sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Revolução do xisto: Estados Unidos é o grande ganhador do momento. E amanhã?

Revolução do xisto: Estados Unidos é o grande ganhador do momento. E amanhã? 
Quem diria que os Estados Unidos, o maior importador de combustíveis do mundo, um país dependente de energia, iria virar a mesa e se tornar um grande exportador?
Vários conflitos internacionais e até mesmo guerras foram feitas devido a essa dependência americana.

Mas, graças a uma geologia privilegiada tudo mudou. Foi quando os Estados Unidos descobriram o gás e o óleo dos folhelhos que abundam no seu subsolo e o fracking, o método para extrair o precioso combustível aprisionado nestas rochas.

É a revolução do xisto americano.

Com essa revolução a produção americana de gás e hidrocarbonetos, que estava diminuindo, acelerou. Em poucos anos o país viu os preços da energia e dos combustíveis caírem permitindo a expansão e a revitalização das indústrias siderúrgicas, plantas termoelétricas, combustíveis e indústrias químicas.

Trata-se, possivelmente, da maior revolução energética do século. A produção interna dos Estados Unidos não para de bater novos recordes. Junho não foi exceção: a produção bateu novo recorde atingindo 68,1 bilhões de pés cúbicos ao dia, um aumento de 5,4% em relação a 2013.

O interessante é que em 2005 as empresas americanas acreditavam piamente que os Estados Unidos seriam o maior importador de gás (LNG) do mundo superando o Japão. Consequentemente elas investiram bilhões de dólares em terminais de importação do gás que viria de países exportadores como o Catar.

O tiro saiu pela culatra. Hoje os Estados Unidos produzem mais do que o país queima e passaram a ser grandes exportadores se ressentindo da falta de terminais de exportação. As coisas mudaram...

As vantagens do gás do xisto não ficam no âmbito econômico, mas se propagaram ao político. É graças ao gás do xisto que os americanos estão consolidando os laços político-econômicos com a Europa e com o Japão.

A Europa ameaçada pela Rússia de ter o seu suprimento de gás cortado, correu para o big daddy, os Estados Unidos, e esses corresponderam. Grandes contratos foram fechados envolvendo o gás americano e até o carvão, uma indústria que ameaçava fechar nos Estados Unidos.

No novo cenário o carvão americano passa a ser exportado à Europa para suprir as deficiências energéticas do velho continente, onde quase todas as jazidas de carvão foram exauridas. Regras foram mudadas e o carvão americano já está sendo aceito no continente europeu que se torna, a cada dia que passa, um grande importador de carvão. Em parte, a necessidade energética da Europa, vem do fechamento das plantas nucleares da Alemanha, que busca uma nova matriz energética, mais limpa e menos agressiva. Mas enquanto isso não ocorre os americanos vendem o gás, o carvão e a segurança...

No outro lado do mundo, o Japão, que simplesmente fechou todas as suas plantas nucleares após o desastre de Fukushima, torna-se, também, um grande cliente do gás do xisto americano.

Ironicamente o gás do xisto passa a ser o maior embaixador geopolítico dos Estados Unidos.

O gás do xisto tornou os americanos mais fortes, mais ricos e mais palatáveis. Hoje eles não só vendem os hidrocarbonetos extraídos, mas também a tecnologia para extraí-los. Esta vantagem técnica na exploração dos folhelhos está sendo altamente precificada por todos aqueles países com potencial geológico similar. É o caso da China que já entrou em joint venture com a gigante americana Weatherford International cujo know how na exploração e extração do gás do xisto é muito valioso.


custo óleo

custo gás
Nos gráficos acima observa-se que para um empreendimento de óleo ou gás em xisto nos Estados Unidos apresentar uma taxa interna de retorno mínimo (TIR) de 10% ele deve estar localizado em uma geologia favorável. Ou, em outras palavras, somente agora é que se sabe que algumas bacias sedimentares têm custos operacionais proibitivos que acabam com a economicidade do projeto. 

É claro que esses estudos econômicos estão considerando os preços americanos do gás natural, que é muito baixo, e um custo do barril de petróleo de US$95 (hoje está acima de US$105).

Os americanos aprenderam muito sobre o processo e sobre a exploração e extração do gás e óleo dos xistos.

 Eles foram os verdadeiros “boi de piranha” e, como tal, fizeram uma enorme quantidade de erros que não serão necessariamente, repetidos. No início, os preços das concessões explodiram em uma inflação avassaladora. O fenômeno chegou a inviabilizar bacias inteiras que ficaram caras demais, chegando a quebrar as empresas que pagaram demais para explorá-las. Na fase inicial, por falta de know how, algumas empresas chegaram a contaminar o nível freático superior o que está, até hoje, repercutindo na mídia pelos grupos ambientalistas.

O maior erro, no entanto, foi não entender que os poços tinham a produção reduzida a menos de 10% da inicial em apenas quatro anos (veja o gráfico abaixo).

gas


Este fato obriga as empresas produtoras a permanecer furando para manter a produção. É um efeito perverso que está revolucionando as empresas de sondagem americanas. Hoje sabe-se que são necessários milhares de furos horizontais (gráfico abaixo) para explorar uma camada de xisto e isso não havia sido contabilizado por muitas empresas iniciantes.

furos horizontais
Mesmo assim, com todos os percalços inerentes a uma revolução industrial deste porte, o país está lucrando em todos os sentidos e os investimentos continuam fluindo para o xisto americano.

Trata-se de um processo que está, apenas, no início.

O que estamos vendo é menor do que a ponta do iceberg, pois imensas reservas de xistos betuminosos estão abandonadas no subsolo de todos os continentes, esperando pela exploração que mal está começando.

Países como a China, Argentina, Rússia, Congo e Brasil, onde as reservas são simplesmente imensas serão os próximos alvos.

Com o amadurecimento do processo as empresas tenderão a ficar mais eficientes, produzindo a custos mais baixos sem os erros e problemas enfrentados pelos americanos no início da exploração do xisto.

O que vai ocorrer quando essa geologia não convencional começar a produzir gás e óleo em imensas quantidades como está hoje ocorrendo nos Estados Unidos???

O mundo verá um fortalecimento das indústrias baseadas em combustíveis fósseis. O gás natural e o petróleo continuarão a preponderar e só aqueles que conseguirem produzir a baixos custos sobreviverão.

Será que o óleo do pré-sal, de alto custo, programado para jorrar nas próximas décadas irá sobreviver essa revolução do xisto mundial?

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