quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O ouro de Pontes e Lacerda: a verdade por trás do sonho

O ouro de Pontes e Lacerda: a verdade por trás do sonho



 
De tempos em tempos notícias de descobertas de ouro ou diamantes alvoroçam o país causando verdadeiras corridas.

É o caso do Ouro de Pontes e Lacerda no Mato Grosso.

Segundo os locais um garimpeiro descobriu, em uma fazenda do município de Pontes e Lacerda (imagem), próximo da superfície, uma verdadeira bonanza: 20 quilos de ouro avaliados em mais de dois milhões de reais.

A notícia vazou e, em poucos dias, centenas de pessoas invadiram o local causando a mais nova corrida do ouro do país. Os números são controversos e alguns estimam que existam milhares de pessoas pesquisando o ouro de Pontes e Lacerda.

Os comerciantes, que sempre ganham nestas circunstâncias, celebram.

Em poucos dias os estoques de pás, picaretas, mangueiras e demais equipamentos para a garimpagem simplesmente desapareceram. Os taxistas não param de levar os recém-chegados ao garimpo que abriga, também, muitos cidadão de Pontes e Lacerda que não querem perder a oportunidade de enriquecimento rápido.

Na serra onde o ouro foi descoberto, milhares de pessoas tentam, atabalhoadamente, achar o metal amarelo. A maior parte dessas pessoas simplesmente de nada entende e é presa fácil para os espertos comerciantes.

Eles compram, escavam, testam e nada recuperam, ficando neste ciclo de prejuízos até que seus recursos acabem.Esta é a história da grande maioria que não consegue recuperar um grama do metal precioso.

É assim nos “garimpos de bamburro” onde a riqueza de poucos alimenta a esperança de muitos: a indústria da esperança.

Enquanto isso as fotos de pepitas gigantescas, a maioria são nitidamente falsas (veja a foto) invadem as mídias sociais iludindo a muitos com promessas de enriquecimento rápido.

Mas, infelizmente para a maioria, a história será muito diferente.

A maior parte da anomalia, onde existem as ocorrências de ouro, está requerida pela Serra da Borda Mineração S.A., uma empresa da Yamana Gold.

A mineradora controla esses alvarás de pesquisa desde 2005 e, muito provavelmente irá providenciar a retirada dos invasores que não podem, legalmente, fazer a extração.

Vai ser um triste final para milhares que colocaram suas esperanças em um sonho dourado.

Criatividade chinesa: o país importa mais minério de ferro e exporta aço excedente

Criatividade chinesa: o país importa mais minério de ferro e exporta aço excedente



 
Apesar da desaceleração da economia a China continua a importar enormes quantidades de minério de ferro. Em setembro as importações foram 16,2% maiores que agosto, atingindo 86,1 milhões de toneladas.

É o maior volume mensal importado em dois anos.

O que está acontecendo é que os chineses estão tendo uma superprodução de aço cujo excedente está sendo direcionado para o mercado externo.

Em decorrência deste excesso a China bate recorde de exportação de aço em setembro, que atingiu 11,25 milhões de toneladas.

Enquanto todos esperavam ver uma queda da importação chinesa de minério de ferro os chineses, aproveitando os baixos preços e as facilidades oferecidas pelas mineradoras, pisaram no acelerador e aumentaram as importações. E, para complementar, eles exportaram o aço excedente, de volta para o mercado internacional em uma jogada inteligente: importam minério a US$50/t e exportam aço com valor agregado.

Os europeus estão, agora, acusando os chineses de dumping, pois acreditam que esses estão exportando aço subsidiado.

Do outro lado desta equação as mineradoras Vale, Rio Tinto e BHP aumentam suas exportações tentando abocanhar este mercado excedente.

Até quando esta situação irá perdurar é a pergunta que muitos se fazem. A resposta parece estar na capacidade dos chineses de venderem o seu aço barato na Europa e Ásia...

Como tudo que diz respeito a China não existe uma resposta simples e matemática.

É melhor esperar e ver os desdobramentos.



Foto: Stringer/Reuters

terça-feira, 13 de outubro de 2015

UMA VIAGEM PELO RIO TAPAJÓS ATÉ AS DRAGAS

UMA VIAGEM PELO RIO TAPAJÓS ATÉ AS DRAGAS


 Fiz uma viagem pelo Rio Tapajós, até próximo à comunidade do Acará, onde estão trabalhando cerca de 70 dragas (balsas). A viagem começou às 8:30 horas, quando sai de casa em companhia do meu cunhado Erasmo Braga e do meu amigo Tola. Seguimos de carro até o Buburé, onde encontrei o amigo Índio, que já estava “melado”, como sempre, tinha tomado todas. Ali encontrei o Veloso, um pioneiro da garimpagem na região do Jatobá, o piloto de Voadeira Mamede, que me emprestou uma cadeira, para que minha viagem fosse mais confortável, o piloto Zé da Conci do Pimental e duas moças, que nos pediram carona até as dragas. Embarcarmos na minha voadeira ANDRIA, que estava há dias no Buburé, aguardando esta nossa viagem, sob o comando do experiente Erasmo Braga, filho do grande Carlito Braga, um dos comandantes de barco mais conhecidos e experientes do Rio Tapajós. Nossa viagem ocorreu a partir das 10:00 horas, e fui conversando com as duas jovens, que inicialmente me disseram que trabalhavam de cozinheira nas balsas. Na conversa revelaram que ganham em torno de 35 gramas de ouro por mês para cozinhar e lavar roupa. Uma coisa que me chamou atenção foi que as moças declararam que nas dragas se come bem, ou seja, tem de tudo. Para se ter uma idéia, a cozinheira tem que saber fazer pão, bolo, salgados e até pizza, já que ali é servido café, almoço e jantar, além de merenda. Isto nós constatamos na nossa visita nas dragas, pois tudo que é servido nestas é de primeira. Mas voltando ao depoimento das moças, elas disseram que estão trabalhando nas balsas porque na cidade de Itaituba não há emprego. Inclusive afirmaram que depois que começou a exploração de ouro com draga a vida de muita gente mudou em Itaituba e na região, inclusive a delas. Chegando à região onde estavam as dragas, deixamos uma moça na Draga MARIANA e a outra na Draga  RABUGENTA. Passamos a visitar de uma em uma das dragas, vendo todos os detalhes. Pude ver uma estrutura de primeiro mundo das duas dragas MARIANA I e II, que muito me impressionou pela sua qualidade. Os apartamentos todos de madeira macheada, como nas demais dragas, bem pintadas e com centrais de ar condicionado. Na conversa com os dragueiros, fui informado que cada balsa gasta diariamente 1.000 litros de óleo diesel, o que em 30 dias, somados, gastam 30 mil litros e as cerca de 70 dragas mensalmente gastam em torno de 2 Milhões de litros de óleo diesel. Outra informação importante, que colhi ali foi com relação à produção de ouro. Calcula-se que cada draga produz cerca de três quilos de ouro por mês, mas tem draga que chega a produzir mais de cinco quilos. Isto é relativo, porque também tem balsa que gasta 10 mil litros de óleo diesel e não tira nenhum quilo de ouro. Este é o risco da garimpagem. Entretanto, só estas balsas ou dragas, como queiram chamar, produzem mensalmente em torno de 100 a 150 quilos de ouro. Cada draga possui cinco funcionários e cada um dos empregados ganha como pagamento pelo trabalho 4% da produção de ouro. Exemplo: se a balsa produzir três quilos de ouro, cada empregado ganha 120 gramas de ouro, ou seja, equivalente, hoje, cerca de RS: 12.000 (Doze Mil Reais). Em torno destas dragas, vive muita gente trabalhando em atividades que subsidiam o funcionamento destas diariamente, como as distribuidoras de combustível, comércio de gêneros alimentícios, as lojas de peças, os pilotos de voadeiras, hotéis, restaurantes, o transporte terrestre entre Itaituba o Buburé. Muita gente vive da movimentação destas dragas, que têm proporcionado melhoria de qualidade de vida de dezenas e dezenas de famílias. No entanto, as dragas são acusadas de gerar impactos ambientais, como a poluição dos rios. Esse é um problema sério, mas que precisa ser tratado de forma técnica, jurídica e criteriosa, uma vez que as atividades econômicas ligadas a esse ramo da mineração na região é de fundamental importância para o município de Itaituba e para o Brasil. É preciso conciliar o desenvolvimento econômico, o social e o ecológico, o “tripé” do desenvolvimento sustentável, tão discutido na Conferência das Nações Unidas Rio-92, e exigido num dos principais documentos desta conferência, a Agenda 21, que precisa ser seguido pelas nações. Portanto, é preciso repensar a forma de como lidar com essa realidade, para evitar com que muito mais problemas possam surgir como os socioeconômicos, que a meu ver, também é impactante, uma vez que grande parte da economia do município gera em torno da mineração do ouro. Todos que trabalham nas dragas e no seu entorno, estão preocupados com a possibilidade da paralisação do trabalho destas, que caso aconteça, causará um colapso social e econômico na região, pois muita gente fez investimento apostando na exploração de ouro com estas balsas e estão devendo na praça.

ÁGUA BRANCA, UM GARIMPO EM ASCENSÃO

ÁGUA BRANCA, UM GARIMPO EM ASCENSÃO



Vista aérea do garimpo.
Muito antes do garimpeiro e empresário Raimundo Santos, o conhecido Truth chegar ao garimpo Água Branca nos anos 70, já existia aquele que hoje é um garimpo em ascensão. Hoje, não podemos negar a luta de Truth e de muitos outros que por ali passaram ou que hoje se empenham para ver o garimpo tornando-se comunidade, o que está acontecendo com Água Branca, que devido a seu crescimento, transformou-se numa comunidade com 250 casas.
Vista da Comunidade de Água Branca.
A comunidade de Água Branca tem hoje, dentro da vila, uma população com cerca de 500 pessoas, e contando com os bachões (áreas de garimpagem) aproximadamente 4.000 pessoas. Hoje, o garimpo não é explorado apenas por garimpeiros, mas também por empresas mineradoras que estão se fixando lá.
Eu (Peninha) e o Presidente da Comunidade.
A exploração do ouro já não é feita somente com equipamentos antigos simples como o maracá, bico jato, cobra fumando e outros. A evolução atingiu também os instrumentos utilizados na extração como escavadeiras (PC), e métodos menos poluentes.
Eu (Peninha) no Garimpo de Água Branca
A comunidade possui hoje uma escola municipal que atende as crianças de 1ª à 4ª serie, um posto de atendimento de endemias para fazer exame e tratar os pacientes com malária, campo de futebol, igrejas das diversas religiões, moto-taxis, além de rede telefônica e sistema de internet ligando, assim, a área garimpeira ao mundo. Nos comércios há notebooks por que o acesso e comunicação pela internet dão-se mais fácil do que pelo telefone. A energia elétrica ainda é particular, ou seja, cada um tem seu grupo gerador.
Momento da despescagem.
Antigamente só era possível chegar ao garimpo de avião, atualmente, devido à ligação da rodovia estadual Transgarimpeira com a comunidade, o acesso é mais fácil, fato que torna Água Branca apta a vivenciar uma nova era do ouro.
No garimpo, fica evidente a corrida do ouro. Minha visita à vila durou cerca de 3 horas, e no decorrer dela, presenciei uma compra de ouro comprar mais de 500 gramas de ouro, o que prova que há, ainda, em Água Branca muito ouro para ser extraído.

Garimpeiro com bico jato.
A visita me fez ver a importância dos garimpos para a econômia do município de Itaituba que vive do ouro que ainda é à base de sua econômia, portanto, devemos nos unir para defender nossos garimpos e torcer para que os órgãos ambientais percebam nossa sensibilidade e atendam às nossas necessidades concedendo as licenças ambientais, e olhem a questão dos garimpos para vê-la como os outros órgãos a vêem. O DNPM, por exemplo, já liberou aproximadamente 2.000 PLG - Permissão de Lavra Garimpeira.
Escola da Comunidade.
Posto de Saúde da Comunidade.

O estranho conceito de ancestralidade e de nação para a atividade garimpeira

O estranho conceito de ancestralidade e de nação para a atividade garimpeira

Certo dia de 2013, numa vistoria do DNPM solicitada pelo Ministério Público numa área de empresa de mineração invadida por garimpeiros no Tapajós, na reunião na vila vizinha do garimpo, um dos garimpeiros ocupantes da área da empresa declara apaixonadamente ao técnico do DNPM: “Estamo-nos aqui há 50 anos, e vem uma empresa há somente 5 anos e quer ficar dona da área!”.

Um sorriso no lábio, o técnico não deixou de notar que o garimpeiro mal tinha 25 anos de idade.
O jovem garimpeiro não estava consciente da impossibilidade de ele estar trabalhando na área 25 anos antes dele nascer. Não estava falando nem dos pais ou tios, pois raros são os filhos de garimpeiros que continuam na profissão dos pais. Não estava tampouco querendo enganar o oficial do DNPM. Ele estava falando dos garimpeiros em geral, do mesmo jeito que os jovens colonos judeus americanos falam da terra sagrada de Israel.

Neste caso, o que os garimpeiros representavam para ele, para ter em forma de grupo o direito de propriedade, de herança do local ou do ouro contido nele?: como profissão, não teria nenhum sentido, ele falava da mesma maneira que um povo fala da sua história, dos seus antepassados, da sua cultura como uma entidade, uma tribo, uma raça, uma religião ou uma nação.

Esse mesmo termo de nação garimpeira foi amplamente divulgado no caso dos garimpeiros de serra pelada e a união dos antigos trabalhadores da Serra passou a ter direitos diferenciados, e até uma tônica religiosa pode ser observada nos autores defendendo essa nação:

“Essa é a fé que vivemos e que nos movem na AFIDGASP desde 2009. É a certeza de que o milagre do Deus Poderoso opera no exato momento em que achamos que tudo já está perdido. O primeiro livro da bíblia nos ensina: “Existe alguma coisa impossível para o SENHOR?” (Gen. 18:14). Os textos sagrados nos mostram que a fé transforma o impossível de hoje no milagre de amanhã. Um milagre poderá devolver os direitos minerários à Coomigasp, pois a Colossus violou todos os princípios éticos, morais e da justiça de Deus.”

Podemos verificar o paralelismo dos termos místicos utilizados pelo autor com os termos proferidos pelos membros das duas comunidades étnica religiosa a respeito de Jerusalém

Mas como os garimpeiros do Tapajós, divididos em centenas e milhares de frentes de serviços, marcados por um nomadismo que leva esses homens e mulheres a atravessar limites de estados e fronteiras da América do sul como Suriname e Venezuela, a maioria sem religião definida podem sentir se parte de uma entidade ou nação com uma linguagem própria, regras de vida e se auto declarando herdeiros coletivos de antecessores que mostram tão somente o mesmo estilo de viver e trabalhar?

De onde vem esse sentimento de fazer parte de uma nação? Do ouro, do sofrimento, da incompreensão generalizada?