quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

TRF decide que índios devem ser consultados sobre mineração de ouro no Xingu

TRF decide que índios devem ser consultados sobre mineração de ouro no Xingu


Por unanimidade, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília, decidiu hoje (6) que índios afetados pela instalação de mineradora em Volta Grande do Xingu, no Pará, devem ser consultados sobre a exploração de ouro na região próxima às terras indígenas Paquiçamba, Arara da Volta Grande do Xingu e Ituna/Itatá. No julgamento, o tribunal também manteve a suspensão da licença de instalação do empreendimento e estabeleceu que o Pará só poderá dar prosseguimento ao licenciamento após o processo de escuta.
Conforme a decisão judicial, os próprios indígenas devem estabelecer o protocolo da consulta. A mineradora, a empresa canadense Belo Sul, pretende, em 12 anos, extrair cerca de 600 toneladas de ouro na área. A Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), prevê consulta prévia sempre que alguma decisão afetar a vida de povos indígenas. A convenção foi ratificada pelo Brasil em 2002.
Os povos das etnias Xikrin, Juruna e Arara reivindicam o direito de decidir sobre os impactos na região da chamada Volta Grande do Xingu, entre os municípios de Altamira e Senador José Porfírio, no Pará, que abriga também a usina hidrelétrica de Belo Monte.
O missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) José Cleanton Ribeiro disse que “os indígenas nunca foram considerados como impactados diretos por esse empreendimento, uma vez que, embora a área seja próxima de três terras indígenas, nos estudos originais que a empresa Belo Sun apresentou, não constavam mais do que duas linhas sobre eles”.
Ribeiro disse ainda que a região de Altamira já tem sofrido alterações. “Muitos moradores estão vendendo suas terras, há conflitos entre a população em geral, garimpeiros e indígenas. É uma comunidade carente, por muito tempo abandonada pelo Estado, que vê em Belo Sun a oportunidade de melhoria. Mas é um filme que a gente já viu com Belo Monte”, disse. “Temos muito medo da degradação do Rio Xingu. O restinho da água que secou, depois que secou a Volta Grande, por causa de Belo Monte, vai ser muito atingido. Também tem a questão da supressão de grande área de vegetação e não se sabe onde os rejeitos serão depositados”, acrescentou.
O licenciamento do projeto de Belo Sun, que prevê a criação da maior mina de ouro a céu aberto do país, está suspenso desde abril deste ano.
Atendendo a pedido do Ministério Público Federal (MPF), o TRF1 considerou que a concessão da licença pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas/PA) descumpriu ordem judicial porque não haviam sido avaliados os impactos sobre indígenas. Esse impacto deveria ter sido registrado no estudo feito pela empresa e protocolado junto à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à Semas, em 2016.
 Belo Sun
Segundo a companhia, a decisão de hoje foi comunicada verbalmente pela Justiça, mas os termos ainda não foram publicados. Em nota, informa que o TRF1 solicitou a complementação do estudo, seguindo diretrizes da Funai. “A Belo Sun Mineração busca a autorização da Funai para visitar as terras indígenas e fazer as entrevistas necessárias para eventual complementação do estudo”, diz o texto.
O presidente da empresa, Peter Tagliamonte, ao tomar conhecimento da decisão, afirmou ter ficado desapontado com a decisão. “No entanto, estamos confiantes de que uma solução pode ser alcançada. Continuaremos trabalhando com a Funai para garantir que nosso estudo atenda aos seus requisitos”. Ele disse ainda que, em paralelo, a empresa pretende recorrer da decisão.
De acordo com o MPF, o recurso só cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Direitos Humanos
Em fevereiro, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) emitiu recomendação requerendo a suspensão da licença de instalação do projeto de mineração Volta Grande. O grupo de trabalho formado pelo conselho para analisar o projeto apontou que a licença prévia concedida à mineradora condicionava a permissão à elaboração de estudos de impacto ambiental do componente indígena, o que não foi efetivado a contento, conforme informações da Funai.
A Funai informou que também recebeu queixas de que as propostas para construção da barragem de rejeitos da mineração, reflorestamento, garantia de direitos para as populações atingidas não são adequadas.
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará foi procurada pela Agência Brasil, mas não se manifestou até a publicação da reportagem.
Fonte: Isto É

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