quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Diamante ofusca violência

Diamante ofusca violência

Atividade trouxe chance para centenas de trabalhadores se livrarem do desemprego

Diamante ofusca violência
Atividade trouxe chance para centenas de trabalhadores se livrarem do desemprego

A cidade de Diamantina, no Alto Jequitinhonha, nasceu da extração de pedras preciosas, mas pouco de sua riqueza natural vinha sendo explorada por garimpeiros da região nas últimas três décadas. Com a virada desse cenário em 2007 - quando trabalhadores invadiram uma área conhecida como Areinha, às margens do rio Jequitinhonha, para tirar ouro e diamante -, o município voltou a sentir os reflexos da mineração. Não só a economia se fortaleceu, conforme atestam os comerciantes, como a violência caiu significativamente aos olhos da população.

A sensação de segurança se comprova nas estatísticas da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). De 2007 para 2011, fase em que os garimpeiros tomaram conta da Areinha e alguns passaram a faturar alto, o índice de crimes violentos caiu 68% em Diamantina, passando de 161 casos para 51. A taxa de crimes para cada 100 mil habitantes, que era de 349,7 em 2007 - a maior da década - foi de 109,3 no ano passado. 

Já de 2000 a 2007, período em que a Areinha ainda vivia sob o domínio exclusivo da Mineração Rio Novo, o índice de crimes violentos na cidade subiu 437%, passando de 30 casos para 161. Nessa fase, o crescimento da criminalidade foi gradativo, com exceção de 2003 e 2004, que registraram ligeira queda.
Para o presidente da Associação de Proteção à Família do Garimpeiro de Diamantina (Aprogadi), Aélcio Freire Vial, a explicação para o declínio da violência nos últimos quatro anos está na ocupação de centenas de trabalhadores, que reencontraram no garimpo a chance para se livrar do desemprego. "A Areinha está ajudando a reverter a situação de marginalidade que deram ao garimpeiro", disse.

Patrimônio. A Guarda Municipal e a Polícia Militar de Diamantina confirmaram que, nos últimos anos, houve uma queda no número de pessoas que viviam ociosas nos bares e nas ruas, gerando sensação de insegurança na população. O gerente de trânsito da Guarda Municipal Itacoaracy Pires prefere não associar a redução da violência ao garimpo, mas disse que, de 2008 para cá, caiu também o índice de crimes contra o patrimônio. "Os furtos de carro, por exemplo, tiveram queda".

O empresário Agnus Morais é um dos que observam a melhora. "Agora, a gente consegue andar tranquilo. Dá para estacionar e deixar o carro aberto", afirmou. Para ele, a causa disso é o garimpo, que voltou a dar sustento para as famílias. "Essa é a tradição da cidade. A atividade precisa ser regularizada".

Autoridades, no entanto, acreditam que a criminalidade pode estar concentrada na Areinha. Segundo o superintendente estadual de Fiscalização Ambiental Integrada, Breno Esteves Lasmar, "existe informação de que há drogas por lá e pessoas com mandado de prisão em aberto".

As histórias que dão vida aos fantasmas na região de Mariana

As histórias que dão vida aos fantasmas na região de Mariana

Durante três dias, O TEMPO percorreu distritos e ouviu de moradores várias lendas assustadoras

Mariana. Lá se vão séculos desde a fundação do arraial de Nossa Senhora do Carmo, em 1696. Primeiro chegaram os portugueses e os bandeirantes, que dali iniciaram a corrida do ouro na terra hoje conhecida como Mariana, na região Central de Minas. Depois vieram os escravos, os padres, as igrejas e o barroco. Já os fantasmas... Bom, esses, ninguém sabe ao certo quando chegaram. No entanto, para muitos, eles ainda estão lá, firmes em seus postos para assustar os vivos, independentemente da época e das crenças.
Foi nesse clima que a reportagem de O TEMPO percorreu a cidade e três distritos e ouviu dos moradores, que se denominam “caçadores de fantasmas”, diferentes e assustadoras histórias que assombram a região (veja abaixo).
Uma delas é contada por Antônio Jacinto Sena, 63. Hoje guia da Mina da Passagem – aberta à visitação para centenas de turistas –, ele não dava a mínima para as lendas da cidade. Sempre ficava cético quando o assunto era um tal de Capitão Jack, cuja alma dizem estar vagando pelos labirintos do local onde ele trabalha e que teria morrido durante uma explosão.
Mas um episódio há cerca de 20 anos – quando ele sentiu o vulto de Capitão Jack – o fez mudar de percepção. “Olha, eu posso mostrar o caminho, chegar há cerca de 500 m, pois é longe do local de visitação, mas lá eu não piso mais. Só de lembrar, arrepio-me todo. Tinha algo ali, e eu não pago para ver de novo, de jeito nenhum”, dizia ele, enquanto contava outros casos de pessoas que até já teriam sido tocadas pelo fantasma de Jack.
E se o medo do tal capitão não for convincente para algum morador ou turista, o que não vai faltar em Mariana e região são as assombrações para, no mínimo, causar algum tipo de receio. De acordo com a Associação de Caçadores de Assombrações de Mariana (Acam), fundada em 2008, são cerca de 40 fantasmas na região.
“Mariana teve sua fase do ouro, com vários garimpos. Agora, eu acho que a gente está mais em uma fase de caça aos fantasmas porque eu nunca vi nenhum outro lugar ter tantos assim. É coisa de louco. Quase todo monumento histórico ou distrito tem seu fantasma. E haja história de causar arrepios”, contou o porteiro André Firmino, 42, que não abre mão de seu crucifixo preto para andar de noite pelas ladeiras históricas da cidade.
“Ele é quem me protege. Quando eu sinto algo diferente, eu beijo-o (o crucifixo) e começo a rezar e me tranquilizo. Só ele para me salvar dessas coisas ruins”, completou o porteiro.
Capitão Jack
FOTO: UARLEN VALÉRIO
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O fantasma – do qual Antônio Jacinto Sena (na foto) tem medo – é de um inglês conhecido como Capitão Jack. Ele era o chefe de uma área da Mina da Passagem e morreu durante uma explosão no local. Desde então, segundo alguns frequentadores, ele ronda e assombra a mina. “Existe essa lenda, e há quem afirme que já o viu. O nosso geólogo, inclusive, afirma que em uma noite, dentro da mina, o fantasma o teria empurrado. Ele tem medo, mas continua trabalhando. Mas já teve funcionário daqui que pediu demissão após afirmar ter visto a assombração”, contou o gerente da mina, Dinei Oliveira.
Mãe do Ouro
FOTO: UARLEN VALÉRIO
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Segundo moradores dos distritos de Camargos e Bento Rodrigues, a Mãe do Ouro é uma bola de fogo que passa pelos matos da região sem queimar a vegetação. Os relatos dão conta de que, após o rompimento da barragem de Fundão, no fim do ano passado, a Mãe do Ouro vem aparecendo com frequência maior. “Eu mesmo já a vi duas vezes. É uma bola que vem enorme e, depois, vai diminuindo até sumir no chão. Eu não sei que bicho é esse, mas que dá medo na hora dá. Vai que sai alguma coisa de lá”, conta o morador Dijalma de Melo, 40.
Coral Assombrado de Camargos
FOTO: UARLEN VALÉRIO
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No povoado quase deserto de Camargos, a 13 km de Mariana, um coral cantando em latim na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição vem assustando os poucos moradores da localidade. De acordo com alguns deles, à noite, é possível escutar o canto mesmo com a janela de casa fechada e a televisão ligada. Mas ninguém se arrisca a sair de casa para ver o que está acontecendo no local. “É uma história impressionante, pois o canto vem em latim, e nenhum morador daqui sabe latim, mas balbuciam algumas palavras por causa desse canto”, contou Leandro Henrique dos Santo, 40.
Noiva de Furquim
FOTO: UARLEN VALÉRIO
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Segundo motoristas e moradores do distrito de Furquim, a noiva seria a assombração da vítima de um acidente de ônibus ocorrido na década de 70, no qual ela e mais 11 pessoas morreram. O fantasma, que, segundo testemunhas, é loira e usa um vestido branco, aparece bem no local do acidente, próximo ao trevo da comunidade, trecho que é conhecido também como a “curva da morte”. “O medo é tanto que teve um dia que meu cunhado estava aqui em casa até altas horas e iria voltar para casa, mas ele mora em um sítio depois do trevo. Eu perguntei para ele se ele não ia ficar com medo da noiva. E, depois disso, quem disse que ele foi embora? Não foi de jeito nenhum”, lembrou o aposentado Prisco de Souza, 78.
Maria Sabão
FOTO: UARLEN VALÉRIO
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Ela é apresentada como uma escrava do século XVII, que fazia sabão com abacate e sebo em uma caverna do distrito de Passagem, em Mariana. Quem mora perto de onde a mulher fabricava seus produtos conta que ela, vez ou outra, costuma aparecer e amedrontar quem circula pelo local. “É um lugar peculiar aqui de Passagem. Tem muita gente que evitar passar perto daqui, principalmente à noite. Eu mesmo, uma vez, cheguei a ver um vulto por aqui, que creio que possa ser ela. Eu acredito”, diz Vicente Evangelista Bispo, 48.

Eike Batista: "ninguém sabe que o pré-sal é tão rico"

Eike Batista: "ninguém sabe que o pré-sal é tão rico"


Depoimento à Lava Jato põe em xeque venda de campo de Carcará pela Petrobras e abertura do setor às estrangeiras

Luis Macedo / Câmara dos Deputados/Fotos Públicas
O empresário Eike Batista
O empresário Eike Batista em depoimento à CPI do BNDES em novembro de 2015

A Petrobras anunciou há dois meses a venda de sua parte em uma área de produção de pré-sal para uma estatal da Noruega.  O Congresso deve liquidar a votação de uma lei que permite às petroleiras estrangeiras explorar o pré-sal sem a brasileira ao lado. Duas decisões ruins e questionáveis, a julgar por informações do ex-bilionário Eike Batista.
O custo de extração de petróleo no pré-sal, diz Batista, está em 7 dólares por barril. Trata-se de um patamar bastante baixo, próximo aos 5 dólares de certos campos da Arábia Saudita, os mais lucrativos do globo. A despesa média das grandes companhias mundiais é de 15 dólares, segundo a Petrobras.
Batista soube do valor de produzir no pré-sal por meio do ex-CEO da British Gás (BG) no Brasil Nelson Silva, seu amigo e hoje dirigente da Petrobras. A BG atua em águas ultra-profundas em sociedade com a brasileira. Possui 25% do campo de Lula, na Bacia de Santos, pioneiro do pré-sal.
Com um custo de extração tão barato, o pré-sal é uma mina de ouro, segundo Batista. “É um show, um espetáculo, dali vai vir um futuro espetacular pra todos nós”, acredita o ex-bilionário. “Vai ter uma Petrobras que vai se reerguer aí devido à riqueza do pré-sal, e ninguém sabe que é tão rico.”
As informações e afirmações do empresário fazem parte de um depoimento dado a investigadores da Operação Lava Jato em 20 de maio. Graças a este depoimento, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega acabou preso quando estava com a esposa doente em um hospital na quinta-feira 22 – foi solto cinco horas depois pelo juiz Sergio Moro, que antes ordenara a detenção.
Como se vê na transcrição e no vídeo do depoimento, Batista fala espontaneamente sobre o tema a dois integrantes da força tarefa, os procuradores de Justiça Roberto Pozzobon e Julio Carlos Motta Noronha.
Ao final do depoimento de 55 minutos, ele resolve contar um “dado bacana que vocês não sabem”, o cash cost do pré-sal. Tenta mostrar que, diante de um custo de extração reduzido, o pré-sal consegue gerar dinheiro mesmo com as baixas cotações do petróleo nos últimos anos. Hoje em dia, o barril oscila na casa dos 40 dólares, entre as menores cotações da década .
O entusiasmo do empresário com o assunto alimenta dúvidas sobre a recente venda de um campo de pré-sal pela Petrobras e sobre a intenção do governo Michel Temer de mudar a lei para que a estatal possa ser excluída de futuras operações no setor.
No fim de julho, a petroleira brasileira anunciou a venda de sua fatia de 66% do campo de Carcará, na Bacia de Santos, à Statoil, uma estatal da Noruega. Valor da transação: 2,5 bilhões de dólares, a ser liquidados até o fim deste ano ou o início de 2017.
Ao selar o acordo, Petrobras também ficou livre da obrigacão de investir cerca de 8 bilhões de dólares para viabilizar o início da produção do campo, previsto para 2020. Um ganho teórico, portanto, de 10,5 bilhões do dólares. Um valor para lá de duvidoso.
Carcará, diz a Statoil, possui de 700 milhões a 1,3 bilhão de barris, sendo 66% agora pertencentes à norueguesa. Em 2020 e 2021, o barril valerá 71 dólares, conforme previsões do mais novo plano de negócios da Petrobras. O custo de extração do pré-sal, segundo Eike Batista, é de 7 dólares o barril.
Considerando tudo isso, a Statoil apossou-se de uma reserva que valerá, descontado o custo de produção, de 29 bilhões a 54 bilhões de dólares em 2020, início esperado da produção. E pagará por esta reserva 2,5 bilhões de dólares, além dos investimentos de 8 bilhões.
Outra simulação: no dia em que a venda foi anunciada, 29 de julho, o preço do barril era de 42,46 dólares. Com base nesta cotação e no cash cost no pré-sal, a fatia da Statoil em Carcará valerá entre 16 bilhões e 30 bilhões de dólares em 2020.
“Estamos adquirindo isso em termos muito competitivos”, disse na época o vice-presidente-executivo da Statoil, Tim Dodson, em entrevista à agência de notícias Bloomberg.
Seus colegas de multinacionais devem estar salivando após recente viagem do presidente Michel Temer aos Estados Unidos. Aos empresários e investidores em Nova York, ele disse que em “brevíssimo tempo” haverá mudança na lei para permitir multinacionais no pré-sal sem a Petrobras.
Uma alteração apoiada pelo presidente da companhia, Pedro Parente. Ele e Temer reuniram-se nesta terça-feira 27 no Palácio do Planalto, para discutir o novo plano de negócios da Petrobras, fechado no último dia 20.
Após a reunião, Parente defendeu os estrangeiros no pré-sal. “É importante que o País possa ter outras empresas que se interessem em fazer esses investimentos. É importante para o País que a Petrobras não seja obrigada a participar de todos os campos.”
A Statoil que o diga
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Riquezas de Minas Gerais- Gemas

Riquezas de Minas Gerais- Gemas


Matéria-prima é o que não falta. Minas Gerais é o maior produtor mundial de gemas coradas, mais conhecidas como pedras preciosas.

O grande problema é que a maioria das pedras preciosas de Minas Gerais sai no seu estado bruto. O tratamento e a lapidação são feitos fora do estado, na maioria das vezes no exterior.

No caso das pedras preciosas, muitas vezes elas retornam para o estado tratadas e lapidadas ou já em forma de jóias, agregando um grande valor à peça. É fácil perceber os prejuízos com a venda da pedra bruta, muito barata em relação à mesma pedra depois de beneficiada. Uma pena...pois aqui temos o produto mas não existem tantas pessoas capacitadas para desenvolver a função de lapidador.

Pesquisadores localizam gruta explorada há quase 200 anos por Peter Lund

Pesquisadores localizam gruta explorada há quase 200 anos por Peter Lund

Por uma clareira entre as árvores do cerrado, janela com não mais de cinco metros, o cientista dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) descreveu, em 1835, a paisagem que viu da boca da gruta Lapa da Forquilha, em Baldim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte: “Tem-se do lado direito do caminho vista para uma alta cadeia de montanhas que se estende para longe da plantação e deve ser a Serra da Lapa (atualmente Serra do Cipó)”. A cavidade natural está entre as 10 primeiras exploradas por Lund em Minas Gerais, onde o estudioso fez descobertas de fósseis de hominídeos e animais, como a preguiça-gigante e o tigre-dentes-de sabre. Mas, mesmo com o mapeamento feito pelo dinamarquês – tido como o pai da espeleologia (estudo de cavernas) e da paleontologia (estudo de fósseis de seres vivos do passado) brasileiras –, 180 anos se passaram e, depois de várias mudanças de nome, a localização da caverna acabou perdida. Essa situação perdurou até meados do ano passado, quando um grupo de espeleólogos, químicos, biólogos e outros cientistas mineiros redescobriu a gruta perdida do doutor Lund.
A formação tinha sido rebatizada como Gruta da Fortuna e a certeza de se tratar da cavidade sumida veio com a sobreposição dos mapas feitos pelo europeu e as medições modernas, apresentadas no 33º Congresso Brasileiro de Espeleologia, em julho do ano passado. A equipe de reportagem do Estado de Minas foi até a gruta, redescoberta em projeto do Centro Universitário Newton Paiva, para refazer os caminhos de Lund pelos corredores estreitos de calcário, que precisam ser protegidos por ainda conterem tesouros históricos e científicos.
A primeira cena que se vê da entrada da caverna é de fato a imponente Serra do Cipó, o que remete a uma irresistível sensação de se admirar a mesma paisagem vislumbrada por Lund no século 19. “Quando comparamos os mapeamentos e vimos que mais de 80% batiam com perfeição com os registros de Lund, não tivemos mais dúvidas de que tínhamos redescoberto a Lapa da Forquilha. Refazer os passos perdidos de Lund é uma satisfação indescritível, faz o espeleólogo arrepiar por baixo do macacão”, comemora o espeleólogo e doutorando em química Luciano Faria, um dos responsáveis pelo achado. Apesar de sua importância, a caverna não se encontra protegida por nenhuma iniciativa do poder público e marcas de depredação, pichações e rabiscos são perceptíveis.
Quando o cientista dinamarquês esteve na Lapa da Forquilha, não chegou a encontrar fósseis de exemplares da megafauna pré-histórica, mas registrou que mineiros vinham extraindo salitre da caverna para a indústria da pólvora nos 50 anos anteriores. Ao contrário dos instrumentos usados no século 19, como tochas, barômetros e mapas, o uso de bússolas, coordenadas de GPS, trenas, lanternas e outros equipamentos modernos possibilitaram localizar e mapear mais salões e corredores que os descritos por Lund. Em um deles, pesquisadores descobriram em meio ao guano (material formado por fezes de morcegos em decomposição), sob a fratura de uma rocha, um esqueleto completo de um roedor pré-histórico. “Entrei em contato com paleontólogos e outros especialistas de universidades, mas a situação acaba sendo a mesma da espeleologia: não há recursos para que venham aqui e não posso remover os ossos para levar para serem identificados, pois poderia danificá-los. Enviei fotos e disseram se tratar de roedor”, afirma Faria.
Outro exemplar animal também chamou a atenção, por não ter sido reconhecido em outros ambientes. Trata-se de um pequeno mosquito com menos de dois milímetros, que o espeleólogo supõe ser um troglóbio – espécie que vive exclusivamente no ambiente de cavernas. “Ainda é preciso estudar o espécime, mas as indicações são de que seja um exemplar que vive exclusivamente nesta caverna, não sendo encontrado em nenhum outro ambiente externo”, disse.
ENTRE MORCEGOS E TESOUROS HISTÓRICOS A Lapa da Forquilha tem uma entrada baixa e pequena se comparada a outras grutas, como a da Lapinha (em Lagoa Santa) ou a de Maquiné (em Cordisburgo). Mas nos primeiros metros já se veem pendendo do teto várias estalactites e até colunas formadas pelo gotejar de milhares de anos da água com calcário dissolvido. Logo na entrada, uma ossada de bezerro em decomposição foi encontrada, mas nem mesmo isso pode ser removido. “Os micro-organismos da caverna se alimentam desses restos e por isso o que entra na gruta acaba se tornando parte dela”, observa Luciano Faria. Mais abaixo, descendo por salões em rocha escura de onde brotam formações brancas delicadas, os primeiros vestígios arqueológicos dos mineradores de salitre da época do Brasil império: próximo a um amontoado de pedras chamuscadas de um antigo fogão, os cientistas encontraram uma jarra e parte de um grande pote de cerâmica. Mais fundo, marcas de picaretas e outros instrumentos riscaram as pedras e uma antiga gamela de madeira usada para colher detritos de salitre ainda está preservada.
Cada metro caverna adentro exibe mais sinais da presença dos morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue), sobretudo por seus excrementos cobrirem quase tudo, do solo às paredes estreitas por onde é preciso se esgueirar, por vezes rastejar. O cheiro de amônia comprova a decomposição do sangue pelos mamíferos alados, que fazem voos rasantes a poucos centímetros das cabeças dos exploradores. Nesse material orgânico proliferam vários organismos, como cupins, larvas de insetos e fungos.
Um dos salões impressiona pela forma de caveira e mais adiante, depois de passar sobre pontes de madeira com sabe-se lá quantas décadas de idade, chega-se a um corredor desabado que também foi descrito pelo doutor Lund. Um túnel de menos de dois palmos de altura, por onde só se passa rastejando, é agora o novo desafio dos estudiosos, por levar a áreas ainda não mapeadas da caverna, como se fossem um complemento ao trabalho que o dinamarquês começou. “Nosso papel agora é descrever esses espaços que encontramos para mapear a gruta como um todo”, afirma Faria.


Fonte: EM