INCLUSÕES EM GEMAS
1ª parte |
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As
gemas fascinam a quase todos, porém poucos têm idéia do quão
exuberante é a experiência de observar seu mundo interno. As inclusões
nas gemas são testemunhas eloqüentes da história da Terra,
preservando suas evidências e manifestando a sucessão de eventos
geológicos ocorridos há milhões ou mesmo bilhões de anos.
Além
do aspecto estético, o estudo das inclusões nas gemas é de
fundamental importância na sua identificação, bem como na distinção
entre as pedras naturais, sintéticas e imitações.
Em
gemologia, define-se inclusão como qualquer partícula de matéria
estranha ou defeito estrutural presente na gema. Em relação ao mineral
hospedeiro, as inclusões podem se formar antes (protogenéticas),
simultaneamente (singenéticas) ou depois (epigenéticas) dele.
As
inclusões protogenéticas são sempre sólidas, enquanto as demais podem
ser sólidas, líquidas ou gasosas. Quanto ao número de fases ou
estados físicos, podem ter apenas uma (monofásicas), duas (bifásicas)
ou três (trifásicas).
Esmeralda da Colômbia com inclusão trifásica singenética, consistindo de cristal de halita (NaCl), bolha de gás e solução aquosa salina. Até meados dos anos 80, estas inclusões eram diagnósticas para as esmeraldas oriundas da Colômbia, no entanto, a partir desta época, elas foram observadas também em esmeraldas de outras procedências, inclusive do Brasil. (Fotomicrografia: R. W. Hughes)
Determinados
padrões de inclusões, além de nos deleitarem com sua contundente
beleza de formas e cores, fornecem informações a respeito do ambiente
geológico no qual se formou o mineral que as contém e de suas
condições de cristalização, além de poderem ser úteis, em alguns
casos, para determinar seu local de origem.
Esfera de cristal-de-rocha (quartzo incolor) com inclusões não-identificadas, as de cor vermelha, provavelmente, constituídas de algum óxido de ferro. (Fotografia: Schwigor)
Usualmente,
os gemólogos identificam, com auxílio de lupa ou microscópio, apenas
as inclusões diagnósticas e mais características das gemas, cabendo ao
mineralogista identificar as demais inclusões por meio de técnicas
específicas, não pertencentes ao escopo da gemologia.
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domingo, 7 de junho de 2015
INCLUSÕES EM GEMAS 1ª parte
PLEOCROÍSMO 2ª parte
PLEOCROÍSMO
2ª parte |
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No
artigo anterior, abordamos a propriedade óptica denominada pleocroísmo e
neste descreveremos como detectá-la por meio de um instrumento simples e
pequeno denominado dicroscópio.
Para
observar-se ambas as cores simultaneamente, tal como emergem da gema,
utiliza-se o dicroscópio, preferencialmente sob iluminação natural
intensa ou luz branca artificial. Este instrumento consiste de um tubo
metálico de aproximadamente 5 cm de comprimento, com uma fresta
retangular em uma extremidade e, na outra, uma lente de pouco aumento
que funciona como ocular. No seu interior, vai montado um cristal do
mineral calcita, responsável pela formação de uma imagem dupla na fresta
retangular, devido à intensa birrefringência deste mineral.
As
duas imagens, observadas através da ocular, aparecem simultaneamente,
uma ao lado da outra. Em alguns dicroscópios, o cristal de calcita é
substituído por dois polaróides orientados a 90º um do outro.
Kunzita (gema tricróica) e calibre Leveridge
Ao
se observar a gema através da ocular, a imagem da extremidade oposta
aparece duplicada devido à dupla refração da luz ao atravessar o
cristal de calcita. Caso a gema seja birrefringente (aquelas que
cristalizam em qualquer sistema cristalino, exceto o sistema cúbico),
ao girá-la, as imagens poderão aparecer em cores ou tonalidades
diferentes. Se, por outro lado, a gema for monorrefringente (aquelas
que cristalizam no sistema cúbico ou são amorfas) a cor da gema será
igual e invariável nas duas imagens.
Averiguação de pleocroísmo por meio do instrumento dicroscópio
Girar
a gema é um procedimento imprescindível na averiguação do
pleocroísmo, pois, em todas as gemas birrefringentes, existe uma ou
duas direções de monorrefringência, denominadas eixos ópticos, nas
quais não existe pleocroísmo.
Além disso, conforme giramos a gema, temos condições de encontrar a posição em que se atinge o máximo contraste de cores. Pleocroísmo detectado a olho nú em zoisita Foto: Dan Weinrich | |||
PLEOCROÍSMO 1ª parte
PLEOCROÍSMO
1ª parte |
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O
termo pleocroísmo deriva das palavras gregas “pleion” e “chros” que
significam, respectivamente, mais e cor. Define-se esta importante
propriedade óptica como a variação das cores ou tons de determinadas
gemas segundo a direção de observação, devido à absorção seletiva da
luz em diferentes direções cristalográficas.
Apenas
as gemas birrefringentes podem apresentar pleocroísmo e este pode ser
observado somente em exemplares transparentes, translúcidos e, em
raras vezes, nas bordas translúcidas de espécimes opacos.As gemas
pleocróicas que exibem duas cores são ditas dicróicas (minerais que
cristalizam nos sistemas trigonal, tetragonal e hexagonal), enquanto
as que mostram três são denominadas tricróicas (minerais que
cristalizam nos sistemas ortorrômbico, monoclínico e triclínico).
Este
fenômeno normalmente não é detectado a olho nú, a não ser que as
gemas sejam intensamente pleocróicas; neste caso, ao girar-se o
exemplar em várias direções, consegue-se ver as diferentes cores ou
tons.
Dicroísmo detectado a olho nú em turmalina - (Fotos: Terri Weimer)
O
mero fato de detectar-se o pleocroísmo em uma gema assegura ao
observador que se trata de uma gema birrefringente e, portanto, não de
um vidro ou de um mineral do sistema cúbico.
A
observação desta propriedade tem grande valia na identificação de
gemas, principalmente por poder ser detectada em exemplares brutos ou
lapidados, soltos ou cravados.
Costumam apresentar pleocroísmo forte ou acentuado, entre outras, as seguintes gemas:
- Turmalina: dois tons do matiz fundamental. - Kunzita: rosa, lilás e incolor. - Iolita (designação gemológica do mineral cordierita, também conhecida como safira d´água): azul, violeta e amarelo amarronzado. - Tanzanita (designação gemológica da variedade azul-violácea do mineral zoisita): azul escuro, violeta e amarela esverdeada. Pleocroísmo detectado a olho nú em tanzanita (42,32 ct) (Fotos: John Betts) - Alexandrita: verde, púrpura e alaranjada. - Esmeralda: verde amarelada e verde azulada. - Água-marinha: azul de tonalidade mais intensa que a do exemplar e quase incolor. - Rubi: vermelha amarelada clara e vermelha-carmim escura. - Safira: dois tons da cor fundamental.
Exemplos
práticos nos quais a averiguação do pleocroísmo é de grande utilidade
são, entre outros, a distinção do rubi (dicróico) dos minerais do
grupo das granadas (não apresentam pleocroísmo, por cristalizarem no
sistema cúbico), e a separação da água-marinha (dicróica) de alguns de
seus substitutos azuis, tais como espinélio sintético (cristaliza no
sistema cúbico, ainda que costume exibir birrefringência anômala) e
vidro artificial (amorfo).
O
pleocroísmo tem importância não apenas no diagnóstico das gemas, mas
também no que se refere à sua lapidação, com o intuito de evitar
matizes menos atraentes ou tons que sejam muito escuros ou muito
claros.
Assim
sendo, o lapidário, de modo empírico, sabe como orientar uma gema
bruta durante o processo de lapidação, levando em conta esta
propriedade, de modo a posicionar a faceta principal (mesa) na direção
mais adequada, seja para alcançar uma tonalidade mais intensa (ex:
água-marinha) ou mais clara (ex: turmalinas ou safiras de tons muito
escuros).
É
importante salientar que a ausência de dicroísmo detectável não
significa que a gema tenha refração simples, assim como o fato dela
apresentar pleocroísmo intenso não guardar relação direta com a
magnitude de sua birrefringência.
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FENÔMENOS ÓPTICOS ADULARESCÊNCIA, LABRADORESCÊNCIA E AVENTURESCÊNCIA
FENÔMENOS ÓPTICOS
ADULARESCÊNCIA, LABRADORESCÊNCIA E AVENTURESCÊNCIA |
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Adularescência
Trata-se
de um fenômeno óptico observado na pedra-da-lua (ou adulária), a mais
conhecida variedade gemológica do grupo dos feldspatos.
A
adularescência consiste de lampejos prateados que lembram o brilho da
lua e resulta da reflexão interna da luz na peculiar estrutura da
pedra-da-lua, ordenada em camadas alternadas de dois tipos de
feldspato: o ortoclásio (mineral de dureza 6 na escala de Mohs) e a
albita.
Quando
estas camadas são grossas, a luz que nelas se reflete produz efeitos
de interferência que dão lugar a um resplendor (ou schiller) ondulante,
de cor branca ou incolor. Por outro lado, se as camadas não são
demasiadamente grossas, o resplendor resultante é azulado e a gema mais
atraente e valorizada.
Para
se obter o máximo rendimento deste fenômeno, a pedra-da-lua deve ser
lapidada de tal forma que a base do cabochão seja paralela ao plano das
camadas de feldspatos. O efeito é melhor observado em determinadas
direções, à medida que o exemplar é girado.
Usualmente,
a adulária é semi-transparente e, além das mencionadas cores, ocorre
nos matizes marrom, cinza, verde e rosa. Suas mais típicas inclusões
são fissuras de tensão, com aspecto de insetos do tipo centopéia.
O
Efeito Tyndall, responsável pela opalescência, também pode contribuir
para realçar o fenômeno óptico apresentado pela pedra-da-lua.
Pedra-da-Lua (Adulária)
Labradorescência
Fenômeno
óptico que produz destelhos de cores espectralmente puras e que
gradualmente se modificam, à medida que a gema é girada sob luz
refletida. Atribui-se o efeito à difração e interferência da luz nos
finos planos de geminação polissintética.
Este
fenômeno ocorre em um mineral do grupo dos feldspatos, denominado
labradorita, um membro intermediário da série dos plagioclásios,
consisitindo de uma mistura amorfa de 2 minerais deste grupo, a albita e
a anortita, variando esta última de 50 a 70 por cento.
Na
labradorita, ocorrem reflexões de cor azul ou verde, embora outros
matizes possam ocorrer, principalmente cinza e branco. Nas denominadas
espectrolitas, os destelhos apresentam diversas cores.
O fenômeno de labradorescência se assemelha bastante ao da iridiscência (ou jogo de cores) observado na opala preciosa.
Labradorita
Aventurescência
A
pedra-do-sol ou feldspato aventurina é a variedade preciosa de
oligoclásio, um membro intermediário da série dos plagioclásios.
Trata-se
de uma gema translúcida, que deve seu atrativo às reluzentes inclusões
vermelhas a alaranjadas de microscópicos cristais aplanados dos
minerais de ferro hematita e/ou goethita, que lhes proporcionam
reflexos avermelhados, graças à orientação paralela das lamelas.
A
labradorita pode também apresentar aventurescência, sendo então
denominada labradorita pedra-do-sol ou labradorita aventurescente.
As
principais ocorrências dos feldspatos pedra-da-lua, labradorita e
aventurina mencionados neste artigo encontram-se no Madagascar, Myanmar,
Índia, Sri-Lanka, Canadá, EUA, Finlândia, Brasil, Tanzânia, Austrália e
Rússia.
Bracelete de Prata com Feldspato Aventurina | |
FENÔMENOS ÓPTICOS OPALESCÊNCIA E IRIDISCÊNCIA
FENÔMENOS ÓPTICOS
OPALESCÊNCIA E IRIDISCÊNCIA |
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Opalescência
Este
termo é utilizado para definir o aspecto leitoso de alguns materiais
gemológicos, especialmente o da opala comum e de algumas
pedras-da-lua.
A
opalescência deve-se ao denominado Efeito Tyndall, que consiste na
dispersão da luz através de pequenas partículas de matéria dispostas em
sua trajetória, no interior da gema, formando um feixe ou nuvem
visível. O fenômeno é exatamente o mesmo que se observa quando um raio
de luz ilumina as partículas de pó dispersas na atmosfera de uma
habitação.
Iridiscência
Jogo de cores exibido pelas opalas ditas preciosas ou nobres, mas não pelas opalas comuns.
À
diferença da maior parte das gemas, cujas cores resultam da absorção
seletiva da luz, as cores iridiscentes da opala preciosa são causadas
por fenômenos de difração e interferência da luz devidos, por sua vez, à
reflexão e à refração em fissuras ou fraturas no interior da gema.
Por este motivo, as cores iridiscentes possuem elevada pureza
espectral.
Iridiscência ou jogo de cores em Opala
Diferentemente
de outras gemas, a opala não é um material cristalino, mas um gel de
sílica endurecido e hidratado, de composição SiO2.nH2O. Embora tenha
assumido o estado sólido, ainda retém quantidades consideráveis de
água, que variam, geralmente, entre 3 e 10%. As variedades desta gema
são translúcidas - raramente transparentes - e, com exceção da opala de
fogo, não devem ser submersas em líquidos densos, devido a sua alta
porosidade.
A
opala ocorre em depósitos primários, preenchendo fraturas em arenitos,
ou em depósitos secundários, e procedem, em sua maior parte, de três
países:
1) Austrália: opalas branca e negra (maior produtor mundial, em volume e qualidade); 2) México: opalas de fogo, branca e de água; 3) Brasil: opala branca e de fogo; pequeníssima produção de opala negra, em Pedro II (Piauí); opala de fogo em Capão Grande e Campos Borges (Rio Grande do Sul) e opala verde amarelada a marrom amarelada, às vezes com efeito olho-de-gato (Bahia) Esfera de Opala - Foto: Super Marina
O
principal tratamento a que se submetem as opalas é o tingimento. O
processo consiste em submergí-las em solução de açúcar ou mel (para
saturar o material) e, em seguida, tratá-las com ácido sulfúrico, para
carbonizar o açúcar e torná-las negras. A impregnação com resinas é uma
prática corrente, utilizada com a finalidade de melhorar a qualidade e
aumentar sua durabilidade.
Embora
a opala sintética seja comercializada desde 1974, os substitutos
encontrados com maior frequência no mercado são as pedras compostas.
Entre os dobletes, o mais comum é formado por opala na parte superior,
geralmente em forma de domo, e ônix ou outro material escuro na
inferior.
Entre
os tripletes, o mais usual está composto de quartzo, vidro ou outro
material incolor na parte superior, em forma de domo, uma fina camada
de opala na porção intermediária e ônix ou outro material escuro na
parte inferior.
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