Setor de mineração da África do Sul está em declínio
Na troca de turno às 16 horas, os mineiros escaneiam suas impressões digitais, passam por pequenas catracas até chegar a uma espécie de gaiola onde descem quase 3 km na mina Driefontein da empresa Sibanye Gold Limited. Em seguida, percorrem uma série de túneis cada vez mais estreitos que os conduzem ao veio principal de extração de ouro. É um trabalho extenuante. No fundo da mina, o ar é tão quente e úmido como em uma floresta tropical.
A maioria das minas de ouro mais profundas e, historicamente mais ricas do mundo, localiza-se a cerca de 70 km a sudoeste de Joanesburgo. Quanto mais profundas, mais caro e difícil é o trabalho de extração do minério. A maioria das minas é antiga, como a de Driefontein com 65 anos, e o custo de extrair o ouro pode em breve exceder seu valor.
O setor de mineração da África do Sul está declínio. Em seu auge em 1980, a mineração correspondia a um quinto do PIB do país, hoje, é equivalente a 7,3%. Os altos custos, os baixos preços das commodities, os conflitos trabalhistas e a queda da produtividade agravaram a crise. As empresas de mineração despediram 70 mil trabalhadores nos últimos cinco anos. A previsão é de mais demissões. A AngloGold Ashanti, um gigante da mineração de ouro, anunciou no início de julho que pretende demitir cerca de 8.500 trabalhadores, um terço de sua força de trabalho em minas não mais lucrativas.
As empresas de mineração também estão sendo prejudicadas pelas políticas do governo. Uma nova carta patente de mineração apresentada no mês passado pelo ministro de Recursos Minerais, Mosebenzi Zwane, exige que pelo menos 30% das ações das empresas sejam de propriedade de negros, acima do mínimo atual de 26%. As empresas também teriam de pagar pelo menos 1% de sua receita anual aos acionistas negros. Se essa regra tivesse entrado em vigor em 2016, os acionistas negros teriam recebido 5,8 bilhões de rands de um montante total de 5,9 bilhões pagos como dividendos, segundo dados da Câmara de Minas da África do Sul.
A Câmara de Minas abriu um processo judicial para impedir a implementação da nova carta, com a justificativa que seu texto era “confuso e contraditório”. De acordo com o CEO da Câmara, Roger Baxter, as novas regras prejudicarão o investimento e colocarão em risco 100 mil postos de trabalho no país.
Uma pesquisa realizada em 2016 pelo Instituto Fraser, um think-tank dedicado ao estudo da economia de livre mercado, classificou a África do Sul em 74º lugar entre 104 países ricos em minérios, bem atrás do vizinho Botsuana (19º), da Namíbia (53º) e de muitos outros países africanos. A África do Sul mergulhou em uma recessão econômica no último trimestre e o desemprego oficial atingiu a taxa de 27,7%, o maior índice em 14 anos. As disputas referentes à carta patente de mineração e as medidas populistas do presidente Jacob Zuma, que defende uma “transformação radical da economia”, só agravam a crise no setor.
Fonte: Exame
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