domingo, 1 de novembro de 2015

Fatos & Boatos a respeito dos "tesouros" de Pitangui" - Parte 2.2

Fatos & Boatos a respeito dos "tesouros" de Pitangui" - Parte 2.2

Nesta postagem, Vandeir Santos nos apresenta a segunda parte da matéria sobre a presença de uma equipe de geólogos alemães e brasileiros em Pitangui, na primeira metade da década de 1970. A postagem é enriquecida com fotos cedidas por José da Costa Caldas, o nosso "Mano Caldas".



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O que me chamou a atenção nesta história, e que me levou a elaborar esta matéria, foram os “causos” que se contam a respeito da presença dos técnicos e do helicóptero em Pitangui e, lógico, eu logo fiquei curioso para saber o que é fato e o que é boato no que diz respeito ao trabalho que os “alemães” realizaram na cidade.
Helicóptero pousado no heliporto montado na pista de pouso
do bairro Chapadão com a sonda HEM ao seu lado.
Foto: Mano Caldas


Nos boatos entram como objetivo das pesquisas as 40 arrobas de ouro de Alexandre Afonso, as 10 arrobas do minerador português escondidas na serra da Cruz do Monte, mais umas tantas arrobas que estariam escondidas debaixo de uma igreja da cidade, tachos de ouro escondidos por escravos, um enorme tesouro em forma de minerais que estaria no subsolo da cidade e do qual a população jamais poderia imaginar o tamanho, enfim, todo tipo de tesouro que a fértil mentalidade dos pitanguienses conseguiu inventar. Como se não bastasse, o uso, pelo helicópetro, da igreja matriz como referência geográfica (não existia GPS na época e ele pairava por alguns instantes sobre a igreja) fez com que alguns sugerissem que aquilo era alguma artimanha maquiavélica contra o padre Guerino! Quanto a questão da existência de material radioativo, bem, parte é boato e parte é fato como veremos na terceira parte deste trabalho.

Esta matéria era um objetivo antigo, mas não havia fontes confiáveis, foi então que, em uma noite no Escritório (antigo Bitoca) o Mano Caldas me chama para que eu fosse até a sua casa ver umas coisas das quais eu iria gostar muito. Não perdendo tempo fui ver do que se tratava e de dentro de uma caixa me saem várias fotos do famoso helicóptero e nas bordas das fotos a data “dez 73”. Era o que faltava, uma referência confiável. O próximo passo foi vasculhar os jornais daquele ano e mediante o encontro das matérias tomei conhecimento do órgão responsável pelas pesquisas: DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. Depois de pesquisas pela internet fui pessoalmente ao DNPM onde eu tive em mãos os diversos relatórios de pesquisas daquela época. Estava desfeito o mistério, ali se encontrava toda informação a respeito do que realmente foi encontrado em Pitangui.


Técnicos preparando o helicópetro para mais uma viagem.
Foto: Mano Caldas


O helicóptero não era uma máquina milagrosa que descobria qual era o mineral que havia no subsolo, ele apenas detectava qual área emitia uma resposta eletromagnética maior, identificada a região, uma equipe ia por terra e fazia os furos no solo, retirava o material e mandava para laboratórios de análise geológica. No município de Pitangui foram identificadas algumas áreas que foram prospectadas e os resultados foram os seguintes:

Na serra de Antimes que se situa a uns 8 km “atrás” de Brumado:

PPM - Parte por milhão = gton



Áreas próximas ao Rio Pará (abaixo do Velho da Taipa e Pontal):



Em amostras retiradas de uma área de ocorrência de quartzo aurífero situada nos fundos do Chapadão obteve-se como elemento principal o Silício e como secundários o Alumínio, Ferro, Potássio, Tungstênio, Titânio, Cobre e Cálcio.

Como pode ser observado, nada de extraordinário foi encontrado no subsolo de Pitangui, existe sim uma grande variedade de minerais, mas nem sempre se encontram concentrados a ponto de justificar o investimento necessário a sua extração e beneficiamento. Em uma determinada parte de um dos relatórios (são vários), ainda é mencionado a extração de Itabirito e hematita (minério de ferro) na década de 50 em uma região situada 4 Km abaixo do Velho da Taipa, a direita do Rio Pará. A extração foi descontinuada devido à baixa concentração de ferro no minério. Ainda são comentados outros recursos minerais como o cristal de quartzo (já comentado aqui no blog), calcáreo, caolim e agalmatolito (pirofilita).

No fim de novembro de 1973 o helicóptero encerra suas atividades em Pitangui, a primeira área no Brasil a ser pesquisada por ele, nos anos seguintes seria utilizado em várias regiões do território nacional, sendo o responsável pela descoberta de importantes recursos minerais. Em 1979 o Departamento Nacional de Pesquisas Minerais resolveu encerrar as atividades de aerogeofísica e a aeronave foi repassada ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA).

 Helicóptero com a sonda HEM suspensa.
Foto: Mano Caldas

Fontes: Relatório de Reconhecimento Geológico-Geoquímico – Pitangui – Papagaios – Pequi Minas Gerais, Detalhamento Aerogeofísico por Helicóptero – Área de Pitangui – Minas Gerais e Detalhamento Geofísico de Anomalias HEM – Pitangui – Minas Gerais. Todos elaborados pela DNPM.

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