terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Arquitetura de Ouro Preto inspira artesãos

Arquitetura de Ouro Preto inspira artesãos


Divulgação / Divulgação
Claudia Rosa da Silva, de 47 anos: a artesã produz atualmente cerca de cem anéis, gargantilhas e brincos por mês
Artesãos de Ouro Preto (MG) criaram coleções inspiradas na arquitetura do município. Com isso, ampliam e sustentam o crescimento de um polo de produção de joias no município. As 15 oficinas do distrito de Santo Antônio do Leite - que surgiram nos anos 1980 por meio da influência de hippies que foram morar no local - começaram há cinco anos um processo de profissionalização, que implicou a divisão de tarefas entre os profissionais e a criação de uma associação.
Como são necessárias 15 etapas para confecção de uma joia, puderam com isso também ampliar a produção das oficinas e criar uma identidade própria para as peças. Elas passaram a ser moldadas pelas mãos de um artesão e concluídas por outro. Assim, nasceu a coleção baseada na arquitetura local: um processo coletivo de criação.
"O uso de novas formas de produção e a consequente melhoria na qualidade das peças estão sustentando a abertura de novos mercados para esses artesãos", diz a analista do Sebrae Minas Sabrina Albuquerque, responsável pelo programa da entidade que capacita esses artesãos.
Na avaliação da especialista, com a criação de novos desenhos nas coleções de joias, inspirados na arquitetura regional, essas oficinas podem ampliar ainda mais as vendas dos itens que produzem. Antes, explica, os modelos das coleções eram baseados em reproduções de desenhos clássicos e joalherias famosas, mesmo que com pequenas intervenções e modificações. Ao estabelecerem linhas de joias com design próprio, evitando os modelos baseados nas joalherias convencionais, os artesãos ampliam as vendas e o movimento nas oficinas.
Eles utilizam a prata na maior parte das peças e o ouro, em caso de encomendas. A maioria das pedras é de origem mineira, sobretudo as preciosas, provenientes do município de Teófilo Otoni, no norte de Minas Gerais, de onde vem principalmente a ágata. O topázio imperial, pedra muito utilizada também por esses artesãos, só é encontrado na região de Ouro Preto. O quartzo vem de Governador Valadares, também em Minas, a esmeralda é da Bahia, e o opala é trazido do Rio Grande do Sul.
O artesão João Batista Ferreira Anjos, 42, o Bezinho, proprietário da oficina de mesmo nome, ganha cerca de R$ 4 mil "vendendo mão de obra". Ele explica que trabalha com dois ajudantes, em turnos de meio período e produz cerca de 200 peças por mês com as encomendas das outras oficinas. "Isso garante o meu movimento, mas mantenho a venda de minhas peças próprias", diz Bezinho.
Além das parcerias com hotéis e pousadas de Ouro Preto para a exposição das peças, foi criado um espaço em Santo Antônio do Leite para abrigar uma feira que funciona aos sábados, domingos e feriados.
"Com o associativismo, as consultorias sobre comercialização e formação de preços, além da melhoria dos produtos e o design próprio, estamos melhorando as vendas", afirma o artesão Dílson Ribeiro, presidente da associação que reúne os 15 artesãos de joias do distrito.
Ele explica que, também com a participação em três feiras nacionais anualmente, os artesãos estão realizando bons negócios. "O foco é o consumidor final. Assim, é importante a participação nessas feiras para que possamos mostrar a marca, a identidade de nossas joias. A maioria é feita de pedras mineiras e, agora, com as coleções, ampliamos a marca de Santo Antônio do Leite", diz Ribeiro. Ele explica que sua oficina fatura algo entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil mensais, mas que numa feira é possível a venda de algo em torno de R$ 8 mil.
A produção de peças que reproduzem a arquitetura, as pedras das calçadas e ruas, os casarões e igrejas da antiga capital de Minas Gerais, é uma forma de avançar na melhoria de uma produção artesanal iniciada há três décadas em Santo Antônio do Leite pelos hippies.
A influência começou no início da década de 80 com a chegada de estrangeiros à região de Ouro Preto com o objetivo de comprar e negociar pedras preciosas, em estado bruto ou com pouco acabamento. Paralelamente, chegavam à cidade grupos de hippies com domínio da produção artesanal de bijuterias e que viviam disso.
Normalmente nômades, alguns deles, porém, permaneceram na região e montaram uma espécie de "república" em Santo Antônio do Leite.
Laurence (Guiana Inglesa), Elias (Chile), Manoel (Espanha), Marcos (Argentina), José Eustáquio (Goiás), Jamil (Líbano) e o casal Miguel e Janete (Goiás) deixaram suas marcas no distrito, com a transmissão do domínio do conhecimento de gemas e produção das peças.
"Aprendi com o Marcos, um hippie argentino, quando tinha uns 12 anos de idade. Depois disso, fui aprimorando e fazendo cursos", diz o artesão Reinaldo da Conceição da Silva, 37 anos, que produz em sua oficina cerca de cem anéis por mês. "Um solitário (anel) pode demorar até três horas para ser produzido. No varejo, dependendo da pedra, ele custa no mínimo R$ 150", afirma Silva. Ele explica, porém, que a partir da encomenda de outros artesãos, "vendendo mão de obra", processo decorrente da divisão de tarefas entre os produtores de joias de Santo Antônio do Leite, ele tira algo em torno de R$ 1,3 mil por mês em sua oficina,
Cláudia Rosa da Silva, 47 anos, aprendeu o ofício com Laurence (Guiana Inglesa) e produz atualmente cerca de cem anéis, gargantilhas e brincos por mês. A maior parte da remuneração da artesã também é proveniente da venda de mão de obra.
Fazer serviços para outros, numa troca constante de oficinas para a finalização das etapas de fabricação também representa a quase totalidade do movimento de cerca de R$ 1,5 mil de Davisson Arantes, de 33 anos. "Estou vendendo muito pouco peças minhas. Estou mais vendendo mão de obra", diz.



O negócio secreto das pedras preciosas

O negócio secreto das pedras preciosas


Richard Hughes é o "Indiana Jones" moderno das pedras preciosas. Há décadas, esse americano percorre o planeta atrás das gemas mais valiosas, encarando pelo caminho aventuras dignas do cinema. Essa indústria, que movimenta US$ 10 bilhões por ano, é envolta não só em beleza, mas também em mistério.
Ao contrário do negócio mundial de diamantes, que é em grande parte controlado por empresas gigantes como a De Beers e minuciosamente monitorado por investidores e banqueiros de Wall Street, o mundo das pedras preciosas coloridas ainda é dominado por pequenos mineradores e aventureiros que vão a alguns dos lugares mais perigosos e subdesenvolvidos do mundo em busca de novos tesouros. As melhores pedras tendem a vir de países como Madagascar, Tajiquistão, Colômbia e Mianmar, onde o contrabando muitas vezes corre solto, a manutenção de registros é deficiente e os donos de minas com frequência impedem a presença de comerciantes de fora por medo de que façam seus próprios negócios com os moradores locais.
Em alguns casos, especialistas como Hughes compram pedras de garimpeiros ou intermediários e as revendem a clientes ricos. Há gemas que chegam ao público através de atacadistas que as compram em leilões ou mercados abertos na Tailândia, Índia e outros centros de processamento. Só num leilão em Mianmar, em 2011, as vendas chegaram a US$ 2,8 bilhões. De qualquer forma, os compradores de pedras preciosas raramente têm ideia de onde vieram as pedras e, mesmo se quisessem, provavelmente não teriam como descobrir sua origem. Quando se trata de rastrear os dados mais básicos sobre quais países produzem a maioria das pedras, a indústria é "muito vaga", diz Jean Claude Michelou, vice-presidente da Associação Internacional de Pedras Preciosas Coloridas, entidade que representa o setor.
As melhores pedras vêm de lugares como Madagascar, Tajiquistão, Colômbia e Mianmar
Na verdade, é praticamente impossível encontrar um diretor-presidente ou grandes acionistas por trás das maiores minas de rubi ou safira do mundo. Em Mianmar, país há muito considerado a principal fonte mundial de rubis e jade, muitas minas são controladas pelos militares ou seus colaboradores mais próximos, incluindo alguns que são alvo de sanções dos Estados Unidos impostas anos atrás para punir o autoritário regime militar do país. (Embora muitas dessas sanções tenham sido relaxadas nos últimos dois anos, quando um novo governo reformista começou a reverter décadas de rígido controle militar, algumas restrições sobre as pedras preciosas de Mianmar foram mantidas.) Mas as pedras também podem vir de caçadores privados de fortunas cujas identidades são desconhecidas fora de seus países. Um dos magnatas que Hughes conheceu durante uma perigosa caçada a jade em minas da remota Hpakant, em Mianmar, era um ex-motorista de táxi que começou com uma pedra bruta que comprou por US$ 23 de um passageiro e a revendeu por US$ 5.000 para um comerciante de jade. (Quando Hughes o conheceu, em 1996, ele posou para uma fotografia sobre uma pilha de pedras de jade que ocupava uma sala inteira de sua casa.)
Ao mesmo tempo em que é difícil acompanhar o crescimento da indústria, os especialistas dizem que os preços vêm subindo significativamente nos últimos anos, em grande parte porque o fornecimento é inconstante. Robert Genis, um comerciante e caçador de pedras preciosas do Arizona que entrou para o negócio na década de 70, diz que os rubis de alta qualidade de Mianmar quadruplicaram de valor no varejo, para mais de US$ 40.000 o quilate, desde meados da década de 90, enquanto as esmeraldas colombianas praticamente dobraram de valor em relação ao início dos anos 2000. Hughes, que já viajou para mais de 30 países em busca de pedras e agora vive em Bangkok, diz que os preços do jade aumentaram em dez vezes nos últimos cinco anos, devido em grande parte ao aumento da demanda da China, embora recentemente os preços tenham caído ligeiramente.
Para quem estiver disposto a manter suas pedras por um longo período, o retorno pode ser enorme. Considere a safira de 62 quilates que John D. Rockefeller Jr. comprou de um marajá indiano em 1934 e a transformou em um broche para sua esposa. A família vendeu a pedra em 1971 a um negociante de joias por US$ 170.000. Nove anos depois, ela voltou ao mercado e foi vendida por US$ 1,5 milhão e, em 2001, foi revendida por mais de US$ 3 milhões. Outra safira famosa, comprada pelo empresário James J. Hill para sua esposa na década de 1880, por US$ 2.200, foi vendida por mais de US$ 3 milhões em um leilão em 2007. E há ainda o rubi de 8 quilates de Mianmar dado a Elizabeth Taylor pelo marido, o ator Richard Burton, em 1968, como presente de Natal. Em 2011, ele foi leiloado por US$ 4,2 milhões.
O diamante ainda continua a ser o melhor amigo de uma mulher, como disse uma vez a atriz americana Marilyn Monroe, mas as pedras coloridas continuam a ter um fascínio quase místico. Parte da atração está ligada à sua beleza luminosa e à sua raridade. Para muitas pessoas ricas, especialmente na Ásia, não há nada como ter uma coleção de pedras brilhantes que podem transportar ou esconder para vender em caso de emergência. Isso se tornou ainda mais comum com a crise financeira global.
Encontrar novas grandes pedras para saciar a demanda mundial, porém, não é tarefa fácil. É aí que os caçadores entram em ação. Genis, o negociante do Arizona, diz que entrou nesse negócio ainda na faculdade, quando estudou mapas para ver onde estavam os recursos naturais mais cobiçados do mundo, incluindo estanho, ouro e cobre. Foi o pequeno símbolo verde na Colômbia, representando depósitos de esmeralda, que mais o atraiu. Ele vendeu um aparelho de som e um carro velho, juntando US$ 1.000 para a viagem.
Após uma viagem de ônibus até a fronteira da Califórnia com o México, alguns trens e muitas caronas, Genis desembarcou no distrito de esmeraldas de Bogotá e usou o dinheiro que lhe restava para comprar pedras preciosas. Voltou aos EUA e duplicou o investimento vendendo as pedras. "De repente, tinha US$ 1.000 a mais e pensei: 'Isso é muito melhor do que ir para a faculdade'", lembra. Após várias visitas, ele estava ganhando o suficiente para ir de avião à Colômbia, com paradas para se divertir no Caribe.
Hoje, Genis contrata outras pessoas para buscar muitas das pedras que vende, incluindo um associado de Mianmar que conheceu durante uma conferência de pedras preciosas e tem conexões com os famosos depósitos de rubi de Mogok. Apesar de não serem tão selvagens como em Hpakant, as minas de Mogok também são estritamente vigiadas por militares - e reverenciadas em todo o mundo.
O apelo é evidente quando se considera o tipo de negócio que se consegue por lá. A última descoberta de Genis: uma safira de 39 quilates que agora está à espera de ser leiloada na Sotheby's. Genis diz que calcula que a pedra possa arrecadar até US$ 1 milhão na prestigiada casa de leilões. "Para muitos desses colecionadores, é quase como heroína: quando você começa, não consegue parar", diz.
À medida que a demanda por pedras preciosas coloridas continua crescendo, uma questão permanece no ar: será que essa indústria pode se autorregular? Parte da resposta pode estar a meio mundo de distância de Mianmar, em Londres, no nobre bairro de Mayfair. Lá, um grupo de veteranos da indústria de mineração está elaborando seu próprio plano para obter mais pedras coloridas.
A empresa do grupo, a Gemfields, está tentando se tornar uma potência da indústria, algo como a De Beers das pedras coloridas. Apoiada por um ex-diretor-presidente da mineradora anglo-australiana BHP Billiton, a maior mineradora do mundo, e com ações negociadas na Bolsa de Londres, a Gemfields afirma que tem a meta de assegurar os direitos sobre uma percentagem grande o suficiente da produção mundial de pedras preciosas para introduzir processos modernos de mineração e, assim, garantir um fornecimento mais previsível, ao mesmo tempo em que investe pesadamente em marketing para tornar as pedras mais conhecidas.
Ian Harebottle, o sul-africano que é diretor-presidente da empresa, diz que pedras coloridas costumavam ser tão populares quanto os diamantes até a década de 40, quando a De Beers começou a pôr em ação seu gigantesco orçamento de marketing, com slogans como "um diamante é para sempre". Hoje, as vendas de pedras coloridas são apenas uma fração dos US$ 70 bilhões do comércio internacional de diamantes, e os mineradores de pequeno porte que dominam o negócio não têm o dinheiro ou a escala necessários para fazer muita coisa, diz ele. A Gemfields já produz 20% das esmeraldas do mundo, em uma grande mina da qual é sócia na Zâmbia. A empresa informa que é responsável por até 40% da oferta mundial de ametista e está começando a produzir rubis em um grande depósito em Moçambique. A Gemfields quer se expandir em outros lugares - inclusive Mianmar, se o governo do país mantiver o ritmo da reformas e a situação dos direitos humanos melhorar, diz Harebottle.
A Gemfields também comprou recentemente a Fabergé, famosa marca de joias que remonta à era dos czares russos. A ideia é usar a Fabergé, que tem lojas em todo o mundo, para comercializar algumas de suas pedras no segmento ultraluxo, à medida que cria uma das primeiras cadeias do mundo de fornecimento de gemas coloridas do tipo "da mina ao mercado".
As iniciativas da Gemfields ocorrem em meio a outras tentativas por parte de investidores para trazer práticas mais modernas para a indústria, incluindo disponibilizar mais amplamente as informações de preços e melhorar a classificação das pedras e o monitoramento de práticas, de modo que os consumidores possam ter um ideia melhor sobre quanto valem suas pedras e de onde elas vieram. Funcionários da Associação Internacional de Pedras Preciosas Coloridas, por exemplo, estão pressionando pela criação de um sistema para rastrear as origens das gemas coloridas. Michelou, da associação, diz que alguns países, incluindo Colômbia, Tanzânia e Sri Lanka, têm manifestado interesse.
Ao mesmo tempo, outras empresas estão criando cadeias de fornecimento "da mina ao mercado" e atualizando seus métodos de produção. Entre elas está a TanzaniteOne Mining e sua controladora, a britânica Richland Resources Ltd., que têm ajudado a transformar o mercado de tanzanita ao investir em minas que antes eram artesanais na região do Monte Kilimanjaro, onde estão os únicos depósitos da rara pedra azul conhecidos no mundo. E até mesmo as minas de Hpakant, em Mianmar, estão adotando mais mecanização nos últimos anos, com máquinas de terraplenagem substituindo muitos trabalhadores, embora o local, em geral, continue fora de controle. Tudo isso poderia um dia impulsionar o valor das pedras coloridas caso consiga tornar as fontes mais confiáveis e aumentar a demanda.
"A indústria de pedras coloridas provavelmente irá nessa direção, [de] mineração mais racional e mais formal", diz Russell Shor, analista do Instituto Gemológico dos EUA, uma das maiores autoridades do mundo em pedras preciosas. "Vai ser um processo lento, mas creio que seja esse o futuro."
No entanto, muitas pessoas, incluindo vários caçadores de pedras, permanecem céticos. Os principais depósitos de pedras do mundo, afirmam, são muitas vezes pequenos demais para justificar grandes investimentos e às vezes podem ser explorados de forma mais eficiente com ferramentas manuais primitivas. As minas estão tão espalhadas e em lugares tão irregulares que poderia ser muito complicado - sem falar no custo - trazê-las para a era moderna. "Quantos trilhões você tem?", pergunta Genis. "Com exceção dos diamantes, a maioria das fontes de pedras preciosas é antiga e as melhores pedras já se foram." Tentar integrar as minas, diz ele, "seria praticamente impossível".
Hughes, o caçador de pedras que vive em Bangkok, concorda. Segundo ele, as pessoas sempre se interessaram em trazer mais ordem para o comércio de joias. Mas a Mãe Natureza protege seus tesouros muito bem, escondendo- os em locais de acesso extremamente difícil, diz ele, e as pessoas que cuidam deles têm pouco incentivo para entregar o controle a Londres, Wall Street ou qualquer outro interessado.
"As pedras preciosas são diferentes de outros tipos de mineração", diz Hughes, porque há uma alta concentração de valor em áreas muito pequenas e relativamente poucas pedras. Além disso, apenas as pessoas, e não as máquinas, podem separar espécimes valiosas das que não valem nada - e isso inclui os garimpeiros artesanais que hoje controlam grande parte dessa atividade. Se as grandes empresas tentarem impor mais ordem, diz ele, "sempr ehaverá pessoas encontrando formas de contorná-la".



Baianos avançam na mineração

Baianos avançam na mineração


Ruy Baron/Valor / Ruy Baron/Valor
Ribeiro Tunes: investimento em pesquisa só perde para o Pará e Minas Gerais
A disparada no preço das commodities no mercado internacional durante a década passada levou empresas brasileiras e estrangeiras a se interessar pela exploração mineral no Nordeste, em especial, na Bahia. Em busca de jazidas fartas, mineradoras encontraram no Estado uma geologia, no mínimo, diversificada o suficiente para valer o investimento. Os aportes já anunciados para o setor na Bahia somam nada menos que R$ 21 bilhões nos próximos anos. "Mais de 40 tipos de minério são extraídos no Estado, onde cerca de 350 empresas do setor atuam", afirma Rafael Avena Neto, diretor técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM).
Com tantos recursos disponíveis para explorar inclusive metais preciosos, a expectativa é de que a Bahia ultrapasse São Paulo e Goiás e se consolide como terceiro maior produtor mineral do país até 2015. Hoje, é o quinto, com uma produção comercializada de quase R$ 3 bilhões por ano, de acordo com o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM).
Não é difícil entender por que a expectativa é tão alta. O investimento em pesquisa mineral na Bahia só perde para o que é feito no Pará e em Minas Gerais. Equivale a 10% de todos os recursos aplicados com esse fim no Brasil, segundo o DNPM. "Minas nordestinas que tinham produzido 50 anos atrás, e depois foram abandonadas, foram redescobertas e voltaram a ser exploradas agora, com o uso de tecnologias mais avançadas", explica Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Na Bahia, em especial, interessa o fato de que a maior parte da centena de cidades de onde se extrai minério fica na região do semiárido, onde estão também os municípios mais pobres. Lá, a vida está mudando rapidamente. Itagibá, por exemplo, distante 200 quilômetros de Salvador, viu seu PIB duplicar entre 2009 e 2010, depois que foi inaugurada uma mina de níquel da empresa Mirabela, considerada a terceira maior a céu aberto do mundo. "Esse é o melhor momento da história da mineração do Estado", afirma Avena Neto.
Um dos maiores investimentos em mineração feito recentemente na Bahia foi o da Bahia Mineração, já apelidada de Bamin. A empresa, controlada pela Eurasian Natural Resources Corporation (ENRC), originária do Cazaquistão, está destinando US$ 3 bilhões para desenvolver uma mina de minério de ferro em Caetité. O valor compreende investimentos na mina propriamente, a compra de vagões ferroviários para o transporte e a construção de um terminal privado em Ilhéus, por onde o produto será exportado. Os planos são de extrair 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano quando o projeto estiver com a capacidade plena, a partir de 2016. A título de comparação, a produção brasileira anual ronda os 350 milhões de toneladas. "São 5.000 empregos gerados durante a fase de construção e 2.500 no período de produção", diz José Francisco Viveiros, presidente da Bamin.
Para o governo, o que importa é o fato de que, em média, para cada emprego direto, 13 são criados no restante da cadeia. No Estado, a previsão é de que a geração de postos de trabalho provenientes da mineração alcance mais de 7.000 até o ano que vem.
Estima-se que a mineração corresponda, atualmente, a pouco menos de 3% do PIB baiano. Além de minério de ferro, a exploração compreende ainda cromita, bauxita, cobre e vanádio, além de outros mais nobres como ouro e diamante. Diversas minas de ouro também estão sendo exploradas em Estados como o Maranhão e o Rio Grande do Norte. Do território potiguar está saindo ainda tungstênio e em Sergipe concentram-se diversas reservas de potássio.
"O Nordeste, no passado, não parecia ser um lugar exatamente espetacular para a produção de minério. Não se conheciam grandes jazidas", lembra Tunes. "Mas com o conhecimento que se desenvolveu sobre a geologia da região foi possível perceber que havia ali a possibilidade de produzir uma variedade de minerais, especialmente os industriais."



Desertificação ameaça área disputada no NE

Desertificação ameaça área disputada no NE


O município de Gilbués, no sul do Piauí, é retrato do que pode acontecer com áreas de divisa abandonadas ao deus-dará ou submetidas à produção agrícola a qualquer custo, sem critérios na conservação da água. A localidade, situada bem próximo a terras em litígio, constitui o centro do maior núcleo brasileiro de desertificação, onde já é praticamente impossível plantar. O fenômeno é acelerado por aspectos naturais, como clima e solo, mas também pelo desmatamento e práticas inadequadas de cultivo, entre outras ações humanas.
"Restaram apenas essas poucas cabras e bodes, que vivem soltos, comendo qualquer vegetação que encontram pela frente", aponta o lavrador Odetino Laurindo, morador do povoado Prata, porta de entrada para o Parque Nacional Nascentes do Parnaíba, onde a água em fatura está guardada.
Em Gilbués, a paisagem desértica de dunas e erosão se destaca em plena zona urbana. A pobreza e a degradação de hoje contrastam com a riqueza do passado, quando a mineração de diamante atraiu garimpeiros de várias partes do país. "Troquei o sofrimento da seca pelo sonho da pedra preciosa, mas hoje continuo dependendo da chuva para sobreviver", lamenta Valmir dos Santos. Hoje poucos se aventuram no garimpo - apenas empresas capazes de investir em equipamentos. As dragas secaram rios e a terra boa para cultivo concentrou-se na mão de poucos. A margem do riacho Boqueirão virou um cemitério de maquinário em ruínas.
A realidade atual é bem diferente de quando a cidade tinha movimentada vida noturna e até um aeroporto que recebia voos regulares da antiga Cruzeiro do Sul. "Tudo o que se ganhava era gasto ali mesmo, com vaidades e supérfluos, porque no dia seguinte bastava 'estourar' outro riacho para conseguir uma nova pedra", conta Ibelta Barros.
Hoje o desafio é recuperar o estrago, uma tarefa difícil, porque exige mudanças produtivas e culturais. Ao custo de R$ 3 milhões, um experimento do governo do Piauí em 54 hectares com plantio de feijão e espécies nativas tenha conter o avanço das dunas.
A degradação causa perda da produtividade e está associada a questões sociais. "As áreas de risco de desertificação concentram 66% da pobreza rural do país", revela Francisco Campello, especialista do tema no Ministério do Meio Ambiente. O governo trabalha para consolidar um marco legal de combate ao problema, baseado no Projeto de Lei 2447, de 2007, engajando governos estaduais e assentamentos.
Em Cabrobó (PE), onde se localiza a segunda maior área desertificada no Brasil, com 4.960 km², a erosão abriu grandes crateras na terra e é intenso o processo de salinização do solo, resultado de projetos inadequados de irrigação.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, até 2050 a desertificação afetará 50% das terras agrícolas da América Latina e Caribe. No mundo, o problema atinge 2,1 bilhões de pessoas, 90% em países em desenvolvimento.



Carvão: poluição do ar em Shanghai é recorde histórico

Carvão: poluição do ar em Shanghai é recorde histórico
A qualidade do ar da cidade de Shanghai na China tem uma escala que vai até 500 (veja tabela abaixo). Acima de 300 a população corre sério perigo e deve evitar atividades ao ar livre e ficar dentro das suas casas. Na realidade, quando a poluição atinge níveis superiores a 100 deveria ser evitada qualquer atividade ao ar livre que implique em grande esforço.
Hoje a poluição foi tanta que ultrapassou o nível de 300 pela primeira vez. O nível medido foi de  303, mais de 10 vezes o limite aceitável. Os monitores informam os níveis a cada hora, veja a imagem, assim como a quantidade de poluentes e de partículas acima de 2,5 micras que são as maiores responsáveis pelos insuportáveis níveis de poluição medidos hoje. A principal fonte da poluição é a queima de carvão mineral indiscriminada nas indústrias e casas chinesas sem a devida filtragem dos gases emitidos.
A poluição transformou Shanghai a cidade mais  populosa do mundo com mais de 23 milhões de habitantes, em uma câmara de gás. As mortes por problemas decorrentes da poluição se intensificaram e as crianças e idosos foram advertidos para não sair de suas casas.  
Mesmo assim, apesar do fog, a maratona internacional de Shanghai, que implica em enorme esforço físico, não foi adiada e muitos atletas dos 35.000 que participaram,  tiveram que correr com máscaras pela primeira vez na história da maratona. Caso os níveis continuem nestes patamares a cidade corre o risco de ser literalmente fechada e paralisada.
shanghai

Air Quality Index  (AQI) PM2.5 
Health Advisory

Good 
(0-50)
None

Moderate
(51-100)
Unusually sensitive people should consider reducing prolonged or  heavy exertion.

Unhealthy for Sensitive Groups
 
(101-150)
People with heart or lung disease, older adults, and children should  reduce prolonged or heavy exertion.
Unhealthy        
(151-200)
People with heart or lung disease, older adults, and children should  avoid prolonged or heavy exertion; everyone else should reduce  prolonged or heavy exertion.
Very Unhealthy (201-300)People with heart or lung disease, older adults, and children should  avoid all physical activity outdoors. Everyone else should avoid  prolonged or heavy exertion.
Hazardous 
(301-500)
Everyone should avoid all physical activity outdoors; people with  heart or lung disease, older adults, and children should remain  indoors and keep activity levels low.