domingo, 9 de julho de 2017

Celulares velhos deixam R$ 300 milhões em ouro no lixo

Celulares velhos deixam R$ 300 milhões em ouro no lixo
tem-ouro-no-seu-bolso© image/jpeg tem-ouro-no-seu-bolso O smartphone que você carrega no bolso tem R$ 4,20 de ouro e R$ 0,63 de prata. Achou pouco? Agora considere que existem no Brasil cerca de 170 milhões de smartphones em uso – o que totaliza nada menos do que R$ 821 milhões só em ouro e prata. Uma verdadeira fortuna, e que não para de crescer: a cada ano, em média, 47 milhões de pessoas trocam de
smartphone – e os metais preciosos contidos nos aparelhos antigos, cujo valor é estimado em R$ 316 milhões (veja infográfico na página 48), ficam esquecidos no fundo da gaveta. Pode não parecer, mas os aparelhos eletrônicos, mesmo os mais baratos, contêm bastante ouro. É que o ouro é um excelente condutor de eletricidade e demora muito para se degradar, ou seja, é ótimo para os circuitos internos de gadgets em geral. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, existem nada menos do que 500 milhões de aparelhos eletrônicos nas casas dos brasileiros – e isso contando só os que já foram aposentados e estão sem uso. Mas a proliferação de gadgets está se tornando um problemão. “O mundo produz 41,8 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano”, explica Ruediger Kuehr, secretário-executivo do programa da ONU sobre lixo eletrônico. Isso dá aproximadamente 6 kg para cada pessoa – ou o equivalente a 32 iPhones. Reciclar eletrônicos é difícil, mas é necessário: inclusive porque, se não fizermos isso, uma hora não vamos mais ter como fabricar novos gadgets.
Para fazer aparelhos eletrônicos, é preciso usar mais da metade da tabela periódica. Alguns elementos são valiosos para a indústria em geral, caso do lítio, do níquel, do cobre e do paládio, além do alumínio, do ferro e de diferentes tipos de plásticos. Existem também as chamadas terra-raras – nome dado a 15 elementos: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio. Eles são fundamentais para produzir smartphones, turbinas eólicas, carros híbridos e óculos de visão noturna.
Para cada um deles, haverá um momento em que as reservas vão acabar. Um estudo da Universidade Yale analisou 62 metais usados em smartphones e gadgets em geral – e constatou que 12 deles simplesmente não têm substituto. “Todos nós gostamos dos nossos celulares. Mas será que, daqui a 20 ou 30 anos, ainda vamos ter acesso a todos os materiais necessários [para fabricá-los]?”, questionou a cientista Barbara Reck, coautora do estudo.
A humanidade sabia que isso ia acontecer. Já em 1865, bem antes da era digital, o economista William Stanley Jevons identificou o problema. Enquanto o mundo todo dizia que a demanda por carvão diminuiria porque as máquinas estavam se tornando mais eficientes, Jevons afirmava que a evolução da tecnologia levaria os produtos a se tornarem mais acessíveis. Logo, as vendas melhorariam e o consumo de carvão aumentaria. Foi o que de fato aconteceu. Recentemente, pesquisadores do MIT analisaram o mercado atual de eletrônicos à luz dessa teoria, conhecida como Paradoxo de Jenver. Concluíram que, sim, os recursos naturais, os metais valiosos, as terras-raras, tudo isso vai ser mais consumido porque a demanda vai aumentar. “O avanço da tecnologia, por si só, não garante sustentabilidade. Pelo contrário”, afirma o especialista em engenharia de materiais Christopher Magee, um dos autores do estudo.
Outro problema é o impacto ambiental. Para extrair o 0,034 g de ouro que vai em um único celular, é necessário escavar 10 kg de terra de minas. A fabricação do aparelho todo consome 13 mil litros de água, e emite 16 kg de CO2 – a mesma poluição gerada ao rodar 320 km com um carro popular. Em suma: cedo ou tarde, vamos precisar reaproveitar o lixo eletrônico da mesma forma que hoje fazemos com as latinhas de alumínio (98% delas são recicladas).
Esse tipo de reciclagem está engatinhando, mas já existem companhias especializadas nele. No centro de reciclagem da empresa Sinctronics, em Sorocaba (SP), o processo começa pela separação das partes úteis, ou seja, peças que estejam funcionando e possam ser reutilizadas. Depois, o que sobra é processado de acordo com seu material. A fábrica começou a operar em 2012 e conta com cem funcionários, que reciclam 95% de tudo o que entra ali – os demais 5% são usados por outras indústrias, como as de cimento, para gerar calor. Nada é descartado.
Depois de separados, os plásticos são triturados e derretidos. Uma máquina extrusora, que parece um funil gigante, transforma o material numa espécie de macarrão grosso, que é esfriado em água e depois picado em pedacinhos minúsculos. Esse plástico vai para máquinas injetoras, que criam peças novas, como alças para embalagens de papelão ou peças de impressoras – a HP é uma das maiores parceiras da companhia.
Já o metal é levado a um moinho, onde passa por um processo de separação magnética. O ferro cai numa bandeja e segue para empresas de materiais de construção. O alumínio e o cobre são vendidos para parceiros, que os fundem. O que sobra de plástico preso ali segue para aquele outro processo.
Você deve estar se perguntando: e o ouro? Ele está dentro das placas de circuito impresso, que não são processadas no Brasil. Elas são vendidas para as únicas cinco usinas de reciclagem no mundo devidamente equipadas para extrair o metal amarelo, na Alemanha, na Bélgica, no Canadá, na Suécia e no Japão. É isso mesmo: nós não ficamos com o ouro. “Eu consigo extrair ouro de uma placa. Já fizemos isso em laboratório. Mas os ácidos que usamos são muito poluentes. Para compensar os riscos ambientais, precisaríamos de um volume muito maior de placas”, explica Carlos Ohde, diretor da Sinctronics. O processo só vale a pena quando é realizado em larga escala: cada fábrica especializada nessa tarefa lida com 18 mil toneladas por mês – mais que o dobro de tudo o que o Brasil inteiro recicla em um ano. “Mesmo que todo o Brasil mandasse seus circuitos para cá, não seria suficiente”, afirma Carlos.
É por isso que apenas meia dúzia de empresas de países desenvolvidos (como a belga Umicore, líder mundial) recebem placas do mundo inteiro. “O Brasil ainda não possui tecnologia para extrair os metais das placas de circuito impresso [em larga escala]. O investimento necessário é muito alto”, reforça Daniela Moraes, professora de gestão da produção no Instituto Federal do Espírito Santo.
Reciclagem do mal
Tem gente que tenta extrair os metais preciosos na marra. É o que acontece em Guiyu, na China. Oficialmente, é o maior centro de reciclagem de e-lixo do planeta, com 60 mil pessoas processando 8 milhões de toneladas de peças eletrônicas por ano. Na prática, é um dos lugares mais poluídos que existem. Ali, famílias trabalham separando as peças, e depois cozinham tudo o que é pequeno demais para abrir. Incluindo os circuitos.
Cenário parecido é observado em Baotou, também na China, capital mundial da exploração de terra-rara, onde a falta de cuidado com o meio ambiente expõe os 2,3 milhões de habitantes da região a chuvas ácidas e água contaminada com urânio.
O resultado é ouro, sim. Mas o processo libera gases tão tóxicos que 80% das crianças dessas regiões estão contaminadas com chumbo no sangue. A reciclagem sem o menor cuidado acontece também na Índia, no Paquistão e na África – especialmente em Gana, na Nigéria e no Quênia. Em Nova Déli, 25 mil pessoas trabalham processando lixo eletrônico – tudo sem a menor proteção.
Desde 1989 existe a Convenção de Basileia, que estabelece normas globais para o manejo de equipamentos eletrônicos e restringe a exportação deles. Os Estados Unidos, que estão entre os maiores exportadores de lixo eletrônico do mundo, não assinaram a convenção nem aprovaram novas leis que buscavam melhorar esse quadro. De toda maneira, em vários países os próprios fabricantes são pressionados a criar programas de reciclagem. A Apple, por exemplo, tem o seu. Em 2015, recuperou uma tonelada de ouro – tudo vindo de gadgets reciclados.
No Brasil, desde 2010 os fabricantes são obrigados por lei a pegar de volta eletrônicos usados (você pode entrar em contato com eles e solicitar a devolução). Mas quase ninguém sabe – e, por isso, reciclamos apenas 2% de nosso e-lixo.
O mais impressionante é que, desse total, apenas 1% vem dos consumidores. Todo o resto da reciclagem, 99%, é feito a partir da sucata eletrônica fornecida por grandes empresas. Elas têm todo o interesse em reciclar lixo eletrônico – porque já perceberam que ele, mais do que um abacaxi ambiental, também pode ser uma verdadeira mina de ouro.

Cunha vai sustentar que Temer chefiava ‘organização criminosa’

Cunha vai sustentar que Temer chefiava ‘organização criminosa’
© Foto: Agência Brasil Por razões óbvias, a parte relativa ao presidente Michel Temer é considerada a mais vistosa da proposta de delação do ex-deputado Eduardo Cunha. Nos dez capítulos dedicados exclusivamente ao presidente, há acusações das mais diversas. Nas palavras de um interlocutor com quem tem conversado frequentemente, Cunha pretende demonstrar que o presidente da República é o “verdadeiro chefe” da organização criminosa formada pelo chamado “PMDB da Câmara”. Ele se dispõe a revelar negociações de propinas ocorridas na presença de Temer.
No rascunho da delação, Cunha relacionou Michel Temer a negócios escusos na Petrobras, especialmente na área internacional da estatal, onde foram alojados executivos indicados pelo presidente. Ele também liga o Temer a propinas pagas por empresas que atuam no setor de aeroportos e no Porto de Santos, ambos comandados, durante anos, por aliados do presidente – ao analisar arquivos encontrados no material apreendido com Cunha, por sinal, os investigadores da Lava-Jato encontraram um dossiê com informações sobre a atuação de Temer no porto do litoral paulista. “Tudo indica que, apesar de aliado, ele sempre desconfiou de Temer e guardava informações que poderiam ser usadas contra ele no futuro”, disse a VEJA um dos encarregados da investigação.
Integram ainda o cardápio da delação encontros entre o presidente e empreiteiros para discutir doações eleitorais ao PMDB atreladas à liberação de recursos do FI-FGTS, o fundo administrado pela Caixa que investe dinheiro dos trabalhadores em projetos de infraestrutura e cujas decisões cabiam, em grande medida, a apadrinhados do partido. Temer teria se reunido, por exemplo, com Benedicto Junior, executivo da Odebrecht, e com Léo Pinheiro, da OAS, para acertar doações em troca de aportes. Outro episódio que o ex-deputado prometeu relatar envolve um investimento na concessionária Via Rondon, uma das empresas da família Constantino, fundadora da companhia aérea Gol. Segundo Cunha, Temer deu o aval para que a empresa financiasse campanhas de políticos do PMDB como contrapartida à liberação do dinheiro. “O objetivo é provar que ele [Cunha] desempenhava apenas uma função dentro de uma organização criminosa, composta por líderes do PMDB da Câmara e comandada por Michel Temer”, diz outra fonte envolvida na negociação do acordo.
Além dos capítulos ofertados por Cunha, os procuradores já preparam uma lista de assuntos sobre os quais exigirão que o ex-deputado fale. Um deles envolve um emaranhado de empresas abertas pelo grupo de Cunha para receber propinas em paraísos fiscais. A Lava-Jato tem indicações de que essa é a ponta de um novelo que pode ligar Temer a contas secretas no exterior.
Fonte: Veja

Coreia do Norte alerta sobre risco de guerra nuclear na península

A Coreia do Norte criticou neste domingo (9) as manobras militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul perto da fronteira intercoreana, acusando Washington e Seul de assumirem o risco de uma guerra nuclear na península.
Seul e Washington realizaram no sábado (8) uma demonstração de força, num momento de crescente tensão na península, após o lançamento pela Coreia do Norte de um míssil balístico intercontinental (ICBM) em 4 de julho. As manobras militares dos dois aliados foram uma "resposta severa" aos potenciais lançamentos de mísseis por Pyongyang, segundo indicou o ministério sul-coreano das Relações Exteriores.
O exercício simulou a destruição por dois caças americanos de baterias de mísseis inimigas, enquanto aviões sul-coreanos realizaram uma série de bombardeios de alta precisão contra postos de comando subterrâneos inimigos.
© Fournis par RFI
"Não brinquem com um barril de pólvora", alertou o jornal norte-coreano Rodong, porta-voz do partido único no poder, em um editorial que acusa os Estados Unidos e a Coreia do Sul de aumentarem a pressão com as suas manobras militares conjuntas.
"Com a sua provocação militar perigosa, os Estados Unidos assumem o risco de uma guerra nuclear na península", escreveu o jornal, descrevendo a península como "o maior barril de pólvora do mundo". Para Pyongyang, esses exercícios militares são "uma perigosa tática militar dos beligerantes que tentam provocar uma guerra nuclear na península. Uma simples má avaliação ou um erro podem desencadear imediatamente uma guerra nuclear, o que levaria inevitavelmente a uma nova guerra mundial", ameaça o jornal.
Com informações da AFP

Mata do Jamanxim é cobiçada por madeireiros e garimpeiros

Mata do Jamanxim é cobiçada por madeireiros e garimpeiros

Floresta no Pará é unidade de conservação mais desmatada da Amazônia.
Desmatamento na área atingiu o equivalente a 6.400 campos de futebol.

Um incêndio criminoso está no meio de uma disputa pelos recursos da Floresta Nacional do Jamanxim. Essa área sofre a ação constante de garimpeiros, grileiros e madeireiros.
Em uma ação recente, agentes do Ibama armados colocaram fogo em duas balsas usadas por garimpeiros de ouro ilegais. Os equipamentos foram flagrados na Floresta Nacional do Jamanxim, no sudoeste do Pará, a unidade de conservação mais desmatada da Amazônia. Além de garimpeiros, a mata é cobiçada por madeireiros ilegais. Por isso, uma grande quantidade de toras chamou a atenção do Ibama.
“Essa região aqui já foi muito explorada. Praticamente, não tem mais remanescente florestal capaz de ter o suporte de matéria prima como esse aqui”, diz Rene Luís de Oliveira, coordenador-geral de Fiscalização do Ibama.
Entre as toras, ipês, madeira valiosa. Mas, neste caso, não foi possível saber se a madeira era legal ou não. Os maiores inimigos da floresta, no entanto, são os grileiros, pessoas que invadem terras públicas, tomam posse e montam fazendas. Pelo menos 250 posses estão sendo reivindicadas no interior da floresta. Só numa área, o desmate atingiu o equivalente a 6.400 campos de futebol.
O enigma dessa área é saber quem desmatou e quem seria o dono dela. A área está registrada em nome de uma pessoa que não é da região, possivelmente um laranja. A falsificação de registros de terras no Brasil esconde o criminoso e leva à impunidade, e a impunidade abre as portas para o desmatamento ilegal.
É o que acontece também em outra área, sem dono legal, que fica no limite da floresta. Três grileiros disputam a posse. Mas quem está ocupando são posseiros como Oswaldo, que abriu uma clareira na mata e montou um barraco onde guarda as poucas coisas que tem.
“Tudo que eu tenho está aqui. Tudinho que eu tenho, está aqui”, afirma o agricultor Oswaldo José Fabrício.
Ele quer escapar do regime de quase escravidão dos trabalhadores da região. “O senhor trabalha com fazendeiro, trabalha com tudo quanto é coisa, você não tem direito em nada. O seu acerto assim: R$ 50, R$ 30, tá aqui”, diz.
Oswaldo recebeu a promessa de ganhar dez alqueires e meio em um assentamento ilegal. Alenquer é quem coordena a divisão da terra em 125 lotes. Ele é presidente de um sindicato que não tem registro no Ministério do Trabalho e que não é filiado a nenhuma central sindical.
A notícia de terra de graça atraiu muita gente. Marilene veio de Rondônia.
“Eu e meu marido viemos de ônibus, foi três dias e meio. Mas o caminhão levou cinco dias com a mudança. Tentar, né. Tentar a sorte, vê se vai dar certo”, disse a agricultora Marilene Antunes.
Uma forma de legalizar uma ocupação em terras da união ou em florestas nacionais é usar a população pobre do campo que apenas quer ter um pedaço de terra para viver. Os grileiros incentivam a formação de assentamentos familiares ilegais em pequenos lotes criam uma situação social e abrem caminho para a legalização de suas grandes áreas.
Alenquer diz que está dividindo um pedaço de terra que teria sido doado por um dos três grileiros que disputam a área.
JN: Ninguém dá uma coisa de graça sem querer uma coisa em troca.
Agricultor Alenquer dos Santos: Pois é, mas eles deram para nós.
JN: Mas você não está acreditando nisso?
Alenquer: Estou, estou acreditando. Tanto é que estou aqui porque estou acreditando.
JN: Que é de graça e não vai acontecer nada?
Alenquer: Não, nós vamos pagar, nós vamos pagar o governo, né, a legalização.
JN: Sim, mas a área não. Porque a área não é dessa pessoa que doou.! Ele está doando uma área que não é dele
Alenquer: É grilagem, né, concordo.
Quando a Jamanxim virou floresta protegida, em 2006, já havia desmatamento e de lá para cá a área desmatada cresceu.
Para permitir a legalização das posses, o Congresso aprovou uma medida provisória que transformaria 37% da área da floresta em área de proteção ambiental, que permite atividades como garimpo e pecuária. A MP foi vetada pelo presidente Temer.
O prefeito do município de Novo Progresso, onde fica a floresta, é um dos líderes do movimento em favor da diminuição da área protegida. Ele já recebeu multas, nunca pagas, no valor de quase R$ 1,7 milhão, acusado de desmate ilegal.
“A minha defesa é que a área não era minha. Quando eles me procuraram, em 2009, eu apresentei quem que era os donos das fazendas do lado e eles falaram que eu tinha que procurar a Justiça para fazer minha defesa, que eles não queriam nem saber”, explica o prefeito Ubiraci Soares Silva.
Os fazendeiros dizem que só multar não resolve.
“Se nós tivéssemos o mesmo aparato que tem a fiscalização hoje para fazer a legalização, a regularização, com certeza esse desmatamento já não existia mais na nossa região”, disse Gelson Dill, vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais.
Para eles, é preciso adequar a legislação à realidade. O Ibama discorda.
“Adequar à realidade hoje seria a legalização do desmatamento existente. Mas o bioma Amazônia continuaria sofrendo pressão e continuaria sendo desmatado. O problema é que teria uma legalização”, Maria Luiza Gonçalves de Souza, gerente-executiva do Ibama/Santarém.
Fonte: G1

Corrida bilionária pelo ouro na Amazônia deixa rastro de destruição

Corrida bilionária pelo ouro na Amazônia deixa rastro de destruição

Dezenas de milhares de garimpeiros ilegais se lançam na floresta amazônica no Brasil, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia, na esperança de ficarem ricos

Barco de mineradores no rio Madeira, em Rondônia (Foto: Chris Arsenault/Reuters)
Em uma balsa ilegal de garimpo de ouro na bacia amazônica, um garimpeiro de 22 anos segura uma garrafa de plástico cheia de mercúrio tóxico com as mãos sem nenhuma proteção e diz estar ciente dos perigos do trabalho.
De bermuda, regata e chinelo, ele acende um maçarico e direciona uma chama azul em um pedaço de minério que a balsa retirou do fundo do rio Madeira, no Estado de Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
Centenas de balsas semelhantes --fabricadas com madeira compensada, metal e movidas por motor a diesel-- cavam os rios da maior floresta tropical do mundo, deixando rastros de destruição por onde passam, de acordo com funcionários do governo
"Eu sei que isso é um pouco perigoso, mas o que mais eu vou fazer para ganhar a vida aqui?", disse o jovem garimpeiro, que conversou sob condição de anonimato devido ao seu envolvimento em atividades ilegais. Quando perguntado sobre equipamentos de segurança, ele apenas riu.
Dezenas de milhares de garimpeiros ilegais se lançam na floresta amazônica no Brasil, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia, na esperança de ficarem ricos.
A corrida pelo ouro tem dizimado partes da floresta amazônica e envenenado pessoas que dependem dos alimentos com mercúrio dos rios e outras toxinas utilizadas no processo de mineração.
A indústria ilícita é alimentada pelo tráfico de pessoas para extrair o ouro e mulheres para trabalhar como prostitutas para os garimpeiros, de acordo com procuradores da Justiça.
Dificuldades
Com bilhões de dólares em jogo e complexas redes de contrabando e lavagem de dinheiro do ouro extraído ilegalmente através das fronteiras, funcionários do governo admitem que têm dificuldades para combater o problema.
"Temos dificuldades imensas", disse Ranilson Monteiro Câmara, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, à Thomson Reuters Foundation, em Porto Velho.
Dezenas de barcos sem registro retiram ouro do rio a apenas 2 quilômetros de seu escritório.
Câmara afirmou que é o único funcionário do DNPM no Estado de Rondônia responsável pelo monitoramento dos garimpeiros e da indústria de bilhões de dólares.
"Os níveis de atividade irregular (de mineração) no rio são altos", disse Câmara. Funcionários de diversos órgãos estão trabalhando para tentar barrar barcos ilegais, enquanto outros estão sendo registrados formalmente para que possam operar legalmente, segundo Câmara.
Não é tarefa fácil.
Em um determinado ano, garimpeiros ilegais enviaram 40 toneladas de ouro extraído da Amazônia para os Estados Unidos, de acordo com um estudo de 2016 da Verité, órgão de monitoramento com sede em Massachusetts. Esse montante representa quase o dobro das exportações legais de ouro das cinco nações amazônicas cobertas pelo estudo.
Entre 2006 e 2016, 68 toneladas de ouro foram extraídas ilegalmente da Amazônia e contrabandeadas para fora da região através da Bolívia, de acordo com a Global Initiative Against Transnational Organized Crime, um grupo de monitoramento com sede em Genebra, na Suíça.
Garimpeiros ilegais despejam mais de 30 toneladas de mercúrio letal nos rios da Amazônia todos os anos, envenenando peixes e causando danos cerebrais a pessoas que vivem a quilômetros de distância a jusante, de acordo com o Carnegie Amazon Mercury Project, um grupo de estudos científicos dos EUA.
Tentativas de regulação
Os produtores de ouro, por sua vez, dizem que muitos trabalham dentro da lei e são estigmatizados injustamente como bandidos.
"Somos vistos como bandidos pela sociedade, mas na verdade trabalhamos, pagamos impostos e apoiamos a economia local", disse Fabiano Sena Oliveira, membro sênior de uma cooperativa de produtores de ouro em Rondônia.
Apenas 20 por cento dos garimpeiros operam ilegalmente, disse Oliveira à Thomson Reuters Foundation em uma loja com janelas gradeadas, onde ele compra e vende ouro.
As cooperativas de proprietários de barcos de mineração estão desenvolvendo um trabalho para melhorar o monitoramento ambiental e estimular outros proprietários a legalizar seus barcos e pagar impostos, disse Oliveira, usando uma corrente de ouro.
"No passado, é verdade que os garimpeiros usavam muito mercúrio", disse Oliveira, mas hoje eles usam muito menos, pois é caro.
Como parte do processo de mineração, o mercúrio é misturado aos sedimentos retirados do fundo do rio. A mistura de mercúrio e sedimento é então aquecida, ajudando a separar o ouro dos outros elementos.
Visitas da Thomson Reuters Foundation a barcos de garimpo, porém, parecem contradizer os comentários de Oliveira.
Vida no barco
Sidney Magrão exerce a atividade de garimpeiro há 35 anos. Ele trabalha em um grande barco de garimpo com um tubo poderoso que suga sedimentos do fundo do rio Madeira. Na sequência, os garimpeiros do barco batem os tapetes usados para reter os sedimentos e separam a sujeira, em busca de pequenas pepitas de ouro.
Magrão começou no garimpo como mergulhador em rios pequenos, com um tubo de mão, e agora é um operador sênior em um barco no valor de 3 milhões de reais.
"Ganhei 23 mil reais no mês passado", disse. "Um salário alto para um homem da classe trabalhadora na Amazônia", disse Magrão, de 62 anos, à Thomson Reuters Foundation, enquanto manobrava a alavanca para dirigir o tubo de sucção, com um cigarro na boca.
O barco de dois andares com ruído estrondoso parece ter saído de um filme de ficção científica como "Mad Max" ou "Waterworld". No segundo andar, há vários quartos com beliches e uma cozinha que funciona em período integral.
Os trabalhadores dizem que o barco está formalmente registrado com as autoridades brasileiras e que emitem nota fiscal sobre todo o ouro retirado, o que significa que eles têm que pagar imposto sobre os seus ganhos.
"Nós somos pagos em ouro", disse Valda Mendes, de 60 anos, cozinheira do barco, enquanto preparava arroz e bife na brasa para o almoço.
Lavagem de dinheiro
Enquanto alguns barcos obedecem à lei, grande parte do ouro da Amazônia é extraída de áreas onde a mineração é proibida, disse um professor que estuda o comércio ilícito de ouro no Amazonas.
Em outros casos, o ouro é retirado de terras ou águas onde a mineração é permitida, mas depois é contrabandeado do Brasil para a Bolívia para evitar impostos, disse Aurelio Herraiz, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas.
"Muitos compradores vão nos barcos para comprar ouro... Isso é invisível", disse Herraiz à Thomson Reuters Foundation. "Não há registro em nenhum lugar."
Segundo Herraiz, a contaminação por mercúrio é uma das maiores ameaças ambientais do mercado de ouro, e o produto químico tóxico é barato e fácil de ser obtido na vizinha Bolívia.
Funcionários da polícia na fronteira de Rondônia com a Bolívia dizem que é difícil rastrear ouro ilícito e produtos químicos entre diferentes países da Amazônia.
"Como todas as fronteiras, há problemas e questões a serem resolvidos aqui", disse Heliel Martins, delegado da Polícia Federal em Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia.
De volta ao barco de mineração ilegal, o garimpeiro de 22 anos abre uma garrafa de plástico de mercúrio antes de derramá-la em uma pepita de ouro.
A dona do barco começou como cozinheira no garimpo há 18 anos e juntou dinheiro para ter sua própria balsa.
"É burocrático e caro registrar o barco", disse ela, acrescentando que teve que pagar uma multa alta por operar ilegalmente. Para pagar as multas, ela tinha apenas uma fonte de receita: ouro.
Por Chris Arsenault e Karla Mendes. A Society of Environmental Journalists (SEJ) forneceu suporte financeiro de viagem para essa reportagem
Fonte: ÉPOCA NEGÓCIOS