Caminho do Ouro, na Bahia, revela um Brasil de contrastes
O Caminho do Ouro, no sertão da Bahia, é uma região de contrastes. Lá, o Brasil da alta tecnologia convive com o Brasil sem instrução.Engolindo poeira sob o sol escaldante do Nordeste, a terra que não produz na seca esconde o mais cobiçado dos metais. Em uma das regiões que produzem ouro no Brasil, em Nordestina, sertão da Bahia, palmo a palmo eles vão abrindo o chão, desmontando pedras e buscando a sorte.
O agricultor Domiciano Batista tenta encontrar no cascalho o que a lavoura não lhe deu: algum dinheiro para sustentar a família.
“Aqui é melhor do que na roça, porque aqui a gente está aventurando alguma coisa, e na roça nessa época ninguém aventura nada”, disse o agricultor Domiciano Batista.
Não é nenhuma grande jazida, mas para o agricultor que vira garimpeiro, quando a chuva falha é a salvação.
“Tem um grama e meio, por aí, não chega a dois. Vendo o grama por R$ 33. Já tenho uns R$ 50, mais ou menos. Já dá para o leite das crianças”, calcula o agricultor Joceval Rocha.
Um detector de metais ajuda na hora de decidir onde cavar o buraco. É a ferramenta mais moderna de que eles dispõem. Não há controle, nem números exatos. Não se sabe nem quantos garimpos existem no Brasil. Há apenas uma estimativa da produção informal: oito toneladas e meia por ano.
Os aventureiros da extração artesanal respondem por cerca de 20% da produção nacional de ouro. Trabalho exaustivo, mal acomodados e mal alimentados – vida de garimpeiro é uma improvisação.
“Tenho farinha, feijão e ovo para comer. Amanhã é ovo, feijão e farinha”, comenta, rindo, o garimpeiro Arisvaldo Batista.
Na hora de apurar o ouro, o improviso vira uma ameaça à saúde. O mercúrio usado para extrair o metal exala no fogo do maçarico a poucos centímetros do nariz.
“Não sei quais os riscos dessa fumaça”, disse o garimpeiro Jean de Souza. “É cancerígena”, afirmou o repórter.
Jean diz que produz uma média de 25 gramas por mês, cerca de R$ 800. Mas, em outra mina, só se fala em quilos e toneladas de ouro. Como a tecnologia vai buscar o minério que os garimpeiros não conseguem extrair?
É um labirinto subterrâneo de 200 quilômetros, com túneis que levam homens e máquinas ao esconderijo do procurado metal. Os buracos são abertos com equipamentos potentes e precisos. Não dá ver, mas o ouro fica dentro da rocha negra.
“A gente perfura, em média, 540 metros de buraco por dia. Mais de meio quilometro. Se fosse na mão, levaríamos alguns meses”, prevê o gerente de operações Antonio Marcos Mendonça.
O maior perigo embaixo são os desmoronamentos. Por isso, a carregadeira é operada por controle remoto.
“O controle remoto para a gente hoje, na verdade, é um anjo de guarda”, define o operador Antonio Paciência.
Em todas as manobras, o operador fica a sete metros de distância. “Estamos há 487 dias sem ocorrências de acidente com afastamento”, informa o gerente de operações Carlos Luiz Ribeiro.
O ar, canalizado, vem da superfície e se espalha pelas galerias. Mas em algumas áreas esses tubos não dão conta do calor. A mil metros de profundidade, o ar canalizado chega, mas a temperatura está em torno dos 38ºC ou 39ºC. A sensação térmica, no entanto, é de uns 45ºC.
Haja água para suportar sete horas de trabalho por dia. “Um garrafão dá para um turno. Ele tem três litros e, às vezes, ele sobe vazio”, comenta o operador Marcos Oliveira.
A extração de ouro no local começou há 33 anos e, em pelo menos mais sete, há garantia de produção. As pesquisas indicam que a jazida vai a 1,1 mil metros de profundidade.
“Quando você se lembra que a superfície está a mil metros para cima, eu penso que se furar mais um pouco aqui vamos sair no Japão”, diz, rindo, o operador Antonio Paciência.
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