quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

PEQUENO GARIMPEIRO DE OPALA

PEQUENO GARIMPEIRO DE OPALA

PEQUENO GARIMPEIRO DE OPALA 
Trabalho duro: invisibilizado socialmente


O TRABALHO NO GARIMPO

Nesse sentido, o trabalho no garimpo não é visto nem assimilado pelos próprios bamburristas tão somente como um trabalho, uma ocupação, uma tarefa (árdua, por sinal), mas é tido como um “passa-tempo”, o que talvez dificulte a construção de uma imagem de trabalhador por parte dos demais sujeitos do ramo de opala, acerca dos bamburristas, assim como deles próprios. Desta forma, é compreensível a fala de um deles sobre seu cotidiano. “Rapaz, [pausa] garimpeiro mesm... É poucos. Garimpeiro mesmo. Porque nós, nós, eu não me acho, assim..., Porque eu trabalho lá no garimpo, mas eu não sou garimpeiro. Eu trabalho lá no garimpo, é provisório também. Eu acho bom ir pra lá...”. Só que minutos antes, na mesma entrevista ele havia declarado: “(...) comecei a trabalhar com eles [donos de garimpo], tinha uns quinze anos” , isto é, o Sr. Sitõe, embora trabalhe no garimpo há quarenta e oito anos, não se apercebe como trabalhador.
Na opinião de outro velho ex-bamburrista, isso ocorre porque “a gente não tem pra onde ir, tem que ir pro garimpo mesmo, porque a gente não faz nada, mas um dia pode arrumar alguma coisa” . Ressalta-se que o Sr. Arimatéia, segundo a tipologia adotada nesse trabalho, seria considerado um médio garimpeiro. No entanto, parece assumir a condição de bamburrista do passado, tendo sido, inclusive membro do conselho fiscal da COOGP, na gestão anterior, de junho de 2005 a junho de 2008. Para o Sr. Arimatéia, os bamburristas não se identificam como tal porque “têm medo [da falta] da aposentadoria”. Dessa forma, muitos bamburristas, ainda na ativa, são aposentados como trabalhadores rurais, pois “o garimpeiro daqui tudo é agricultor. No inverno [período chuvoso, de novembro a março] ele tá fazendo a roça, no verão [período de estiagem, de abril a novembro] ele tá no garimpo, né?”. Essa sazonalidade é confirmada pela extensionista da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural - Emater – PI, Aldenira Martins, na pesquisa de campo. Segundo ela, é bem mais fácil para esses homens se aposentarem como trabalhadores rurais do que como garimpeiros, o que aponta, talvez, para a precariedade de uma política de trabalho e proteção social a esse tipo de trabalhador. O Sr. Arimatéia, contudo, diz acreditar que, com a criação da COOGP, muitos sócios irão se aposentar como garimpeiros. Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pedro II - STR, Sr. Manoel dos Santos, Manelito, confirmou que nos últimos dois anos (2005-2007) alguns bamburristas que estavam sindicalizados como trabalhadores rurais pediram desfiliação do sindicato e se filiaram à COOGP.
No entanto, em que pesem esses problemas reais na vida dos bamburristas, a maneira como se referem ao garimpo revela o quanto este representa para si mesmos, indo muito além de um mero lugar físico, de um buraco na terra do qual tiram seu sustento diário e ao qual estão presos muitos de seus sonhos. 

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