segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Ouro no barraco

Ouro no barraco

Na balsa, peão fez uma festiva algazarra com a chegada do café. “Caranguejo” me saudou em primeiro lugar: “Ei, ‘Lampião’! Nós estamos bamburrados e as putas não sabem!”. “Chico Índio”, por sua vez, sequer esperou a voadeira encostar para me exibir a última cuiada, feita na terra rica, por baixo da sarrapilha. A tocha amarelo-vivo brilhando úmida no fundo da cuia despertou o meu contentamento, mas não excitou a minha ambição. Já estou acostumado com esses ouros comerciais. Por via das dúvidas, em respeito à alegria da peonada, descarreguei o meu trinta-e-oito para o alto, exibindo de propósito a minha rapidez no gatilho.
Depois da rajada e dos gritos de guerra de sempre, calculei de imediato que aquela puxada renderia, no mínimo, duzentos gramas, ouro suficiente para fazer uma avionada de óleo e outra de rancho. A rotina de um balseiro não permite devaneios. O rigor que a extração do ouro exige atenua com o tempo o apelo mágico do metal. O poder sedutor do ouro é parecido com a atração provocada por uma linda mulher. Seus encantos se desfazem lentamente a cada sessão de amor. “Locutor”, o terceiro mergulhador, me saudou com um martelo na mão, em pleno trabalho de despesca da caixa debaixo.
Quando o “Barbudo” estava sadio, mandei montar a cobra-fumando do outro lado da pequena ilha onde estávamos acampados. No lugar, um remanso calmo e quase escondido, existia uma praia de verão escurecida pelo esmeril de um curimã antigo. Lá estou lavando minha terra rica há mais de dois meses. O novo curimã já engordou, fez uma praia nova e está quase no ponto de uma repassagem. Vando, o dono de uma croíra quatro-polegadas, me pediu outro dia o direito de repassar minha terra. Eu lhe disse que iria esperar a estiagem se firmar para liberar o curimã para os requeiros. Vando não gostou da minha decisão, fez cara feia e me disse: “Porra, ‘Lampião’, os curimãs dos garimpos são públicos. Eu estou lhe pedindo por uma questão de educação”. Falando desse modo, ele insinuou que poderia apoitar no meu porto quando quisesse. Eu me zanguei com a mariscagem do Vando e respondi, em cima da bucha: “Esta ilha, no momento, está sob meu domínio. O porto fui eu quem fiz, a cobra é de minha propriedade e o curimã eu libero quando eu quiser, para quem eu quiser”. Acho que minha resposta foi bem entendida. Com essa estrovada, Vando ficou velhaco e mudou o seu barraco para outro canto do rio.
Esse apelido, “Lampião”, que o “Tião Fera” inventou há alguns anos, parece que me protege. Qualquer peão sabe a história do verdadeiro Lampião. No sertão da Bahia, onde nasci, a fama do Virgolino é tão grande que ninguém ousa apelidar alguém com esse nome. No garimpo, onde tudo é possível, me batizaram desse modo e não há nada que eu possa fazer para apagar esse apelido. Não tenho apelo. Vou morrer um “Lampião”.
Minha cobra-fumando já lavou muito ouro. Eu a carrego desde o rio Crepori onde, um dia, na fofoca do “Jenipapo”, despesquei com quase quilo e meio do metal. Essa lavagem, que exigiu três empanamentos, não deixou soltar um fagulho para os requeiros. A cobra é mansa de boas despescagens e os peões não se cansam de falar bem dela. A limpeza final do ouro é o momento mais delicado do garimpo. Hoje, diante desta considerável despescagem, decidi assumir a limpeza até o fim. Por uma questão de prudência e seguindo à risca os zelos que o metal exige, dei um demorado banho de fogo nas cuias e nas bateias, a fim de eliminar qualquer traço de gordura. Quando atracamos a voadeira para lavar a terra no porto do curimã, “Caranguejo” me disse que, depois da queimada, desejava ter um particular comigo. Perguntei qual era o assunto, pensando em algum problema ligado à balsa e ele me respondeu: “Eu quero apenas uns conselhos do senhor sobre uma questão de mulher”. Notei que “Caranguejo” estava preocupado, embora participasse da alegria coletiva em torno da boa despescada. Percebi também que ele me chamou de “senhor”, tratamento que peão maranhense só usa em situações muito sérias. Acho que o “Caranguejo” está envacorado por uma mulher do cabaré do “Bigode”. Mas, no momento, a minha preocupação é a empanação da cobra-fumando.
Naturalmente, e sem que eu mandasse, cada peão assumiu um posto na lavagem da terra rica. “Locutor” escolheu o desembarque do material, “Chico Índio” quis bater água e “Caranguejo” ficou na aparação da bateia. Eu, o empanador do dia, fiquei no ralo. A terra rica, que não era muito, foi lavada em pouco mais de meia hora. O trabalho maior é a despescagem. Nesse caso, sabendo de antemão que os panos estão carregados de ouro, é preciso sacudi-los com muito cuidado.
Eu disse aos meus peões que a lavagem na cobra-fumando é a missa sagrada do garimpo. Eles sorriram. “Caranguejo” interveio, comentando que estou sempre mexendo com palavras difíceis. Mas, é verdade o que eu disse. Os cuidadosos e medidos movimentos da despesca e a limpeza da terra rica são sempre acompanhados de um compenetrado clima de respeito. Quando o ouro fica visível em meio ao esmeril e começa a escorrer pelos cantos da cobra, o garimpeiro é tomado por um sentimento de embevecimento superior. Nesse momento ninguém fala. No meu caso, não tenho vergonha de dizer que fico emocionado. Na seqüência desse cerimonial, gosto de encaminhar o ouro para o balde com suaves golpes de água. Assim, o metal não bóia, desce lentamente no rumo do rabo da cobra e não perco um só fagulho do metal. Quando estamos bem mansos nesse trabalho é possível limpar o ouro sobre a cobra e evitar o azougamento. Os garimpeiros manuais sabem fazer isso muito bem.

No fim da nossa missa, quando o converseiro foi retomado com animação, lembro que o “Locutor” apontou o ouro e exclamou: “Isto aqui não é bosta-de-macaco, não, peão!” “Caranguejo”, entre outros comentários, repetiu uma frase do pessoal do baixão, sempre dita em cima de bamburro ou ourinho de vantagem: “Se algum dia já fui blefado, hoje não me lembro!”. “Chico Índio” não deixou por menos e comentou, sorridente: “Ei, ‘Lampião’, num ouro desse eu me aconsôo e fico velhinho!”. Encerrei a despesca, gritando sem inspiração: “Eta, porra! Caralho!”.

As leis do garimpo

As leis do garimpo

É público e notório que a sociedade do garimpo não segue as leis convencionais seja a da cidade ou do campo; tem a sua própria lei que a despeito de suas qualidades e problemas está regendo a vida de centenas de milhares de homens e mulheres da Amazônia.
          Lei, ou melhor, código foi criado pela prática, pela necessidade de sobrevivência em condições adversas dos homens que vivem o fenômeno do ouro brasileiro. Nasceu este código ético sem ser imposto por nenhuma autoridade, ou seja, naturalmente. Só é comparada a velha lei da costa oeste da América do Norte tão decantada pelos inúmeros filmes e livros, retratando essa época de pioneirismo.

          A lei não é escrita, divulga-se oralmente. As cláusulas principais desta lei ou código de vida são:
1.     – Direito de propriedade:
- É dono o cidadão que descobriu, comprou ou construiu a seu custo e está assumindo a propriedade em questão. Comprar e não assumir não implica em propriedade; a propriedade da descoberta vale na medida em que o descobridor tem condições de assumir o empreendimento implícito;
- não é necessário usar guarda-costas, segurança, sistema de alarme no garimpo todo mundo porta cordões de ouro e pepitas bem á vista, pois por tradição não há ladrões. O preço deste crime é o justiçamento primário;
- a demarcação do território é valida, sendo respeitada, mas a condição de que a dimensão da área assinalada corresponde à capacidade de trabalho do pretendente. Se esta for muito maior, a pressão dos vizinhos será forte demais e o demarcador deverá ceder parcelas ou sua área será redimensionada.
- o fenômeno de relacionamentos, amizade, boa vizinhança é a melhor garantia do direito de propriedade. O garimpeiro – descobridor procura resguardar seu quinhão, associando com amigos dividindo o bolo, visando consolidar forças para garantir suas áreas de atuação.
Tenta se com a penetração da Lei brasileira nos garimpos, utilizar outros meios para delimitar propriedades, como requerimentos de PLG e Terra Legal e abertura de campos de capim, violando outras leis, as de meio ambiente.
Quando a lona de um barraco é desmontada  nos garimpos de fofoca, o barraco não é mais do seu construtor, mas de qualquer um que o cobrir de novo.
Curimã de terra firme é do garimpeiro que o produziu, o curimã de balsa ou draga é de todos, mas só se a balsa ou draga já tiver saído do local.

2.     – Da relação entre as pessoas:
- O homem que necessitar da companhia de uma mulher, vai à currutela e lá estabelece as bases de seu relacionamento sendo o acordo fielmente mantido pelas partes envolvidas.
- O homem pode levar uma mulher para o seu barraco no “baixão”, transformando-a assim em sua companheira ocasional por alguns dias ou semanas e deverá recompensá-la no final da estadia com uma parcela substancial dos seus ganhos em ouro, mas devera negociar com o dono do cabaré.
- A mulher que dançar e beber com um homem na boate do garimpo, não poderá trocar de parceiro, salvo se o primeiro desistir dela, caso contrário a pena é de uma multa a ser paga ao primeiro homem; Essa regra criada para evitar tiroteios é controlada pelo cabereizeiro que indemnizara o primeiro parceiro da mulher com bebidas e outra mulher,  tudo descontado na conta da mulher infiel.
Mulher é propriedade do dono do cabaré, já que ele pagou para ela entrar de avião e mais outras despesas; ela poderá se liberar se pagar o seu próprio passo, senão ela será vendida a quem pagar o peso em ouro exigido por ele; o dono do cabaré determina o valor em função dos dotes da mulher, somados com as despesas de viagem e eventual consumo de medicamentos. Muitos donos de cabarés são donas, mulheres. O fato de ser vendida por um bom ouro é uma honra para a mulher,
Mulher pode sair da boate se pagar a multa por dia ou noite; essa multa foi instituída para evitar o desvio do uso da mulher.
Se a mulher conseguir com a saída dela, trouxer um cliente bamburrado até a boate, a multa será perdoada;
- Os jogos a dinheiro implicam em sérios compromissos. O não pagamento de uma divida de jogo leva à morte;
- Não se mata um homem pelas costas, salvo se o mesmo é um assassino e está sendo justiçado.
Algumas regras, em relação à mulher caíram em desuso nos locais de fácil acesso;

      3.  – Do dia a dia:
         - Avisar quando chega ao barraco: bater palmas ou gritar um Olá bem alto, é
                 suficiente;
-O Reco do fundo da canoa é da cozinheira;
- As regras de hospitalidade do resto do Brasil são mantidas; sempre há café e feijão para os visitantes
- A cozinheira do barraco é objeto de respeito, salvo se ela não se der respeito.

4– Dos negócios:
- Tudo no garimpo se resume a água, espaço e ouro; tais elementos regem a atividade garimpeira invariavelmente;
- Não existe recibo em garimpo. O acerto oral com ou sem testemunhas tem força de lei;
- Financiamentos realizados à semelhança dos bancos, não utilizam juros; pagamentos são feitos em ouro e o recebimento também. O interesse do financista consiste na necessidade em conseguir ouro para o seu negócio.
- O sistema financeiro posto em prática no garimpo não utiliza prazos; o pagamento é feito quando o tomador do empréstimo conseguiu extrair o seu ouro;
- Quando um tomador de empréstimo não consegue devolver o capital devido, graças a uma adversidade, pode receber um novo empréstimo. Se persistir a adversidade, seus bens tais como pista, barrancos, direitos, entre outros, serão entregues ao financiador.
As divisões dos ganhos (percentagens de produção) segue pontualmente o acertado
          A pena de desobediência a um acordo oral é a mais terrível do garimpo, resulta no desprezo geral que leva invariavelmente o acusado à falência lenta que é pior do que a morte.

5. – Os velórios:

Os velórios são importantes, pois são cerimônias que mantem o homem do garimpo afastado da condição mais primitiva e também tem regras:
O morto tem dono, e o dono é o patrão dele que será obrigado a pagar as despesas do velório que são basicamente uma grande quantidade de cachaça e velas além de pagar os trabalhadores para o transporte e o enterro.
Com a pressão das autoridades policiais, enterros passaram a ser feito nas cidades circundando o garimpo, o que obrigou os donos dos mortos a pagar por frete de avião.
  
6. – Dos justiçamentos:

          O tribunal só tem um juiz, o dono do serviço, e geralmente o carrasco é o próprio juiz, já que mandar fazer é considerado ato de covardia.
A sentença é pública, pois mantem a coesão do garimpo e a noção de cumplicidade ou co-autoria.
          Diversas cláusulas deste código natural estão em contradição flagrante com a lei oficial da nação e aparentemente necessita para se manter de um isolamento geográfico.
           Na realidade, não existe nenhuma “república livre” na Amazônia, em toda essa vasta região, segue-se mais ou menos a lei do garimpo com o beneplácito das autoridades governamentais que se integraram emocionalmente à vida do ouro.
        Existe desde a penetração das estradas, um abrandamento deste código e uma mistura com a Lei brasileira, cada qual usando a que melhor lhe convier.
        A demora conhecida da justiça oficial é um entrave para a migração completa de uma lei para a outra.

        Outra dificuldade é o total desconhecimento por parte dos juízes locais da lei mineraria (Código de mineração) que é a lei que mais penetrou nos garimpos.

Os erros “culturais” dos geólogos do Canada no Tapajós

Os erros “culturais” dos geólogos do Canada no Tapajós

Ninguém discute a competência dos geólogos canadenses para aplicar a Lei 43101 do mesmo pais, mas como eles não conhecem curimãs nem rejeitos eles acabam amostrando os como se fossem solos normais desfigurando completamente os resultados da análise geoquímica e enganando a si próprios;
Pior, quando os curimãs são antigos e a mata acaba igualando visualmente solos originais e solos transportados;

Um Curimã esta ainda cheio de ouro, pois o garimpeiro não consegue tirar todo o ouro; qualquer garimpeiro sabe disto, e os resultados da análise, comparados ao solo normal serão naturalmente fantásticos, mas o curimã não esta mais locado onde estava o ouro primário e sondar este local baseado nestes resultados só pode dar errado.No Pará ainda tem 300 toneladas "NO LIXO" ou CURIMÃ, que os garimpeiros não conseguiram retirar em mais de 60 anos.
Não se mistura alho com bugalho, fala a sabedoria popular; portanto solo é solo (é alteração da rocha), curimã é curimã (rejeito transportado dos garimpeiro);
Esses geólogos conhecem o efeito pepita quando eles ocorrem nas sondagens (vertical) e eles descontam dos cálculos de cubagem, mas parecem que se esquecem de aplicar a mesma lei, quando esse fenômeno ocorre na horizontal nos mapeamentos geoquímicos. De fato a lei 43101 não fala deste efeito quando nos mapas geoquímicos, esqueceram não; não existe curimã no canada; O Brasil tem muitas minas abandonadas e ricas em Curimã, toneladas de ouro.

O croqui anexa mostra um trabalho aparentemente bem feito, mas com resultados errados por causa deste erro cultural. Corresponde a um projeto real e falido que não podemos citar. Milhões de dólares investidos nas matas do Tapajós com a perda financeira de milhares de investidores anónimos de fora do pais e a perda de credibilidade que acaba atingindo a todos nos;

O garimpeiro não esta a MARGEM DA HISTÓRIA

O garimpeiro não esta a MARGEM DA HISTÓRIA



Ele é parte da historia do Brasil, ele é o Brasil desde os seus primórdios.
Negar o garimpeiro é negar a própria essência do Brasil.
Nada diferencia o caucheiro dos tempos de Euclides da Cunha com o garimpeiro de hoje a não serem as ferramentas de trabalho mais poderosas.
Une o caucheiro ao garimpeiro pela forma de vida errante, pela violência, pela recusa as regras da sociedade organizada;
Une à sociedade de1905 a sociedade atual o mesmo olhar da sociedade Legalista da época e de hoje tanto ao caucheiro, como ao garimpeiro, o olhar condescendente ou horrorizado a um Brasil diferente.

O geólogo Fernando Lemos que conhece e preza a Lei e suas nuanças e reconhece isto pinçou com sua vasta cultura para ojornal do Ouro, as frases da literatura mostrando um Brasil verdadeiro de mais de cem anos que ate hoje persista com as suas mesmas singularidades humanas.
Reconhecer a diferença é prova de inteligência, concordar como ideal para uma nação moderna é outra coisa, mas recusar a realidade como muitos e querer impor a Lei da maioria pela força é prova de limitação intelectual e de desconhecimento da sua própria história;
Abaixo citações do escritor brasileiro Euclides da Cunha retiradas do livro “a margem da história” a respeito do Brasil amazônico em formação que ele conheceu e retratou de forma magistral. As diferenças da língua portuguesa não escondem a similaridade de atitudes entre a sociedade atual do garimpo com a sociedade dos caucheiros da Amazônia no ano de 1905, 109 anos atrás,
“completamente sós, acompanhados apenas do rifle inseparável, que lhes garante a existência com os recursos aleatórios das caçadas. Ali mourejam improficuamente longos anos; enfermam, devorados das moléstias; e extinguem-se no absoluto abandono. , ao mesmo tempo que o invade o sentimento da impunidade para todos os caprichos e delitos, cai, de um salto, numa selvageria originalíssima, em que entra sem ter tempo de perder os atributos superiores do meio onde nasceu.
Realmente, o caucheiro não é apenas um tipo inédito na História. 
Junta-os apenas sem os caldear. É um caso de mimetismo psíquico de homem que se finge bárbaro para vencer o bárbaro.  reponta em todos os atos da sua existência revolta. O mesmo homem que com invejável retitude esforça-se por satisfazer os seus compromissos, que às vezes sobem a milhares de contos, com os exportadores de Iquitos ou Manaus, não vacila em iludir o peón miserável que o serve, em alguns quilos de sernambi ordinário; 
 A selvageria é uma máscara que ele põe e retira à vontade.
.Arruina-se galhardamente; e volta... Reata a faina antiga: novos quatro ou seis anos de trabalhos forçados; nova fortuna prestes adquirida; novo volver ansioso em busca da fortuna perdidiça, numa oscilação estupenda das avenidas fulgurantes para as florestas solitárias.
Não há leis. Cada um traz o código penal no rifle que sobraça, e exercita a justiça a seu alvedrio, sem que o chamem a contas.

Um guia para driblar os problemas entre técnicos brasileiros e estrangeiros.

Um guia para driblar os problemas entre técnicos brasileiros e estrangeiros.



Muitos técnicos brasileiros reclamam que não podem usar a língua pátria, pois os chefes só falam inglês; não adianta reclamar que “aqui é Brasil, e aqui tem que falar português”, invariavelmente a resposta será incisiva, “é Brasil, mas o dinheiro fala inglês”. Aproveita para usar isto para melhorar o seu inglês.

- Técnicos estrangeiros mal conseguem disfarçar um racismo imbuído e produzido pelos filmes ao qual eles tiveram acesso na infância; geralmente ele acaba perdendo esse sentimento de superioridade pouco a pouco no contato com os técnicos brasileiros. Pior do que o racismo é a sensação que é superior por vir de um pais mais avançado em termos sociais e educacionais (o nariz empinado); essa sensação de superioridade o levara a ter atitudes estranhas em relação principalmente com os trabalhadores e ajudantes de campo que ele considera realmente inferiores; ai esta o perigo e onde você deve intervir.
- Os trabalhadores no Tapajós são contratados nos garimpos e eles estão formados na lei do garimpo, e na lei do garimpo, o insulto a um homem pode provocar morte; o técnico estrangeiro não sabe disto, mas você como brasileiro e observador atento é obrigado a saber. Tem que evitar a qualquer custo, a morte de um técnico deste por um trabalhador insultado; seria um desastre para o projeto. Para isto deve falar para o trabalhador que o técnico falou sem conhecer a nossa língua e falar para o técnico estrangeiro que realmente, se não se policiar, poderá ser morto. Normalmente ele abaixa a crista, mas não fica tranquilo, a natureza dele vai se sobrepuser em rompantes.
Os dados de pesquisa escondidos: algumas empresas escondem os dados de pesquisa; você, brasileiro, participa da coleta, mas só eles controlam a síntese dos dados. É horrível!
Os softwares de ponta: tente apreender a usar os softwares de ponta que os técnicos estrangeiros utilizam; quando vir a cidade procura esses softs para comprar. Os deles são bloqueados.
O brasileiro esta vacinado contra as prostitutas do cabaré vizinho, mas o estrangeiro, não; um simples sorriso pode levar o técnico a ficar um escravo desta mulher. Ele não tem nenhuma defesa contra essas mulheres, essencialmente as que são mais carismáticas e ela vai o depenar depois de casar com ela; o seu papel é o proteger e evitar que ele vá no cabaré; se não conseguir, a sua nova chefe será a prostituta do lugar. Aproveita para pegar ela. Ficara com a sensação de pegar a mulher do chefe; sempre é bom!.... para o ego!!
O erros culturais na pesquisa: geólogo estrangeiro não diferencia curimã de solo. Ele vai se entusiasmar com os resultados dos curimãs e vai querer sondar lá; tente evitar para não levar o projeto a falência;
Os erros culturais próprios a Amazônia: Os geólogos estrangeiros não sabem o que é malária, leischmaniose, etc.. resistem em usar borrifadores  que eles consideram tóxicos. Vão apreender rápido, pois essas doenças tem predileção conhecida em pessoas de fora. E vão querer se tratar no Canada onde os médicos não conhecem a doença. Tenta proteger a você e a eles. Se pegar, faz de tudo para iniciar o tratamento deles em Itaituba ou Novo Progresso onde tem médicos que entendem desta doença; nesta hora, vão ficar tão fracos que não saberão dizer não; Depois do sofrimento, e com 10kg a menos, vão lhe ouvir mais,
As certificadoras: é o DNPM deles. São muito rigorosas, mas extremamente sérias e entendem tudo da Lei 43101. Tente apreender com eles;
A sua vingança: a fiscalização do DNPM: é o momento onde eles vão precisar de você
O relatório ao DNPM terá que seguir a legislação que invariavelmente é feita por pessoas que mal entendem do assunto, mas colocar mais da metade do relatório com bobagem como clima, hidrografia e outros dados bibliográficos ou copiar as suas aulas de geologia ou os relatórios da CPRM é inócuo. Os geólogos do DNPM só leem os relatórios a partir do item TRABALHOS REALIZADOS; este item nos relatórios dos seus chefes é conciso, objetivo e frio. Assim deve ficar nos relatórios ao DNPM; os mapas podem ficar em inglês. Geólogo do DNPM fala inglês e os símbolos são internacionais
A experiência e criatividade a brasileira criaram metodologias eficientes como contagem de pintas, mas eles não aceitam, pois os dados podem ser subjetivos. Tenta fazer os dois em paralelo; quando eles observarem os resultados, vão aceitar, mas só os dados de geoquímica vão constar dos relatórios deles;
As diferenças monstruosas de salários: nos orçamentos dos trabalhos de pesquisa, há dois itens para o pagamento dos geólogos: Canadian geologists e Brasilian geologists: a diferença de valor é monstruosa.
Submissão ou enfrentamento? Se esta seguro de sim, deve enfrentar. Se enfrentar, eles recuam; senão eles vão fazer de você, gato e sapato!
Não adianta você mostrar o seu domínio teórico, pois eles não querem saber de onde vem e como veio o ouro. Só querem saber onde ele esta; e a empresa só quer mesmo saber disto.
Você pode ser o chefe no inicio, mas não o será sempre: Se a área é sua, se vai começar como chefe, mas a medida que o dinheiro deles vai abastecendo o projeto, a sua parte diminua proporcionalmente. Quando tiver menos de 50%, vão lhe tirar de lá progressivamente. Vai ter uma fase intermediaria onde vão lhe prestigiar e depois tchau!
Junior Company é empresa de papel. No inicio esta bem, no final não paga as contas: não entre no jogo deles e nunca aceita ser o presidente, pois a justiça do trabalho acabara lhe deixando liso ate a terceira geração. Pena para o seu ego, mas ego mata.
Outra coisa importante: eles não trabalham no objetivo de tirar o ouro deste lugar, mas só de inflar as ações. Depois das ações subirem. Eles vendem e deixam todo mundo a ver navios.
Skype: o Skype é a ferramenta do poder. Os chefes comandam a partir do Canada diretamente nos técnicos locais estrangeiros e todas as fofocas passam pelo Skype, inclusive o que você fala diariamente;
Cozinheiras canadenses: não se assusta se vier do Canada uma cozinheira e que ela vai ter um salario maior que o seu. Eles gostam da comida dela.
O canada tem muitas geólogas mulheres, mas vai ficar impressionado. Trabalham no mato igual ou melhor do que homens
Das diferenças tão culturais como técnicas tem que encontrar uma forma de somar para o benefício da empresa. Apesar de eles não reconhecer, você é muito importante para o projeto, só que eles não sabem. E você tem que reconhecer que a formação universitária deles é prática, objetiva e a sua infelizmente muito teórica.