sexta-feira, 27 de maio de 2016

Novas jazidas de Ouro apontam à exportação

Novas jazidas de Ouro apontam à exportação

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23 de Maio, 2016
Fotografia: Lino Guimarães | Huíla
O processo de prospecção de minérios, em curso no país desde 2014, no âmbito do Plano Nacional de Geologia, conduziu à descoberta de importantes jazidas de ouro na província da Huíla, que começam a ser exploradas já em 2018.

Concluídos os estudos de viabilidade e de impacto ambiental, a Sociedade de Metais Preciosos de Angola (Somepa) desdobra-se agora na preparação das condições técnicas e de recursos humanos para o arranque das operações, enquanto aguarda pela licença.
A companhia encarregada de explorar o ouro, a Somepa, é uma empresa público-privada de capitais totalmente angolanos, onde o Estado se faz representar pela Empresa Nacional de Ferro de Angola (Ferrangol), cujo presidente do Conselho de Administração, Diamantino de Azevedo, está em permanente articulação com a imprensa, dando conta do andamento dos trabalhos.
Diamantino de Azevedo adianta que o arranque do projecto, o primeiro do género em Angola, acontece na província da Huíla, onde já foram confirmadas a existência de jazidas de ouro de excelente qualidade na localidade de Mpopo, Comuna de Chamutete, município da Jamba.
No município de Chipindo, também na Huíla, decorrem trabalhos de prospecção, mas há já fortes indícios de existência do preciso metal, carecendo apenas de confirmação. O presidente do Conselho de Administração da Ferrangol diz que os estudos devem estender-se às províncias de Cabinda, Cuanza Norte e Moxico, palcos de operações de extracção artesanal de ouro.
As descobertas de reservas ouro no país, que começam agora a ser feitas, resultam de importantes trabalhos de pesquisas destinados a completar o quadro informativo da realidade geológica e mineira de Angola. Os dados da época colonial revelavam apenas cerca de 30 por cento potencial mineiro do país, mas sem detalhes em relação à sua localização.
Dados preliminares do estudo indicam que o país possui, confirmadamente, 38 dos 50 minerais mais procurados no mundo. A lista de metais domiciliados no subsolo angolano inclui, o ouro, ferro, manganês, titânio, crómio, cobre, chumbo, zinco, volfrâmio, estanho, níquel, cobalto, lítio, nióbio, tântalo, ouro, prata, platina e de terras raras, com utilidade nas telecomunicações.
A estratégia consiste no cadastramento e elaboração de mapas dos recursos minerais existentes no país e passar depois a informação sobre as reais potencialidades do país a investidores privados, nacionais e estrangeiros, interessados no negócio.
Segundo apurou o Jornal de Angola, os dados que estão a ser recolhidos vão permitir ao país programar, num horizonte de até cem anos, a exploração racional e sustentável dos seus recursos minerais. O estudo é considerado pela comunidade científica como um dos maiores do género já realizado no mundo.
Especialistas afirmam ainda que o estudo garante previsibilidade às futuras gerações, que vão poder explorar os recursos minerais do país, partindo de bases seguras e cientificadas.
A dois anos do fim, o estudo já levou à descoberta e mapeamento de importantes reservas dos mais diversos minérios e à confirmação de outros tantos de que se tinha memória, mas que deixaram de ser explorados depois da Independência Nacional, devido à instabilidade militar que paralisou alguns sectores importantes da economia, colocando o país sob dependência de praticamente dois únicos recursos: o petróleo e o diamante.

Minas de Cobre

Os primeiros trabalhos de prospecção nas minas de Mavoio, no município de Maquela do Zombo, província do Uíge, no quadro do Plano Nacional de Geologia, realizados entre 2009 e 2013, num perímetro de 9.478 metros, revelaram a existência de cerca de 16 milhões de toneladas de cobre puro.
As primeiras pesquisas, efectuadas entre 1937 e 1961, confirmaram a existência de seis milhões de toneladas de cobre, mas apenas uma área não superior a cinco por cento do perímetro mineralizado prospectado foi explorado no tempo colonial.
O Ministério da Geologia e Minas calcula que, nos próximos anos, os recursos minerais da mina de Mavoio venham a atingir 35 milhões de toneladas e garantam uma produção de 875 mil toneladas de cobre puro num prazo mínimo de dez anos. A exploração de cobre em Maquela do Zombo, circunscrita no tempo colonial à localidade de Mavoio, vai ser alargada às zonas do Bembe, Lueca, Quimbumba e Quinzo, áreas já confirmadas com potencial mineralógico.
Os testes laboratoriais de amostras que foram enviadas para a África do Sul comprovaram a existência de cobre, ferro, calcite, pirite, enxofre, xisto, calcopirite, enargite/tennantite, esfalerite, galena, bornite, óxidos e hidróxidos de ferro, no município de Maquela do Zombo. Na província do Cuanza Sul foi confirmada a existência de reservas de cobre cuja exploração, de acordo com a Ferrangol, aguarda por procedimentos administrativos, enquanto no Cuando Cubango, onde foram identificados vestígios do referido metal, os trabalhos de prospecção continuam em andamento.
Na província do Cuanza Norte, as prospecções de ouro e manganês entraram na fase de confirmação, enquanto no Huambo caminham céleres os estudos das terras raras identificadas na província, com utilidade no fabrico de equipamentos de telecomunicações.
De acordo com dados confirmados em diversas províncias do país e com indícios de existência em grande parte do território nacional, o ferro parece ser o metal que mais abunda no país. Mas é no município da Jamba, província da Huíla, onde foram identificadas as maiores reservas, nas chamadas Minas de Cassinga.
Ali, estudos confirmaram a existência de mais de 35 milhões de toneladas de ferro, com uma previsão de 1,8 milhões de toneladas por ano destinadas à exportação. Trata-se de uma empreitada que a empresa responsável pela exploração, a Ferrangol, garante ir gerar, numa primeira fase,  4.810 empregos directos e 33.670 indirectos.

Receitas para o OGE


O ministro de Geologia e Minas, Francisco Queiroz, não tem dúvidas de que os investimentos em curso podem levar o sector, num horizonte temporal de 10 a 15 anos, a ultrapassar a indústria petrolífera, na arrecadação de receitas fiscais para o Orçamento Geral do Estado e, por via disso, assumir um papel de maior relevo na economia nacional. A intervenção do Estado vai desde a mobilização de investimentos nacionais e estrangeiros para o sector, à promoção de pesquisas e actualização da legislação à criação de infra-estruturas de apoio para a actividade mineira.
Em 2011, o foi criado um Código Mineiro ajustado ao contexto socioeconómico do país e à estratégia do Executivo para o relançamento do sector. O documento regula toda a actividade geológico-mineira, designadamente, investigação geológica, descoberta, caracterização, avaliação, exploração, comercialização, uso e aproveitamento dos recursos minerais existentes no solo e no subsolo.
A aposta no sector levou à criação, em Maio de 2014, da Agência Reguladora do Mercado de Ouro de Angola. A instituição faz parte da estratégia do Governo destinada a fazer do país um dos principais exportadores do ouro no mercado mundial.
O Código Mineiro regula igualmente o exercício de todas as actividades mineiras, nas águas interiores, no mar territorial, na plataforma continental, na zona económica exclusiva e nas demais áreas do domínio territorial e marítimo sob jurisdição da República de Angola, bem como o acesso e exercício dos direitos e deveres com eles relacionados. No domínio de infra-estruturas de apoio às actividades mineiras foram reabilitadas e, em alguns casos, criadas vias de acesso às zonas mineiras de escoamento dos produtos, com destaque para a reabilitação dos caminho de ferro de Benguela e Namibe.
Ligado ao Porto Mineiro do Saco Mar, o Caminho de Ferro de Benguela foi, no tempo colonial, a via mais expedita e mais económica para a exportação dos minérios explorados na região Sul, particularmente no município da Jamba. Paralisado há décadas, pelas mesmas razões que conduziram à paralisação de importantes sectores da economia do país, a infra-estrutura começará a ser totalmente reaproveitada, dentro em breve, para reocupar o seu lugar na economia do país.
As primeiras actividades industriais mineralógicas em Angola começaram a ser desenvolvidas na segunda metade do século 20, com a exploração do minério de ferro nas áreas de Cuima (Huambo) e Cassinga (Huíla), sob a responsabilidade da Companhia Mineira do Lobito (CML), fundada em 1929.
Em simultâneo, a Companhia do Manganês de Angola (CMA), fundada no mesmo ano, desenvolvia a actividade de extracção de um outro metal, desta feita o manganês, na região de Cassala-Quitungo (Cuanza Norte).

Minério do Ferro

A extracção de ferro conquistou peso na economia angolana a partir de 1960 e atingiu o pico em 1974. A actividade entra em declínio em 1975, devido ao clima de guerra que se instaurou em Angola. No conjunto das indústrias extractivas, o minério de ferro chegou a ocupar a terceira posição, depois do petróleo e dos diamantes. Após a paralisação da exploração das minas de ferro no Cuima, na província do Huambo, o grosso do minério de ferro passou a ser extraído no município da Jamba, província da Huíla, mais propriamente nos depósitos de Cassinga e Chamutete. Em Malanje, a matéria-prima era extraída nos montes Saia e Tumbi.
Dados da Ferrangol precisam que, entre Agosto de 1967 e Agosto de 1975, foram transportados pelo Caminho-de-Ferro de Moçâmedes (CFM) cerca de 40 milhões de toneladas de concentrado de ferro de Cassinga, numa média anual de cinco milhões de toneladas. O pico da actividade foi registado em entre 1974 e 1975, altura em que a produção atingiu o recorde de 5,5 milhões de toneladas. A Companhia Mineira do Lobito (CML) foi extinta em Dezembro de 1979, depois de ter sido intervencionada e nacionalizada.

Ferrangol

Em de Maio de 1981, é criada a Empresa Nacional de Ferro de Angola (Ferrangol), cujo objecto social ampliado é a exploração de todos os minérios de que Angola é depositária, à excepção dos diamantes.  A nova empresa herdou os activos e passivos da Companhia Mineira do Lobito e da Companhia de Manganês de Angola. Entre 1981 e 1986, a Ferrangol e a austríaca Austromineral tentaram reactivar as minas de ferro de Cassinga, na Huíla, mas a produção nunca chegou a arrancar, devido à guerra. Ultrapassados os obstáculos, o sector entra agora numa nova era, reclamando por direito o seu lugar na diversificação da economia.

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