terça-feira, 5 de setembro de 2017

A chuva de diamantes no espaço

A chuva de diamantes no espaço

Uma nova pesquisa oferece dados mais concretos sobre a formação de diamantes no cosmos



A chuva de diamantes no espaço
Netuno é rico em elementos pesados como oxigênio, azoto, carbono e nitrogênio (Foto: Wikimedia)
Os diamantes são uma das pedras preciosas mais cobiçadas e raras do mundo e, por isso, muito caras. Mas a transformação do diamante em objeto do desejo e a criação do mito da raridade no século XX foram um produto de uma campanha de marketing da De Beers, uma empresa sul-africana de mineração e comercialização de diamantes, que em determinado momento controlou cerca de 90% da produção mundial.
Na natureza, porém, os diamantes são apenas cristais de carbono. E o carbono é o quarto elemento químico mais abundante do universo. Em outros lugares do cosmos, como demonstrado em um artigo recém-publicado na revista científica Nature Astronomy, essas pedras preciosas são ainda mais abundantes.
Dominik Kraus, físico do Centre Helmholtz em Dresden, e seus colegas, estão interessados ​​em estudar os gigantes gelados do Sistema Solar, Urano e Netuno. Os gigantes gelados são ricos em elementos pesados como oxigênio, azoto, carbono e nitrogênio. A massa deles é composta de apenas cerca de 20% de hidrogênio e hélio, ao contrário dos gigantes gasosos, Júpiter e Saturno. O carbono presente em sua composição está encapsulado em compostos, na maioria em hidrocarbonetos, como metano, etano e similares.
As temperaturas extremas dos gigantes gelados, baixíssimas nos mantos de gelo e quentes no centro dos planetas, dividem os hidrocarbonetos em hidrogênio e carbono, e a pressão comprime o carbono e o transforma em diamante. Em consequência, a 10 mil km ou mais abaixo do topo da atmosfera, a chuva de diamantes é constante. Os diamantes penetram nos planetas em direção ao centro criando uma camada espessa de pedras preciosas em seu interior.
Essas teorias foram elaboradas a partir de testes com o uso de bigornas para comprimir os hidrocarbonetos e raios lasers para aquecê-los. Mas o artigo de Kraus e de seus colegas baseia-se em experimentos concretos. A equipe de pesquisadores colocou pequenas amostras de poliestireno que, como o metano, é um composto binário de carbono e hidrogênio, à frente de um gigantesco laser de raios-X do National Accelerator Laboratory da Universidade de Stanford, para comprimi-las e aquecê-las ao mesmo tempo.
Os resultados confirmaram as previsões dos pesquisadores. As temperaturas elevadas e a compressão do carbono formam diamantes. A pesquisa de Kraus e de seus colegas não se limita à área de interesse dos ourives à procura de novas fontes de diamantes. O conhecimento da temperatura e da pressão, em que partes da atmosfera dos gigantes de gelo começam a se decompor em seus constituintes básicos, pode ajudar os astrônomos a determinar a relação entre o raio de ação e a massa desses planetas. Com isso, os astrônomos terão mais dados para detectar a presença dos exoplanetas que pertencem a sistemas planetários distintos do Sistema Solar.

Fonte: Seleções

A HISTÓRIA DA ÁGUA MARINHA DE 35 KILOS



SEU TIBÚRCIO em sua casa em Novo Oriente de Minas, triste com sua sina, afastado do garimpo por ordens médicas e do seu passado de glórias pelo tempo
Lembra de Martha Rocha? De seu sorriso? Do rosto? Dos olhos azuis de nossa eterna miss? Os mais novos, talvez não, mas os mais velhos... Martha provocou comoção nacional em 1954 ao perder o título de Miss Universo por duas polegadas a mais nos quadris. Isso mesmo: duas polegadas, algo em torno de cinco centímetros. Naquele tempo, concurso de miss era coisa séria. Tinha glamour. Apelo popular. Emoção. Ela não ganhou mas empolgou a nação. O povo já a elegera a mulher mais bonita do mundo. Martha virou mito. Seu nome passou a ser sinônimo de bonito – não o da moça escolhida Miss Universo. Como é mesmo o nome dela?

Em 1957, o garimpeiro Tibúrcio José do Santos fez um achado extraordinário ao cavucar a terra em Marambaia, distrito de Teófilo Otoni, considerada a “capital mundial das pedras preciosas”, situada a 450 quilômetros de Belo Horizonte. Ele topou com uma água-marinha de 35 quilos (175 mil quilates), azulada – um azul tendendo para o verde, da cor dos olhos da miss (à dir.). Justamente uma água-marinha, gema da família dos berilos, tida como a pedra do amor e da felicidade, protetora das sereias – o historiador romano Plínio colocava-a dentro d’água, na praia, para checar sua pureza. Se “desaparecesse” na mão, confundindo-se com a água do mar, então era verdadeira. Batizada Martarrocha, é a mais famosa das gemas coradas brasileiras – gema corada é o nome que a indústria de jóias, bijuterias, folhados e artefatos de pedras dá às pedras preciosas em geral, especialmente as coloridas. Desde então, foram encontradas água-marinhas de maior tamanho mas nenhuma tão bonita (tão perfeita) quanto ela.


CITRINOS BRUTOS, cujo nome deriva do latim citrus, que significa amarelo-limão. As principais jazidas estão em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul
Passados tantos anos, Martha continua linda. Mora em Volta Redonda, RJ, e dedica parte do dia à pintura – dizem que seus azuis são incomparáveis. A água-marinha que levou seu nome foi vendida, revendida e mais tarde cortada em várias pedras menores. Para Tibúrcio, porém, a coisa ficou feia. Aos 83 anos, pobre, adoentado, passa o dia inteiro na cama, aos cuidados dos filhos – teve 12, quatro dos quais “particulares”, ou seja, nascidos fora do casamento oficial. Ele não lembra em nada o garimpeiro forte e sacudido dos tempos de glória. Na ocasião, apareceu em jornais e revistas de todo o país, dando entrevistas ou mostrando a pedra. Ficou famoso, mas não chegou a bamburrar. Metade do dinheiro obtido com a venda foi rateado entre os sócios Irineu de Oliveira e Lindolfo Capivara, fornecedor da quicaia – conjunto de ferramentas indispensáveis, tais como lebanca (espécie de alavanca), picareta, enxada, bateias, peneiras, cacumbu (um tipo de machado) e calumbés (gamelas cônicas, na quais o cascalho que vai ser lavado nas catas de ouro ou diamante é conduzido). Da outra metade, 20%, pelo menos, ficaram com o fazendeiro Antônio Galvão, dono da terra. Do que lhe coube ao final da partilha (cerca de 200 mil contos – um dinheirão, na época), Tibúrcio gastou quase tudo em terras, carro e farras. Hoje, restam-lhe somente um sítio improdutivo em Novo Oriente de Minas e 48 hectares em São Juliano, onde outros filhos tentam ganhar a vida com roça e gado.

Com raras exceções, sua história pessoal repete a da maioria dos garimpeiros do Brasil, país pródigo em recursos minerais, pobre em investimentos no setor, confuso quanto à legislação e à fiscalização, ignorante quanto ao volume produzido, o valor movimentado, o número de pessoas envolvidas e a importância de tal contingente na economia, especialmente nas pequenas cidades. “Garimpeiro é esbanjador; vive sonhando”, afirmam Maurino dos Santos e Valdomiro Pinheiro, parceiros nas catas e túneis de Padre Paraíso, município ao norte de Teófilo Otoni.

VALDOMIRO, com a picareta, alargando o túnel pelo qual entrará com um carrinho de mão para retirar o entulho: “Qualquer hora a gente acha a pedra grande”
Maurino relaciona histórias pessoais e casos semelhantes em que os colegas ganharam bom dinheiro para em seguida perder tudo ou quase tudo. “Três vezes levantei rico e fui deitar pobre”, conta, resignado. A maior pedra de sua lavra foi um crisoberilo de 20 quilates e a mais valiosa, uma água-marinha que lhe rendeu 140 mil reais na ocasião (1979). Em agosto passado, eles inventaram um modo novo de ganhar dinheiro no garimpo: abriram um túnel atrás de gemas no morro ao lado do Parque de Exposições Pampulinha, em Teófilo Otoni, a convite dos organizadores da 16a Fipp – Feira Internacional de Pedras Preciosas, um dos maiores eventos do gênero, realizada anualmente no país, paralelamente à Feira Livre de Pedras Preciosas. Esta, parece uma feira livre comum, com inúmeras barracas ao longo da rua. Ao invés de frutas, legumes, verduras, carnes, etc., vende- se principalmente pedra bruta, além de gemas, bijuterias e artefatos minerais. Os compradores estrangeiros que acorrem ao Pampulinha também circulam por ali, atrás de bons negócios.

Maurino e Valdomiro foram contratados para VALDOMIRO, com a picareta, alargando o túnel pelo qual entrará com um carrinho de mão para retirar o entulho: “Qualquer hora a gente acha a pedra grande” mostrar aos visitantes, especialmente aos compradores estrangeiros, de onde vêm e como são extraídas algumas das pedras preciosas que eles, avidamente, procuram. Franceses, holandeses, alemães, ingleses, chineses, indianos, israelenses e sul-africanos, as feiras brasileiras do setor atraem gente do mundo inteiro. Tem até quem venha e fique, como o engenheiro mineral Markham Wilson, da Carolina do Norte, EUA. Ele veio duas vezes ao ano nos últimos 15 anos. Neto de joalheiros, comerciante de pedras brutas para colecionadores, certa vez foi convidado a visitar túneis e minas na região de Téofilo Otoni, algo que jamais ocorrera nos demais países que visitara. Ele sonhava com tal oportunidade. Queria saber como os garimpeiros chegavam às pedras que ele aprendeu a gostar – sempre usa uma em forma de colar. Encantado, descobriu nos túneis que tinha “coração garimpeiro” e mudou-se de mala e cuia para o Brasil. “As pedras me chamaram.” Virou otoniense.


FEIRA LIVRE em Teófilo Otoni: ao invés de frutas e hortaliças, mais de 100 barracas com pedras preciosas, bijuterias e artefatos variados
Nem tudo são flores (pedras), porém. A cidade onde Markham agora mora ainda é o principal centro lapidário do país, mas já foi maior. Há 20 anos, abrigava 2,7 mil oficinas. Hoje, restam 359. Havia cerca de 30 mil garimpeiros em atividade. Atualmente não passam de 500, segundo Robson de Andrade, presidente da Accompedras – Associação dos Corretores do Comércio de Pedras Preciosas de Teófilo Otoni. “Estamos caindo em rabo de égua”, diz ele, tratando logo de esclarecer a frase: “Rabo de égua só vai pra baixo”. São números significativos, segundo ele, considerando, também, o de vagas abertas no mercado: “São pelo menos dez empregos gerados por cada garimpeiro”, justifica, relacionando entre eles o lapidador, o serrador, o encanetador (“caneta” é um tubo em cuja ponta o especialista fixa a pedra que será lapidada em discos abrasivos), o polidor, o corretor (intermediário entre o garimpeiro e o comprador), o desenhista de jóias e o joalheiro além dos demais envolvidos na cadeia produtiva.

Robson também reclama da legislação por favorecer, indiretamente, a “máfia do GPS” – expressão com a qual se designa os que usam aparelhos de GPS (sistema de posicionamento global via satélite) para “marcar” terrenos potencialmente produtivos em terras alheias e reivindicar o direito de explorá-los, adiantando-se ao proprietário da terra. A propósito, o subsolo brasileiro é propriedade da União. A concessão é dada a quem a peça primeiro e demonstre condições de exploração, desde que cumpra uma série de exigências (leia O que fazer, na última página).

Robson aponta outra distorção no setor, de resto recorrente no país: exportar matéria-prima ao invés de produtos acabados, como ocorre com o café, o ferro, a soja, etc. Segundo ele, dá-se o mesmo com as gemas: o Brasil é responsável por 30% da produção mundial de gemas coradas (excetuando-se o diamante, que corre à parte), embora participe com apenas 4% do mercado internacional, que movimenta cerca de 1,5 bilhão de reais anualmente. “Israel não produz esmeraldas mas tá no topo do ranking mundial dos exportadores. Sabe como? Eles (os israelenses) vêm aqui, compram pedras brutas das mãos dos garimpeiros ou intermediários, lapidam e vendem as gemas (e jóias)”. (NR: ao eclodir a segunda guerra mundial, muitos ourives europeus de origem judaica emigraram para o Brasil. Com a recessão no mercado joalheiro internacional no pós-guerra, mudaram- se para o recém criado Estado de Israel. Lá, ajudaram a construir uma das maiores indústrias de lapidação do mundo, em grande parte com pedras brutas brasileiras. Eles falavam português. Tinham contatos aqui. Sabiam o caminho das pedras).

O presidente do IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, Écio Moraes, concorda com Robson nesse ponto. “Se um alemão, por exemplo, chega em Teófilo Otoni ou Valadares (Governador Valadares, palco da Brazil Gem Show, outra grande feira comercial de caráter internacional) e compra uma pedra bruta, ele sai do país com imposto de exportação zero. Se eu trago essa mesma pedra para lapidar (agregar valor) em São Paulo, pago 12% de ICMS”, compara. Em sua opinião, a tributação excessiva é o principal entrave ao desenvolvimento do setor – chega a 53%. Além de restrições de natureza tributária, Écio reclama da burocracia, capaz, segundo ele, de fomentar a informalidade, cujo índice ultrapassa 50% atualmente. Ou seja, mais da metade da produção e da comercialização de pedras preciosas no Brasil é feita por baixo do pano. Não se sabe ao certo quanto se tira do subsolo nem quanto se vende, muito menos o montante real nas transações. Problemas à parte, as exportações vêm crescendo 20% ao ano, de acordo com o IBGM – uma espécie de confederação de associações estaduais e empresas do setor.


RAFAELA Menditi, capixaba de Mimoso do Sul, de olho nas gemas expostas na 17a Fipp: “Se eu tivesse dinheiro, compraria todas elas”
O Brasil é uma das sete “províncias gemológicas” mais importantes do planeta, com produção em todos os estados, alguns dos quais destacam-se também pela exclusividade. Por exemplo, o Piauí, único produtor de opalas brancas, descobertas em 1973, e a Paraíba, terra das “turmalinas paraíba”, pedras azuis e verdes de rara beleza, encontradas pela primeira vez em 1989. Ouro Preto, MG, também faz parte desse grupo. Na antiga Vila Rica encontram- se as únicas jazidas de topázio imperial rosa do planeta. A Bahia destaca-se pela produção de esmeraldas, safiras e águas-marinhas, além de diamantes. O Rio Grande do Sul, pelas ametistas, ágatas, citrinos, cristais de rocha e outras. O Pará, pelo ouro. Minas, por dezenas de pedras – o estado não tem esse nome à toa. Água-marinha, opala, morganita, topázio, safira, rubi, turmalina, berilo, rubelita, cristal de rocha, quartzo, ametista, pirita (mineral chamado “ouro dos trouxas”), citrino, calcedônia, cornalina, ágata, alexandrita, amazonita, rutilo, brasilianita, granada, hematita, iolita, turquesa, olho-de-gato, espodumênio, ônix, kunzita, lazulita, malaquita, obsidiana, pedra-da-lua, diamante etc., o país guarda gemas coradas de todas as cores e tonalidades, várias delas multicoloridas como a opala nobre ou a turmalina “melancia” – lapidada a partir de cristais com a cor verde por fora, uma fina camada branca e o miolo rosa.

O Brasil produz 90 tipos diferentes de pedras preciosas. Há de tudo no mercado. Pedras sintéticas, artificiais, coloridas por irradiação, tratadas por difusão, tingimento, imersão em óleo e outras técnicas. Encontra-se até diamantes sintéticos, embora ainda de qualidade inferior àqueles formados há milhões de anos no interior da Terra, de cujo magma emergiram para cristalizar em Diamantina, Gran Mogol, no mundo inteiro, enfim, para satisfação de seu Ida, Totôca, seu Marão e tantos outros.

Principais áreas de ocorrência de pedras preciosas e metais nobres do Brasil. A sobreposição de cores identifica regiões potencialmente explosivas. Segundo levantamento, há mais de 200 garimpos em reservas indígenas





Todos os estados brasileiros abrigam riquezas minerais. Alguns, mais, outros, menos, como se pode ver no mapa ao lado. Legalmente, o subsolo pertence à União. Se um fazendeiro quiser saber o que há em suas terras deve contratar um geólogo. O segundo passo e pedir um Requerimento de Autorização de Pesquisa ao DPNM – Departamento Nacional de Produção Mineral, vinculado do MME – Ministério de Minas e Energia, descrevendo o tipo de mineral e sua localização.

Também é preciso incluir um plano de pesquisa, detalhando prazo e orçamento – a descrição da área e o plano deve ser preparado e assinado obrigatoriamente por um geólogo ou engenheiro de mineração. O DNPM o avalia e, caso não haja nenhum impedimento legal – se não estiver dentro de área indígena, parque nacional ou área de proteção ambiental e não houver requerimentos sobrepostos – emite um “Alvará de Pesquisa”, válido geralmente por três meses, mas renovável.

Antes, porém, de pôr a mão na massa, o fazendeiro precisará de licenciamento do órgão responsável pelo meio ambiente (varia de estado para estado), de estudo e relatório de impacto ambiental (EIARima) e autorização de outras instituições, caso necessite cortar árvores, usar muito água ou atingir área de proteção ou hidrovia federais. Nesse caso, terá de bater na porta do Ibama. Por baixo, gastará mais de 20 mil reais.

Fonte: Globo

Venda de terra a estrangeiros pode virar moeda de troca para salvar Temer

Venda de terra a estrangeiros pode virar moeda de troca para salvar Temer

Governo cogita acelerar tramitação de projeto de lei para assegurar apoio da bancada ruralista
por Redação RBA
Governo cogita acelerar tramitação de projeto de lei para assegurar apoio da bancada ruralista
Temer
Temer estaria pessoalmente à frente das negociações com membros da bancada ruralista
São Paulo  Para garantir sua permanência no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer deve acelerar a tramitação do projeto de lei que libera a venda de terras para o capital estrangeiro no Brasil. A informação é do boletim de negócios e finanças Relatório Reservado.
O ministério da Casa Civil já teria concluído um texto substitutivo do PL 4.059/12, que trata da questão. Em fevereiro, o jornal O Estado de S. Paulo havia noticiado que o tema vinha sendo debatido no governo.
De acordo com o Relatório Reservado, o ministro Eliseu Padilha contabiliza ter o voto de mais de 300 parlamentares favoráveis à proposta, número acima dos 257 necessários para a aprovação. A medida seria uma forma de conquistar votos da bancada ruralista na apreciação da denúncia contra Temer, que irá a votação no plenário da Câmara dos Deputados em agosto.
Temer estaria pessoalmente à frente das negociações, cujos principais interlocutores seriam os deputados Jovair Arantes (PTB-GO), relator do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) na Câmara, e Nilson Leitão (PSDB-GO). No "pacote" para agradar os ruralistas, o governo pode incluir também a MP do Funrural, que vai permitir o parcelamento de débitos de produtores rurais e agroindústrias, atualmente na casa dos R$ 26 bilhões.
Na quarta-feira, Temer já havia acenado para os parlamentares ruralistas ao assinar um parecer da Advocacia-Geral da União que considera o chamado "marco temporal" para demarcação de terras indígenas. O texto estabelece que só serão demarcadas áreas ocupadas pelos índios até a data da promulgação da Constituição de 1988.

Fonte: Valor

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Reação ao fim da Renca foi 'histeria', 'infantilidade' e 'desinformação', dizem geólogos

Reação ao fim da Renca foi 'histeria', 'infantilidade' e 'desinformação', dizem geólogos   
A extinção da Renca - reserva mineral no Pará e no Amapá do tamanho da Dinamarca - é "o maior ataque à Amazônia em 50 anos". O alarme ecoou no final de agosto em todo o mundo: da tribuna do Senado, pela voz do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ao jornal inglês The Guardian.
A forte reação deu resultado e o presidente Michel Temer determinou na quinta-feira "a paralisação de todos os procedimentos relativos a eventuais direitos minerários na área (…) em respeito às legítimas manifestações da sociedade e a necessidade de esclarecer e discutir as condições que levaram à decisão de extinção da Renca".
Geólogos ouvidos pela BBC Brasil, no entanto, acusam os protagonistas dessa reação de "histeria", "infantilidade" e "desinformação.
Eles argumentam que a maior parte da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados) continuará bloqueada para mineração porque hoje seu território engloba nove áreas protegidas, entre unidades de preservação ambiental e terras indígenas, que não sofreram alteração no decreto de extinção da reserva mineral. Essa área bloqueada representa mais de 70% da Renca, segundo a ONG WWF.
A Renca foi criada em 1984, no regime militar, para evitar a exploração da área por capital estrangeiro - embora as formações geológicas sejam promissoras, não se conhece seu potencial real e ainda seriam necessários anos de pesquisa para que mineradoras iniciem operação.
Enquanto as pesquisas estão paralisadas, os geólogos sustentam que a reserva está hoje ocupada por garimpeiros ilegais que não seguem qualquer legislação ambiental, enquanto a mineração feita por empresas estaria sujeita a uma série de regras que mitigam seu impacto. Segundo estimativa do instituto Imazon, a partir dos voos que partem de Laranjal do Jari (AP), cerca de 2 mil garimpeiros atuariam na Renca hoje.
"A Renca não é o paraíso de Adão e Eva intocável. É uma região onde está havendo garimpagem violenta sem respeito à lei, aos padrões de exploração mineral avançados e sem recolher impostos", afirma o geólogo Onildo Marini, professor aposentado da UnB e hoje diretor-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb). 

Mineração x outras atividades

Os geólogos ouvidos pela BBC Brasil dizem também que a presença de mineradoras na Amazônia coíbe o avanço de outras atividades de maior impacto, como agropecuária e extração de madeira. Assim como o governo tem feito, eles citam o exemplo da exploração de minério de ferro em Carajás, pela Vale.
Em parceria com o ICMBio, órgão de conservação ambiental do governo, a mineradora banca a preservação de cinco unidades de conservação no entorno da mina. Elas somam cerca de 7,6 mil quilômetros quadrados (cinco vezes a cidade de São Paulo), dos quais a operação da Vale ocupa menos de 2%.
Imagens de satélite mostram que nos últimos 40 anos a área ao redor dessas cinco unidades foi intensamente devastada por madeireiros e pela agropecuária. Ambientalistas, porém, consideram que a atividade mineradora acabou atraindo população para a região, indiretamente provocando o desenvolvimento dessas atividades mais predatórias.
Imagens de satélite do Google de área protegida da Vale: Área protegida pela Vale em parceria com o governo está preservada, enquanto todo o em torno fora dessa área foi devastado | Foto: Google© BBC Área protegida pela Vale em parceria com o governo está preservada, enquanto todo o em torno fora dessa área foi devastado | Foto: Google
"No caso da Renca, virou uma histeria por uma grande desinformação. Qualquer área do Brasil em que a mineração acontece tem um impacto, não se pode negar isso. Mas o impacto é pontual, muito menor que a agricultura. Sou suspeito, pois sou geólogo, mas falo com conhecimento de causa", afirma Claudio Gerheim Porto, professor do departamento de Geologia da UFRJ.
Insuspeito, o jornalista Lúcio Flávio Pinto, referência na cobertura da Amazônia e na denúncia de ilegalidades de grandes empresas na região, concorda com a maioria das críticas feitas pelos geólogos e defende a extinção da Renca.
Ele é crítico de Carajás pelo fato de a maior parte da produção ser exportada como matéria bruta, em vez de ser processada em aço no país, o que geraria mais riqueza. Considera, porém, que a operação da Vale de fato gerou preservação.
"Eu combato Carajás porque é um projeto colonial, mas, se não fosse Carajás, não teria mais floresta nesta área. As pessoas (que estão criticando o fim da Renca) ou estão de boa intenção enganadas, ou com excesso de boa intenção, ou têm má-fé", afirmou à BBC Brasil.
O jornalista defende que a área seja aberta para mineração e que as empresas paguem taxas para bancar a conservação das reservas florestais e indígenas.
Michel Temer: Temer minimizou polêmica sobre reserva: 'De uma singeleza ímpar' | Foto: Isac Nóbrega/PR© BBC Temer minimizou polêmica sobre reserva: 'De uma singeleza ímpar' | Foto: Isac Nóbrega/PR
"Há risco de impacto ambiental (com a mineração) na Renca? Sim, toda vez que você adensa a população (na área devido a uma nova atividade econômica), aumenta o risco de impacto, mas é muito mais fácil você prevenir e controlar com a mineradora do que com garimpeiro, com soja, com madeireiro, com assentamento rural", disse.
Protestos contra o fim da reserva: Governo enfrentou duras críticas após decreto de extinção da Renca | Foto: José Cruz/Agência Brasil© BBC Governo enfrentou duras críticas após decreto de extinção da Renca | Foto: José Cruz/Agência Brasil
Apesar disso, Pinto reconhece que a forte reação da sociedade acabou tendo efeitos positivos.
Após as críticas, Temer revogou o primeiro decreto e publicou um novo prevendo a criação do Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca, que será consultado sobre a concessão de outorgas para a exploração mineral na área. O órgão terá representantes de ministérios, Funai, Agência Nacional de Mineração e dos governos do Amapá e do Pará.
Ele comemorou a iniciativa, "inédita, uma grande vitória", mas apontou a necessidade de que o comitê tenha também a participação do Ministério Público e da sociedade civil, para que possa atuar com isenção.
Renca: Extinção de reserva foi promovida sem consulta ao Congresso e à sociedade civil | Foto: WWF-Brasil/Zig Koch© BBC Extinção de reserva foi promovida sem consulta ao Congresso e à sociedade civil | Foto: WWF-Brasil/Zig Koch

'Gota d'água'

Adriana Ramos, coordenadora de Política e Direito do Instituto Socioambiental (ISA), rebate as críticas aos que se opuseram ao fim da Renca - e aponta riscos ambientais caso isso se confirme.
Ela nota que a extinção da reserva mineral vem acompanhada de outras propostas do governo, como flexibilização do licenciamento ambiental, regulamentação da mineração em terra indígena e redução de unidades de preservação como a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.
Amazônia: Governo federal reabriu a área na Amazônia para a exploração mineral© AFP Governo federal reabriu a área na Amazônia para a exploração mineral
"A revogação da Renca foi uma gota d'água. Ela pegou uma sociedade insegura, preocupada e vendo uma movimentação absolutamente errática do governo em relação à conservação da Amazônia como um todo", afirma.
"A preocupação é com o conjunto da obra. Se o Congresso aprovar as mudanças do licenciamento ambiental nos termos que o governo negociou com diferentes setores, vai retirar uma série de salvaguardas importantíssimas que teriam que ser cumpridas pela mineração", reforça.
Ramos também considera que não há garantia de que a presença das mineradoras vai coibir o garimpo ilegal e teme que os garimpeiros acabem migrando para outras áreas de preservação. Ele cita também o desastre ambiental de Mariana, devido ao rompimento da barragem de rejeitos de uma mineradora da Vale, para argumentar que a fiscalização sobre as empresas é falha.
A coordenadora do ISA defende o desenvolvimento de atividades que não impliquem em qualquer desmatamento, como manejo florestal e extrativismo vegetal (óleos, seringa, castanha, etc.).
"O maior patrimônio da Amazônia é ser a maior área de floresta tropical contínua do planeta. Qualquer opção que signifique retirada da floresta não deveria ser a nossa primeira opção", defende. 

'Infantilidade'

Os geólogos ironizam a proposta: "A Amazônia intocável é uma infantilidade, não melhora a vida do povo amazônico, nem traz recursos para o país como um todo. Se olhar a nossa balança comercial, o que está salvando o Brasil é a agricultura e a mineração", afirma Marini.
"Essa é a perspectiva que queremos para a população amazônica? Viver de salário mínimo, catando castanha, retirando borracha? Um país com 13 milhões de desempregados não pode se dar ao luxo de bloquear uma atividade como a mineração, que com um dano mínimo gera alto valor", crítica também Elmer Prata Salomão, dono da consultoria Geos e presidente do conselho consultivo da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral.
Com um cálculo que publicou no livro Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios junto com o geólogo Tadeu Veiga, ele busca fundamentar seu argumento.
A partir dos números do Departamento Nacional de Produção Mineral - que apontam que em 2013 foram extraídas 175 milhões de toneladas de minérios diversos na Amazônia, no valor de US$ 14,7 bilhões - os dois calculam que a atividade naquele ano gerou US$ 26,6 milhões de dólares por hectare lavrado.
Para chegar nesse cálculo, eles estimaram que as 175 milhões de toneladas de minérios extraídas implicaram na remoção de 566 milhões toneladas de solos e rochas. Isso, segundo eles, caberia em um buraco com superfície equivalente a uma "pequena fazenda" de 554 hectares (um terço da cidade de São Paulo) e profundidade de 50 metros (um prédio de pouco mais de 15 andares).
"Apenas para comparação, a produtividade da soja na região Norte é de 3 toneladas por hectare. A cotação em 2013 oscilava em torno de US$ 420 por tonelada. A receita do agronegócio alcançaria então US$ 1.260 por hectare, muito menor do que a receita média proporcionada pelas jazidas em lavra", comparam no artigo.
A coordenadora do ISA responde à ironia: "As populações que são da Amazônia vivem de coletar castanha. Tem comunidade que vende castanha para o pão da Wickbold, tem comunidade que vende óleos para os produtos da Natura. Isso é uma economia de base florestal, sustentável e que atende a inclusão social das comunidades locais, que não são geólogos para trabalhar na mineração".
Lúcio Pinto ressalta que as cidades do Pará impactadas pela mineração são as que têm maior renda per capita do Estado e também as prefeituras com maior receita - mas, por causa da corrupção e da má administração, persistem problemas graves em saúde, moradia e saneamento, observa.

Fonte:  BBC

Terra está na 'linha de tiro' de 16 estrelas   

Terra está na 'linha de tiro' de 16 estrelas   
Astrônomos calculam as chances de outras estrelas lançarem meteoros em nossa direção: Oi. Você vem sempre aqui?© NASA Oi. Você vem sempre aqui? Do ponto de vista estritamente científico, a posição de Saturno em relação à Terra no momento em que você nasceu não é capaz de afetar sua personalidade. Mil desculpas, astrologia.
Mas, se serve de consolo, há outro astro – esse bem distante do Sistema Solar – que tem muito potencial para influenciar a vida de nós, terráqueos, em um futuro bem distante. Não por meio de alterações sutis na suas qualidades e defeitos, que fique claro, mas pelo fato de que ele talvez arremesse um asteroide em direção à Terra.
Estamos falando da estrela Gliese 710 , que passará a 0,25 anos-luz de nós daqui 1,35 milhões de anos. Calma, isso pode até ser perto do ponto de vista cósmico, mas ainda é bem longe na escala humana. Gliese definitivamente não se chocará conosco.
O problema é outro. Uma hipótese bem aceita por astrônomos é a de que o Sistema Solar seja rodeado por uma enorme e dispersa nuvem de pequenos pedregulhos gelados: a nuvem de Oort. Caso essa nuvem realmente exista, ela estará justamente no caminho de Gliese 170 conforme ela se aproximar.
Uma estrela como essa, com 60% da massa do Sol, exerce grande atração gravitacional. Mais do que o suficiente para alterar a rota dos asteroides da hipotética nuvem de Oort, lançando-os contra a parte mais interna do Sistema Solar (e aumentando muito, por tabela, as chances de que a Terra seja atingida).
Gliese 170 é a que passará mais perto, mas não é a única. Até a ainda distante data de sua chegada, 16 estrelas passarão a no mínimo 2 parsecs (6 anos-luz) da Terra. Essa distância, apesar de um pouco mais segura, já é suficiente para alterar a trajetória dos objetos da nuvem de Oort – o risco diminui, mas não passa.
Sabemos isso graças a Coryn Bailer-Jones, pesquisador do Instituto Max Plank em Heidelberg, na Alemanha. Em um artigo publicado na última quinta (31), ele usa informações coletadas pelo telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), para fazer os cálculos mais precisos disponíveis sobre a futura aproximação de outros astros.
A preocupação não é exagero. É claro que um “encontro” com outra estrela não é garantia de que seremos atingidos. Só um fenômeno que, em seu auge, aumenta (muito) esse risco. Como a nuvem de Oort provavelmente se estende por até 200 mil vezes a distância entre a Terra e Sol, seus asteroides estão ligados ao Sistema Solar por um frio de gravidade muito tênue, o que os torna facilmente influenciáveis por outro astro de grande porte. Segundo Bailer-Jones, com cálculos precisos o suficiente, seria possível calcular qual era a posição das estrelas mais próximas de nós há 60 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos – e, quem sabe, descobrir que uma delas arremessou o bólido que atingiu a península de Yucatán naquela época.
A antecipação é chave para conseguirmos nos defender de impactos como esses. “ Hoje não há, aparentemente, nada em órbita que possa atingir a Terra. Essa é a notícia boa”, explicou à SUPER Lindley Johnson, oficial de defesa planetária da NASA, em julho. “A ruim é que nós só enxergamos 30% dos asteroides. Há muita coisa lá fora, mas, felizmente, o espaço é um lugar muito grande também.”

Fonte:  Super