sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Nos confins do tudo ou nada

Nos confins do tudo ou nada

Por Texto de Daniela Chiaretti e fotos de Davilym Dourado, de Serra Pelada (Curionópolis, Pará)
O garimpo foi fechado em 1992, quando a imensa cava ficou muito funda, a segurança mais precária e a produção minguava: com a água brotada das paredes formou-se um lago, que hoje, dizem, esconde ouro que o governo não quis que alcançassem
Há poucos tons pastel nesta terra de sol inclemente e mulheres que usam sombrinhas. No desfile das ruas, se a saia é rosa shock, a blusa é laranja, e o short sob a regata verde-limão é profundamente azul. A moça sai do mercado, monta na moto, acelera e some sem capacete no rastro de poeira vermelha. Aqui, é bom que se diga logo, nada é o que parece. A explosão do feminino com cores de Frida Khalo só tem uns 20 anos na vila de casas de tábuas. Este era um mundo exclusivamente de homens. "Bem-vindos a Serra Pelada", saúda a placa na entrada do povoado.
Quem tinha dez anos em 1980 lembra-se bem do frenesi contínuo na cratera aberta em plena floresta amazônica. Eram milhares de corpos monocromáticos, recobertos de barro da cabeça aos pés - devidamente calçados com kichute, tênis da Alpargatas que era hit no garimpo por ter travas na sola, que evitavam escorregões. Picaretas na mão, homens vindos do Ceará, de Pernambuco, do Maranhão, de São Paulo, de todos os cantos, sonhavam em "enricar". Serra Pelada era imagem constante na televisão do fim da ditadura. Dizia-se que o país iria pagar a dívida externa com a riqueza extraída do maior garimpo a céu aberto do mundo. Mas, a rigor, nem se sabe ao certo quanto a mina produziu. Estimativas falam em 40 a 60 toneladas. O que não saiu pela Caixa Econômica Federal, a única compradora oficial do ouro de Serra Pelada, ninguém sabe, ninguém viu.
Nas poeirentas ruas de terra, o sol forte recomenda o uso de proteção que a sombrinha mal garante, enquanto ajuda a compor inesperadas imagens de delicadeza
O que todo mundo viu são as cenas de garimpeiros indo e vindo em fila indiana, como formigas, curvados sob sacos de pedras. No auge da corrida do ouro brasileira, em 1982 e 1983, calcula-se que cem mil homens andaram por aquele buraco no sudeste paraense. Garimpavam dia e noite, aos domingos, na Páscoa, no dia de Finados. Só paravam quando chovia ou a voz do megafone mandava. Carregaram uma montanha inteira nas costas. Continuaram cavando e abriram um fosso de 180 metros de profundidade. Nunca alcançaram a mítica "cota 190", onde, acreditam piamente, existe muito mais ouro.
O garimpo foi fechado em 1992, quando o buraco ficou muito fundo, a segurança mais precária e a produção minguava. Na cabeça dos garimpeiros que ainda vivem na vila, o garimpo parou quando começaram a chegar perto dos grandes veios de ouro, que o governo nunca quis que alcançassem. Sem os homens para bombear a água que brotava das paredes, a cava encheu. Formou um lago meio sem graça, igual a qualquer outro. Claro que não é. Quem lembra das fotos preto e branco de Sebastião Salgado ou Jorge Araújo nem registra os adolescentes que hoje nadam ali, depois da aula. Só pensa nas histórias movidas a mercúrio e ouro, sangue e suor, que ainda estão debaixo daquela água.
Juvenal Costa Silva, chamado Paulo porque usava cabelo grande como Paulo Ricardo, do RPM: junto ao balcão do bar, no lugar do cabaré onde se ouvia muito "a banda daqueles dias"
"Eu vi a hora em que o bloco de terra se desprendeu do alto da parede, lembro perfeitamente daquele momento de agonia", conta o capixaba Etevaldo Arantes, 45 anos. Era uma madrugada de 1987. Em determinado local, uma turma havia encontrado ouro e continuava trabalhando. "O Ceará tinha dois dias dentro da cava. Ele saiu, me viu e chamou pra ir pro barranco. Eu não podia naquela hora e pedi que ele me trouxesse um café." O companheiro assentiu. De repente, por onde Arantes havia acabado de passar, caiu tudo. "Ceará foi o primeiro que tirei. Estava escuro, ele coberto de terra, já tirei morto. Carreguei nas costas, mas não vi quem era." Só mais tarde Arantes soube que o amigo atendeu a um chamado de dentro da cava e desviou do café. Daquela vez, morreram 21.
Na vila que restou, mulheres leem o Evangelho e ex-garimpeiro vê a vida passar: na cabeça de todos, a ideia é de que o garimpo parou quando começaram a chegar perto dos grandes veios, e que o governo nunca quis que alcançassem
Uma das histórias mais famosas é a de José Mariano, o Índio. O homem "bamburrou", o que, em linguagem garimpeira, significa que achou muito ouro. Eram 400 quilos. Ele conta (e outros repetem), que então quis ir de Belém ao Rio de Janeiro, dormir no Copacabana Palace. Mas no guichê da companhia aérea não conseguiu atrair a atenção da atendente, que preferia atender a cidadãos mais distintos. Índio zangou-se, colocou um saco de dinheiro sobre o balcão, fretou o avião de mais de cem lugares e foi sozinho. Em três anos gastou tudo e voltou ao garimpo, onde está até hoje.
Tem a lenda do sujeito que encontrou uma pepita enorme e comprou um carrão - que lavava regularmente com garrafas de água mineral. Falam da sorte de Marlon Lopes Pidde, o homem que explorou um pedaço de terra onde acharam quatro toneladas de ouro - ou oito, em algumas versões. Não comentam muito, é verdade, que Marlon está na cadeia, aguardando julgamento pela suspeita de ter assassinado 11 pessoas que invadiram sua propriedade, anos depois de ter enricado. Alguém muda de assunto e lembra como viu Júlio tirar a maior pepita do barranco: 63,12 quilos.
Conversas assim continuam a circular entre o dominó e a cachaça, no povoado de três ruas de terra. Fatos são amplificados no longo telefone sem fio que corre há 30 anos. Não à toa, a grande árvore onde os garimpeiros costumavam parar e conversar, e onde hoje estacionam as vans que levam ao asfalto, chama-se Pau da Mentira. É mais que um apelido: o nome veio por decreto municipal do então prefeito Sebastião Curió, de Curionópolis, cidade a 50 quilômetros e que tem Serra Pelada como distrito. A similaridade entre os nomes do prefeito e município não é mera coincidência.
Foi uma auto-homenagem de Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, ex-agente do Serviço Nacional de Informação (SNI) que praticamente exterminou a guerrilha do Araguaia alguns anos antes. Prefeito de Curionópolis duas vezes, hoje vive em Brasília depois de ter tido o mandato cassado por acusação de compra de votos. Suspeito do envolvimento em várias mortes, de líderes garimpeiros a guerrilheiros e até dois adolescentes que teriam invadido sua propriedade no Planalto, Curió ainda é o mito mais forte daquelas redondezas. Era temido e adorado pelos garimpeiros. Foi o general João Baptista Figueiredo quem o mandou para cá, logo depois de ter se espalhado a notícia de que um vaqueiro teria achado ouro no riacho da Grota Rica, um lugar ermo do sudeste do Pará. Eram tempos em que a economia do país ia mal. Em poucos dias, o território onde pepitas de ouro pareciam brotar do capim foi tomado por milhares de migrantes. Curió chegou logo depois. Tinha a missão de impedir que o Eldorado brasileiro virasse faroeste.
Não havia estrada ligando o que hoje são 35 quilômetros de terra que saem da PA-275, entre Eldorado dos Carajás e Parauapebas, e levam a Serra Pelada. "Aqui era só mato", conta o ex-garimpeiro Antonio Rosiel Ferreira de Paula, 40 anos e 23 de Serra Pelada. Ele foi "furão", nome que davam aos que entravam no garimpo de forma clandestina, "furando" a vigilância, chegando pela mata. Menor de idade, Rosiel não podia registrar-se no posto da Receita Federal que havia na entrada. Se fosse pego pela Polícia Federal, seria expulso. Pelas duras regras do garimpo, se voltasse e fosse apanhado de novo, os que lhe haviam dado abrigo e trabalho seriam expulsos também.
O carro dá três solavancos e Rosiel, que nunca foi pego, parece se inspirar. O primeiro comentário é sobre o tronco enorme de uma castanheira cortada, à esquerda. "A mulher que morava na casa da esquina dizia que quando ela morresse a árvore ia morrer também. 'Rapaiz', e não é que foi assim mesmo? Foi dona Ana se ir que a castanheira despencou sobre o asfalto no mesmo dia. Parou todo o tráfego da estrada." Há uma ou duas castanheiras no caminho para Serra Pelada. São raros os vestígios de Amazônia neste canto do Pará que parece ser Minas Gerais. Floresta não tem mais. Nos pastos gigantes, os bois se perdem. É região de grandes fazendas.
Da saga da castanheira solidária pula-se para o relato do dia em que um certo Ceará foi andar sozinho "naqueles montes lá adiante, onde a Vale tira ferro". Nas cidades do sudeste paraense, nascidas à beira da estrada e dos entroncamentos, alguém sempre tem uma história sobre algum Ceará, sinal das ondas migratórias do passado. Outro nome recorrente nas conversas daqui é o da Vale - mas, no caso da mineradora, a referência nunca é engraçada. A tensão entre os garimpeiros e a Vale, que tem dez mil hectares na região, sempre foi forte. Os garimpeiros querem a região para eles, a empresa diz ter o título de lavra dali, para ferro, desde 1974. Quando o ouro foi descoberto, começou o conflito.
Foi questão de dias para que o morro Babilônia, perto de onde haviam encontrado ouro, fosse ocupado por milhares. Em um ano, já eram 80 mil. O governo militar optou por suspender os direitos da Vale e deixar os garimpeiros lá por três anos ou até alcançarem determinada profundidade - prazo que foi renegociado depois. A empresa, estatal à época, foi indenizada em US$ 69 milhões. O povo ocupou a serra e Curió implantou obediência militar no garimpo. Ali não podiam entrar menores, mulheres e cachaça.
O Hino Nacional era cantado todos os dias, por todos, às 8 horas, e a bandeira, hasteada. Era a hora em que aconteciam os avisos, quando o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) comunicava se haveria sorteio de "barrancos" ou ocorriam reprimendas públicas ao garimpeiro que saía da linha. "Eles botavam em cima do palanque, humilhavam, expunham ao ridículo", lembra Arantes, que chegou à Serra aos 16 anos, outro "furão".
Pedro Angelo de Melo, 68 anos, está certo de que restou ouro escondido pelo governo: "Perdi o amor de filho, amor de mulher, perdi meu dinheiro. Só saio daqui quando me indenizarem"
"Barranco" era o nome do pedaço de terra de dois por três metros onde trabalhavam até dez homens. O dono do barranco ficava com 50% do que se achasse. Quem "tocava" barranco tinha que fornecer alimento aos outros, equipamentos e barracão para dormir. Os "sequeiros" carregavam sacos com cinco pás de terra, o que dava 30 quilos cada e, em um dia, levavam 40. "Sempre tenho dor no pescoço ou nas costas, sequela daquela fase", diz Juvenal Costa Silva, mais conhecido por Paulo, apelido que ganhou no garimpo por que "usava o cabelo grande, como o Paulo Ricardo, do RPM, a banda daqueles dias". No time do barranco havia ainda o "cavador", o "apontador" (que anotava quantas viagens cada um fazia) e o cozinheiro. Quem "bamburrava" muitas vezes resolvia "reinvestir", conseguia outro barranco e virava empregador de garimpeiro.
Até os grandes poços tinham nomes: "Adeus, mamãe" era, evidentemente, o mais perigoso. "Transamazônica" era a mina grande e mal acabada. Quem achasse ouro levava ao posto local da Caixa Econômica. O minério era avaliado e o garimpeiro, pago. Não muitos guardas controlavam tudo e todos. "Bastava o camarada estar lá com um crachá e um apito para ser autoridade. O povo respeitava", conta Arantes. Quem batia de frente com Curió "não tinha como andar ali dentro", continua o atual porta-voz do Movimento dos Trabalhadores na Mineração (MTM), um pequeno grupo de oposição à maior cooperativa de garimpeiros de Serra Pelada, a Coomigasp.
Os garimpeiros reagiram com vigor ao isolamento daqueles anos - hoje estão reunidos em uma dezena de cooperativas e associações que vivem disputas políticas intensas. À época, qualquer tipo de agremiação era reprimido. João Lizardo de Lima teve a vida marcada por aquela regra. Com dois amigos, editou a "Revista do Garimpeiro", em 1983. "Tinha fotos, a história do pessoal, era bem-feita", diz. Tiraram 20 mil exemplares, que foram recolhidos assim que chegaram ao garimpo. "Nunca me devolveram, ela não pôde circular", conta Lima. "A revista foi a coisa mais importante da minha vida. Enquanto eu não morrer, vou lutar para que paguem o que perdi."
O ressentimento é geral entre quem ainda mora na vila. São sete mil pessoas em um povoado sem nenhuma infraestrutura. "Este é um pedaço do Haiti em cima do Brasil", grita um garimpeiro à reportagem do Valor. A Vale é a campeã no ranking de reclamações. Isso se deve, em parte, à disputa histórica pela posse da terra entre a empresa e os garimpeiros, e em parte pela ausência de poder público, o que fez com que a Vale ocupasse o lugar de autoridade no imaginário popular. Até a epidemia de malária, em 2000, está na sua conta. "Tem garimpeiro que diz que foi a Vale que colocou mosquitos aqui", diz, rindo, Arantes. A empresa desistiu da briga em 2007, quando devolveu ao DNPM a concessão dos 100 hectares ao redor da antiga cava. O DNPM passou a região à Coomigasp, que agora se prepara para reabrir o garimpo junto a sócios canadenses. Mas a relação com a Vale continua carimbada na memória local.
"Quando o governo começou a estender os prazos aos garimpeiros, começou a ferir o direito da empresa de explorar a lavra que era sua", diz José Alberto Araújo, gerente geral do Jurídico da área de direito minerário e socioambiental da Vale. Araújo diz que, segundo os registros históricos, a resistência garimpeira foi muito forte quando a Vale quis recuperar seu território. "Os garimpeiros ameaçavam os funcionários, fecharam o acesso da empresa à região."
Em 1996 ocorreu o auge dos conflitos. A empresa conseguiu apoio da Polícia Militar e federal para entrar na área. "Os garimpeiros achavam que o direito de explorar aquela área era deles, porque foram eles que encontraram o ouro. Acontece que eles tinham invadido uma área que era de outros", diz Fernando Greco, gerente geral de exploração mineral da Vale no Brasil. "No fim, desistimos. Pelo volume de ouro que tinha lá e nas condições que se apresentava, economicamente não interessava mais à empresa." Serra Pelada virou uma espécie de aldeia gaulesa cercada por Vale de todos os lados. A lavra, agora, é da cooperativa de garimpeiros.
"Em 1996, ficamos 38 dias sem energia, e era a Vale que boicotava", afirma o ex-garimpeiro Nicolau Xisto de Carvalho. Sua mulher, a gaúcha Lorena Mazzuco Tonin, faz os pães mais famosos do povoado. Com cinco filhos e vivendo em Marabá, cuidou da oficina de motosserras da família ao ficar viúva. Quando os filhos cresceram, veio buscar o que o primeiro marido havia deixado em Serra Pelada. Não encontrou mais nada. "Paguei R$ 50,00 por um terreno e resolvi ficar aqui", conta. Casada há 11 anos com Nicolau, vivem agora de fazer pão. "Dá para tocar a vida, apertadinha, mas dá."
Crença arraigada em Serra Pelada é que ali por baixo ainda há muita riqueza. Podem até estar pisando em ouro, mas vivem na miséria. Serra Pelada é um lugar difícil. Água encanada não tem, energia elétrica vive faltando, celular não pega. Tem muita malária e leishmaniose. Há uma associação de doentes de hanseníase, o que dá ideia da difusão da doença. A mente confusa de alguns garimpeiros talvez seja um indício da contaminação por mercúrio que eles usam ainda hoje, nos pequenos garimpos ao lado da estrada, espalhando o metal pelas mãos como se fosse sabão de coco. Basta caminhar pelas ruas de terra para sentir o olhar desconfiado de homens sentados nas varandas, calados, sem fazer nada em plena terça-feira à tarde, a não ser medir os forasteiros.
Claro, sempre existem os teimosos. "Estou aqui há quatro anos e 28 dias", berra Pedro Angelo de Melo, um homem forte de 68 anos que, se usasse cachimbo e gorro vermelho, seria a personificação do Saci. O olhar é safado e a perna, machucada, entortou. "Tem ouro aqui, esconderam o filão." Melo tem oito filhos. A mulher morreu. "Nem fui fazer a visita de cova. Perdi o amor de filho, amor de mulher, perdi meu dinheiro. Só saio daqui quando me indenizarem", grita "Pedra Preta", como o batizaram no garimpo.
Pouco adiante, o maranhense Ronaldo Rodrigues Carvalho é outro que mexe no cascalho para ver se encontra gramas de ouro. "Tem muito ainda. Todo dia venho, é meu jeito de colocar dinheiro no bolso", conta, enquanto lava algo na bateia. A água sai vermelha, da cor da terra. Depois, o garimpeiro unta bandejas com mercúrio, para separar o ouro do resto. "Só tem perigo quando a gente queima e cheira o gás", acredita. Não usa luvas nem máscara.
Sondas espetadas da canadense Colossus indicam que Serra Pelada pode viver outro ciclo do ouro em breve. A Coomigasp e a empresa acertam detalhes para explorar 50 toneladas de minério (33 toneladas de ouro) que foram prospectadas. Será um garimpo mecânico. "Não passava pela nossa cabeça que o ouro, um dia, pudesse acabar", diz Paulo, que na verdade é Juvenal. Ele se emociona ao lembrar o deslizamento de terra que quase o matou, levou seus companheiros e o fez desistir do garimpo. Casado, pai de dois meninos, vive em Curionópolis. Espera que deem certo o negócio com os canadenses ou os projetos de ferro e cobre da Vale e que a região saia do abandono. A Serra Pelada de hoje não tem nada da aura de Eldorado daqueles dias.
Até hoje Paulo lembra detalhes dos quase 30 anos em que vive ali. Mais de 40 bordeis se instalaram a um quilômetro da vila onde hoje é Curionópolis. "Não vou dizer que não, eu era moço, frequentava os cabarés." Muitas mulheres "amigaram" com os garimpeiros, várias ainda estão por ali. Uma delas casou, separou e comprou a casa onde trabalhava no passado. M. não quer dar entrevista. É abril e na sala ela tem uma árvore de Natal montada. "É para ver se tenho sorte, se ganho algum presente."
De Serra Pelada não se sai impune. Um bando de meninos se prepara para jogar bola no campo, próximo ao marco que homenageia um dos vários líderes garimpeiros assassinados. Fim violento foi também o de Ceará, aquele que um dia foi caminhar no morro. Voltou todo estropiado. "Foi uma hárpia que agarrou ele e quase levou embora voando", conta Rosiel. "Ele não acreditava em Deus e o pessoal dizia que a hárpia era o diabo que veio buscar ele em vida." Ceará morreria emboscado, na estrada da vila, abatido a tiros. Serra Pelada nunca foi lugar para amadores. "As coisas que acontecem aqui, a pessoa tá vendo e não acredita, mesmo sendo a realidade", diz Rosiel.

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