sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Mercado interno negocia 100 quilos/dia

Mercado interno negocia 100 quilos/dia

O interesse nacional pelo ouro como uma opção de investimento, embora ainda tímido, já conseguiu mudar radicalmente o perfil de empresas que atuam do lado financeiro deste setor. É o caso da Reserva Metais, uma das principais companhias de negociação do metal, seja como ativo financeiro ou como mercadoria.
Em 2008, a Reserva Metais negociava cerca de 25 quilos de ouro por dia. Dessas transações, 90% estavam concentradas em operações com joalheiros. Apenas 10% tinham como origem um investidor. Atualmente a Reserva Metais chega a negociar até 75 quilos de ouro diariamente, o triplo do que movimentava quatro anos atrás. Com o aumento dos negócios, veio a mudança de perfil do negociador. O joalheiro responde atualmente por 70% das compras feitas com a empresa, enquanto os investidores já são responsáveis por 30% das operações. Na prática, isso significa que, apenas entre 2008 e 2012, o volume na mão dos investidores cresceu 900%.
"O ouro é um porto seguro, principalmente quando há um quadro negativo de toda a economia. Isse mexe diretamente com o investidor. O ouro vive hoje seu melhor momento e o interesse tem aumentado, inclusive dentro do mercado doméstico, que ainda está engatinhando no país", comenta Edson Magalhães, gerente de operações da Reserva Metais.
Resultado de uma parceria entre os grupos Fitta e Marsam, especialistas no mercado de ouro, a Reserva Metais detém hoje aproximadamente 80% do mercado formal que abastece o negócio dos joalheiros. A fonte de todo esse ouro, no entanto, não está na lavra subterrânea das companhias canadenses e sul-africana que dominam a produção industrial no país. Segundo Magalhães, a maior parte do metal que abastece a empresa é negociado com dez garimpos instalados nas regiões Sul do Pará, Norte de Goiás e no Mato Grosso, operações que possuem as devidas autorizações para realização a extração.
Dentro do circuito formal do mercado do ouro, estima-se que o setor tem negociado, atualmente, cerca de 100 quilos do metal por dia, o que equivale a aproximadamente R$ 12 milhões movimentados diariamente, incluindo as operações feitas em balcões ou por meio da BM&FBovespa. "Acreditamos que há potencial para aumentar esse volume em até 500% em dois anos", diz Magalhães.
Para tentar se aproximar do investidor doméstico, a Reserva Metais criou, em dezembro de 2010, um balcão de negociações de ouro pela internet, onde qualquer cidadão pode realizar compras até R$ 10 mil. De lá para cá, a empresa já realizou 3,4 mil negociações pela rede. "Acabamos entrando num segmento novo. Hoje tem gente comprando barra de ouro não só para investir, mas para dar de presente de aniversário e casamento", comenta Magalhães. Temos feito cerca de dez operações desse tipo todos os dias.

A luz dos olhos teus

A luz dos olhos teus Daniel André Sauer, a segunda geração da família à frente da joalheria Amsterdam Sauer, abre amanhã mais uma unidade no Rio, desta vez no Hotel Windsor. Em janeiro, terá outra loja no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Ainda para 2011, planeja uma filial no shopping JK, em São Paulo, que tem inauguração prevista para o segundo semestre . "A joia não é um bem supérfluo. A mulher precisa." A loja do aeroporto estará no Terminal 1, na área internacional. "Nessa unidade, terei um tráfego muito bom de pessoas, especialmente de estrangeiros, que gostam bastante da joalheria." A marca começou vendendo principalmente para europeus e americanos que estavam de passagem pelo Brasil. "Antes, tinhamos uma proporção de 70% de compradores internacionais. Os gringos ainda ficam encantados com as peças da Amsterdam, mas essa proporção hoje está em 50% porque o brasileiro aprendeu a valorizar as nossas joias." Segundo Sauer, o que atrai o olhar estrangeiro são as pedras coloridas, especialidade da marca. "Também trabalhamos com diamantes, claro, mas temos uma tradição com as gemas de cores, como água-marinha, turmalina e topázio." Para os próximos anos, a aposta é na turmalina Paraíba. "É uma variedade bem recente, descoberta há cerca de 20 anos na Paraíba. Tem uma cor azulada com uma luminosidade especial. É um material muito raro e caro. Um anel com essa gema começa nos R$ 50 mil." Além dos estrangeiros que vão às unidades brasileiras, a Amsterdam também exporta. Hoje, a exportação representa menos do que 10% da produção. "O setor de joias foi muito sensível à crise. Sentimos o americano, por exemplo, bem resistente e econômico em suas compras." Nas unidades da joalheria, hoje são 23 no Brasil, Sauer percebe um aumento das compras feitas por mulheres. "Há mais ou menos oito anos, apenas 20% das mulheres bancavam mimos para si mesmas. Hoje, elas são 45% dos nossos clientes - com uma particularidade: compram a prestação." As peças mais caras representam 80% do faturamento da marca com joias. A Amsterdam Sauer também trabalha com relógios. Além das peças de marca própria, que correspondem a 50% das vendas, a joalheria tem no portfólio as grifes Dior, Omega, Breguet, Revue Thommen e Ulysse Nardin.

Veja o futuro das pedras

Veja o futuro das pedras O Brasil irá sediar o próximo Congresso da ICA (International Colored Gemstone Association), que será entre os dias 30 de abril e 4 de maio, no Rio de Janeiro. "No ano passado foi na China. O país escolhido para organizar o evento precisa ter uma representatividade no mercado. O Brasil ainda é um produtor importante", diz Héclinton Santini, presidente do IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos). De acordo com Santini, o potencial de produção brasileira é hoje aproximadamente 60% menor do que foi há mais ou menos 15 anos - época em que o Brasil sediou pela primeira vez o congresso. "As novas políticas de extração mineral e as criações de reservas, tanto indígenas quanto ambientais, restringiram bastante a produção brasileira." Em 2010, o país movimentou cerca de US$ 400 milhões com a venda de pedras coloridas. Isso representa um crescimento de 30% em relação ao ano de 2009 e 5% se comparado com 2008. "O ano de 2009 foi difícil e de queda nas vendas devido à crise. O mercado de pedras e joias é muito sensível e sentiu o impacto dos problemas globais. Agora é que estamos tendo uma suave recuperação. Imagino que este ano seja melhor." Das gemas brasileiras, destacam-se principalmente a turmalina Paraíba e o topázio imperial. "São as pedras mais caras, mais raras, que ganhamos pelo valor. As demais, como safira, água-marinha, quartzo, turmalina, citrino e ágata, são gemas vendidas em volume." Para os próximos anos, o setor tem como desafio de, de acordo com Santini, "driblar a atuação chinesa". "Os chineses compram as pedras brasileiras e fazem joias com um custo de mão de obra baixíssimo. Em seguida, exportam essas peças, inclusive para o Brasil. Parte da mercadoria que entra aqui chega subfaturada. É uma concorrência desleal."
Futuro das pedras I Esta será a 14 ª edição do congresso da ICA. A expectativa é que estejam presentes cerca de 500 empresários internacionais do setor e 100 brasileiros. Mais do que discutir os rumos do mercado, o evento terá novidades: uma feira de expositores brasileiros e a organização de rodadas de negócios. "Na edição anterior, houve uma tentativa de realizar encontros entre empresários, produtores e designers de todas as partes do mundo. Mas não funcionou porque essas reuniões não foram previamente programadas." Desta vez, a rodada já está na agenda dos participantes, que deverão escolher, antecipadamente, quais as reuniões que irão participar. "Também teremos o apoio de tradutores, dada a diversidade dos convidados." Os países mais representativos são China, Emirados Árabes e India. Já a feira de representantes brasileiros terá 35 expositores. "Teremos stands de produtores, como o Stone World, de esmeralda, indústrias e também designers como Antonio Bernardo e Manoel Bernardes."

'Invasão' chinesa inflaciona mercado de pedras preciosas

'Invasão' chinesa inflaciona mercado de pedras preciosas

Por Marcos de Moura e Souza | De São José da Safira (MG)
Cinquenta metros abaixo do chão, trabalhadores caminham na Mina do Cruzeiro por túneis estreitos, abertos na rocha e cheios de poças de água, para extrair a pedra que caiu no gosto do mercado de luxo da China - turmalinas. As pedras são exportadas em forma bruta, lapidadas na China e lá transformadas em anéis, brincos e pingentes para chinesas endinheiradas.
O aumento do interesse chinês por turmalinas e outras pedras preciosas do Brasil já provoca uma pequena revolução no mercado de gemas. O apetite da China literalmente salvou empregos em algumas cidades do interior de Minas, mas também é motivo de preocupação.

Grandes joalherias brasileiras que usam pedras nacionais viram quase de uma hora para outra compradores chineses arrematarem grandes lotes de turmalinas, topázios, águas-marinhas e quartzo. A oferta para o mercado interno diminuiu e os preços explodiram. Algumas pedras estão sendo vendidas a preços 400% superiores aos de há quatro anos. E muitos produtores privilegiam os negócios com os chineses porque eles em geral compram lotes maiores, pagam mais e à vista. Daniel Sauer, diretor da Amsterdam Sauer, sediada no Rio, diz: "Se quiser comprar, tenho de pagar o preço que eles estão pagando ou mais. E tem pedras que eles estão pagando o dobro e ninguém quer pagar mais"
Um dos efeitos do aquecimento do mercado pela China é visível no setor. Segundo o chefe do Departamento Nacional de Produção Mineral em Governador Valadares, Marlucio de Souza, há um movimento de reabertura de minas na região.
Em 2009, a China tornou-se o principal destino das pedras brutas brasileiras. O Brasil é o maior produtor de pedras coradas em termos de variedade. Produz mais de cem tipos de gemas, em um mercado que só aqui movimenta entre US$ 250 milhões e US$ 300 milhões. Minas Gerais é o maior produtor por valor.
"Os chineses estão em todo o lugar", diz Douglas Neves, um dos sócios da Mina do Cruzeiro, que viu a fatia de suas vendas à China passar de 20% para 80% de 2008 para cá. Para empresários da região, os chineses chamam a atenção: andam de chinelo, se vestem mal, dormem até debaixo de lonas no mato e, apesar da aparência, compram lotes de pedras com dinheiro vivo, à vista e chegam a pagar adiantado.

Diamante dá lugar à chique arte de pendurar melancia

Diamante dá lugar à chique arte de pendurar melancia

Obras de arte com turmalinas, topázios, esmeraldas e águas-marinhas em vez de paisagens exuberantes. A partir de dezembro, o Brasil conta com um novo cartão-postal, quando o livro "Krystallos Brasil - Cristais-Gemas em Design" chegar às livrarias nacionais, embaixadas e representações do País no exterior. Com idealização da editora Terra das Artes e curadoria da designer e galerista Francine Adida, a obra mostra as riquezas naturais tupiniquins por meio de 83 jóias.
"Nossas pedras são muito bem vistas lá fora", afirma a editora Sônia Fonseca, idealizadora também do livro de paisagens "Brasil - Terra Esplêndida", que no ano passado foi vencedor do Prêmio Jabuti na categoria produção editorial. Com ajuda do gemólogo Rui Ribeiro Franco, ela diz ter descoberto fatos incríveis do mapa gemológico brasileiro, como a turmalina verde encontrada na Paraíba, considerada uma das mais bonitas do mundo. Dali em diante, foi só passar para a difícil tarefa de selecionar somente quinze designers. "Descartei as joalherias tradicionais, já que a idéia era explorar a criatividade com peças de cunho artesanal, as chamadas jóias-arte", diz.
Para a designer Heloísa Beldi, é uma oportunidade de divulgar esse tipo de trabalho para o próprio brasileiro: "Aqui ainda existe um referencial de que a jóia é sinal de status; interessa mais ouro e diamantes do que outros materiais". As pedras brasileiras vêm atraindo Heloísa devido à variedade de cores e não pelo seu valor. "É possível fazer coisas belíssimas com o quartzo rosa, por exemplo, que não é uma pedra cara", ilustra ela, que se considera mais artista que designer.
Salvador Francisco Neto também procura inovar nos elementos que compõem a peça, sem se preocupar tanto com o que é mais valioso. Em vez de ouro, prefere usar cerâmica, titânio ou mesmo aço inox. "O aço tem um brilho diferente e é muito mais difícil de manusear", afirma. Trabalhando há mais de 40 anos com gemas brasileiras, procura cuidá-las como sendo a própria peça e não um mero detalhe. "Antigamente era raro encontrar um bom lapidário. Hoje temos designers internacionais vindo buscar pedras aqui", comenta.
A designer Patricia Centurion, que expõe com frequência fora do Brasil, acrescenta que não só as gemas, mas inclusive os artistas brasileiros estão ganhando mais espaço no exterior. "A competição aumenta, mas isso é muito positivo", opina ela, finalista em 1998 do Prêmio De Beers, um dos mais conceituados do mundo. O destaque de Patricia no livro é um colar com múltiplos fios com turmalinas em dégradé, que variam do tom melancia ao verde. Um colorido que deve dar água na boca em quem acredita que apenas os diamantes são os melhores amigos da mulher.