domingo, 1 de novembro de 2015

Fatos & Boatos a respeito dos "Tesouros" de Pitangui

Fatos & Boatos a respeito dos "Tesouros" de Pitangui

Dos sentimentos humanos talvez o mais transformador seja o da cobiça, a história da humanidade nos traz inúmeros exemplos do que o homem já foi capaz de fazer para satisfazer seu desejo de riqueza e poder. A própria história de Pitangui tem seus exemplos, seja nos conflitos do século XVIII ou nas disputas políticas nos fins do século XIX. Foram disputas por algo concreto, lutou-se por um objetivo sabido e factível. Mas o que dizer de empenhar esforços atrás de um “tesouro” do qual praticamente nada se sabe, muito menos se realmente existe?

Nas minhas pesquisas em busca das diversas minas abandonadas de Pitangui, onde quero deixar claro que sempre busquei a riqueza histórica do município nunca me iludindo com a possibilidade de riqueza material, me deparei com um relato um tanto quanto curioso, a existência de uma carta que traria informações a respeito de um tesouro guardado em uma antiga mina. Diz a tradição oral que tal “tesouro” seria o espólio de um rico minerador que, estando enfermo, resolve partir para Portugal atrás de melhores recursos e sentindo que não teria condições de regresso, resolve escrever uma carta ao filho onde através de informações codificadas define o local exato da mina onde teria guardado toda a sua fortuna composta de cerca de 10 arrobas de ouro! Se considerarmos a grama do ouro a R$70,00 este “tesouro” representaria hoje o total de R$ 10.500.000,00 (dez milhões e quinhentos mil reais).

Esta carta teria chegado a Pitangui mas o herdeiro não teria sido encontrado. Por volta de 1920 esta carta estava nas mãos de um tal Joaquim Cesar da fazenda do Saco (esta fazenda realmente existiu) que a mostrou a um tal Juquinha Cecílio que era ferreiro e uma espécie de conselheiro local, estando presente naquele momento o Sr. João Moreno, este leu a carta e em 1969 teria registrado em cartório aquilo que seria o resumo do relato, sendo este resumo o que chegou aos nossos dias pois a carta na íntegra teria sido passada ao Sr. Oscar Aleixo que se mudou para Belo Horizonte onde veio a falecer. Não se soube mais desta carta.

O resumo diz o seguinte:

“DECLARAÇÃO PRESTADA PELO SR. JOÃO MORENO EM 6 DE NOVEMBRO DE 1.969.”

“Diz ele o seguinte: - Que quando veio para Pitangui, no ano de 1.920 mais ou menos, estava rapazinho e freqüentava muito a casa do Sr. Juquinha Cecílio (ferreiro), pois estava namorando a Cecília, com a qual é casado, que certo dia apareceu lá um tal de JOAQUIM CÉZAR, morador da fazenda do Saco, mostrando para seu futuro sogro uma carta, já toda amarelada pelo tempo, que depois de lida, foi passada para ele, a qual relatava mais ou menos assim: -

(A CARTA ERA DE UM PORTUGUÊS ESCREVENDO DE PORTUGAL A SEU FILHO EM PITANGUI)

Meu querido filho João.

Tenho vida para poucos dias, DESCUBRA A BOCA DA MINA, QUE ESTÁ TAPADA DE PEDRA E TERRA SOCADA, tem FERRAMENTAS DE VALORES e mais ou menos de 10 a 11 arrobas de ouro, a BOCA DA MINA ESTÁ NA PONTA DA SERRA, “OLHO DO SOL”.

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A carta acima aludida, foi entregue mais tarde ao Sr. Oscar Aleixo (falecido), que era na época Coletor Federal em Pitangui.”


Não se sabe baseado em que outra informação um número expressivo de pitanguienses, acreditando no conteúdo da carta, se embrenharam na encosta da serra da Cruz do Monte e ali a golpes de picaretas foram em busca do tesouro deixado pelo minerador. Neste ponto são agregados ao relato um sem número de situações inexplicáveis tais como empurrões sofridos sem que ninguém estivesse perto do aventureiro escavador, ventanias em dias de clima estável e apagamento espontâneo da vela daqueles que se dispunham em uma aventura noturna pelo local e houve ainda quem me afirmasse que alguns se valeram de videntes, macumbeiros, pais-de-santo e todo tipo de “receptores do além” para conseguir encontrar o tal “tesouro”.

Acreditando ser a história fantasiosa demais, solicitei a Ricardo Lobato, que já havia me passado a cópia do resumo, que me levasse ao local no que fui atendido prontamente com a maior boa vontade. Paramos o carro no entroncamento da “Estrada Real” com a estrada da Cruz do Monte, justamente no local onde se localiza a placa indicativa daquela via histórica. Entramos na mata uns 5 metros acima e após percorrermos cerca de 40 metros nos deparamos com profundos cortes no relevo da serra, uma área com cerca de 60m2 de escavações. Nos dirigimos um pouco mais para a direita, contornando os cortes, e chegamos ao local onde se diz que até um ex-prefeito do município foi atrás de sua possível independência financeira. Trata-se de um buraco junto a uma encosta rochosa com cerca de 1,5 metro de profundidade e com duas pedras grandes na base, acredita-se que a boca da mina esteja por detrás destas duas pedras. As coordenadas obtidas com o GPS são: S 190 39’ 49.1” e WO 440 54’42.7” .


É admirável o trabalho feito no local, considerando-se que se trata de um terreno pedregoso e de difícil escavação, nota-se que foram dias de trabalho árduo para se encontrar apenas pedras e provavelmente carrapatos. Conta-se que contrataram o Lução, folclórica figura pitanguiense, para remover as pedras e numa atitude mais racional que a dos seus contratantes se eximiu daquela responsabilidade, longe de seus delírios etílicos foi capaz de perceber que estava ali apenas alimentando uma lenda pitanguiense.

A única coisa que posso afirmar com absoluta certeza é que meu detector de metais, que geralmente fica paranóico com o alto teor de ferro do solo pitanguiense, não emitiu um único sinal qualquer. Teria o meu aparelho encontrado um solo absolutamente estéril ou sofrido interferência do além?

Especial agradecimento ao Sr. Ricardo Lobato pelo fornecimento da cópia da carta e pela boa vontade em me acompanhar até o local.

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