A escassez melhora o homem?
Escassez não é a mesma coisa que falta total ou privação. Escassez é ter pouco, mas não nada. Escassez, aqui, é antônimo de excesso, de sobra, de fartura, de abundância, exorbitância. Desconfio, não tenho certeza disso (nem de nada), de que quando não temos tanto, valorizamos o quanto temos. Alguns de nossos instintos são contidos. Assim, vivemos melhor, pois não precisamos de muito para viver.
Tenho mais certeza dessa proposição quando a escassez é o contrário de esbanjamento, desperdício, opulência, exibicionismo...
Em economia, a escassez reporta a algo valioso e, por ser raro, difícil de obter. Exemplos: petróleo, pedras preciosas. "A economia é o estudo das escolhas feitas pelas pessoas diante de situação de escassez", resume o pensador inglês em economia Alfred Marshall. Economia, portanto, pode ser considerada a ciência da escassez.
Aliás, escassez é o problema econômico fundamental que tem, de um lado, desejos humanos praticamente infinitos e, de outro, um mundo de recursos limitados. E o que vemos hoje é o desejo ilimitado em ritmo acelerado. Bem alerta frequentemente em seus artigos o professor Paulo Cesar Razuk: em algum momento, quando a escassez se impuser definitivamente, teremos de fazer uma escolha drástica, inclusive quanto a parar o crescente povoamento do Planeta.
Quem ainda não sentiu o impulso de comprar um determinado artigo por este se encontrar em promoção ou ser uma "edição limitada"? Que estranha mania é essa que nos faz perder a razão em muitas ocasiões? Temos um carro bom, com menos de 100 mil quilômetros rodados, com praticamente todo conforto disponível no mercado, mas ficamos aflitos quando é lançada a versão atualizada do mesmo modelo. Ao contrário da escassez, o excesso de oferta nos desequilibra. E pagamos para ter o excesso.
Saindo da seara dos produtos e do marketing e chegando ao plano individual, quando caímos doentes ou, principalmente, quando escapamos de um mal que parecia drástico, qual é a sensação que nos acomete, após termos vivenciado a escassez de saúde? Alívio, agradecimento, humildade, cautela a partir de então, respeito à vida, compreensão e tolerância mais aguçada com os defeitos alheios. Nesta estrada de virtudes trafega nosso comportamento no dia seguinte à tragédia não consumada.
Mas, na maioria dos casos, este ciclo virtuoso é passageiro, tem o tempo de nos oferecerem e cairmos em novas tentações. Logo temos de novo a fartura e com ela a soberba, a ansiedade, a ousadia desmesurada, a competição e a sede de poder mais. Somos assim. Quase todos. E seguimos pagando um preço alto pela vida.
Se não estiver muito enganado e misturando conceitos, acho que a escassez, pelo viés coletivo, pode ser fator de união de um povo. Vimos, ao longo da história, exemplos e mais exemplos em países que passaram por fortes rupturas, através de guerras ou de desastres naturais. A ruína forçou a unidade, que possibilitou um grande consenso nacional pela superação da escassez de bens de consumo, de paz e um pacto pela convivência civilizada.
O desenvolvimento tecnológico parece acirrar a vontade das pessoas em consumir. Os smartphones são os ícones do desejo contemporâneo. Quanto mais recursos um aparelho possui, mais desperta o querer nas pessoas, que nem precisam de tanto assim para usufruir de todas as possibilidades que a era digital proporciona.
Sendhil Mullainathan, professor de Economia em Harvard e pesquisador de economia comportamental, e Eldar Shafir, professor de Psicologia na Universidade de Princeton, no livro "Escassez", avaliam que a escassez pode ser boa em princípio, pois nos faz mais produtivos e responsáveis, mas ruim do ponto de vista mais abrangente, pois quem vivencia a escassez utiliza suas potencialidades em menor escala. Sua mente fica aprisionada àquilo que está faltando. Portanto, segundo eles, não é tão simples como parece.
Não há linearidade em quase nada na vida nem verdades absolutas. Vagamos em um mundo de incertezas. O que é bom ou certo para algumas situações e pessoas. O que não pode ficar escassa é a reflexão permanente.
Fonte: Seleções
Tenho mais certeza dessa proposição quando a escassez é o contrário de esbanjamento, desperdício, opulência, exibicionismo...
Em economia, a escassez reporta a algo valioso e, por ser raro, difícil de obter. Exemplos: petróleo, pedras preciosas. "A economia é o estudo das escolhas feitas pelas pessoas diante de situação de escassez", resume o pensador inglês em economia Alfred Marshall. Economia, portanto, pode ser considerada a ciência da escassez.
Aliás, escassez é o problema econômico fundamental que tem, de um lado, desejos humanos praticamente infinitos e, de outro, um mundo de recursos limitados. E o que vemos hoje é o desejo ilimitado em ritmo acelerado. Bem alerta frequentemente em seus artigos o professor Paulo Cesar Razuk: em algum momento, quando a escassez se impuser definitivamente, teremos de fazer uma escolha drástica, inclusive quanto a parar o crescente povoamento do Planeta.
Quem ainda não sentiu o impulso de comprar um determinado artigo por este se encontrar em promoção ou ser uma "edição limitada"? Que estranha mania é essa que nos faz perder a razão em muitas ocasiões? Temos um carro bom, com menos de 100 mil quilômetros rodados, com praticamente todo conforto disponível no mercado, mas ficamos aflitos quando é lançada a versão atualizada do mesmo modelo. Ao contrário da escassez, o excesso de oferta nos desequilibra. E pagamos para ter o excesso.
Saindo da seara dos produtos e do marketing e chegando ao plano individual, quando caímos doentes ou, principalmente, quando escapamos de um mal que parecia drástico, qual é a sensação que nos acomete, após termos vivenciado a escassez de saúde? Alívio, agradecimento, humildade, cautela a partir de então, respeito à vida, compreensão e tolerância mais aguçada com os defeitos alheios. Nesta estrada de virtudes trafega nosso comportamento no dia seguinte à tragédia não consumada.
Mas, na maioria dos casos, este ciclo virtuoso é passageiro, tem o tempo de nos oferecerem e cairmos em novas tentações. Logo temos de novo a fartura e com ela a soberba, a ansiedade, a ousadia desmesurada, a competição e a sede de poder mais. Somos assim. Quase todos. E seguimos pagando um preço alto pela vida.
Se não estiver muito enganado e misturando conceitos, acho que a escassez, pelo viés coletivo, pode ser fator de união de um povo. Vimos, ao longo da história, exemplos e mais exemplos em países que passaram por fortes rupturas, através de guerras ou de desastres naturais. A ruína forçou a unidade, que possibilitou um grande consenso nacional pela superação da escassez de bens de consumo, de paz e um pacto pela convivência civilizada.
O desenvolvimento tecnológico parece acirrar a vontade das pessoas em consumir. Os smartphones são os ícones do desejo contemporâneo. Quanto mais recursos um aparelho possui, mais desperta o querer nas pessoas, que nem precisam de tanto assim para usufruir de todas as possibilidades que a era digital proporciona.
Sendhil Mullainathan, professor de Economia em Harvard e pesquisador de economia comportamental, e Eldar Shafir, professor de Psicologia na Universidade de Princeton, no livro "Escassez", avaliam que a escassez pode ser boa em princípio, pois nos faz mais produtivos e responsáveis, mas ruim do ponto de vista mais abrangente, pois quem vivencia a escassez utiliza suas potencialidades em menor escala. Sua mente fica aprisionada àquilo que está faltando. Portanto, segundo eles, não é tão simples como parece.
Não há linearidade em quase nada na vida nem verdades absolutas. Vagamos em um mundo de incertezas. O que é bom ou certo para algumas situações e pessoas. O que não pode ficar escassa é a reflexão permanente.
Fonte: Seleções
Nenhum comentário:
Postar um comentário