quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Garimpo de diamante- BAHIA

Garimpo de diamante- BAHIA
A partir da descoberta de diamantes no Rio Mucugê, em setembro de 1844 chegaram à região, garimpeiros e comerciantes. Esse contingente de pessoas deu nome ao povoado de Mucugê (antiga Santa Isabel do Paraguaçu) e a partir desse núcleo desenvolveu-se a mineração na região seguindo o curso dos rios. 

Em 1945, a descoberta dos garimpos no rio Lençóis, despertou o interesse dos compradores de diamantes instalados em Mucugê e garimpeiros vindos das lavras em decadência, além de comerciantes da capital e senhores de engenho com seus escravos.

Pela Lei n. 604 de 18/12/1856 o antigo arraial, que era sede de um distrito de Mucugê, foi transformado na Comercial Vila dos Lençóis, pois nessa época eram realizadas negociações com mercadores franceses, ingleses e alemães (BAHIA, 1980). 

Em 1853 foi transferida de Mucugê a sede da Delegacia de Terras e Minas para a Vila dos Lençóis e um ano após foi instalada a Câmara Municipal. Em 1864, pela Lei Provincial n. 946, de maio de 1864, a Vila tornou-se cidade com o nome de Lençóis . A exploração de diamantes contribuiu para a construção da cidade, que chegou a ser conhecida como capital do diamante e Vila Rica da Bahia. 

A cidade prospera até 1871, entretanto devido a grande exploração de diamantes no local e a descoberta das jazidas de diamantes na África do Sul (1865) inicia-se o declínio da mineração na região. Após o abandono do garimpo, o cultivo do café e a extração do carbonado, utilizado como abrasivo industrial, ajudaram a melhorar a situação econômica da cidade (BAHIA, 1980).

A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE GARIMPEIRA (DIAMANTE) PARA O DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE JUÍNA-MT

A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE GARIMPEIRA (DIAMANTE) PARA O DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE JUÍNA-MT (1970-1980) A presente pesquisa busca mostrar a importância da atividade garimpeira para o município de Juína-MT nas década de 70, 80 e 90. Durante esses anos, vários imigrantes vieram do Sul do país em busca do diamante, a extração do diamante mereceu destaque, e se manteve por mais de uma década no auge da atividade econômica do município. Devido à ocupação das áreas de garimpo do município, houve grande êxodo dos garimpeiros da cidade, este fluxo da população provocou a decadência desta atividade econômica Juinense. O garimpo trouxe muitas riquezas, mas, hoje essa atividade é vista apenas como uma prática demasiada agressiva ao meio ambiente e às populações indígenas do território nacional. Palavra chave: Atividade Econômica, Garimpo, Diamante. 1. INTRODUÇÃO A iniciativa desse trabalho surgiu após buscar informações a respeito do garimpo de diamante no município de Juína-MT. Diante dos acontecimentos e de sua importância para o crescimento do município nas décadas de 70, 80 e 90, tornou-se de fundamental importância desenvolver uma pesquisa a respeito desta temática. O período compreendido entre as décadas de 70, 80 e 90 foram marcados por projetos de instalação de núcleos urbanos em plena selva amazônica, e a descoberta de ricas jazidas de diamantes, ocasionou uma imigração em massa para a região. Por meio da pesquisa realizada pela empresa SOPEMI, muitas das riquezas encontradas foram levadas para outras localidades escondidas, sem impostos, ou até mesmo descartadas, por se tratar de uma área de sítios arqueológicos, o que propiciou um rico comércio naquela época. 2 Através da perspectiva de apropriação e transformação do espaço, esta pesquisa visa mostrar a importância da atividade garimpeira para o crescimento do município de Juína-MT no período anteriormente referido, bem como estabelecer as contribuições economias da extração de diamante e sua importância histórica, pois sabemos que o seu crescimento se deu devido à sua grande potencialidade na extração de diamante principalmente na década de 80. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O DIAMANTE Neste capítulo, abordaremos o que é diamante, desde sua formação, qualidade e propriedade, destacados sua importância para o Brasil e para o estado do Mato Grosso. Entre as muitas pedras preciosas, o diamante destaca-se por várias razões e tem características que o tornam único. Hum tratado de química mineral, ele nada mais é que “Carbono Puro”, em estado cristalino, na qual é cristalizado sob altas pressões e temperaturas, nas mais profundas entranhas da terra há bilhões de anos. É um mineral raro, infundível e refratário aos ácidos e que, na escala de rigidez, ocupa o mais alto degrau e possui um peculiar poder refulgente, com efeitos esplêndidos maiores e mais fulgurantes quanto maior e melhor lapidada for à pedra (KRAUS 2008). É através destas características que justificam o alto valor atribuído à “gema entre as gemas” e também a dúplice versão que foi dada à origem de seu nome. Alguns dizem que deriva do Árabe “adamas” (o indomável) e outros de “daemos” (o tentador), por causa das paixões que jóias fabricadas a partir deste minério tem provocado em todas as épocas. Dada sua indomabilidade, o diamante pode ser vencido somente por si mesmo, para lapidá-lo, usa-se pó de diamante com óleo de linhaça, sobre uma mola de aço muito suave (BRANCO 2008). A cada ano que passa, modernas técnicas de lapidação estão sendo implantadas neste fechadíssimo mercado, os fragmentos menores são despregados para cortar o vidro e gravar pedras preciosas. 3 O diamante lapidado em dupla pirâmide truncada, cujos lados são divididos em 58 diminutíssimas facetas triangulares ou rombaidais, que são lapidadas uma a uma, chama-se “brilhante“, e aquele cortado com apenas uma pirâmide de base plana, com 24 facetas, chama-se “rosa“. Os exemplares incolores predominam, mas encontra-se também diamantes cujos reflexos possuem tintas escuras, rosas, verdes, amarelas, e existe, ainda, muito raro, o “diamante negro”. O diamante, por seu brilho, dureza e, sobretudo, raridade, figura no primeiro plano das pedras preciosas, desde as remotas eras. Sua formula é “C”, peso especifico 3,4 a 3,6 e pertence ao sistema cúbico. Suas faces são, por vezes, estriadas, transparente ou incolor, também encontrado amarelo ou amarelado e, em outras cores deslumbrantes, pois como carbono puro, possui propriedades químicas deste elemento (BRANCO 2008). Existem diversas qualidades de diamante: o “incolor”, considerado a primeira das pedras preciosas, sendo seu custo calculado na base de quilate (0,25 gramas); o “bort”, de faces curvas, que serve para polir a anterior e, finalmente o carbonado negro, usado para perfurar rochas; esta variedade, a mais conhecida, é produto de jazidas da Índia, do Brasil e do Cabo, as primeiras quase esgotadas (METAMAT 2006). Decididamente o que valoriza o diamante é a lapidação, que compreende três operações sucessivas: clivagem, lapidação e polimento. A primeira desembaraça o diamante da crosta que o envolve. A segunda dá-lhe a forma definitiva, de brilhante ou rosa. A terceira confere à pedra talhada, o brilho e transparência. Na clivagem, o clivador faz o diamante roçar sobre a pedra bruta, fazendo a crista destacar-se. Isto feito, o lapidador, com a maça, martelo cônico, e uma lâmina de aço, bate pancadas secas na pedra, pendendo-a segundo as faces da clivagem. 2.2. MINERAÇÃO DE DIAMANTE NO MUNDO E NO BRASIL. A “explosão demográfica” verificada principalmente no século XX e a melhoria das condições gerais de infra-estrutura de uma parte da humanidade ocasionaram o aumento vertiginoso da demanda por bens minerais. Isto pode ser notado ao se observar às estatísticas de produção de metais (ROSSETE et al 2006). Os dados da produção de metais foram de 25 milhões de toneladas do início da civilização até 1750; 10 milhões de toneladas de 1750 a 1800; 100 milhões 4 de 1800-50; 900 milhões de 1850 a 1900; 4 bilhões de 1900 a 1950; e de 5,8 bilhões de 1950-80. Cada indivíduo consome em média, 20 toneladas anuais de matérias-primas minerais. Este consumo deve-se em grande parte à crescente industrialização, notadamente nos países do Hemisfério Norte, fenômeno este que teve seus primórdios com a Revolução Industrial do século XVIII (SUNKEL ET AL 1988), implicando numa explosão desenfreada da pesquisa e lavra dos bens minerais (McDIVITT et al 2006). Atuando como base de sustentação para a maioria dos segmentos industriais, a extração mineral desempenha, hoje um papel fundamental na economia de diversos países, principalmente dos países em desenvolvimento que tem a mineração como uma importante fonte de geração de divisas, via exportação de minério, além de ser uma atividade geradora de empregos e impostos, representando, assim, um fator determinante para o desenvolvimento de um grande número de cidades e micro-regiões (MARQUES1993). O primeiro centro de diamantes foi à Índia, que dominou o mercado até a descoberta dessas pedras no Brasil no começo do século XVIII, pois ainda não se conheciam os diamantes da África. Duzentos e cinqüenta anos depois da descoberta do Brasil, este passou a ser o maior produtor de diamantes do mundo (FERREIRA 1993). Em meados do século XVIII, ocorreu a descoberta de grandes aluviões diamantíferos na Colônia do Cabo, em Orange e Trabsvaal, hoje ultrapassadas pelo Congo Belga, que somente em 1.955 produziu cerca de 12 milhões de quilates. Em 1950, a produção mundial foi de 15.300.000 de quilates, dos quais o Brasil contribuiu com 200.000, ou seja, a proporção de 1,3%. A partir do ano de 1950, a posição do país melhorou sensivelmente devido principalmente aos grandes esforços dos cientistas que se dedicaram com afinco a esse problema nas regiões diamantíferas (MORENO et al 2005). Os primeiros diamantes foram descobertos no Brasil por Bernardo da Fonseca Lobo, no riacho Caeté-Mirim. De início, não se atribuiu muita importância ao fato, pois a atenção estava voltada para o ouro. Mais tarde iniciou-se a exploração intensificada, em Diamantina, junto ao rio Jequitinhonha, Abaeté e Grão-Mogol. Jazidas importantes surgiram também em Goiás, na Bahia e no estado de Mato Grosso. Entretanto, os maiores diamantes 5 eram reservas à coroa de Portugal, que auferiu grandes lucros, e os menores eram vendidos a negociantes por contrato (METAMAT 2006). O primeiro comprador de diamantes que se tem notícia foi Gil de Mester, que explorou o tal serviço até o ano de 1866. Os contratadores de diamantes eram pessoas importantes e de grande prestígio. O mais famoso deles foi Felisberto Caldeira Brandt, que inspirou ao Maestro paulista Francisco Mignome a bela opera “O Contratador de Diamantes”. Exercia-a tal atitude no Tejuco, onde se desenrolaram fatos históricos. A região de Alto Araguaia e do rio Garças, forneceu pedras de alto valor pela sua pureza (FERREIRA 1993). O famoso diamante “Estrela do Sul” foi encontrado, em 1853, por uma escrava que estava lavando roupa às margens do rio Bagagem. A gema pesava, em estado bruto, 261,88 quilates, passando a 122,8 depois do processo de lapidação. É um brilhante muito puro levemente rosado, e foi vendido por 400.000 dólares ao “Gaekwar de Baroda”, depois de ter sido cuidadosamente lapidado por Coster, de Amsterdã. Segundo dados estatísticos, na década de quarenta, passaram pelo serviço de classificação e avaliação de pedras preciosas da Casa da Moeda, algo em torno de 460.865 quilates métricos de diamantes em estado bruto, as maiores pedras provenientes do estado de Minas Gerais, embora a maior produção fosse do Estado de Mato Grosso. Dados oficiais estimam a nossa produção entre 1728 a 1947, em 6.065.543 (seis milhões, sessenta e cinco mil e quinhentos e quarenta e três) quilates, sendo que no período de 1727 a 1847, foi de 1727 a 1847, de 1.977.419 quilates, e de 1938 a 1947 de 1.818.015 (um milhão, oitocentos e dezoito mil e quinze) quilates (METAMAT 2006). 2.3. MINERAÇÃO DE DIAMANTE EM MATO GROSSO No estado de Mato Grosso, as principais regiões produtoras de diamantes são as regiões do Médio Norte, Sudeste, Araguaia, Central e Noroeste. Porém as pedras mais preciosas produzidas no estado são exportadas para países na Ásia, na Europa e no Oriente Médio (METAMAT 2006). 6 Os depósitos diamantíferos explorados na região do Médio Norte de Mato Grosso são secundários e estão associados aos cascalhos aluvionares (depósito sedimentar, formado por materiais em geral grosseiros, mal rolados, e mais ou menos soltos, transportados por águas correntes como rios, ribeiros, etc. O mesmo que alluvium ou alúvio) e coluvionares (em geral com uma camada do subsolo frágil, tipicamente ricos em argila). Os depósitos diamantíferos mais recentes se encontram na região sudesde do estado, na Reserva Garimpeira de Poxoréo se destaca a produção de diamantes e outros minerais, tal como a safira, de melhor qualidade ao serem lapidados. Há a ocorrência de depósitos diamantíferos do tipo terraço e aluvionar na região do médio Araguaia, especialmente na planície aluvionar das bacias dos rios Araguaia e Garças, abrangendo parte dos municípios de Alto Araguaia, Alto Garças, Araguainha, Ponte Branca (Figura 1), Guiratinga, Pontal do Araguaia, Ribeirãozinho, Torixoréu, Tesouro, General Carneiro e Barra do Garças. Figura 1 – Diamante Fonte: METAMAT (2006). Nos municípios localizados na região Central do Estado, Paranatinga, Campinápolis e Gaúcha do Norte, são encontrados depósitos aluvionares tipo paleocanais e canais atuais, uma vez que as aluviões e os terraços são de pequena 7 expressão ao longo dos principais rios, como o Jatobá, o Batovi, o Coliseu e o Piranha. A maior produção de diamantes de Mato Grosso concentra-se atualmente na região noroeste do Estado, que abrange parte dos municípios de Juína e Aripuanã. Nas redondezas do município de Juína, destaca-se a produção de diamantes industriais, enquanto que nas outras regiões do estado, os diamantes são, na maioria das vezes, comercializados como gemas, prática principal da fonte de renda de diversos municípios mato-grossenses. A figura 2 ilustra um lote de diamantes brutos, produzidos no município de Juína, dividido em quatro frações granulométricas de 10 pontos, 15 pontos, 42 pontos e 115 pontos, respectivamente, com tamanho médio geral da ordem de 45 pontos. Figura 2 – Lote de diamantes brutos produzidos no município de Juína-MT. Fonte: METAMAT (2006). Na região de Chapada dos Guimarães existe uma planta industrial de diamante (tipo gema) em implantação, com investimentos previstos da ordem de US$ 7 milhões, com capacidade de produção inicial de 600.000 m3 ano, com teor médio de 0,05 ct/m3 , pertencente à empresa Chapada Brasil Mineração Ltda. No município de Juína há uma segunda mina de diamante tipo industrial, com reservas da ordem de 14 milhões de toneladas, produção de 60.000 ct ano, com teor médio de 0,40 ct/t, pertecente a Diagem do Brasil, com investimentos da ordem de US$ 2,5 milhões (METAMAT 2006). 8 3. METODOLOGIA A execução dessa pesquisa se deu em um primeiro momento no embasamento do referencial teórico. Logo após, foram realizadas pesquisas bibliográficas e aquisição do material básico, para contextualização da temática em questão. Esses dados foram adquiridos na biblioteca municipal e em arquivos pessoais de garimpeiros que durante anos trabalharam nessa atividade. Outros materiais foram coletados através de entrevistas com o senhor José Ferreira Lima Junior, técnico em mineração, atualmente exerce o cargo de diretor na Cooprodil. Em posse de todo material bibliográfico necessário para o embasamento da pesquisa foram realizadas a integração dos mesmos e com isso foi possível desenvolver a pesquisa. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE JUÍNA-MT. O município de Juína está localizado a 748,9 quilômetros de Cuiabá na região noroeste do estado de Mato Grosso, faz limites há diversas cidades, dentre elas, Castanheira e Aripuanã ao norte (rio das Pedras e rio Furquim), ao sul: Campo Novo dos Parecis e Comodoro (rio Juruena e Iquê) a oeste: Vilhena (rio Temente, rio Marques, rio Capitão, rio Carso) e a leste: Brasnorte (rio Juruena). (Figura 3) 9 Figura 3. Localização do Município de Juína-MT Org: LEMES (2009). Encontra-se a uma longitude de 58º44’05” e uma latitude de 11º25’05” com uma altitude média de 400 metros. A sua área é de 26.251 km², equivale há 2.906% do estado, 1.6401% da região e 0.309% de todo o território brasileiro. A sua população urbana e rural se aproxima dos 40 mil habitantes. 10 4.2. O HISTÓRICO E A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DO GARIMPO DE DIAMANTE PARA O MUNICÍPIO DE JUÍNA-MT O município foi criado a partir de um projeto implementado pela Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso, CODEMAT, no ano de 1976, com o objetivo de expansão das fronteiras agrícolas e ocupação de áreas até então desocupadas. No mesmo ano, chegou ao município a CIA de mineração SOPEMI S/A- Sociedade de Pesquisa e Exploração de Minérios S/A. Esta empresa era multinacional formada pela união de dois grupos; BRGM, que era representado pelos franceses e a “De Beers”, que era controlada pelos ingleses (Figura 4). Sua filosofia de trabalho, a princípio, se resumia em pesquisar “Rocha Primária” (kimberlito1 ), tal pesquisa obteve ótimos resultados, de onde se descobriu 21 kimberlitos e centenas de anomalias em todas as regiões do município de Juína. Muitas dessas anomalias foram checadas na época, pois em janeiro de 1982, passou-se a outra fase, ou seja, a de exploração, que durou apenas seis anos. No ano de 1988 ocorreu a invasão dos garimpeiros nas áreas de lavra impossibilitando assim a continuidade em um trabalho paralelo de se descobrir novos corpos kimberliticos. Neste período esta empresa tinha um contingente de aproximadamente 220 funcionários entre Geólogos, técnicos, funcionários especializados e braçais. Figura 4. Integrantes da CIA de mineração SOPEMI S/A. Fonte: FERREIRA (1993). 1 Kimberlito: Rocha ígnea, peridotito alcalino-ultrabásica, muitas vezes brechada e serpentinizada, composta por olivina e quantidades variáveis de flogopita, ortopiroxênio, clinopiroxênio, carbonatos e cromita tendo como acessórios melilita, granada piropo, magnetita, carbonatos, ilmenita, apatita, rutilo e perovskita. 11 Após a invasão dos garimpeiros, passou-se a conviver com uma nova realidade. A região iniciou um processo de crescimento econômico bastante acentuado que se estende até aproximadamente até 1998. O deposito diamantífero descoberto pela SOPEMI em nosso município é muito grande, talvez, o maior do país. Há alguns anos atrás, essa atividade era bem mais fácil de ser executada, pois além dos diamantes se encontrarem em uma profundidade considerada economicamente viável, ou seja, aproximadamente 2 metros de profundidade em média e ocorrem em abundância, com teores de concentração altíssimos atingindo até o valor de 42 cts/m³ na bacia do “Rio Cinta Larga” (Figura 5). Do município de Juína já saíram muitas pedras consideradas gemas destacando-se a quarta maior pedra já encontrada no Brasil, garimpada pelo senhor Negão da Anta, a pedra pesava 452 cts. Pode-se destacar também, outras preciosidades, como: 262 cts (Rio Porção), 330 cts (Rio Sorriso), 117 cts (Rio 2 Barras), 56 cts (Rio Seu Luiz), 64 cts (Rio Juininha). Figura 5 - Garimpo de diamante na bacia do “Rio Cinta Larga”. Fonte: FERREIRA (1993). Por volta da década de 1990 o movimento em torno do subsolo do município ganhou tamanho e relevância, graças à mineração de diamantes e metais preciosos. O garimpo era considerado uma das atividades econômicas mais importantes do município de Juína, em 1976, ricas jazidas diamantíferas foram descobertas na região, assim a garimpagem de diamantes fez história na cidade. Os irmãos Ben–Davi, 12 compradores de diamantes, instalaram a “Bolsa de Diamantes”, que adquiriu, por longos anos, considerável lote de gemas. O comércio de diamantes naquela época era ativo de na cidade, estava presente nas ruas (Figura 6, 7 e 8) e na estação rodoviária (Figura 7). Figura 6. Comercio de diamantes nas mesas de bares. Fonte: FERREIRA (1993). Figura 7. Comercio de diamantes. Fonte: FERREIRA (1993). Figura 6. Comercio de diamantes na esquina da Drogaria São Jorge. Fonte: FERREIRA (1993). 13 Figura 8. Comercio de diamantes na rodoviária. Fonte: FERREIRA (1993). Algo em torno de 11,4 milhões de hectares em Mato Grosso está reservado para as grandes mineradoras fazerem prospecção sobre o potencial de exploração mineração, especialmente de diamantes. Até 2003, Mato Grosso tinha 4,5 milhões de hectares de seu solo requeridos. Isso significa em torno de 13% do território mato-grossense apenas para a exploração mineral. Hoje apesar de existir ainda uma ocorrência diamantífera, considerável, os garimpeiros (Figura 9) que ainda persistem trabalhando na região se esbarram em variados problemas, como por exemplo: o depósito mineralizado se encontra em grandes profundidades, exigindo um maior investimento; a produção, apesar de ser inferior, ainda é compensadora; a produção é negociada com um preço variando de 10 a 30 U$/ cts, isto quando tem alguém para negociar, se não, fica-se esperando a vinda de algum comprador. Esta espera se torna desconfortável, pois, existe um custo de operação se tem como querer negociar tornando o pequeno produtor inadimplente. 14 Figura 9. Garimpeiro tentando garimpar mesmo diante das dificuldade. Fonte: FERREIRA (1993). Para se ter uma idéia, só a Mineradora Diagem retém 130.000 hectares de área requerida e a mesma, não é atuante, pois seus garimpeiros se encontram parados e expostos ao tempo há vários anos, exceto um grupo de 15 funcionários em atividades checando as respectivas anomalias descobertas pela SOPEMI S/A a 25 anos atrás. É preciso que a diretoria atual da Diagem estabeleça outros critérios, não coloque obstáculos e libere parte do seu subsolo para que a garimpagem se torne uma atividade legalizada proporcionando assim, opções de trabalho para todos os colaboradores favorecendo diretamente o crescimento do município. Já a Sl. Mineradora Juinense tem apenas 30.000 hectares, mas direciona a produção com responsabilidade, e consegue através disso gerar de 80 a 100 empregos diretos. Baseado nas dificuldades enfrentadas pelos garimpeiros ao longo dos anos, e também, na preocupação de todos em sentindo de se trabalhar dentro da legalidade, um grupo de proprietários de máquinas resolveram criar uma cooperativa denominando de COOPRODIL- Cooperativa dos Produtores de diamante de Juina LTDA. Essa cooperativa nasceu com o intuito de proporcionar ao garimpeiro o direito de exercer sua atividade, obedecendo aos parâmetros legais exigidos pelos órgãos estaduais e federais como DNPM, SEMA, IBAMA e METAMAT, órgãos estes, direcionados à produção mineral e ao meio ambiente. Para isso, criaram-se as PLG’s (Permissão de Lavra Garimpeira), que concede o direito ao garimpeiro de trabalhar legalmente. Essa PLG é concebida graças a um acordo feito entre o superficiário e a mineradora encaminhando futuramente para os órgãos competentes. 15 A Mineradora Diagem liberou 13 PLG’s e a S.L Mineradora liberou 6 PLG’s, mas, sua diretoria se colocou a disposição para novas negociações. Preocupada tanto com os problemas surgidos anteriormente, quanto com a legalização da atividade garimpeira, já que desde 1998 os garimpeiros sofreram grandes represálias, sendo constantemente impedidos de trabalharem e não terem o apoio e a orientação necessária por parte das pessoas que administravam o município de Juína na época, a administração Hilton Campos juntamente com o secretário de agricultura, mineração e meio ambiente, senhor Gilson Nascimento nomeou o “Diretor do Departamento de Mineração”, hoje visto que este departamento foi criado anteriormente, mas fictício, pois quem acumulava essa função era o próprio secretário mesmo que no papel, este cargo era exercido por outra pessoa. 5. CONCLUSÃO O desenvolvimento do município de Juína se deve em grande parte devido ao garimpo que impulsionou grande movimentação populacional na década de 70 e simultaneamente essa migração impulsionou os demais setores. O crescimento econômico da cidade deu início desde então, acelerando o processo de desenvolvimento de outros setores que foram necessários para dar suporte ao garimpo. Durante três décadas, a exploração do diamante constituiu-se como principal atividade econômica no município de Juína. Nos últimos tempos, a atividade mineradora vem, sendo principalmente desempenhada por grandes empresas, detentoras de recursos econômicos e tecnológicos. Tal fato vem ocasionando movimentos migratórios, mudança ocupacional de parte da população e esvaziamento de pequenas localidades. Vários fatores foram responsáveis pela decadência da atividade na região, a grande profundidade dos depósitos mineralizados requer um investimento maior para se extraírem os minérios, a retenção de terras ideais para o garimpo por grandes empresas também dificulta o sustento desta atividade nos dias de hoje. Em virtude da decadência do garimpo foi criada a COOPRODIL com o intuito de proporcionar o direito aos garimpeiros de exercerem a atividade. Hoje o garimpo é uma atividade legalizada devido aos esforços da cooperativa para conseguir permissão de lavra garimpeira (PLG). A situação atual da atividade garimpeira no município de Juína ainda é ativa, mas sem o mesmo fôlego de outrora, a total decadência foi evitada graças às ações da cooperativa que movimenta o mercado fazendo compra e venda de diamante.

Na Serra Pelada de hoje, circulam mais histórias do que ouro

Na Serra Pelada de hoje, circulam mais histórias do que ouro


Foi em 21 de julho de 1674 que o grupo do bandeirante Fernão Dias Paes Leme saiu de São Paulo em busca de pedras preciosas onde hoje fica Minas Gerais, desenvolvendo a mineração na região. Na segunda-feira, dia 21 de julho, será comemorado pela primeira vez o Dia do Garimpeiro, instituído em junho com a aprovação do Estatuto do Garimpeiro, que finalmente regularizou a pequena exploração mineral. O marco legal ocorre 20 anos após o fim de Serra Pelada, o maior garimpo do mundo, onde centenas de milhares de homens viveram, morreram, enricaram e perderam tudo.

  • Com casas de madeira, chão de terra e pouca estrutura, Serra Pelada é hoje um local pacato
Hoje, Serra Pelada, distrito do município de Curionópolis que fica a 35 quilômetros do centro da cidade, é um local pacato. Foi-se o ouro fácil da superfície e com ele a febre que levou centenas de milhares de garimpeiros para lá no começo dos anos 80. A imagem cristalizada do formigueiro humano desapareceu junto com o fim da mina e da possibilidade de enriquecimento instantâneo. 

Seis ou sete mil pessoas vivem em casas de tábua agrupadas em ruas de terra vermelha, desde sempre carentes de estrutura pública. Não existe atividade econômica significativa além de pequenos comércios e do dinheiro das aposentadorias. Todas as famílias são de garimpeiros que, detentores do direito de exploração daquela terra, buscam resolver diferenças internas para explorar em grande escala o solo rico. Até lá não há muito o que se fazer, melhor puxar uma cadeira para acompanhar as histórias de toda uma geração de garimpeiros conversadores.

Rodas de bancos proliferam em frente às casas e nos bares. "Sente aqui meu patrão, sente aqui", diz o filho do Piauí Juvenal Ferreira do Vale, 72 anos, oferecendo sua própria cadeira. A pele queimada de sol e profundamente riscada aponta para uma vida de trabalho braçal. Trabalhou na construção de Brasília. No garimpo cavou muito ouro daquele chão, em 86 tirou a sorte grande e "bamburrou", termo que designa aqueles afortunados que encontraram os veios mais ricos e conseguiram 30, 50, 100, 500 kg de ouro em poucos dias. 

  • Breno Castro Alves/UOL
    Em Serra Pelada hoje há
    mais histórias do que ouro
O recorde é de Zé Maria, que tirou 2.350 kg em um barranco só. "Foi um tempo curto, bom demais e terrível. Quando bamburrei foi uma madrugada de tiro, atacaram o acampamento, mas seguramos o ouro. Mas isso era pouco, essa ladroagem danada no mundo inventaram de uns tempo para cá. O garimpeiro era respeitador".

Difícil saber se a vila, que faz parte do município de Curionópolis, no sudeste do Pará, é mais rica em histórias ou em ouro. Teve aquele que bamburrou, comprou uma caminhonete e foi dar carreiras por esses meios de mundo. Atolou, voltou para a cidade e comprou outra igualzinha só para desatolar a primeira. Um outro estava no Rio de Janeiro cheio do ouro, lembrou que esqueceu o chapéu e fretou um avião para buscá-lo em Serra Pelada. Vem fácil, vai fácil, poucas histórias remetem a garimpeiros que investiram e multiplicaram a riqueza, a maioria financiou farras homéricas que hoje são nostalgia. Riqueza ou pobreza era condição passageira, regida pelo verbo estar e não pelo ser. A velocidade com que alguns ganhavam dezenas de quilos de ouro só era comparada ao ímpeto com que os gastavam.
"Naquele tempo eu não era gente", avalia saudoso um senhor com dentes de ouro. "Ah, se eu tivesse a tranqüilidade que tenho hoje..", lamenta um velho maranhense. Quando o garimpo terminou, em 88, quem ficou por ali foi quem estava pobre no momento. Ficaram para lutar por um subsolo que conhecem a riqueza. A mina não terminou por falta de ouro e os garimpeiros sabem que têm direito, entendem que produziram riqueza gigantesca e que a nação tem este débito a reparar.

A mesma esperança de ouro que levou aqueles homens para lá nos anos oitenta faz com que permaneçam até hoje lutando por ele. "Está vendo aquela cava cheia dágua bem ali? Deixei uma fazenda de 600 vacas parideiras dentro dela. Já perdi a força para aprender a fazer de outra forma e por isso vou tirar essa fazenda dali. Não perdi dinheiro, investi, vou ter lucro. Se eu não estiver vivo meu filho vai e se ele não estiver meu neto vai, porque ali tem ouro e ele é nosso", vaticina João Pimenta, 53 anos.


Vinte anos depois, "ouro do futuro" de Serra Pelada gera fortes disputas

Vinte anos depois, "ouro do futuro" de Serra Pelada gera fortes disputas


Serra Pelada é um local de luta. Todos sabem que ainda existe ouro ali, a disputa de interesses é constante e muitas vezes brutal. A calma do dia-a-dia se transforma em conflito permanente na esfera política. O cabo-de-guerra tem muitas pontas e é puxado por grupos de garimpeiros, cooperativas, mineradoras multinacionais e governo, todos com interesses distintos. Hoje, vinte anos após o final do garimpo, a maior parte dos crimes do local tem sua origem nessa disputa.

  • Breno Castro Alves/UOL
    Núcleo de extração do ouro em Serra Pelada, em foto de 1983, época do "formigueiro humano"...
  • Breno Castro Alves/UOL
    e atualmente, um lago de
    120 metros de profundidade

As estimativas acerca do ouro na região variam de acordo com quem as relata. Enquanto a Vale afirma haver algo em torno de 19 toneladas ainda ali, a Colossus espera encontrar bem mais e alguns garimpeiros acreditam em valores na casa de milhões de toneladas. Além do ouro, o local também é rico em platina, paládio e prata, todos metais de alto valor.

A Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) detém o direito de exploração dos 100 hectares que compreendem boa parte da cidade e a antiga mina, hoje submersa. Em 2007 conseguiram o alvará de pesquisa junto ao governo federal e assinaram contrato com a canadense Colossus, que hoje realiza sondagens na área. Com a pesquisa terminada, terão condições de definir o plano de exploração mineral, que deve girar em torno de US$ 200 ou 300 milhões e será executado pela empresa. O contrato prevê o pagamento de US$ 18 milhões para a cooperativa pela Colossus e uma divisão da receita de 51% para a empresa e 49% para a Coomigasp.

Hoje, a principal disputa política se dá ao redor da direção da Coomigasp. Moradores e grupos ligados ao movimento social criticam a atuação da entidade, defendendo anulação do contrato com a Colossus. Alegam falta de transparência em diversos pontos do processo e acusam a mineradora canadense de ser um instrumento da Vale na região.

Benigno Moreira, presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada, aponta que a diretoria atual foi empossada com apoio dos movimentos sociais e a acusa de, após poucos meses de mandato, haver se vendido para os interesses das mineradoras, em detrimento do garimpeiro: "A proposta era explorar o minério do começo ao fim. O mundo quer um lugar para investir e nós queremos financiamento, comprar máquinas e adquirir nossos meios de produção. O que menos precisamos é de um patrão".

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    Além da expectativa do ouro a ser encontrado no futuro, hoje em Serra Pelada há o garimpo de subsistência, que dá pouco lucro
Assis Coelho, vice-presidente da Coomigasp, rebate as críticas afirmando que apenas hoje, pela primeira vez após o fechamento da mina, o garimpeiro tem uma perspectiva real de conquistar algo para si. "Passamos 20 anos só na falação, só em mentiras. Hoje não, pela primeira vez temos a consciência de que vamos colher resultados. O que o garimpeiro precisa entender é que essas coisas não são do dia para a noite, as pesquisas estão sendo feitas e é preciso tempo para concluí-las", atesta.

Também afirma a honestidade de sua diretoria, argumentando que, se fosse para atender aos interesses das grandes mineradoras, teriam vendido os direitos de exploração da mina e que da forma que está irão deixar um legado produtivo por muito tempo, rendendo frutos para filhos e netos dos 45 mil associados à entidade.

Etevaldo Arantes, líder do Movimento dos Garimpeiros e Trabalhadores da Mineração (MTM) e um dos elaboradores do Estatuto do Garimpeiro, acusa a Vale de atuar em todas as frentes possíveis para manter o controle da área, inclusive usando de truculência física e econômica. "Nós só temos uma inimiga, que se chama Vale, e um obstáculo, que é nossa desorganização interna. Ao longo do tempo eles aperfeiçoaram a arte da intriga, abandonaram a violência física e se especializaram em dividir para conquistar. Nunca houve uma diretoria da Coomigasp que não fosse comprada pela Vale, assim como hoje a Colossus é sua aliada", afirma.
Heleno Costa, gerente do projeto Serra Pelada da mineradora canadense, afasta a possibilidade e garante a independência de sua empresa, alegando que "a Colossus é uma empresa com vida própria, ações na bolsa de Montreal. Não tem nada a ver com a Vale". Avalia que a mina não é tão grande quanto o garimpeiro acredita e que a questão deve ser tratada de forma mais realista, mais técnica. "O ouro só passa a ser riqueza quando é extraído, enquanto ele estiver embaixo da terra você só terá o contraste entre este potencial de riqueza e a miséria que é Serra Pelada. A mina está parada há mais de vinte anos e isso não favorece ninguém. Criar uma mineradora própria não é tão simples, requer conhecimento tecnológico, administrativo e capital", acredita.

O posicionamento político da população reproduz a multiplicidade de facetas da questão. Escaldados por quase 30 anos de conflitos de interesse a seu redor, desenvolveram faro apurado para identificar contradições em todos os grupos, inclusive no próprio. Apenas dois temas são unanimidade: Vale e ouro. A primeira simboliza para o garimpeiro tudo que se moveu contra seus interesses nos últimos 28 anos, "não queremos vê-la nem coberta de ouro", ironizou um trabalhador coberto de terra. A esperança no segundo é a única coisa que mantém Serra Pelada existindo. A vila está em estado de espera há duas decadas e vai continuar assim enquanto o metal dos garimpeiros estiver no subsolo. Não existe outro remédio para a febre do ouro.

Outro lado
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Vale declarou ter abandonado completamente seus interesses na área junto com a cessão do direito de exploração à Coomigasp. Classificou como falsas as acusações de truculência física e financeira realizadas pelo moradores e afirmou não ter qualquer ligação com a Colossus. Afirma ser, também, hoje a empresa que mais investe e gera empregos no Pará.

História de Serra Pelada: da primeira pepita ao fechamento do garimpo

História de Serra Pelada: da primeira pepita ao fechamento do garimpo


Estima-se que cerca de 120 mil pessoas viveram ali eno auge do garimpo, de 82 a 86. A primeira pepita foi encontrada em dezembro de 79, por um vaqueiro da fazenda do velho Genésio, dono daquelas terras. A fofoca correu e, entre fevereiro e março de 80, mais de 30 mil homens chegaram ao local. A princípio o ouro era só na Grota Rica, um curso dŽágua que dava pepitas na raiz do capim, nem precisava cavar quase nada. Não demorou muito para encontrarem um dos maiores depósitos de ouro do mundo logo ali ao lado, a aberração geológica que conhecemos como Serra Pelada.

  • Breno Castro Alves/UOL
    Núcleo de extração do ouro em Serra Pelada, em foto de 1983, época do "formigueiro humano"...

Começaram a descer os barrancos. Quem chegasse ali primeiro e demarcasse seu espaço era o dono da área. Todo mundo com um revólver 38 na cintura, não havia disputa física e a palavra do homem valia. Os barrancos mediam 2 m x 3 m e iam descendo, saindo dali em sacos nas costas dos trabalhadores. As pepitas eram mais raras, o grosso estava em pó. O solo retirado era quebrado, lavado e passado no mercúrio, material que se liga e concentra o ouro. Ao aquecer a mistura dos dois metais o mercúrio evapora primeiro, deixando para trás a riqueza dourada que motivou toda essa história.

O lucro e os custos do ouro, ambos muito altos, ficavam para os sócios do barranco. Os trabalhadores recebiam diárias e uma pequena porcentagem na exploração, que com um pouco de sorte seria uma fortuna. Muita gente enricou, reinvestiu, perdeu tudo, enricou novamente. Era uma loteria, mas com chances elevadas de acerto. O título de maior garimpo do mundo não é gratuito, custou muito ouro.

Água no Tilim
Em 84, o presidente Figueiredo pagou uma indenização de US$ 69 milhões à Vale, então a estatal Companhia Vale do Rio Doce, que detinha o direito de exploração mineral da área, incorporado da Amazônia Mineração S/A em 1981. O acordo previa o fechamento do garimpo em três anos ou por mais vinte metros de profundidade, quando alcançaria a a cota 190, número que representa a altitude em relação ao nível do mar. O garimpeiro entendeu o interesse da companhia naquele depósito e a cota 190 alcançou patamar quase mítico, muitos sustentando que ali 60% ou 70% de todo o material seria ouro puro. A descida foi desenfreada e aumentou a cobrança de vidas nos barrancos que, sem estrutura, desabavam soterrando garimpeiros na própria riqueza que buscavam.

  • Breno Castro Alves/UOL
    A riqueza passada sobrevive nos dentes e no pescoço dos homens
Em 85, próximos à sonhada cota 190, o buraco foi interrompido pelas autoridades. Desligadas as bombas de sucção, o Tilim, ponto mais profundo da cava, encheu de água no irrigado solo amazônico. Utilizando o argumento da segurança, fecharam aquele garimpo para abrir novo bem ao lado. 

Segurança nos homens
A nova descida prosseguiu de forma mais racional, menos íngreme em direção ao fundo e mais segura. Foi a partir de 1987, quando novamente se aproximavam da cota 190, que sabotagens e boicotes se tornaram freqüentes. Diversos motores das bombas de sucção foram inutilizados com areia e açúcar em suas engrenagens. De um dia para o outro o segundo Tilim amanhecia submerso, necessitando muito tempo de trabalho para drená-lo com as máquinas dos garimpeiros.

A passagem da água criava sulcos nas paredes da cava, aumentando muito o risco de desabamento. Em busca de segurança era preciso derrubar aquelas paredes frágeis dentro do próprio buraco que abriam, para só então recomeçar a cavar. Após muitos dias de trabalho voltavam ao ponto que estavam antes e não passava muito tempo até nova sabotagem ocorrer, exigindo repetir o trabalho. Essa estratégia quebrou financeira e moralmente o trabalhador que ainda insistia em sua busca. Em 88 se tornou inviável prosseguir e o garimpo em Serra Pelada, ao menos na cava, o buraco mais profundo, terminou. Para o garimpeiro, o mote "agua no Tilim e segurança nos homens" se tornou símbolo cínico da sabotagem que os impediu de chegar aos depósitos mais profundos de ouro.

Quadro atual
Ainda em 1987, antes do vencimento do prazo de três anos do acordo de 1984, o congresso aprovou lei aumentando o tempo de exploração da área pelos garimpeiros. Em seguida, sucessivos decretos ampliaram este prazo até 92, quando Collor conferiu novamente à Vale o direito de lavra da região. Dez anos depois, em 2002, o Congresso aprovou lei restabelecendo a possibilidade de garimpo e em 2004 foi a vez do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) definir que a garimpagem só poderia ser feita mediante cessão da Vale. 

Em março de 2007, a empresa cedeu o direito de exploração à Coomigasp, que assinou com a mineradora canadense Colossus em julho do mesmo ano. Desde então a composição do cenário é a mesma, a empresa vem cumprindo sua parte e deve apresentar relatório técnico no final de 2009, para só então recorrer o alvará de lavra da área, que permite a exploração mineral.

Em sua parte mais profunda, o lago de Serra Pelada possui 120 metros de profundidade. Acima d'água não difere muito de um lago comum, talvez exceto pela montanha recortada que se projeta morro acima. Abaixo da superfície, depositadas no solo envenenado de mercúrio, estão sobrepostas camadas de ouro, lama, sangue e ganância humana.