Potencial das plantas medicinais da Amazônia
“Vivemos em uma floresta com o maior potencial do mundo em plantas medicinais e ainda não pesquisamos dois por cento de sua biodiversidade”
A declaração do técnico em plantas medicinais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) - e pesquisador autodidata - Moacir Biondo, 52, é especialmente preocupante para uma região que já sofreu no passado com a biopirataria, quando mudas de seringueiras foram tiradas do Amazonas para a Malásia e decretaram o fim do ciclo áureo da borracha, maior produto de exportação do Brasil no final do século XIX.
A frase de Biondo é um chamado para sair da passividade diante do que pode ser uma de últimas riquezas da região. O técnico calcula que atualmente existam de 300 a 500 plantas medicinais conhecidas - com benefícios difundidos oralmente entre a população - sem nenhuma pesquisa. Ele reitera que, só agora, com a corrida pelas buscas de novos remédios, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Centro de Biotecnologia do Amazonas (CBA) começaram a efetivamente estudar nossa flora e fauna. Um desses exemplos é a pesquisa sobre o poder cicatrizante e antiinflamatório do crajiru, que é usado popularmente na higiene íntima e na cura de feridas em geral.
Entre os “ouros” que a Amazônia dispõe, Moacir Biondo destaca a importância que pesquisadores estão dando aos óleos de andiroba, copaíba e cumaru. O de copaíba, a exemplo do crajiru, é antiinflamatório e cicatrizante, mas estão em estudo suas propriedades anticancerígenas. No caso do óleo de cumaru, pesquisas apontam para seu uso na curas de otites (problemas nos ouvidos), enquanto o da andiroba, para dores reumáticas em geral e como repelente de insetos.
O cravo de defunto amarelo - Tagetes (erecta ou patula) - é uma das plantas em destaque nas pesquisas, no uso contra os sintomas da dengue, com capacidade para atenuar a ação maléfica do vírus que causa a doença.
As pesquisas também ajudam a descobrir o lado perigoso das “jóias” da floresta. Biondo, que é professor da Ufam, cita, por exemplo, que a Copaíba, além do óleo essencial, tem em sua composição uma resina que pode inviabilizar o funcionamento dos rins. O uso excessivo pode gerar problemas sérios que o uso eventual não trás.
Segundo o professor, a Copaíba foi um dos primeiros remédios naturais dos índios que foi levado para a Europa, ainda na época da colonização. “Atualmente, o óleo é validado na farmacopéia Alemã”, observa o pesquisador, ao reafirmar que, somente agora é que “estamos começando a acordar para a importância dessas plantas”. Esse despertar tardio, segundo ele, pode ter sido motivado pelo crescente interesse mundial pela região ou ainda pela necessidade brasileira de saber que informações, dados e produtos os outros países já dispõem daqui.
Fitoterápicos na rede de saúde pública
Uma visão mais cuidadosa sobre as riquezas de nossas plantas medicinais já pode ser sentida com a ampliação e utilização de alguns fitoterápicos na rede de pública de saúde, por meio do projeto “Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos”, em especial nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os fitoterápicos já aprovados estão a Unha-de- gato e a Espinheira Santa.
A política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, tem por base decisões da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) tomadas na Conferência Internacional sobre Atenção Primária em Alma – Ata ( Genebra, 1978) que partiu da premissa de que era necessária uma ação urgente dos governos, profissionais das áreas de saúde e desenvolvimento, bem como da comunidade mundial, para proteger e promover a saúde dos povos no mundo.
Na Conferência, foi recomendado aos estados-membros proceder a “formulação de políticas e regulamentações nacionais referentes à utilização de remédios tradicionais de eficácia comprovada e exploração das possibilidades de se incorporar os detentores de conhecimento tradicional às atividades de atenção primária em saúde, fornecendo-lhes treinamento correspondente”.
O Programa de Medicina Tradicional da OMS ganhou formato no final da década de 70, mas suas recomendações ainda são raras de se ver implementadas na rede pública brasileira.
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