domingo, 12 de abril de 2015

Novamente a guerra solapava o mundo com seus grilhões econômicos, sociais e psicológicos, e a austeridade se impôs

Novamente a guerra solapava o mundo com seus grilhões econômicos, sociais e psicológicos, e a austeridade se impôs sobre a moda trazendo a bijuteria como reforço para a moral feminina. À medida que a roupa se tornava um artigo cada vez mais utilitário, as peças sintéticas, capazes de trazer um traço de alegria para tanta sobriedade, vinham a ser o antídoto perfeito. Outro reforço moral foram as “joias patrióticas”, com a simbólica e emotiva combinação de cores vermelhas, brancas e azuis, uma alusão às bandeiras dos EUA e do Reino Unido.
A produção de joias na Europa desacelerou, e os bombardeios dizimaram importantes centros manufatureiros como Birmingham na Inglaterra e Pforzheim na Alemanha. Paris, apesar da ocupação alemã em 1940, contava com um público endinheirado e suas marcas de prestígio se mantiveram, apesar da escassez de matéria prima. Nesta época, um número grande de joias foi produzido na cidade e o mercado de joias antigas cresceu.
Seguindo os passos de Chanel, o caráter do “falso” mudou completamente: não se tratava de imitar o autêntico. Era evidente que nenhuma gema autêntica podia ter aquelas dimensões. O plástico foi totalmente aceito como material maleável ao qual se podia dar qualquer forma que uma mulher sem complexos estivesse disposta a usar.
O plástico, o último dos materiais modernos, podia ser moldado em processos industriais rápidos para acompanhar o ritmo das mudanças da moda. As peças eram tão baratas quanto efêmeras: seu preço reduzido permitia substituí-las a cada nova temporada. Antes se havia usado o celulóide e a galatita, porém foi a baquelita, síntese de fenol e formaldeído inventada por Leo Baekelandem 1907, o material dominante desta época. Trata-se de um material sintético assombrosamente duro e resistente ao calor (motivo pelo qual se utilizou em tantos materiais elétricos) e que podia ter-se em muitas cores.
No final da década de 1930, a baquelita era onipresente e se podia ver em cozinhas e banheiros além dos adornos femininos. Serviu para fazer bijuterias lindas e coloridas, e trabalhando seu entorno, motivos florais, frutas e animais eram alcançados. A baquelita mais procurada era a de cor “sumo de maçã”, um amarelo translúcido e dourado assim como a chamada “estilo Philadelphia”, que combinava cores vivas como âmbar, o verde e o vermelho em chamativos efeitos geométricos. Em um leilão celebrado na Filadélfia em 1988, pagou-se 17.000 dólares por um exemplar desta baquelita batizada com o nome da cidade.
O movimento surrealista se movia em âmbitos peculiares e alucinantes, da forma mais cativante nas obras de SalvadorDalí, LeonoraCarrington e René Magritte. Inspirados pela obra de Sigmund Freud, mais especialmente pela obra A Interpretação dos Sonhos, de 1899, onde se propunha que a compreensão dos sonhos era o caminho para compreender o inconsciente, os artistas buscaram recursos de seu próprio interior, dando forma visual às justaposições mais inesperadas.

Desde 1924, Paris tornara-se tanto o centro da atividade surrealista como o da alta costura, fazendo com o que o encontro de ambas fosse apenas uma questão de tempo. Encontraram-se, por exemplo, na colaboração entre Elsa Schiaoarelli(1890-1973) e o pintorSalvadorDali. Ela, romana advinda de um ambiente muito intelectualizado, havia se mudado para Paris a fim de criar uma moda impactante mas também chique. Desenhou chapéus em forma de costeletas de cordeiro e cérebro à vista; botões em forma de palhaços de circo e acrobatas, além de bolsas em formato de jaula de cristal.
Na vitrine da sua boutique na Place Vendôme, Dalímontou uma estranha instalação com ursinhos de pelúcia rosa, sentados num sofá inspirado nos lábios da atriz Mae West. Figuras da alta sociedade como Daisy Fellowes usaram seu estranho chapéu com um colar de contas em formato de aspirina.O cotidiano transformara-se em peças de moda.

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