Mesmo com as altas expressivas do Ibovespa nos últimos tempos, o jornal britânico Financial Times (FT) se mostra desconfiado sobre os rumos que o mercado brasileiro tomará no ano que vem. Ele aponta que os investidores estão animados com a melhora na economia e o cenário externo favorável, mas que também estão se enganando ao acreditarem que as reformas estruturais acontecerão como devem, independentemente de qual seja o próximo governo.
“Ninguém tem a menor ideia de quem será o próximo presidente”, afirma o FT sobre o primeiro problema no cenário brasileiro. Apesar de ainda ser muito cedo para tirar alguma conclusão, o jornal aponta que o vácuo político é extenso e que as reformas se tornam ainda mais complicadas com as perspectivas atuais. As pesquisas recentes apontam que o ex-presidente Lula e o deputado Jair Bolsonaro estão mais bem posicionados que os outros possíveis candidatos e ambos estão distantes do que os investidores esperam.
O ex-presidente seria o mais preocupante para o mercado, de acordo com o jornal. As pesquisas também apontam que o seu nível de rejeição é mais elevado que o de aprovação, mas o que deve ser realmente definido é se Lula poderá ou não participar efetivamente das eleições, já que ele foi condenado por corrupção e pode ser impedido de competir por causa da Lei da Ficha Limpa. Já o Bolsonaro é uma personalidade controversa e geraria grandes divisões sociais, o que dificultaria uma boa atuação como presidente.
Até o momento, o prefeito de São Paulo, João Dória, apresenta o perfil preferido pelos investidores, mas o FT aponta que “Doria é inexperiente e pouco conhecido fora de sua cidade. Geraldo Alckmin [preferido para ser o candidato escolhido pelo PSDB], entretanto, é visto como um político da velha guarda em uma eleição em que os eleitores devem rejeitar o establishment político”. Ainda assim, o veículo destaca que outros nomes podem aparecer até o início das campanhas e conquistar a popularidade entre os eleitores.
Outro problema muito importante para o Financial Times é que o brasileiro tem tendência a votar em partidos com programas sociais democráticos. “Candidatos populistas que prometem reverter a recessão com programas que geram gastos podem ir bem. Por outro lado, candidatos que falam em cortar benefícios da previdência e expandir as privatizações podem ganhar o mercado, mas perdem as eleições”, afirmou a publicação britânica.
“Os investidores provavelmente não terão que se preocupar até depois do carnaval, que acontece em fevereiro do próximo ano. Será a partir daí que a campanha realmente começará. Mas eles podem fazer bem em lembrar que o nome do meio de Bolsonaro é ‘Messias’. Enquanto se espera que os eleitores brasileiros estejam maduros o suficiente para não cair completamente em uma civilização messiânica, a responsabilidade fiscal e econômica pode ser uma venda mais difícil do que muitos investidores esperam”, concluiu a publicação.

Fonte: ADVFN