Mina de diamantes é capaz de 'engolir' helicópteros na Rússia
A mina de Mirny é a maior de todas as minas da Sibéria. Dessa região saem 25% dos diamantes espalhados pelo mundo.
No meio do nada. Pior ainda: no meio de um "nada" gelado. Uma cidade inteirinha foi construída à beira de um buraco. E não é qualquer buraco, não. É uma cratera de proporções inacreditáveis. Capaz de derrubar helicópteros. E ela esconde uma das maiores riquezas do planeta. O Fantástico foi até o "umbigo do mundo".
"Ir para a Sibéria" é uma expressão bem conhecida. Significa mais ou menos "ir para o fim do mundo". E alguns lugares de lá são piores que outros. Mirny, por exemplo, fica longe de tudo e de todos. Mesmo assim, 35 mil pessoas moram em Mirny, debruçadas em um buraco.
É um baita de um buraco! A cratera tem um diâmetro de 1,2 mil metros. São 525 metros de profundidade. Talvez mais simples seja pensar que o Pão de Açúcar, com seus 395 metros, caberia confortavelmente lá dentro.
Cavar, cavar para fazer um buraco assim, só por algo muito valioso. A pedra mais rara, a mais cara. A mina de Mirny é a maior de todas as minas da região mais rica em diamantes no mundo.
Para chegar a Mirny são seis horas de voo a partir de Moscou, a capital da Rússia. E deve-se evitar passar por cima do buraco. Por um fenômeno ligado à pressão das massas de ar, quatro helicópteros já foram sugados e caíram ao sobrevoar a imensa cratera. Ninguém vai para lá a passeio.
A má fama da Sibéria começou no tempo dos czares, os imperadores russos. Ser mandado para a Sibéria. Essa é uma expressão que ficou conhecida pelo mundo todo. Isso porque era uma punição aplicada na Rússia desde o século XIX, ainda na época dos czares. Depois muito mais utilizada pelo regime comunista no século XX.
Milhões de pessoas foram mandadas pra lá. A Sibéria era conhecida como prisão sem muros, sem grades. Isso porque a região era tão distante de tudo que era impossível escapar.
“Essa ideia de que 'ah, vamos mandar para a Sibéria' como se fosse um lugar de exilio ou de inferno e somente isso, essa é uma ideia ocidental. Para os russos existe esse lado também, mas a Sibéria é muito mais do que isso, muitos veem um mundo, como a Amazônia nossa, um mundo de muita natureza”, explica o historiador da USP Ângelo Segrillo.
Um filme dos anos 50 mostra os pioneiros da mineração na Sibéria, uma região maior que o Brasil e que então era praticamente desconhecida. A chegada era de paraquedas. E os diamantes encontrados nos riachos apontaram o lugar onde a mina de Mirny deveria ser cavada.
Hoje, 25% dos diamantes espalhados pelo mundo saem dessa região.
Nas ruas de Mirny, se misturam os russos ocidentais, brancos e louros, e os descendentes das etnias que sempre habitaram a Sibéria, mais morenos e com olhos puxados.
Eles dividem uma vida dura feito um diamante, só que sem o brilho. De colorido na cidade, só as flores do curto verão e os brinquedos das crianças. E no inverno é um inferno.
Quando amanheceu, no auge do verão, faziam 10°. Na Sibéria, o frio é até difícil de compreender. Até 30 anos atrás, o pior: -65°. Agora, com o aquecimento global, as coisas melhoraram um pouco: menos 45°, uma média de -30°. Trabalhar na Sibéria não e para qualquer um.
Durante oito, nove meses, essa parte da Sibéria é um oceano branco.
O russo Nickolai Grogorievich Bondarev foi um dos raros que chegaram para trabalhar na mina, ainda nos anos 70, e ficaram. Ele ri, com seus dentes de ouro, ao falar da vida em uma mina de diamante a céu aberto.
Diz que se acostumou, aponta a cratera e conta como foram sendo construídos os quase oito quilômetros de estrada que iam serpenteando o buraco para trazer as toneladas de terra de onde se retiravam os diamantes. Isso durou 44 anos, de 1957 a 2001.
Os diamantes são formados em lugares onde não chegaremos nem perto. Algo em torno de 150 quilômetros de profundidade. Podemos ir para o espaço: só a Lua, aqui pertinho, fica a 384.400 quilômetros. Mas na direção contrária é impossível. E a dificuldade tem a ver com a temperatura: quanto mais profundo mais quente.
Os diamantes são cristais de carbono puro formados em temperaturas em torno de mil graus centígrados. Eles chegam à superfície através de um tipo de atividade vulcânica. É como se fosse um elevador que sobe rapidamente das profundezas do nosso subterrâneo para o térreo. Quando sobe o magma, aquela massa mineral incandescente e pastosa, os diamantes vêm junto. Os diamantes chegam ao fim dessa viagem envoltos numa massa de terra que tem a forma de uma esguia taça de champanhe. O buraco da mina de Mirny seria a parte mais larga, mas resta o pé da taça ainda para ser explorado.
A única atividade que ainda existe é a retirada da água do buraco. Água que brota das paredes e, em outros meses, da neve derretida. Mas por que não deixar tudo encher de água e transformar esse buracão em um belo lago? Isso porque a mina continua, na verdade, a existir. Mas muito mais profunda: a 1,2 mil metros existem homens trabalhando.
Os russos fizeram uma entrada paralela para essa nova mina, agora subterrânea. Lá ainda existe diamante para mais 30, 40 anos. É uma estrutura enorme, porque a retirada de diamantes nessa escala é um processo industrial muito mais complexo.
Frotas de caminhões levam toneladas de terras que são lavadas para que se possa separar os diamantes. Isso necessita muita água, e gera muita poluição. Os rios em torno da cidade sofrem com isso. Mas Mirny só existe por causa dos diamantes.
O geólogo Ilya Korokov é um dos mais importantes da Rússia. Num dos livros escritos por ele, se podem ver os diversos tipos de diamante. E é curioso porque, de certa forma, os diamantes em estado bruto são uma decepção.
Cortadas e lapidadas, as pedras ficam muito mais brilhantes, mais vivas. Um mundo iluminado. Quantos quilates, cor, corte, clareza?
Mas o gosto por eles é relativamente recente, tem menos de cem anos. No começo do século passado, uma agência de propaganda americana criou o slogan que todo mundo hoje conhece. Dizia: um diamante é para sempre!
Comprar e dar um anel de diamante no casamento simbolizaria uma união eterna, brilhante e sólida. A ideia pegou.
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