lado fatos que ocorreram há 85, 350, 600 milhões de anos. De fato, inúmeros e recentes estudos vêm comprovando que a paisagem natural do Estado — com suas tão propaladas belezas e tão cobiçadas riquezas —, não é senão o resultado de fenômenos geológicos que, ao longo de todo esse tempo, foram formando o que hoje vemos e exploramos. 

Dentre esses fenômenos, o do vulcanismo, de acordo com professor de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ricardo Weska, foi um dos que mais contribuíram para a formação da paisagem do Cerrado. Em sua tese de doutorado, o professor comprovou que, há 85 milhões de anos, uma imensa bolha formada por rochas magmáticas partiu do interior da Terra rumo à superfície. Era tal a força da bolha que ela conseguiu romper a crosta terrestre (que em Mato Grosso tem cerca de 90 quilômetros de espessura) e explodir em centenas de vulcões. “Mais de mil corpos de vulcões, datados de 85 milhões de anos, podem ser encontrados hoje nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás”, diz Ricardo Weska. 

As bolhas, ou plumas, são originadas a partir do limite entre o manto pastoso e o núcleo da Terra, que é uma estrutura sólida formada especialmente por ferro e níquel, materiais densos e pesados. Essa fronteira de onde saem as plumas responsáveis pelos vulcões tem até 700 quilômetros de espessura. Por estar hoje sob a ilha brasileira de Trindade, a 1.200 quilômetros da costa do Espírito Santo, a bolha estudada por Ricardo Weska foi chamada de Pluma de Trindade. 

Os estudos do professor foram realizados em parceria com pesquisadores de universidades inglesas e canadenses, o que lhe permitiu datar de maneira precisa a época em que o fenômeno ocorreu, pela análise da composição química das rochas vulcânicas encontradas nos municípios de Chapada dos Guimarães, Dom Aquino e Poxoréu e nas cercanias da Serra de São Vicente e na localidade de Paredão Grande. 

Sob o aspecto econômico, o intenso vulcanismo ocorrido há tanto tempo foi tão generoso quanto no aspecto visual. As melhores terras para a agricultura, por exemplo, estão localizadas ao redor desses vulcões. A pluma fóssil foi responsável por derrames de lava que, resfriadas e transformadas ao longo do tempo, originaram as rochas que se decompuseram em terras pegajosas e férteis. “O aparecimento de águas minerais e termais em Campo Verde, São Vicente, Dom Aquino, Poxoréu, General Carneiro e Barra do Garças, também pode estar relacionado com a pluma”, diz Ricardo Weska. “À medida que ela se aproxima, vai esquentando toda a crosta terrestre”. 

De acordo com o professor, esse esquentamento da superfície terrestre, há 85 milhões de anos, coincidiu com a época do desaparecimento dos “dinossauros mato-grossenses”, entre eles os Tiranossauros Rex. Segundo Ricardo Weska, muitas arcadas dentárias do Tiranossauro Rex, um dinossauro de tamanho médio, carnívoro e predador, já foram encontradas em Chapada dos Guimarães. Mas as vantagens da Pluma de Trindade, (sob o ponto de vista humano) não terminam por aí. 

Em sua viagem do interior da Terra rumo a superfície, a bolha traz consigo toda sorte de minerais que formam a crosta terrestre. Entre eles o diamante, que estão a cerca de 150 quilômetros de profundidade. O diamante, como se sabe, é formado por carbono, elemento químico que, ao ser queimado, transforma-se em grafite, usado em lápis de escrever, e quando submetido a condições de altíssima temperatura e pressão, peculiares em tal profundidade terrestre, transforma-se na tão valiosa pedra. 

“Tenho uma forte suspeita de que os vulcões originados pela Pluma de Trindade contem parte da história do diamante em Mato Grosso”, diz Ricardo Weska. Segundo o professor, outras pedras muito valiosas encontráveis no Estado também podem ter sido trazidas pelos vulcões, como as opalas e as safiras azuis.

Poxoréu, do diamante às pedras no caminho

Poxoréu, do diamante às pedras no caminho

POR EDUARDO GOMES – Uma cidade em descompasso na região mais desenvolvida de Mato Grosso
Fotos: FELIPE BARROS, DA REVISTA MT AQUI
Poxoréu tinha tudo pra dar certo, mas não foi bem assim. Parte do centro ainda resiste e mantém ares de normalidade, com razoável movimentação. Porém, no conjunto, a cidade agoniza.
Desde 1960, quando tinha 16.687 habitantes, a população nunca foi tão reduzida quanto agora: 16.919 residentes. Há alguns anos o índice de crescimento populacional é negativo. Somem-se a isso preocupantes indicadores sociais e o desmembramento político de Primavera do Leste. O município perdeu a vitalidade econômica desde que o garimpo entrou para a história. Resta a força da pecuária com suas 298 mil cabeças bovinas, que gera poucos empregos da porteira pra dentro.
revista outubro siteO caos não dá lugar à comemoração pelos 75 anos de emancipação, data que na época das vacas gordas era celebrada em 26 de outubro. A luz no fim do túnel aponta para a MT-130, a rodovia que cruza o perímetro urbano e será uma das principais de Mato Grosso, pois é rota obrigatória das commodities de Paranatinga e região ao terminal ferroviário de Rondonópolis. Dos bons tempos do garimpo não resta nem mesmo o xibiu que os capangueiros refugavam.
LEGENDA: Placa identifica uma Poxoréu que não mais existe
A realidade mostra que o momento é de tirar as pedras do caminho pra encontrar o diamante sem jaça e, assim, bamburrar. A outrora Capital dos Diamantes não aguenta mais ficar blefada.
REVISTA OUTUBRO SITESituada entre Rondonópolis, Primavera do Leste e Campo Verde, Poxoréu está em descompasso na região mais desenvolvida de Mato Grosso. A riqueza da cidade escapou por entre as mãos.
LEGENDA: Com a economia em descompasso muitas portas baixaram e até a Zona Eleitoral foi removida do município
Agências bancárias baixaram as portas, a 5ª Zona Eleitoral foi removida para Nova Mutum e figuras ilustres pegaram a estrada, se mandaram para outros lugares, de onde arrotam suspeita paixão pela terra que um dia também foi deles. O êxodo esvaziou o lugar, mas a Santa Sé permanece firme, com sua Matriz São João Batista e outras igrejas, e seu foco continua nos índios xavantes e bororos, sem perder de vista a população urbana e rural, que em boa parte se converteu às denominações evangélicas, que abriram templos por todos os cantos.
revista outubro siteLEGENDA: Na praça deserta com calçamento de pedra, a matriz dos padres defensores dos índios
A vida segue ao ritmo do tique-taque, avançando, mas diferente dos anos 1940, 50 e 60, época em que a elite econômica e os novos ricos do garimpo usavam o avião como meio de transporte.
Uma das rotas Cuiabá-Belo Horizonte, operadas pela extinta companhia Real Aerovias, fazia escalas na cidade com seus bimotores DC-3. O município vivia um período de opulência no ciclo do diamante.
Nas décadas de 1960 e 70, quando a agência do Banco do Brasil não dispunha de numerário para grandes saques – então comuns –, o gerente recorria a um velho conhecido de todos, Prisco Menezes, o ex-garimpeiro que se tornou milionário emprestando dinheiro a juros. Àquele tempo o médico e ex-prefeito Antônio dos Santos Muniz, o Doutor Muniz, dizia que a cidade era um verdadeiro ímã, que segurava todos que chegassem. O Doutor Muniz era exceção quanto ao poder de sedução de Poxoréu: um dia ele trocou a Boa Terra da Bahia por aquele lugar, de onde saiu às pressas para Rondonópolis deixando pra trás inclusive o mandato na prefeitura, após ser derrubado do cargo num verdadeiro golpe de Estado em dimensão municipal.
revista outubro siteLEGENDA: Nos primórdios de Poxoréu o Morro de Mesa mostrou o rumo ao garimpo; agora é cartão-postal que a prefeitura não sabe explorar 
Por volta de 1980, com os primeiros sintomas da exaustão do diamante, levas de garimpeiros migraram para Juína. No auge do garimpo – estimava João de Barro, antigo morador do distrito de Alto Coité –, 6 mil aventureiros arriscavam a sorte em Poxoréu.
Garimpo não era a única aventura. Para o paulista Jubal Martins da Siqueira, ex-vereador e ex-pecuarista já falecido, em nenhum lugar do mundo se joga tanto quanto em Poxoréu. O jogo a que Jubal se referia é o baralho, mesmo. São muitos os tunguetes e casas onde as cartas correm soltas madrugadas adentro. Jubal era falante sem perder a verdade nem abrir mão da seriedade.
revista outubro siteLEGENDA: Esta é a Rua Bahia, que nos bons tempos do garimpo foi a mais famosa zona boêmia de Mato Grosso eagora está reduzida a escombros e entregue ao silêncio
Em 1969 Jubal construiu na fazenda Lidianópolis, de sua propriedade, a primeira piscina da zona rural de Poxoréu.
Antes da piscina de Jubal, em 1966, chegou ao distrito de Paraíso do Leste o mineiro, descendente de italianos, José Nalon, acompanhado por familiares, e iniciou ali, naquele ano, o plantio da primeira grande lavoura de fumo para a indústria tabagista de que se tem registro em Mato Grosso. O pioneirismo dos Nalon não parou por aí. Trinta anos depois, Manoel Nalon, filho do fumeiro, liderou um movimento que resultou na tentativa da cultura do maracujá em escala no município.
LEGENDA: Com o fim do garimpo as mulheres partiram e a Rua Bahia perdeu o quê da boemia – é cenário de varal com roupas comuns
revista outubro siteO Morro de Mesa foi a referência geográfica aos garimpeiros que no final do século XIX buscavam o diamante nas altas cabeceiras do pantaneiro rio São Lourenço. Agora, é ponto turístico, mas sem exploração – cartão-postal que a prefeitura não sabe valorizar.
A colonização do lugar começou em 1924 com o garimpo. Quatorze anos depois Poxoréu era cidade, não sem antes ser destruída por um incêndio que devorou seus primeiros casebres. No ano seguinte à emancipação, o coronel Luizinho – que na bia batismal recebeu o nome de Luiz Coelho de Campos – foi empossado intendente, que era a denominação do prefeito à época.
Rica em diamante, Poxoréu ganhou representatividade política. O ex-senador Louremberg Nunes Rocha, que nasceu naquele lugar, conta que na eleição para presidente da República em 1950 todos os candidatos foram à sua cidade.
A representatividade política numa visão doméstica em Poxoréu é atípica. Filho do ex-prefeito Joaquim Nunes Rocha, Lindberg Nunes Rocha administrou o município em vários mandatos; a prefeita Jane Maria Sanches Lopes é sua mulher e Louremberg, seu irmão. Antes da figura da reeleição, Lindberg cismou em permanecer na prefeitura após seu mandato. Para tanto lançou seu primo Lucas Ribeiro Vilela à sua sucessão. Com a força do clã Rocha, Lucas ganhou de barbada. Juntos os dois primos protagonizaram um episódio talvez inédito na política nacional. Eleito, o parente deixou as chaves da prefeitura e junto com elas uma procuração com plenos poderes ao antecessor. Essa situação perdurou ao longo do mandato.
revista outubro siteLEGENDA: Rodovia MT-130 que cruza a cidade e pode se tornar a salvação da lavoura
“O problema do diamante é que ele não dá duas safras”, resume o ex-garimpeiro e agora parceleiro do Incra João Gualberto Guimarães, o João Gogó. A opinião de João Gogó reflete parte do problema, que é maior porque a incompetência dos prefeitos nunca deu passagem à alternativa econômica. Tanto assim que uma infeliz poligamia do município com o Estado e o governo federal resultou na criação de dois projetos Casulo periféricos à cidade, onde foram assentados ex-garimpeiros. Todos os que bebem água, à exceção de alguns em Poxoréu, sabem que o homem acostumado ao garimpo não se adapta à agricultura familiar. Por isso, os Casulos foram pro beleléu.
O diamante escafedeu-se e o pouco do que resta enfrenta o travamento do Ibama. Sem garimpo, não há onde trabalhar. Dona Maria do Carmo Silva Soares, nascida na cidade e filha de garimpeiro, sabe bem o que é desemprego. Ela tem três filhos e um pegou as malas e se mandou para Primavera do Leste, onde mão de obra ociosa é igual fantasma – pode até existir, mas ninguém vê.
Dona Maria do Carmo é diarista, mas não encontra serviço todos os dias, para garantir o sustento de sua casa, já que se separou do marido. Ela conhece tão bem a Poxoréu de agora quanto a de antes, nos idos do Diamante Clube superlotado com os grandes bailes abrilhantados pelas principais orquestras brasileiras.
Nenhuma zona boêmia ganhou tanta fama em Mato Grosso quanto a Rua Bahia, no centro de Poxoréu. No começo dos anos 1970, quando o garimpo estava no auge, mais de 20 boates mantinham acesas suas luzes vermelhas, com suas vitrolas no volume máximo ou ao som do maestro Marinho Franco. Em frenesi, as mulheres dispostas a tudo, com suas roupas provocantes e carregadas com maquiagem que realçava a beleza e escondia a feiura.
O coração de Poxoréu batia mais forte na Rua Bahia, onde garimpeiros endinheirados lavavam o chão dos cabarés com cerveja Brahma gelada e pagavam o doce sabor do sexo com a moeda mais forte e conhecida por todos: o diamante.
À noite a Rua Bahia fervilhava; na madrugada, mais ainda. Onde se garimpa diamante a criminalidade é zero ou quase isso, ao contrário das praças das fofocas do ouro. Com sua riqueza, seu sexo, sua farra e seu jogo, Poxoréu foi paraíso.
Quando o último boêmio saía do cabaré e as portas e janelas se fechavam no salão silencioso e impregnado pelo azedume da cerveja e do conhaque derramados, Poxoréu voltava ao garimpo, para mais tarde, tão logo o sol se pusesse, voltar a viver gostosa noite de orgia.
As mulheres da Rua Bahia conviviam bem com a população e embarcavam para Cuiabá ou Rondonópolis nos ônibus da empresa Baleia junto com os demais passageiros. Normalmente saíam em pequenos grupos para as compras na Loja Para Todos, do Bartolomeu Coutinho, o Bartô, em outros pontos do comércio ou em busca de uma agulhada de Benzetacil na farmácia de seo Amarílio de Britto, pra curar incômoda gonorreia. Algumas, mais atiradas, entravam na Matriz para preces a Jesus, o Senhor que perdoou Madalena. Os rufiões também se misturavam ao povo, onde se abrigavam os coronéis das quengas e os gigolôs. O Cine Roma elas conheciam somente pelo lado de fora, porque a exibição dos filmes coincidia com o horário do trabalho da profissão mais antiga do mundo.
Sem o diamante, a Rua Bahia morreu. Seus cabarés viraram ruínas e as pedras de seu calçamento não escutam mais os ais do prazer, ouvem apenas o cortante silêncio sepulcral de uma triste cidade sem garimpo, sem zona boêmia, sem rumo.
Mesmo que a cidade retome sua movimentação, dificilmente a Rua Bahia ressuscitará. O sexo perdeu o quê de boemia, ganhou espaço entre a juventude com sua parafernália nas redes sociais. O casamento já não é mais o mesmo. A vida mudou. Falta agora a mudança de Poxoréu, ou melhor, seu reencontro com a vitalidade econômica para que seu povo tenha melhor qualidade de vida e sua força de trabalho encontre o que fazer perto de casa.
Em 1949, usurpando o papel do governo no melhor sentido da palavra, o garimpeiro mineiro e residente em Poxoréu Jacinto Silva rasgou a machado a rodovia Deputado Osvaldo Cândido Pereira (MT-130). Nos anos 1980 ela foi pavimentada pelo governador Júlio Campos. Agora vai ganhar intensa movimentação com o transporte de commodities agrícolas para o terminal da ferrovia em Rondonópolis.
Poxoréu não tem política para incentivar investidores da agroindústria, de modo a descentralizar a concentração das fábricas que constroem plantas nas boas cidades que a circundam. Pela MT-130 a cidade tem escoamento garantido. Falta produzir antes que a juventude parta em busca do amanhã que a bruma administrativa não deixa clarear sobre a antiga Capital dos Diamantes.
SERVIÇO:
REVISTA OUTUBRO SITEPoxoréu, na região sul, dista 240 quilômetros de Cuiabá, 85 quilômetros de Rondonópolis e 40 quilômetros de Primavera do Leste. O principal acesso é a MT-130.
A pista do aeroporto não é pavimentada.
A cidade fica à margem do rio Poxoréu, nome que para os bororos quer dizer água escura.
O Produto Interno Bruto (PIB) do município é de R$ 277.225.000.
A renda per capita de Poxoréu é de R$ 15.749,64 e a mato-grossense, de R$ 19.644,09.
O Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,678 numa escala de zero a um; o IDH médio dos municípios de Mato Grosso é de 0,731.